Sexta 29 de Março de 2024

Internacional

Mais que nunca, com o povo grego pela anulação da dívida

18 Feb 2015 | A “Troika”, conformada pelo FMI, a UE, e o Banco Central Europeu, aprofunda a chantagem sobre o governo grego para que aceite continuar com o ajuste e utilize os recursos para o pagamento da dívida pública. A solidariedade com os trabalhadores e o povo grego é mais necessária do que nunca.   |   comentários

A “Troika”, conformada pelo FMI, a UE, e o Banco Central Europeu, aprofunda a chantagem sobre o governo grego para que aceite continuar com o ajuste e utilize os recursos para o pagamento da dívida pública. A solidariedade com os trabalhadores e o povo grego é mais necessária do que nunca.

Após a segunda-feira onde o governo grego rechaçara a continuidade do plano de ajuste exigida pelo Eurogrupo para refinanciar a dívida, nesta terça-feira a chantagem continuou. Jeroen Dijsselbloem, o ministro de finanças holandês que preside o grupo europeu manteve-se firme em sua posição ao decidir que Atenas deve buscar uma extensão do plano de ajuste: “Realmente depende dos gregos. Não podemos forçá-los ou pedir. Realmente depende deles. Estamos prontos para trabalhar com eles, também pelos próximos dois dias”, disse. “O governo grego deve mudar sua posição”, manteve o ministro de Finanças da Áustria, Hans Joerg Schelling.

O primeiro ministro grego, Alexis Tsipras rechaçou o ultimato, e disse nesta terça-feira que seu governo não estava apressado em chegar a um acordo com a zona do euro a custo de abandonar suas promessas eleitorais de por um fim a austeridade e afirmou que não fará concessões. Declarou que “tem havido um costume de que os governos recentemente eleitos atuem separados de suas promessas pré-eleitorais. Repito, estamos pensando em implantar com efeito nossas promessas de mudança”.

Por sua vez, Tsipras anunciou as primeiras medidas legislativas que seu Governo apresentará nesta próxima quinta: a proibição dos despejos forçados da primeira habitação e a ampliação do círculo de pessoas que se beneficiarão com a parcela de suas dívidas com o Tesouro.

Por sua vez, o ministro grego de Finanças, Yanis Varoufakis, assinalou em tom conciliador: “Na Europa sabemos discutir para chegar numa solução muito boa, uma solução honrosa para um desacordo inicial”.

As condições da chantagem

O ministro Varoufakis assegurou, após as negociações de segunda-feira, que o comissário de Assuntos Econômicos da UE, Pierre Moscovici, havia lhe apresentado um rascunho de um comunicado que estava disposto a firmar. O mesmo previa uma prorrogação do crédito como passo intermediário para firma um “novo contrato de crescimento com a Grécia”.

Sem embargo, o documento foi retirado pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijselbloem, antes do início da reunião e substituído por outro comunicado que exigia da Grécia a prorrogação do resgate em troca de flexibilidade que, segundo o ministro, nunca se concretizou.

Segundo as versões filtradas dos rascunhos, entre o primeiro documento que Varoufakis dizia que poderia assinar e o segundo apresentado por Dijsselbloem, apresentavam-se várias diferenças. O primeiro assinalava que a Grécia pretende finalizar com êxito o programa, levando em conta os planos do novo Governo. Esta frase aparece riscada no texto, no que consta que a Grécia reitera seu “compromisso inequívoco de honrar suas obrigações financeiras com todos seus credores”. O segundo coloca: a “extensão técnica de seis meses do atual programa como passo intermediário para trabalhar em uma solução posterior”, também indica que o FMI seguiria “desempenhando seu papel”. Segundo o mesmo documento, o governo do Syriza teria que dar “seu compromisso firme de que se absterá de qualquer ação unilateral”. Também que a Grécia deve garantir a sustentabilidade da dívida na linha “com os objetivos acordados na declaração do Eurogrupo de novembro de 2012”.

Trata-se de toda uma série de exigências de caráter colonialista com o qual a Troika pretende continuar a legalização da espoliação da Grécia, sobre a base da miséria dos trabalhadores e o povo grego.

Mercados apostam no ultimato enquanto continua a fuga de capitais

Para não ficar atrás o banco de investimento Barclays declarou que o fracasso das conversações aumentava o risco de que a Grécia deixasse a zona do euro e levantou a perspectiva de que Tsipras tenha que chamar um referendo sobre se aceita um acordo com condições ou se o país abandona o euro.

Não obstante, muitos operadores financeiros apostaram no êxito da chantagem. Segundo a Reuters, “muitos investidores crêem que apesar da retórica dura, as partes encontrarão um consenso antes que expire a linha de crédito de Atenas dentro de 10 dias. Caso não entrem em acordo, a Grécia ficará sem ativos rapidamente”.

As ações gregas caíram na terça após o estancamento das negociações entre Grécia e o Eurogrupo. O índice referencial da bolsa grega caiu para 4,7% pouco depois de sua abertura. Posteriormente recuperou o terreno e terminou fechando com um decréscimo de 2,45%. As ações dos bancos gregos terminaram com uma queda de 6,4%, em troca, os bancos da zona do euro se recuperaram de perdas iniciais e fecharam com alta de 0,28%.

Entretanto, a fuga de capitais, fonte de enormes negócios do capital financeiro, incluindo os capitalistas gregos, continua. A mesma vem desenvolvendo-se há algum tempo: apenas em dezembro de 2012, estima-se que se enviaram ao estrangeiro 7,6 bilhões de euros, que equivalem a 4% do PIB grego. Algumas estimativas indicam que a semana passada concluiu com um ritmo diário de retirada de fundos dos bancos que oscila entre os 200 e 300 milhões de euros.

Mais que nunca, com o povo grego pela anulação da dívida

Numa situação em que o desemprego supera os 27% e chega a 50% entre os jovens e as mulheres, com a metade da população abaixo da linha da pobreza, a Troika pretende impor através da chantagem mais ajustes e mais miséria para os trabalhadores e o povo grego. Não é possível sair desta situação de verdadeira catástrofe social como pretende o Syriza com reformas tíbias e apelando à boa vontade da Troika, que deu mostras de sobra que não tem nenhuma.

A dívida pública que cresce aos 315 bilhões de euros e que representa 185% do PIB foi gerada pelos capitalistas gregos e os banqueiros europeus. A única saída para que a crise não continue sendo paga pelos trabalhadores e o povo grego não é a renegociação da Troika em que Tsipras e Varoufakis fomentam ilusões e que vem fracassando, mas a imediata anulação da dívida grega.

Por isso, como vínhamos assinalando, não apoiamos sua posição de negociação para seguir pagando a dívida criada por quem enriqueceu e segue enriquecendo às custas da fome da maioria da população.

Nossa solidariedade é com os trabalhadores e o povo grego que vem demonstrando uma enorme vontade de lutar com mais de 30 greves e paralizações gerais, contra a austeridade da Troika e dos governos capitalistas do PASOK-Nova Democracia que aplicaram os memorandos.

Para enfrentar a Troika é necessária a mais ampla solidariedade internacional com os trabalhadores gregos. Se são derrotadas as pretensões colonialistas da Troika será um passo importante, muito além da Grécia, na luta para que a crise seja paga pelos capitalistas.

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