Terça 16 de Abril de 2024

Movimento Operário

Mais de 1000 estudantes por dia serão prejudicados com fechamento de restaurante da USP

09 Feb 2015   |   comentários

A existência dos restaurantes universitários é uma conquista estudantil. E não apenas: é também ligada à possibilidade da permanência estudantil. Não é a toa que os bandejões, assim como as creches e o Hospital Universitário, são, historicamente, os locais mais atacados pelas políticas da Reitoria da USP e do Governo do Estado de São Paulo. Somente nos restaurantes universitários da USP são servidas quase 20 mil refeições todos os dias para os estudantes (...)

A existência dos restaurantes universitários é uma conquista para a permanência estudantil. Não é a toa que os bandejões, assim como as creches e o Hospital Universitário, são, historicamente, os locais mais atacados pelas políticas da Reitoria da USP e do Governo do Estado de São Paulo. Somente nos restaurantes universitários da USP são servidas quase 20 mil refeições todos os dias para os estudantes da universidade.

Marcello Pablito Santos, trabalhador do Restaurante da Física e diretor do SINTUSP nos explica que: “Os mandantes da USP nunca foram favoráveis às políticas de permanência estudantil ou de extensão e atendimento à comunidade. O ataque aos bandejões significará que por dia mais de 1000 estudantes serão prejudicados. E temos que lembrar que todos esses direitos só foram conquistados com muita luta pela comunidade. No caso das estudantes que são mães, o cancelamento das matrículas das creches também interferem muito nas condições para que possam estudar, pois conhecemos casos em que a mãe tinha que levar seu filho para a sala de aula porque não tinha com quem deixar a criança”.

Está sendo escandalosa a tentativa das Reitorias e Direções de retirar as condições de permanência dos estudantes pobres das Universidade Públicas. Pablito denuncia: "Nas Universidades Federais, a aprovação de cotas raciais aumentou a entrada de jovens pobres e da classe trabalhadora na Universidade. Porém, contraditoriamente, as vagas nas moradias estudantis e as políticas de permanência diminuíram, fazendo com que esses jovens não consigam se manter e concluir seus cursos, aumentando a evasão. Na UNESP, inclusive, 17 estudantes foram expulsos da Universidade por defenderem o aumento de vagas na moradia estudantil. Um absurdo: reprimir aqueles que lutam para que os filhos da classe trabalhadora não sejam excluídos da Universidade. Um ataque que também não podemos aceitar!"

Pablito relembrou que a política de desmonte da USP é seletiva, pois está ligada a uma elitização profunda, que significa retirar dos trabalhadores seus direitos, terceirizar e privatizar os serviços prestados à comunidade e aos estudantes, aumentando as relações corruptas entre empresários e administradores públicos e, assim, extinguir as condições mínimas de permanência dos estudantes nas Universidades.

Esse processo, segundo Pablito, já vem acontecendo há anos. As precárias condições de trabalho nos bandejões fazem com que hoje dezenas de funcionários estejam afastados de suas funções com restrição médica. A grande maioria são mulheres que sofrem com tendinites, bursites ou já tiveram de se submeter a duas ou três cirurgias do túnel do carpo [1] devido ao esforço repetitivo de servir 2.000 refeições por dia, outros por problemas de coluna e que após 10, 15 anos de trabalho possuem hérnias e doenças musculares sem cura que carregarão pelo resto de suas vidas.

“A cada ano mais trabalhadores adoecem por conta do trabalho exaustivo e não existe contratação. Sabemos que é intencional da Reitoria, pois a terceirização do restaurante da química, no jantar da Faculdade de Direito e em restaurantes do interior teve como justificativa a falta de funcionários.” Esse argumento hora e outra volta à boca de Waldyr Jorge, Superintendente da Assistência Social (responsável direto pela política de permanência da USP), que, ainda segundo Pablito, frente à mobilização dos trabalhadores tem retrocedido no discurso, mas cujo projeto segue sendo o mesmo: privatizar e terceirizar a permanência estudantil e os serviços à comunidade, seja fechando restaurantes sem previsão de reabertura, seja terceirizando diretamente como fizeram na Quimica.

Frente a essa situação dramática para os trabalhadores dos bandejões, creches e HU e também para as condições de estudo e permanência dos estudantes, Pablito faz um chamado: “Aprovamos com os trabalhadores dos Restaurantes uma paralisação para o dia 11/02, quarta-feira, para exigir que nenhum restaurante seja fechado, a reposição imediata dos trabalhadores que saírem pelo PDV e a contratação para preencher o quadro necessário, além da efetivação dos trabalhadores do restaurante da química e a volta de sua administração para a USP. Para esse dia chamamos todos os estudantes que almoçam todos os dias no bandejão a participarem dessa paralisação. Toda a iniciativa dos coletivos, centros acadêmicos e DCE para garantir o funcionamento dos bandejões e a defesa da saúde dos seus trabalhadores são fundamentais para barrarmos esse primeiro ataque que a Reitoria tenta impor logo no início de 2015 a toda a comunidade acadêmica.”

[1A Síndrome do túnel do carpo é causada pelo esforço repetitivo que acomete a região do punho por onde os nervos chegam ao polegar. Essa síndrome além de causar fortes dores impede que a pessoa possa carregar até mesmo sacolas ou levantar um copo de água. A maioria dos casos é diagnosticada em mulheres – afinal, são as principais trabalhadoras das áreas de limpeza e serviços gerais com esforço repetitivo nas áreas do punho. A medicina propõe procedimento cirúrgico que, se bem-sucedido, corta o ligamento e permite o nervo desenvolver a inflamação (inchaço) sem pressionar o túnel por mais alguns anos.

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