Sexta 29 de Março de 2024

Debates

DEBATE NA UNICAMP

Na UNICAMP, LER-QI debate estratégia com João Bernardo, MST e MTD

01 Aug 2010   |   comentários

Na última segunda-feira (9) ocorreu na UNICAMP um debate na ex-cantina do Instituto de Artes, que se encontra abandonada. Por iniciativa de alguns estudantes, promoveu-se uma ocupação deste espaço, no intuito de promover atividades culturais e debates. A composição bastante eclética da ocupação e a expressão bastante autonomista dos estudantes e ativistas que compunham o espaço se expressou cabalmente na primeira mesa realizada no local: em primeiro lugar, foi convidado para o debate João Bernardo, um conhecido quadro do autonomismo – ou seja, crítico inconseqüente do leninismo, da construção de um partido revolucionário etc.; além dele, foram convidados dois representantes de movimentos sociais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD); por fim, estávamos compondo a mesa com o camarada Mário Bigode, militante da LER-QI e trabalhador do AEL-UNICAMP, bastante conhecido por sua atuação nas greves, inclusive na última greve das estaduais paulistas.

O debate foi muito interessante e levantou questões estratégicas fundamentais que fizeram claras as intenções fundamentais das organizações ali presentes. Os movimentos sociais iniciaram suas falas demonstrando muito bem que estão muito longe de um debate de estratégia claro: por um lado, falava-se da militância no PT sem um balanço crítico e ser fazer a crítica até o fim do governo Lula,que ao nosso entender deve ser denunciado como um governo anti-operário e traidor da classe operária; por outro lado, falava-se da questão do porquê fazer um movimento de desempregados, mas acentuava-se que Lula teria criado empregos e reduzido a porcentagem de desempregados no país.

Sobre esse ponto, a intervenção de Mário Bigode expressou com clareza os diversos problemas contidos nessa perspectiva pouco estratégica dos movimentos sociais, começando por fazer um balanço severo sobre o PT e de seus desvios estratégicos desde sua gênese, inclusive fazendo uma ponte com a atualidade na questão do eleitoralismo de outros partidos de esquerda, que seguem os mesmos erros. Além disso, pautou-se o debate sobre o governo Lula, pois a questão do debate sobre o crescimento econômico e o crescimento do emprego deve passar para análise da precarização do trabalho, da construção de postos de trabalho temporários, e, sobretudo, do fenômeno mais geral da terceirização, que arrancou os direitos dos trabalhadores e constitui a falácia da criação de empregos, que na verdade é a criação de postos altamente precários, “da escravização e opressão da classe trabalhadora”, para usar os termos com os quais Mário Bigode respondeu bem a questão do emprego.

Mas a fala mais anti-operária e avessa a uma visão estratégica ficou com João Bernardo. Ele já começará dizendo, para fazer sua conhecida “crítica as vanguardas”, que os que estavam ali agora seriam os burgueses de amanhã. Na verdade, o tom geral da fala de João Bernardo era de desmoralização dos que lutaram e lutam, não se debruçando na história, senão fazendo críticas abstratas as vanguardas, retomando também o caso do PT, que era a ultra-esquerda e que virou governo do capital. Assim, João Bernardo expressava a nata do autonomismo, o combate mais pequeno-burguês a toda a tradição bolchevique, leninista, que busca uma saída independente para a classe trabalhadora, plasmada num partido revolucionário, que inclusive tem como pilar estratégico a constituição da auto-organização dos trabalhadores e a democracia de base. João Bernardo não analisava crises históricas, mas falava da “crise ideológica da esquerda” em abstrato, uma crise que só pode ser resolvida, segundo ele, se deixarmos os trabalhadores pensarem com sua própria cabeça. Palavras bonitas, mas que traduziram na história do século XX uma série de levantes espontâneos que nem de longe conseguiram tomar o Estado, ou quando chegaram nisso, o fizeram de modo deturpado e comprometendo uma estratégia independente, o que levou a uma série de derrotas para a classe trabalhadora em âmbitos internacionais.

Nesse sentido, a LER-QI, na fala de Mário Bigode, deu uma resposta concreta a cada uma das falácias expostas por João Bernardo. Em primeiro lugar, Mário resgatou a história, como havia feito no outro caso, para mostrar que esses dirigentes burgueses que estão no governo de hoje, mesmo no comecinho da década de 1980 já eram traidores dos trabalhadores – o próprio Lula fazia discurso contra a greve, como Mário relatou em manifestações que ele estava presente. Mostrava-se, portanto, que ao contrário de uma vanguarda consciente do proletariado que agia de modo independente, o que se via era já em germe e ação a traição de classe por parte daquela vanguarda.

Desmistifica-se o argumento que João Bernardo queria colocar de que é sempre assim, sempre acaba em traição de classe...O debate sobre a vanguarda, na fala de Mário, foi do plano histórico para a atualidade, colocando o debate de uma das principais greves ocorridas nesse último período, a das estaduais paulistas. Lá, como apontava Mário, uma vanguarda deu um exemplo de como apontar uma perspectiva de batalha de classe no conflito colocado sobre a isonomia, e não apenas numa luta coorporativa, como vimos o STU na UNICAMP fazer. Assim, concretamente, acaba-se com o discurso de João Bernardo de “a partir da luta econômica” buscar alguma transformação, inclusive deixando o movimento espontâneo por si só atuar.

Assim, colocamos um debate que expressou claramente nossas divergências estratégicas, além de conseguirmos avançar para questões latentes a própria universidade, como a questão da terceirização e da greve das estaduais, contribuindo para um debate mais revolucionário e menos diletante com relação a luta de classes.

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