Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

Lendo nas entrelinhas dos grandes jornais

Muito “ajuste”, muito desgaste político e menos impeachment

09 Mar 2015 | Finalmente saiu a tão esperada “lista Janot”. A partir das denúncias de Youssef e Costa o partido que mais foi atingido foi o PP, um dos herdeiros do partido ARENA que era apoiador da ditadura. As figuras atingidas do PT, PMDB, e PSDB adotaram todas, com poucas exceções, o silêncio.   |   comentários

Finalmente saiu a tão esperada “lista Janot”. A partir das denúncias de Youssef e Costa o partido que mais foi atingido foi o PP, um dos herdeiros do partido ARENA que era apoiador da ditadura. As figuras atingidas do PT, PMDB, e PSDB adotaram todas, com poucas exceções, o silêncio.

Finalmente saiu a tão esperada “lista Janot”. A partir das denúncias de Youssef e Costa o partido que mais foi atingido foi o PP, um dos herdeiros do partido ARENA que era apoiador da ditadura. As figuras atingidas do PT, PMDB, e PSDB adotaram todas, com poucas exceções, o silêncio. A exceção a esta regra está nos mais altos cargos que foram atingidos nas denúncias, Renan Calheiros do PMDB, presidente do Senado, e Eduardo Cunha, também do PMDB, presidente da Câmara, sucessor presidencial depois do vice-presidente Michel Temer.

A despeito de ser uma primeira lista que dá uma ideia apenas reduzida do número de envolvidos no Lava Jato, é evidente que todos os principais partidos do regime político brasileiro estão metidos no desvio de verbas da Petrobrás: na primeira lista de Janot figuram 22 deputados em exercício, 12 senadores e 14 ex-deputados. Entre eles, cinco ex-ministros, vários ex-governadores e até o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello. O PSDB, por ora, só tem um, mas importante: o senador Antônio Anastasia, ex-governador do Estado de Minas Gerais e personagem muito próximo de Aécio Neves, presidente desse partido e o candidato que disputou a presidência com Dilma em 2014.

Ao olhar somente as declarações de ambos os presidentes das casas parlamentares poderíamos exagerar as tendências a uma crise aberta. Porém há muitos sinais de que, em meio à preocupação dos políticos oficialistas e opositores acerca da grande crise de representatividade e a crescente descrença da população nos corruptos partidos do regime político burguês, que aumentará com a Lava Jato, rumamos para um equilíbrio, bastante precário e instável, cheio de denúncias, novos implicados, alguns sacrificados, um pouco de pizza, mas onde as tendências a união para os ajustes contra a classe trabalhadora tendem a prevalecer ao “salve-se quem puder”.

As vozes da grande mídia, importante como são, apontam a maior moderação do que os brados no púlpito parlamentar.

A própria oposição do PSDB, com envolvidos no esquema de corrupção, não pressiona tanto pela “campanha impeachment” e pelo crescimento das polarizações, mas “vai ao centro”, pactuando para garantir certa governabilidade. “É melhor ver esse Governo sangrar até o último dia de seu mandato do que derrubá-lo dessa maneira, que nem sempre parece ser tão legítima”, diz um deputado tucano, preferindo o desgaste do PT pela Lava Jato, e não pelo impeachment.

Eduardo Cunha está esbravejando em diferentes declarações à mídia como o governo Dilma, ou simplesmente alguém no “executivo”, estaria sendo um aloprado e teria colocado ele na lista Janot, sem provas ele alega, para colocar em xeque sua postura independente do governo. Setores da mídia, sem ataca-lo diretamente estão fornecendo argumentos para enfraquece-lo. O jornal Zero Hora de Porto Alegre dedicou seu editorial de sábado intitulado “Mais que nomes” para destacar como os acusados devem ser afastados das presidências e de participação na CPI. O Globo deste domingo, do estado do eleitorado de Cunha, faz novas denúncias contra Cunha e busca mostrar como seus aliados parlamentares fizeram lobby contra empresas que estavam atrasando as propinas.

Renan Calheiros, tido até poucos meses atrás como fiel escudeiro do Planalto, e que serviria de escudo para Dilma, contendo o “independente” Cunha, não tem ficado muito atrás do correligionária da outra casa. Suas declarações apontam para criar uma CPI do Ministério Público e junto a Cunha está buscando marcar terreno como se as acusações a este velho acusado de corrupção em mil e um escândalos fossem infundadas e “meramente políticas”. A agressividade de ambos, seguindo o ditado popular, parece indicar que por trás desta fumaça há fogo. Ambos, com mil conexões, influentes na política nacional, podem ser fatores complicadores na política.

De outros atores também pode-se esperar novidades e tendências à instabilidade. Porém, como dissemos, o que parece se fortalecer é a tendência a buscar acordos, negociações. As idas e vindas das declarações de FHC na mídia sobre costurar um acordo com o PT pela governabilidade são uma indicação, ainda não consumada, desta tendência a acordos. No outro lado espectro político dos embates tucano-petistas, a Carta Capital, revista que tende a uma linha “petista crítica”, dedica seu editorial a desaconselhar o governo Dilma a pactos. Ou seja, há claras pressões nos dois “campos” que pautam a política nacional. A mídia, sempre opositora, não esta alheia a estas pressões e seus editoriais reforçam o caminho dos pactos.

Os editorias dos três maiores jornais do país hoje reforçam esta análise. O Globo e a Folha de São Paulo dedicaram seus editoriais a incentivar e aprofundar os “ajustes” e, portanto, atacar os direitos e condições de vida da classe trabalhadora. O jornal carioca dedicou-se a argumentar a favor de maiores ajustes nos estados e municípios para acompanhar o ajuste federal, e assim, reza o credo neoliberal, criar condições para o crescimento futuro. A Folha de São Paulo argumentou em seu editorial “Ajuste, mas não só”, a favor de reformas mais estruturais que poderiam ser negociadas com o Congresso e assim pavimentar maior apoio aos ajustes. Tudo isto em meio a muitas críticas ao governo Dilma.

O Estado de São Paulo, que imprime três editoriais no Domingo, dedicou dois deles à política nacional (o terceiro é sobre Crack e São Paulo). Em um deles, intitulado “Dilma pode agir sem o Congresso”, reconhecem as dificuldades para aprovação no Congresso de algumas medidas do ajuste e aconselham o governo a contingenciar gastos e tomar outras medidas que não dependeriam do parlamento. Este editorial mostra, mais uma vez, como o “Estadão” é um falso paladino da liberdade e da democracia. Quando trata-se de atacar direitos sociais e demitir não precisa de democracia. Dinheiro primeiro...

Se a situação política nacional tendesse ao “apocalipse” que alguns petistas e cutistas alardeiam nas redes sociais e alguns locais de trabalho havíamos de esperar editoriais mais “impeachmistas” destes grandes meios, reconhecidamente opositores a Dilma. O terceiro editorial do Estadão mata a charada. Intitulado “Confusão é tudo o que Lula quer”, ele discorre como não é correto levantar a reivindicação de impeachment hoje. Argumenta como esta consigna “pode ser politicamente tentadora” porém “será certamente inoportuna”. Por quê? Porque do outro lado Lula e o MST prometem ir para a porrada, argumenta o jornal, e esta radicalização será prejudicial. E que defender impeachment favoreceria o “lulopetismo” por esta mesma lógica.

Naturalmente, Lula e o PT estão completamente integrados ao regime e não se interessam pela instabilidade. A única força que pode golpear o tabuleiro desse esquema de corrupção é a classe trabalhadora, cada vez mais descontente com seu antigo referencial político, o PT.

Os partidos do governo e da base aliada, até mesmo da oposição, cheios de privilégios, se unificam pelos ajustes contra o povo enquanto desviam bilhões da Petrobrás. Estes parlamentares, deputados e senadores, se alinham contra os aumentos salariais dos trabalhadores, como dos professores da rede pública do Paraná e de vários estados. Todos deveriam receber o mesmo salário, igual ao de uma professora (considerando o aumento do salário docente ao estipulado pelo DIEESE), sendo revogados todos os seus privilégios e salários de representação, inclusive seus cargos, revogáveis imediatamente segundo a vontade de quem votou. Não podem continuar sendo "senhores" dos recursos nacionais.

A orientação que os três jornalões indicam à burguesia é bastante clara. Sangrar, desgastar, fazer muita política contra Dilma e o PT nos escândalos mas sem passar ao impeachment. Trabalhar dentro deste equilíbrio precário da situação política. Mas sem despertar forças que podem levar a maior desestabilização, ainda mais porque os reais e mais importantes interesses empresariais estão em jogo em outro terreno, o dos ajustes e das reformas, e neste terreno petistas e tucanos tem muito mais a negociar e acordar.

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo