Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

ESCÂNDALO DOS CARTÕES CORPORATIVOS

Matilde Ribeiro não pode falar em nome dos milhões de negros desse país

16 Feb 2008 | O caso dos cartões corporativos fez estourar mais um escândalo de corrupção no governo Lula. Os gastos de milhões feitos por ministros e funcionários do governo escancararam mais uma vez para onde vai o que eles chamam de “dinheiro público”. A direita, com todo o seu cinismo, buscou posar de ética, como se não fizesse parte da mesma lama de corrupção, intrínseca ao Estado capitalista. Mas dessa vez, havia uma mulher negra, Matilde Ribeiro, no centro da roda e a burguesia branca não podia deixar de escancarar o seu racismo.   |   comentários

A cabeça cortada é negra porque a burguesia é branca e racista

Apesar de existir 11.500 cartões corporativos distribuídos pelo governo federal, as cabeças estão sendo preservadas nesse antro de corrupção. A primeira cabeça a ser cortada foi da ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas para a Igualdade Racial (SEPPIR), que gastou mais de R$ 171 mil com aluguel de carros, diárias de hotéis, etc. Episódio que relembra o caso de Benedita da Silva que foi “escolhida” a ter sua cabeça cortada num outro escândalo que envolvia inclusive outros ministros.

Essa é a regra do jogo dessa democracia burguesa racista. Finge combater o racismo com secretarias quase sem orçamento e tendo à disposição figuras negras que defendem esse regime que extermina o nosso povo. Mas ao primeiro vacilo que se torne público, revela-se o negro novamente como descartável e é o primeiro a ter sua cabeça colocada a prêmio.

Matilde Ribeiro não fala em nosso nome!

A senhora Matilde Ribeiro, formada pela PUC-SP e antiga militante do movimento negro de Santo André, é a demonstração de que a democracia burguesa é capaz de abrir espaço para alguns negros ocuparem cargos e posições destacadas, desde que isso signifique que sejam agentes da manutenção e aprofundamento das políticas burguesas, para manter a “ordem” vigente, onde os capitalistas seguem lucrando sobre as cabeças e os corpos dos trabalhadores, e super explorando ainda mais os trabalhadores negros. Em troca de migalhas, figuras como Matilde são expressões da política de conciliação com os nossos carrascos. Assim, rompem com o que dizia Malcolm X: “Não existe capitalismo sem racismo” .

O governo Lula, apesar de todo o seu discurso demagógico de “políticas públicas” (com verbas miseráveis, diga-se de passagem), não deixou de ser como os outros governos burgueses brancos. Para ir ao concreto: é esse governo que envia a Força Nacional para os morros do Rio, promovendo o assassinato de tantos jovens negros, como foi no Complexo do Alemão ’ episódio que Lula reivindicou como um exemplo a ser seguido em todo o país. E para não ficar só no Rio, ele criou o PAC da Segurança em 2007, que entre várias medidas vai construir mais 187 presídios destinados para a juventude, que ’ todos sabemos ’ é majoritariamente a juventude negra! Será que para a senhora Matilde isso faz parte das políticas de promoção da igualdade racial?

Foi também sob o nome pomposo de políticas públicas para a juventude negra, que a ex-ministra convocou o movimento Hip Hop para sua vergonhosa campanha “Pense no Haiti, Zele pelo Haiti” , ainda no primeiro mandato de Lula. A promoção da igualdade racial nesse governo passa por enviar tropas para exterminar os negros haitianos e ainda convocar a juventude negra do Brasil a apoiar!

Com a demissão da ex-ministra, o governo Lula e o PT mostraram também como tratam os negros do seu partido e do seu governo: são facilmente jogados na lata do lixo. O governo do mensalão e de outros casos de corrupção póde preservar muitos nomes envolvidos nos escândalos, mas não pensou duas vezes nesse caso. Não podia ser diferente: um partido como o PT, que se diz de esquerda, mas é completamente integrado ao regime democrático burguês já aprendeu há bastante tempo com a burguesia branca a tratar os negros como descartáveis.

Infelizmente, a resposta da maior parte do movimento negro não foi de se espantar. A submissão ao governo por parte de vários setores se aprofundou com a criação da SEPPIR em 2003. E hoje, quase todos saem em defesa incondicional de Matilde Ribeiro. Ela até pode falar em nome dos setores do movimento negro que defendem essa integração nefasta ao Estado capitalista. Mas não pode falar em nome dos milhões de negros submetidos ao racismo promovido pelo governo que ela fez parte e defende até hoje. Matilde com seus mais de R$ 170 mil gastos no cartão de crédito corporativo não pode falar em nome dos milhões de trabalhadores negros desse país, que sobrevivemos com um ou dois salários mínimos.

Por um movimento negro independente da burguesia!

Para lutar de maneira conseqüente pela libertação do nosso povo, precisamos construir um movimento negro que repudie a conciliação com a burguesia, que não aceite referendar e se integrar aos projetos burgueses, seja pela via do Estado capitalista, dos partidos burgueses ou das ONG´s. Precisamos construir um movimento negro combativo, que se alie às lutas da classe trabalhadora ’ da qual somos pelo menos a metade nesse país e representamos a parcela mais explorada. Precisamos nos colocar à cabeça da grande tarefa que é derrubar o poder dessa burguesia branca e racista, lutando pela libertação do povo negro e pela revolução socialista.

Escândalo dos cartões de crédito: Confisco dos bens e prisão para os culpados!

Depois do escândalo do mensalão em 2005 e dos escândalos envolvendo o aliado de Lula e presidente do Senado Renan Calheiros em 2006... Dessa vez estourou a chamada ”˜Farra dos Cartões”™. Desde a época de FHC, quando foi criado o cartão de crédito do governo chamado de cartão corporativo, ele serviu para o presidente, os ministros, reitores de universidades, governos estaduais e outros funcionários do alto escalão levarem vida de marajá com dinheiro publico.

Ainda que manda-chuvas do PT como Tarso Genro tentem minimizar o problema, dizendo que “não houve ”˜abusos”™ no uso dos cartões e, sim, ”˜erros”™” , a verdade é que ministros escolhidos a dedo pelo próprio Lula e até os seguranças pessoais da família do presidente e utilizaram o cartão para farrear com dinheiro público em churrascarias, locadoras de carro e lojas de presentes além de diversos saques em dinheiro vivo, que não se sabe onde foram gastos.

Até a CGU, Corregedoria Geral da União, o órgão responsável por fiscalizar as contas do governo, é suspeito de utilização do cartão para fins pessoais, pagando contas em lavanderias e drogarias. Só no cartão da presidência, utilizado para gastos de Lula e do vice José de Alencar e de suas famílias, foram gastos R$ 4 milhões!

O roto falando do esfarrapado

Para cada escândalo, a cínica oposição burguesa (PSDB e o DEM, ex-PFL), arma um circo na mídia fingindo espanto frente à corrupção. Dessa vez não foi diferente: tentam armar uma CPI no congresso para investigar os gastos com os cartões corporativos no governo Lula.

A maior ironia é que os tais cartões foram criados no governo FHC e, por isso, a oposição se mostra indignada frente à ameaça governista de fazer uma CPI para investigar a gastança desde 1998, quando os papéis eram invertidos e o PSDB estava no governo se beneficiando da tal ”˜farra”™. O medo da oposição é que se tornem públicas as falcatruas realizadas no governo FHC, mostrando que a corrupção é parte integrante e inseparável de qualquer governo capitalista e desmascarando o cinismo dessa oposição burguesa suja de lama até o pescoço.

O acordo que estão fazendo o PT e o PSDB é de que a CPI que está sendo criada, por motivos de “segurança nacional” , não investigue os gastos pessoais nem de FHC nem de Lula. Segurança nacional, nesse caso, significa preservar a imagem de Lula e FHC perante as massas.

Para se proteger, o governo começou a lotear e entregar cargos nas empresas de energia do estado para o PMDB, que tem senadores suficientes para conter maiores problemas na CPI. Lula e seus ministros gastam o dinheiro público e depois utilizam as empresas estatais como moeda de troca para garantir sua impunidade. Do outro lado, a oposição burguesa engrossa a voz com um discurso moralista, mas se arrepia toda ao pensar na possibilidade de ser também investigada, pois sabem que são tão sujos quanto. É o roto falando do esfarrapado.

Mara é estudante da Fundação Santo André

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