Sábado 20 de Abril de 2024

Nacional

"A PRECARIZAÇÃO TEM ROSTO DE MULHER" - 2ª EDIÇÃO

Mais de 300 trabalhadores e estudantes lotam a Casa Socialista Karl Marx no lançamento e o livro se difunde rapidamente

06 Apr 2013 | LEIA TAMBÉM "DEPOIMENTOS SOBRE O LIVRO"   |   comentários

Nestas páginas, queremos expressar o grande lançamento da 2ª edição do livro “A precarização tem rosto de mulher”, das edições ISKRAS, que, no dia 9 de março, como parte das atividades do dia internacional das mulheres lotou a Casa Socialista “Karl Marx” com mais de 300 pessoas, com a presença de trabalhadora(e)s terceiriza@s de diversas empresas, trabalhadoras da luta das merendeiras em Campinas, trabalhadores de fábricas, professores, metroviários, (...)

Nestas páginas, queremos expressar o grande lançamento da 2ª edição do livro “A precarização tem rosto de mulher”, das edições ISKRAS, que, no dia 9 de março, como parte das atividades do dia internacional das mulheres lotou a Casa Socialista “Karl Marx” com mais de 300 pessoas, com a presença de trabalhadora(e)s terceiriza@s de diversas empresas, trabalhadoras da luta das merendeiras em Campinas, trabalhadores de fábricas, professores, metroviários, bancários, mas também de dezenas de estudantes e secundaristas de São Paulo, Campinas, Franca, Marília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Queremos também, através de depoimentos de trabalhadora(e)s e jovens, retratar o mais profundo que o livro expressa e está provocando. Não somente nas centenas de edições vendidas em quase um mês, mas na difusão que cada trabalhador(a), e principalmente aquelas precarizadas que têm rosto de mulher e que enxergam no livro a sua história.

Este livro militante é uma ferramenta que retrata lutas onde trabalhadora(e)s terceirizada(o)s auto-organizados se levantaram contra as condições precárias e desumanas de trabalho, e traz a importante combinação dessas lutas com uma camada de jovens e estudantes sensíveis à superexploração capitalista, e com as idéias e métodos do marxismo revolucionário, que pretende despertar também em cada trabalhador(a) e jovem que a luta pela emancipação das mulheres é a luta contra o capitalismo. Nos orgulha que tenhamos ouvido nos ônibus em Ribeirão Preto, terceirizadas da USP comentando entre elas sobre o livro que tinham escutado falar. Outras daquelas que participaram de lutas como as que estão relatadas dizendo que querem o livro e que pegam outros para repassar. Nos estimula cada email que recebemos de várias cidades e estados. Cada reunião que trabalhadoras (es) querem organizar ou estão organizando em seus locais de trabalho para discutir o livro. Cada trabalhador (a) que, frente à ditadura patronal a qual são submetidos principalmente os setores mais precários da nossa classe, pede os livros, o lê, e os passa clandestinamente nos locais de trabalho. São as expressões da fortaleza da nossa classe e desses rostos de mulher (em sua maioria) que protagonizaram lutas como a da Dima e da União, junto a companheiros homens, ou da BKM e da Façom, empresas majoritariamente de homens que também deram seu exemplo, todas elas expressas nesse livro militante.

A precarização do trabalho é uma questão tão sentida nesse país - que teve seu crescimento econômico nos 10 anos do governo do PT sustentado pelo trabalho precário- e tão sentida também nesse mundo que vive uma crise capitalista que já está em seu sexto ano e coloca cada vez mais a necessidade da unidade da classe trabalhadora e de que esta tire lições de cada passo da história que ela está construindo. Para uma luta conseqüente contra a precarização do trabalho é necessário a defesa da unidade das fileiras operárias através da efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso público, e do trabalho igual, salário e direitos iguais. Neste momento em que as centrais sindicais como a CUT e Força Sindical negociam com o governo, o Congresso e a burguesia através de projetos de lei da “regulamentação” da terceirização e o ACE (vide editorial “10 anos de governo do PT”) demonstrando o completo atrelamento aos capitalistas e ao governo, a luta contra a precarização é fundamental para preparar a unidade da classe trabalhadora no enfrentamento da estratégia dos capitalistas para que os trabalhadores paguem pela crise.

A partir das agrupações que impulsionamos com trabalhadora(e)s e jovens independentes, como Metroviários pela Base, Professores pela Base, Boletim Uma Classe dos bancários da Caixa Econômica Federal, grupo de mulheres Pão e Rosas, Juventude as Ruas, estamos preparando o lançamento de um grande movimento contra a precarização do trabalho por salários e direitos iguais, pela efetivação dos contratados e terceirizados na perspectiva de constituir um campo de ativismo político e sindical que reúna trabalhadores e jovens de diversas categorias.

O livro foi apresentado por Silvana Ramos, principal liderança da greve das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da Dima na USP em 2005 e militante do Pão e Rosas e da Ler-qi e por Diana Assunção, dirigente da LER-QI, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP e fundadora do Pão e Rosas Brasil, uma das trabalhadoras perseguidas pelo Ministério Público e pela Reitoria no caso da denúncia aos 72 estudantes e trabalhadores.

Silvana contou a experiência da luta da DIMA e os seus principais ensinamentos como a organização dos trabalhadores, a luta contra a burocracia e contra a opressão que vivia no local de trabalho. Retratou a importância do apoio do SINTUSP, estudantes e professores. Além da força que tiveram ao convencer outr@s terceirizad@s se juntarem a luta.

“ (...) sindicato (SIEMACO) trouxe duas peruas com outras trabalhadoras terceirizadas para ficarem contra nós e fui falar com ela: qual a situação de vocês? Elas responderam: Porque se a gente ficar aqui receberemos os três meses de salários que estão atrasados. Aí falei para elas que elas estavam na mesma situação que a gente e para elas não lutarem ao lado do patrão e ficar com a gente para ficar mais forte! Aí ficou todo mundo com a gente lutando, e o patrão ficou sem saber o que fazer, o patrão ficou com medo de perder o setor que a USP pagava para ele, mas que ele não pagava para a gente.(...) Isso é para a gente ver que se a gente se unificar e se a gente lutar junto, como classe, uma só classe, a gente vê que a gente vence , foi aí que a gente viu que a gente tem força para lutar!”

“As trabalhadoras devem buscar se organizar e devem convencer seus maridos e companheiros para nos ajudarem em nossa luta. Durante a greve da Dima eu convenci meu companheiro a dividir as tarefas domésticas comigo, pois eu não conseguia ficar nas assembléias e depois dar conta de tudo sozinha. Mas isso não é suficiente. Temos que exigir que o Estado garanta creches, lavanderias e restaurantes públicos para que não tenhamos que continuar arcando de forma gratuita com o trabalho doméstico dentro das nossas casas, o que para as trabalhadoras significa uma dupla jornada de trabalho”

“A gente tem que lutar, por isso que eu chamo a vocês para que a gente possa lutar junto. A gente se organiza no Pão e Rosas onde chamamos as mulheres precarizadas para falar dos seus direitos(...) Esse livro é uma chamado para que vocês venham lutar com a gente e formar o Pão e Rosas”.

Diana falou sobre as características da precarização do trabalho como uma política de Estado para dividir e enfraquecer a classe operária, e o papel que governos, como o do PT, cumprem. Reivindicou as respostas atuais da classe trabalhadora e da juventude em países, como na Europa, contra a crise capitalista e pontuou a importância da combinação entre a combatividade de terceirizados com um sindicato classista como o Sintusp e o programa e prática de militantes trotskistas ao transformarem pequenas lutas em batalhas de classe, forjando amplos setores da universidade na luta pela efetivação dos trabalhadores precários sem necessidade de concurso público.

“Nesta década de PT no governo, as “grandes terceirizadoras”, empresas onde cotidianamente morrem trabalhadores por péssimas condições de trabalho como a Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, foram as empresas da construção civil que mais lucraram com o chamado “Programa de Aceleração do Crescimento” (PAC). Uma tendência que deve aumentar diante dos megaeventos como a Copa e as Olímpiadas em 2014. Estas empresas são ao mesmo tempo as grandes financiadoras do PT e do PSDB nas eleições – e em São Paulo, com Fernando Haddad não é diferente”.

“ (...) reivindicamos profundamente o papel que cumpriu o Sindicato dos Trabalhadores da USP, que após estas experiências não apenas passou a considerar como base de sua categoria todo o trabalhador terceirizado e informal, possibilitando que estes se filiassem ao Sindicato, como votou em Congresso Estatutário o programa pela efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público, uma vez que o fato de já estarem trabalhando é a maior “prova” de que podem continuar fazendo – e de forma mais qualitativa – se tiverem os mesmos salários e direitos. Para isso, o Sintusp enfrentou toda forma de repressão, desde a demissão de Brandão até multas ao nosso Sindicato. Ao mesmo tempo é preciso dizer que este é um programa que demanda um enorme movimento, uma enorme aliança capaz de reverter os ataques neoliberais das últimas décadas. Esta é urgência desta luta. E não é um programa impossível.

Diana também retratou a realidade das mulheres em nosso país localizando numa perspectiva marxista revolucionária a luta contra a opressão, se contrapondo a estratégia do feminismo burguês que ilude as mulheres através de uma saída por dentro do capitalismo.

“ (...) neste governo também vemos a violência contra as mulheres aumentar drasticamente. Os dados oficiais mostram que a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil e a cada 2 horas uma mulher é assassinada. Este é o país onde vemos a impunidade dos assassinos de Eliza Samudio – que chegou à recorrer à tão propagandeada Lei Maria da Penha sem sucesso e que no final das contas seus assassinos terão liberdade em poucos anos”.

“(..)Há três anos o Brasil é presidido por uma mulher. Que mudanças houve na vida das mulheres? (...) Estas mesmas mulheres “no poder” disseminam uma ideologia feminista burguesa que é tomada por amplos setores feministas, como a Marcha Mundial de Mulheres ligada ao próprio governo, que buscam manter a idéia de que é possível uma emancipação das mulheres por dentro deste sistema capitalista. Nada mais falso. Como dizia Alexandra Kollontai, uma revolucionária russa: “Apesar da aparência radical das reivindicações feministas, não se deve perder de vista o fato de que as feministas burguesas não podem, em razão da sua posição de classe, lutar pela transformação fundamental da estrutura econômica e social contemporânea da sociedade, sem a qual a libertação das mulheres não pode ser completada. (...) Isto nos diferencia, estrategicamente do feminismo burguês e reformista: não são os homens nossos inimigos, mas sim a burguesia”.

Para adquirir o livro envie email para a Editora Iskra ([email protected]) ou entre em contato com um de nossos militantes no seu local de trabalho ou estudo.

Depoimentos sobre o Livro

“A precarização tem rosto te mulher, eis o alerta, exposto em tom quase de desabafo, que marca esta importante obra. A precarização das relações de trabalho, por si, representa uma grande perversidade, na medida em que gera a diminuição de direitos e de garantias, além de uma segregação no ambiente de trabalho. Esse é um aspecto extremamente relevante a ser considerado nas análises sobre esse fenômeno jurídico-econômico. As análises, no entanto, serão limitadas quando não abordarem o caráter discriminatório, em termos de gênero, no qual se assenta a prática da terceirização. A presente obra, porque traz à tona tal problema, apresenta-se, portanto, como essencial para quem queira entender um pouco mais sobre o que se convencionou chamar terceirização”.

Jorge Luiz Souto Maior, Profa. da Faculdade de Direito da USP e Juiz do Trabalho

"Em uma quadra histórica regressiva, de ataque às conquistas dos trabalhadores, de capitulação de parte das direções sindicais e operárias ao capital, resgatar uma experiência classista, de luta, de auto-organização das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, de combatividade traduz-se em um rico e valoroso instrumento para o projeto socialista de emancipação humana."

Maria Beatriz Abramides, Profa. do Curso de Serviço Social da PUC-SP e Diretora da APROPUC-SP

"O sindicato da USP deu oportunidade delas correrem atrás do direito delas. O sindicato do metrô deveria vir falar com a gente pra saber o que tá acontecendo e reunir todo mundo pra cada um falar um pouco da sua situação, aí as coisas iam mudar. Acho errado, um absurdo, a gente ter que pagar pra vir trabalhar. Uma mulher que trabalha à noite tem que andar 40 minutos de chinelo pra poder pegar a perua pra vir trabalhar, porque a empresa só paga uma passagem. E eles colocam as pessoas pra trabalhar muito longe"

M., trabalhadora terceirizada da limpeza do Metrô, pela empresa Guima

"Os depoimentos de Diana Assunção (autora do livro) e Silvana (trabalhadora terceirizada) foram essenciais para demonstrar o quanto à terceirização prejudica e subtrai as forças e os direitos não somente do cidadão que vive neste precário modo de trabalho, mas principalmente da sociedade como um todo. Somado aos depoimentos o evento contou ainda com diversas expressões artísticas (como o grafite, a poesia e a música) que abrilhantaram ainda mais o evento. Em resumo posso dizer que sou uma pessoa mais consciente depois de ter passado por esta experiência! A sociedade precisa de novos pensamentos, novos lançamentos, novos movimentos. Esse é o caminho!"

J., trabalhadora efetiva do Metrô

"O livro precarização tem a cara da mulher, não só como diz o titulo como eu penso a precarização e desqualificações, é um relato verdadeiro qual foi bem relatada pela escritora e parabenizo pelo único trabalho nesse sentido. Eu, que venho lutando pela sobrevivência dentro da terceirização há 11 anos, vejo apoio sincero nesse grupo Pão e Rosas sem interesse politico ou de qualquer outro sentido, que não seja pelo fim da escravidão contra a mulher e principalmente contra o capitalismo que só nos tem feito prisioneiros do sistema, e a favor do ser humano que é o único intuito valorizar. Por isso obrigado Pão e Rosas! É com um pessoal como vocês que iremos mudar nosso planeta e fazer de pessoas simples ter valorização e espaço e principalmente sonhos e respeito. Sou Shirlei Inês dos Santos por um mundo mais justo para os mais humildes, homens e mulheres."

Merendeira terceirizada da empresa EB na Prefeitura de Campinas demitida por lutar por melhores condições de trabalho e seus direitos.

"A atividade de lançamento do livro a precarização tem rosto de mulher foi importante porque conta a história de trabalhadoras terceirizadas, mostrando todas as dificuldades e humilhações que essas trabalhadoras passam em seus postos de trabalho, e que muitas vezes acham normal. O mais importante foi escutar tudo isso de uma trabalhadora terceirizada de maneira simples onde todos entenderam. Seria muito importante que em todas as empresas tivessem uma Silvana lutando pelos interesses de todos os trabalhadores."

Neide - trabalhadora de creche na prefeitura Cotia

"Achei muito bom aquele dia, aquilo que a Silvana falou é a pura verdade: o patrão diz que o barco tá furado e pra gente usar nossa canequinha pra ajudar a tirar a água, mas ela não entrou nessa, não cruzou o braço, tem que ser isso mesmo, a gente tem que lutar pelo nosso direito até o fim."

V., terceirizada da limpeza da Caixa, empresa Brasanitas

"O encontro, que contou com a presença de cerca de 300 pessoas, entre estudantes e trabalhadores efetivos e terceirizados, se afirma como importante marco para a discussão e reflexão sobre uma luta que se soma a importantes exemplos para o conjunto da classe trabalhadora. Reforçando que a unificação das lutas de todos os trabalhadores, efetivos, terceirizados, precarizados, é condição fundamental ao futuro de nossa emancipação. Esta luta já faz parte da história da classe trabalhadora e, como tal, já nos fornece combustível e inspiração para as batalhas que estão por vir."

Thais, delegada sindical e cipeira da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.

"Através do livro ‘A Precarização tem rosto de mulher’ adquiri a experiência de uma luta que não pude participar, a luta que as trabalhadoras terceirizadas travaram na USP contra a precarização de suas vidas através da precarização de seu trabalho, tendo que lutar pelo mínimo: receber o seu salário. Uma das grandes lições que eu, militante na Universidade, pude tirar é a importância da aliança entre estudantes e trabalhadores; o apoio dos estudantes foi pra além de fortificar a luta das trabalhadoras, fazendo dela sua por reconhecer o absurdo de tamanha exploração, também fez com que essas trabalhadoras tivessem pela primeira vez na universidade a possibilidade de ser ouvidas e a coragem de falar para todos os estudantes dessa exploração e humilhação que sofriam diariamente caladas pelos corredores. A partir da auto-organização e com o apoio de outros setores da universidade essas trabalhadoras encontraram a única maneira de garantir seus direitos. A experiência de luta que relata esse livro é uma grande lição."

Jéssica Antunes, militante da Juventude às Ruas e Diretora do Centro Acadêmico da Letras – USP.

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