Quarta 24 de Abril de 2024

Direitos Humanos

Mobilizemos contra a homofobia e o machismo

17 Oct 2014   |   comentários

Passado o primeiro turno das eleições para presidente, uma certeza se generaliza aos LGBT, mulheres e negros: nossos direitos elementares novamente seguem relegados aos interesses das bancadas fundamentalistas e setores conservadores. Enquanto cada dia surge um novo caso escandaloso de assassinato de LGBT, como foi João Donati e agora Geia Borghi, ou mesmo o escancarado desaparecimento de Jandira e sua morte por aborto clandestino, nos debates (...)

Passado o primeiro turno das eleições para presidente, uma certeza se generaliza aos LGBT, mulheres e negros: nossos direitos elementares novamente seguem relegados aos interesses das bancadas fundamentalistas e setores conservadores. Enquanto cada dia surge um novo caso escandaloso de assassinato de LGBT, como foi João Donati e agora Geia Borghi, ou mesmo o escancarado desaparecimento de Jandira e sua morte por aborto clandestino, nos debates eleitorais eram disseminados abertamente discursos de ódio homofóbicos e defesas incansáveis contra o direito ao aborto.

Contrários às manifestações de Junho de 2013, que foram verdadeiras porta-vozes dos escandalosos casos de machismo, homofobia e racismo, nem Dilma, nem Aécio oferecem qualquer saída às opressões. Pelo contrário, apesar das promessas de “mudança”, se calaram diante das reacionárias e criminosas declarações de Levy Fidelix nos debates televisivos. Os mesmos alvos de Junho, Feliciano, Silas Malafia e outros continuam a em tecer comentários via redes sociais utilizando-se da fé religiosa de milhares de trabalhadores para propagar a ideologia dominante de negar a liberdade sexual e o direito à maternidade plena, assim como o direito ao aborto.

O debilitamento do PT fortalece polos à direita e à esquerda

Após a pressão da bancada evangélica pela retirada das pautas LGBT do programa de Marina Silva (PSB), o debate LGBT entrou com força nas eleições. Depois do desgaste que Dilma acumulou ao barrar o projeto “Escola sem homofobia”, nomear Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos e ter aumentado consideravelmente o número de assassinatos de LGBT em seu governo, a candidata demagogicamente afirmou pela primeira vez que a homofobia deveria ser criminalizada. Mas logo em seguida, mostrando que são palavras para ganhar votos, defendeu a Lei Geral das Igrejas que busca estender os mesmos privilégios das igrejas católicas as igrejas evangélicas, demonstrando que sua fidelidade é com os acordos e concessões aos setores mais atrasados do parlamento.

O resultado eleitoral do primeiro turno pode demonstrar que o forte questionamento ao PT desde as manifestações de Junho aprofundou polos à direita e à esquerda. À direita, Levi Fidelix que passou de 57.960 (0,06%) em 2010 para 446.878 (0,43%); o Pastor Marco Feliciano (PSC) de 211.855 (0,99%) para 392.674 (1,90%) votos; Jair Bolsonaro (PP) de 120.646 (1,51%) para 464.572 (6,1%); e Celso Russomanno (PRB) foi o deputado mais votado do país com 1.524.361 votos (7,26%). Assim, a bancada evangélica aumentou de 70 para 80 deputados no Congresso Nacional.

Por outro lado, à esquerda, a votação de Luciana Genro, que ficou conhecida por seus enfrentamentos contra Fidelix em defesa dos LGBT e dos direitos das mulheres, conquistou 1.612.186 (1,55%), duplicando a votação em seu partido, o PSOL. Assim como o deputado Jean Wyllys (PSOL) do Rio de Janeiro aumentou quase onze vezes sua votação, de 13,016 (0,2%) em 2010 para 144.770 (1,9%). Uma expressão importante de um sentimento progressista contrário a homofobia e ao machismo, que pôde em Junho ter força real para derrotar os planos de “Cura Gay” e o projeto de “Estatuto do Nascituro”.

Essa polarização mostra como o PT, ao se negar a defender os direitos democráticos mais elementares para sustentar os acordos com aliados obscurantistas, é responsável pelo fortalecimento eleitoral de expoentes reacionários da política brasileira.

As organizações dos trabalhadores e da juventude precisam tomar em suas mãos a luta contra a homofobia e o machismo

Se pudéssemos contabilizar o número de LGBT assassinatos somente durante as eleições poderíamos ver que enquanto se faz demagogia “por cima”, a realidade concreta dos “de baixo” segue sendo de discriminação e violência. Muito além dos assassinatos, agressões e mutilações, a péssima qualidade de saúde é responsável da morte de centenas de travestis e homens e mulheres transexuais pelo silicone industrial, a hormonização sem acompanhamento médico, etc.

O aborto clandestino segue como a quarta causa de morte materna no nosso país. Jandira foi um símbolo dessa situação que Dilma e Marina calaram durante todos os debates eleitorais. Enquanto seguimos lutando pelo direito à plena maternidade, para que as mães trabalhadoras possam criar seus filhos, com o trabalho doméstico se tornando responsabilidade do Estado e não como “função natural” das mulheres, milhares de mulheres morrem sem opção para criar seus filhos ou decidir não tê-los.

É necessário transformar esse sentimento progressista que se expressou nos votos no PSOL em um forte movimento de trabalhadores e jovens que façam a luta contra a homofobia e o machismo ser uma realidade viva nos locais de trabalho e de estudo, colocando os sindicatos e as entidades estudantis a serviço dessa tarefa. Luciana Genro, Jean Wyllys e as bancadas federal e estaduais do PSOL, para fazer jus aos votos que tiveram, devem se colocar a serviço da mobilização independente pelas demandas LGBT.

Em 28 de setembro, dia latino-americano de luta pela legalização do aborto, o Pão e Rosas foi linha de frente das manifestações no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. O contrário do PSOL e do PSTU, que, preocupados apenas com as eleições, não ligaram suas candidaturas desse dia mobilização pelas demandas democráticas.

Um exemplo a ser seguido e ampliado

Um pequeno exemplo dessa perspectiva está nos trabalhadores da USP, que durante mais de 116 dias de greve puderam abrir dentro da categoria um debate fundamental de combate às opressões. Foram com uma delegação de trabalhadores votada no Comando de greve ao ato em repúdio ao assassinato de João Donati e organizaram um debate com mais de 100 trabalhadores, em meio a greve, sobre "Machismo, homofobia e transfobia", uma verdadeira arma para construir dentro do movimento operário uma saída de fundo para as opressões.

Está nesta pequena expressão a chave revolucionária que pode responder de maneira consequente as opressões, partindo dos sindicatos e dos próprios trabalhadores tomarem em suas mãos, o combate a divisão de suas próprias fileiras, mas se colocando a tarefa de libertar a humanidade de toda forma de opressão no movimento da luta contra sua exploração.

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