Quarta 24 de Abril de 2024

Internacional

REVOLUÇÃO ESPANHOLA

Maio de 1937: quando Barcelona esteve sob controle operário

30 May 2012 | Em seu 75º aniversário, reproduzimos um artigo sobre este episódio da Revolução Espanhola, escrito pelos companheiros Federico Grom e Santiago Lupe do Classe Contra ClasseCcC, do Estado Espanhol, que foi publicado como suplemento especial de seu jornal Contracorriente.   |   comentários

Em seu 75º aniversário, reproduzimos um artigo sobre este episódio da Revolução Espanhola, escrito pelos companheiros Federico Grom e Santiago Lupe do Classe Contra ClasseCcC, do Estado Espanhol, que foi publicado como suplemento especial de seu jornal Contracorriente.

De 16 a 19 de maio foram realizadas as jornadas para comemorar o 75º aniversário do que ficou conhecido como os fatos de maio de 1937, organizadas pela Agrupação Revolucionária No Pasaran que impulsionamos desde o Clase contra Clase junto a jovens e trabalhadores revolucionários. As jornadas contaram com dois debates, um na Universidade de Barcelona e outro na Universidade Autônoma, e uma visita pelos principais lugares onde se desenvolveram os fatos de maio, no centro da cidade.

Estas foram boas oportunidades para conhecer a história revolucionaria e operária da nossa cidade, lugares pelos quais quiçá passamos habitualmente e que escondem um passado das ações mais valiosas de nossa classe. Não acreditamos que o capitalismo tenha uma saída pela via da reforma, nem política nem econômica. Mas sim que os trabalhadores e os setores populares devemos aproveitar as lutas que promete a atual crise capitalista para nos prepararmos e levar adiante a derrocada revolucionária desta democracia para ricos, para colocar a riqueza nas mãos e no controle dos trabalhadores. Nisto acreditamos e para isto nos preparamos, em primeiro lugar sendo parte ativa e defendendo esta perspectiva em todas as lutas que acontecerem, uma vez que refletimos e tratamos de aprender com os que antes de nós também se propuseram a “tomar o céu por assalto”.

Estas heroicas jornadas de Maio desnudam, deixando livre de toda visão que abrandam e mitificam, quais foram as diferentes estratégias que implementaram as principais organizações operarias na Revolução Espanhola, e quais as consequências que cada uma teve no desenrolar dos fatos. Em certa medida falar de maio de ’37, afogamento em sangue da Revolução Espanhola por parte do governo republicano, a Generatitat e o PSUC, obriga a fazer um balanço e uma reflexão profundos não só destas forças, mas também das forlas que foram parte ativa das jornadas revolucionárias de kulho, a CNT e o POUM.

A Revolução Espanhola e os Governos de conciliação de classe

A resposta dos trabalhadores ao golpe fascista entre os dias 18 e 19 de julho de 1936 é o que inicia a Revolução Espanhola. Enquanto a Frente Popular e o Governo da Generalitat chamavam a ter calma e asseguravam que a situação estava sob controle, os trabalhadores saíam em busca de armas para derrotar os rebeldes, conseguindo derrotar o golpe militar na maior parte do território. Os fascistas foram derrotados e grande parte do território e o Estado burguês republicano deixava em evidência sua impotência, uma vez que estava em grande medida em colapso. O poder passou para as mãos dos trabalhadores e camponeses que começaram a levar adiante transformações revolucionárias, como a coletivização das terras, das fábricas e setores estratégicos como os transportes. O consumo ficou em poder de Comitês de Abastecimentos construídos pelos trabalhadores.

Também a ordem pública passou para as mãos destes, contando com as Patrulhas de Controle que estabeleceram a ordem na cidade em lugar da polícia. Isto deu impulso ao surgimento de milícias, organizadas em dias poucos dias e que de imediato assumiram a luta militar contra o fascismo, avançando sobre parte de Aragon e exportando a revolução por todos os territórios que passavam.

Esta ofensiva dos trabalhadores era o temor da burguesia, não só da burguesia fascista, mas também da burguesia republicana. Desde o início da revolução, seus representantes políticos começaram a desenhar a política com a qual tratariam de recompor o Estado republicano e liquidar os organismos de auto-organização dos trabalhadores e as conquistas revolucionarias de julho. Desgraçadamente, as organizações operarias, como a CNT-FAI e o POUM, se mostraram desde o primeiro momento dispostas a colaborar com esta tarefa, por meio da colaboração governamental. Desde diferentes organismos, como o Comitê Central de Milícias Antifascistas, o Conselho de Economia da Generalitat foi chegando ao primeiro governo com vereadores da CNT e do POUM, em 26 de setembro de 1936. Em começos de novembro, a direção nacional da CNT-FAI ampliou esta colaboração com 4 ministros anarquistas no governo central, entre eles García Oliver e Federica Monsteny. Será sobretudo o governo da Generalitat o encarregado de ir aprovando os principais decretos contrarrevolucionários, que por sua vez ajudavam a reconstruir o Estado burguês e aniquilavam as conquistas de julho. A participação da CNT e do POUM atuará dando uma “cobertura” de esquerda, aos olhos dos trabalhadores, desta política contrarrevolucionária. A linha colaboracionista de classe destas direções afastará a possibilidade de que aquela multiplicidade de comitês pudessem se coordenar e se centralizar para se impor ao Estado burguês. É preciso dizer que a CNT catalã e nacional, que não só era a principal central sindical em afiliação junto com a socialista UGT, mas também que organizava os setores mais combativos do movimento operário em muitas regiões, como a Catalunha, ao apoiar o governo de Companys e Largo Caballero, contribuiu com um elemento decisivo para desorganizar a classe trabalhadora, militar e politicamente, para enfrentar a contrarrevolução em curso.

Ao mesmo tempo ia crescendo o “partido da ordem”, o PSUC, que junto ao PCE manteria o discurso antirrevolucionário mais ofensivo desde o começo da guerra. Atuavam como correia de transmissão de Stálin, que queria demonstrar sua responsabilidade antirrevolucionária para as potências democráticas e assim chegar num acordo defensivo da URSS. Ajudando com envios de dinheiro, armas e pessoal técnico, político e militar da URSS, começou uma campanha de difamação contra os partidos da revolução que se definiam abertamente anti-stalinistas, o POUM, os taxando de agentes nazistas, chegando a forçar sua expulsão da Generalitat, em dezembro de 1936.

A primeira medida tomada pelos burgueses e quintocolumnistas foi restabelecer a justiça burguesa, agora rebatizada com o nome de Tribunais Populares. Aprovaram, então, os primeiros decretos contra a coletividade da indústria e do campo, que buscavam asfixiar negando empréstimos aos que não estivessem sob controle da Generalitat. E, é claro, os decretos sobre a militarização das milícias pelos quais todas as milícias deveriam passar a formar parte de um exército tradicional sob ordens da República e, aonde isso não ocorria, se praticava o desabastecimento sistemático de armas, munição e equipamentos.
Expulsando o POUM da Generalitat, a CNT continuou dando cobertura a um conjunto de leis que atacavam frontalmente as coletivizações e comitês. Abolindo os Comitês de Abastecimento deixava o caminho livre para a especulação de muitos comerciantes com produtos de primeira necessidade e, dessa forma, para sua escassez por acumulação. Só quando a Generalitat decretou contra as Patrulhas de Controle, os dirigente da CNT se opuseram, mas como forma de conservar seus ministérios. Se ficassem totalmente desarmados, continuariam contando com eles? Sem dúvida esta oposição foi o sinal para a burguesia de que era necessário passar à uma nova fase da contrarrevolução, uma fase mais agressiva, que será iniciada com os fatos de maio.

Os fatos de maio e a política da CNT e do POUM

Na retaguarda republicana – o suposto defensor do anti-fascismo a nível mundial – os trabalhadores tinham três caminhões da Guarda de Assalto republicana para tomar o controle do edifício da Telefônica. Além de um valor simbólico, devido ao fato de numerosos companheiros terem perdido a vida para toma-la em 19 de julho, para a burguesia em sua tarefa de recompor seu Estado, o controle das comunicações, o que era um aspecto chave. Isto provocou a imediata resposta da maior parte dos militantes revolucionários da CNT, da FAI e do POUM, que se combinou com o mal-estar operário e popular produto dos sucessivos decretos que minavam suas conquistas.

Nesta tarde do dia 3 de maio, a Barcelona operária voltou a se alçar com armas nas mãos, a levantar barricadas, desta vez para defender as conquistas revolucionárias de julho que a burguesia republicana, com seus aliados estalinistas, queria terminar de liquidar. Os bairros operário voltaram a estar sob controle armado dos trabalhadores, enquanto o Palácio da Generalitat, na Plaça Sant Jaume, assim como as sedes do Estado Catalão e do PSUC se fortificavam com barricadas. Os canhões de Muntjuic, sob controle de operários da CNT, apontavam para estes edifícios. Em Lleida se tomou o quartel da Guarda Nacional Republicana e em Tarragona e Girona foram ocupadas as sedes dos partidos contrarrevolucionários. A insurreição impactou também na frente, milicianos da ex-Coluna Lenin do POUM começaram a marchar sobre Barcelona, também a Divisão Vermelho e Negra e, inclusive, a ex-Coluna Durruti se concentrou em Barbastro para decidir o que fazer. Somente a direção de diversos dirigentes anarquistas puderam evitá-lo.

Os vestígios de 19 de julho se reproduziram. Se em julho os trabalhadores desobedeceram aos chamados a ter calma da Frente Popular, agora, em maio, tinham que novamente fazer “ouvidos surdos” aos chamados deste tipo. Contudo, desta vez, os chamados vinham dos dirigentes que em julho propuseram que se armassem. Em nome da unidade anti-fascista, os dirigentes regionais e nacionais da CNT, personificados nos ministros anarquistas como Montseny e Garcia Oliver, pediam aos trabalhadores que entregassem as armas, desfizessem as barricadas e voltassem ao trabalho. Dessa forma, atuavam mais uma vez como aliados de “esquerda” da contrarrevolução burguesa-stalinista que se propunha a dar um golpe definitivo contra a revolução. Depois da derrota desta insurreição, com a qual contribuíram, continuaram implementando uma política servil à burguesia republicana. Depois de serem expulsos do governo central ficaram rogando seu reingresso ao governo de Negrín até 1938, quando conseguiram. Enquanto isso, olhavam para o outro lado diante das desaparições, assassinatos, encarceramentos de centenas de seus melhores militantes, ou diante do processo de aniquilamento do POUM. Esquerra e o PSUC, com seus aliados em Valencia da esquerda republicana, e o PSOE, que mantinha a presidência do governo na figura de Largo Caballero, ajudaram a esmagar a revolução com o envio de 8 mil soldados da Guarda de Assalto, desde Valencia. Se a Barcelona revolucionária, o coração da revolução espanhola, era esmagada com as prisões, assassinatos dos elementos mais revolucionários e combativos do movimento libertário, isso prepararia o caminho para terminar de liquidar a revolução no resto da Catalunha e em Aragon oriental, assim como o papel que cumpriu o POUM de “comparsa” dos dirigentes da CNT. O mesmo Nin, como ministro da justiça, tomou parte pessoalmente da discussão do Comitê Local e dos Tribunais Populares de Lleida, cidade sob controle do POUM, onde seus militantes opuseram uma resistência armada contra as tropas da Generaltat que pretendiam reinstaurar o velho Ajuntamento Republicano. Ao irromper os fatos de maio, no início saudaram a resposta dos trabalhadores, porem quando os dirigentes da CNT-FAI se declararam contrários ao levantamento, terminaram somando-se aos chamados por calma e pelo abandono das barricadas a partir do dia 6. Fizeram isso com declarações irresponsáveis onde afirmavam que o proletariado saíra vitorioso do conflito divulgadas poucas horas antes da cidade ser tomada por 8 mil soldados da Guarda de Assalto que iniciaram o desarmamento, as detenções e o assalto à sedes sindicais e do POUM.

Havia alternativa revolucionária à derrota

Apesar do enorme heroísmo da classe operaria espanhola, que tanto em julho de 36 como em maio de 37, foi capaz de atuar muito além das consignas equivocadas que emanavam do governo republicano e duas direções políticas e sindicais, isto não foi suficiente para vencer. Uma das grandes tragédias para a revolução espanhola foi a inexistência de um partido revolucionário que apostasse decididamente por combater o fascismo e, ao mesmo tempo, que se preparasse para que a revolução iniciada em 19 de julho de 1936 terminasse por se impor sobre as ruínas do Estado republicano, unindo desta maneira as tarefas da guerra e da revolução. Este heroísmo se fez carne em destacados setores que trataram de converter sua experiência em um programa para defender e fazer vencer a revolução. Como setores do movimento libertário que romperam com a política colaboracionista da CNT e chegaram a apresentar um programa que apontava a levantar uma alternativa de classe e revolucionária, a desenvolver um poder operário que socializaria a economia e levantar um exército proletário para acabar com a reação, revisando desta forma muitos dos prejuízos que configuram a ideologia anarquista, apesar de que em nenhum momento estes militantes deixaram de se considerar anarquistas. Mas não pela direção da CNT-FAI que tentaram expulsá-los sob a acusação de bolcheviques e trotskistas. Um deles, mas não o único, foi Balius, antigo redator do Solidariedad Obrera, que será fundador dos “Amigos de Derruti” confluindo com centenas de milicianos que voltavam à retaguarda com suas armas em rechaço ao decreto de militarização e centenas de cntistas das Juventudes Libertárias, o sindicato da alimentação, os mineiros de Sallent, entre outros. Esta agrupação foi fundada em 7 de março e chegou a contar com 4 mil militantes. Em maio cumpriu um papel chave nos combates de rua, levantando e organizando uma grande parte das barricadas, em especial em las Ramblas. Porem, o mais destacado foi o programa que levantaram onde mostravam-se partidários de construção de um poder operário na consigna “Junta Central Revolucionária” baseada em organismos de democracia direta de trabalhadores, camponeses e combatentes, assim como a luta pela socialização da economia – contra a autogestão federalista que levava a uma espécie de “capitalismo sindical” e contra o controle que a Generalitat queria impor novamente – ou por um exército proletário, em oposição a um exército popular sob domínio burguês e stalinista. Também no interior do POUM surgiram vozes contrárias a posição de Nin, e o fizeram em torno à célula 72 de tal partido, dirigida por Josep Rebull. Escreveu e lutou internamente por uma linha contrária a participação no governo, sendo partidário de retomar uma política de independência de classes e revolucionária, e encorajando a que seu partido levantasse e pusesse em prática onde tinha influência uma política de desenvolvimento “soviético” dos diferentes comitês, impulsionando a eleição de delegados e sua coordenação e centralização democrática.

Por último, a corrente que apresentou uma alternativa revolucionária de forma mais consequente à política da CNT e do POUM, foram os trotskistas. Quer dizer, o pequeno grupo espanhol da Oposição de Esquerda Internacional, a chamada Sessão Bolchevique Leninista da Espanha, dirigida por Grandiso Munis, que contava com um punhado de militantes em Madrid e Barcelona com escassa incidência nos acontecimentos. Eles, junto a Trotsky, que acompanhava de perto a revolução no seu exílio na Turquia, França, Suécia e finalmente no México, trataram de influenciar Nin, a Esquerda Comunista e o POUM até o último momento, inclusive antecipando seus erros para que abandonassem sua política criminosa de conciliação de classes.

A estratégia e o programa de Trotsky e da Oposição de Esquerda para o Estado Espanhol, se baseavam sobretudo na bagagem teórica e prática do marxismo revolucionário, em especial a enorme experiência da Revolução Russa. Esta corrente foi a primeira e única a se opor inequivocamente à Frente Popular, uma manobra de conciliação de classes que vinha a atualizar a política ensaiada pelos mencheviques e socialistas revolucionários, na Rússia, com o apoio ao governo de Kerensky. Um legado que Trotsky e a Sessão Bolchevique Leninista Espanhola quiseram colocar a serviço da Revolução Espanhola, que poderíamos sintetizar na independência política de classe, lutando pela construção do poder proletário através de organismos democráticos de auto-organização centralizados que constituísse um governo de trabalhadores sobre as ruínas do regime republicano. O desenvolvimento desses organismos de auto-organização ou soviets, além de serem vitais como pilares do poder proletário, eram essenciais para que os revolucionários pudessem conquistar a direção das massas, arrancando-as da influência das direções reformistas.

A expropriação, socialização e planificação democrática sob controle operário de toda a economia, a guerra revolucionária contra o fascismo junto à construção de um exército proletário e levantar ofensivamente um programa revolucionário e que estendesse a revolução para a Europa e o mundo como única possibilidade de evitar o avanço do fascismo e a carnificina imperialistas que estava crescendo, eram as tarefas que o poder operário deveria assumir para colocar em pé uma revolução triunfante que assentaria as bases para a superação do capitalismo.

Desgraçadamente, este programa não pode se fazer carne a tempo em setores significativos do proletariado. Por um lado a ruptura política de Nin com Trotsky, sobretudo depois do apoio de Nin à Frente Popular, não permitiu que tal legado se cristalizasse num partido com uma inserção e influência suficiente entre os trabalhadores catalães e do Estado Espanhol. No movimento libertário, os que começaram a apresentar um programa neste sentido, devido a força da própria realidade, ainda eram poucos, uns 4 mil militantes, e com muito pouco tempo de existência – só 2 meses – e, portanto, com pouca experiência na luta contra sua própria direção e sem terminar de transformar esse programa numa estratégia para vencer e com menor reconhecimento e apoio das bases cntistas em comparação com seus dirigentes históricos que apesar de sua política traidora, ainda gozavam de certo prestígio herdado.

Não se pode improvisar uma direção revolucionária em meio à própria revolução, mas sim deve se formar e ganhar experiência antes, aglutinando os elementos mais decididos, combativos e organizados de nossa classe, fixando-se nos centros de trabalho, ganhando o apoio e a confiança dos trabalhadores. Ou seja, procurar chegar o melhor preparados aos combates decisivos, com um plano decidido a vencer.

Conclusões

Isso não quer dizer que a experiência desses setores não teve um grande valor. Anda que não tenham conseguido incidir decisivamente no rumo dos acontecimentos, contribuíram muito para as gerações futuras, para os revolucionários do mundo na atualidade. A atual crise capitalista nos trás novamente à cena tendências que remetem aos vivido nos anos ’30 do século XX. A crise econômica não para de avançar e nos conduz a um empobrecimento histórico, as tensões entre os Estados também, assim como os fenômenos da luta de classes, tanto pela esquerda, como pela direita, como estamos vendo, com o auge da extrema direita em vários países... O capitalismo nos está conduzindo de novo à encruzilhada na qual se colocará a revolução ou se fará a contrarrevolução sobre nós.

Muitos setores da esquerda frente a essa situação falam de construir partidos anti-capitaistas, amplos, sem delimitação de classe e com um programa que não fala da revolução, nem se prepara para a mesma. Dizem que é a maneira de se adaptar aos “novos tempos”, a mentalidade do senso comum. Também há setores que retomam os velhos prejuízos do anarquismos, muitas vezes mesclados também com o pensamento pós-moderno, o autonomismo... e outras ideologias nascidas sob a ofensiva neoliberal. É comum ouvir falar contra a ideia de preparar-se para a tomada do poder, de construir partidos revolucionários... A revolução espanhola e as razões da sua derrota mostram que todas essas ideologias, vendidas como “novas”, já foram testadas. O POUM demonstrou como os acontecimentos revolucionários lhe superaram e foi incapaz de levantar uma alternativa revolucionária, sua entrada na Frente Popular em fevereiro de 1936 para como diziam “não se descolar das massas”, foi uma adaptação à política de conciliação de classes que depois praticaram “em grande escala” com sua entrada no Governo.

Também o anarquismo e suas posições contra o poder e a organização de uma direção revolucionária em um partido de trabalhadores foram colocados em questão pelo papel da CNT. Ao se chocar com a realidade, com uma revolução que para sobreviver deveria enfrentar o fascismo de um lado e burguesia republicana e o reformismo viram como não poderiam se abster de tomar o poder, quer dizer, controlar a ordem pública, a repressão da reação, a luta no front, a produção, os transportes... Uma parte da direção da CNT e da FAI recusou a isso e optaram – para não aplicar a “ditadura do proletariado”, por participar no Governo e ajudar assim a recompor a “ditadura do capital” com o rosto democrático.

Outra parte, aquela dos Amigos de Durruti, foram sua máxima expressão, romperam com boa parte dessas posições, apostando na conquista do poder pelos trabalhadores, na centralização e planificação democrática da economia por parte dos operários e erguer um Exército proletário eficaz e disciplinado. Inclusive a mesma ideia de direção revolucionária foi colocada por esse setor, sua ausência, como uma das chaves para compreender a derrota. Ideias que tendiam a confluir com a bagagem teórica e as experiência do marxismo revolucionário. Sem lugar para dúvidas, forma as posições dos trotskistas e os escritos de Trotsky os que mais conseguiram levantar uma crítica e balanço da política das direções operárias e levantar um programa e estratégia para vencer. Isso foi devido a que não se baseava exclusivamente na experiência espanhola, partindo do zero, mas sim de quase um século de movimento operário, de revoluções como a russa, a alemã, a chinesa..., da luta contra o stalinismo... cujas lições se haviam condensado no marxismo revolucionário da Oposição de Esquerda Internacional.

A revolução espanhola constituiu pois uma grande experiência que devemos tomar como herança da nossa classe, para definir quais são as linhas mestras pelas quais devemos construir um programa, uma estratégia e uma organização para no seguirmos a tarefa de “tomar o céu por assalto”, os trabalhadores e oprimidos terminemos vencendo.

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