Sábado 20 de Abril de 2024

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Lições da greve estudantil da USP

13 Dec 2013 | Neste artigo buscaremos sintetizar algumas lições da greve estudantil da USP que será aprofundado em um balanço público da Juventude Às Ruas que foi parte ativa da luta estudantil e impulsionou junto a dezenas de independentes as chapas Contra a Corrente na Letras e Douglas na Ciências Sociais da USP, cujas lições se cruzam com as da greve, pois o programa que cada corrente defendeu durante a greve e a luta estudantil se plasmava na campanha eleitoral.   |   comentários

Em outubro, os questionamentos de junho invadiram as universidades estaduais paulistas. A indignação dos estudantes com as condições precárias de ensino e trabalho e o regime autoritário que regem aquelas que são reconhecidas como “as melhores universidades públicas da América Latina” se reverteram em uma das maiores mobilizações dos últimos anos.

Jornadas de junho e a luta na USP

Em outubro, os questionamentos de junho invadiram as universidades estaduais paulistas. A indignação dos estudantes com as condições precárias de ensino e trabalho e o regime autoritário que regem aquelas que são reconhecidas como “as melhores universidades públicas da América Latina” se reverteram em uma das maiores mobilizações dos últimos anos. O choque dessas demandas com a estrutura de poder autoritária controlada por um setor minoritário de professores parasitas, favorecidos e donos de empreiteiras, monopólios e empresas privadas, todos ligados às instituições do Estado (executivo, legislativo, judiciário e a polícia) permitiram um questionamento profundo do caráter elitista e racista destas universidades.

Governo do Estado e Reitoria querem enfiar mais um Rei goela abaixo!

Ao mesmo tempo, 2013 é ano de eleição para Reitor na USP. Para que essa casta parasitária se mantenha no poder há anos (alguns membros dos órgãos colegiados da USP estão lá desde os tempos da ditadura) eles têm o respaldo de um Estatuto e um processo eleitoral extremamente anti-democrático, no qual mil professores titulares decidem quais os três dentre eles que serão sugeridos para que o governador de São Paulo nomeie o próximo Reitor da USP. É a partir da garantia da manutenção dessa estrutura de poder que a Reitoria da USP, pela primeira vez na história, institucionalizou uma consulta (sem validade legal) aberta a comunidade. Sem que uma palavra seja dita pelos reitoráveis, esse processo eleitoral é posterior a uma intransigência da Reitoria em negociar com o movimento, a utilização da força policial ostensiva para reintegração de posse e a prisão de dois estudantes. É nesse cenário que nós chamamos o boicote tanto a essa farsa consultiva quanto à anti-democrática eleição para Reitor da USP.

..não era só por diretas pra Reitor!

Nessa conjuntura, fica claro para todos que o anseio dos estudantes mobilizados não se restringia apenas a questionar o voto direto, mas sim todo o regime universitário e sua estrutura que colocam o conhecimento e a produção da Universidade a serviço dos grandes monopólios e bancos à custa da precarização do ensino, da elitização do acesso e eliminação da permanência e da superexploração do trabalho para garantir os rankings internacionais de produtividade. Infelizmente, porém, desde o início, os estudantes tivemos que combater não apenas nossos inimigos como também as posições das direções do movimento – como a gestão do DCE – que impediram o desenvolvimento de um programa que pudesse questionar a fundo essa realidade, limitando em cada curso e em cada assembleia o conjunto do movimento a pauta “para dentro da USP” de “Diretas já para Reitor!”

Era possível unificar as lutas

Frente à situação nacional aberta em junho e a força da mobilização estudantil da USP e da Unicamp não só era possível conquistar nossas pautas como poderíamos ter unificado nossa luta com as greves da Unicamp e dos professores do Rio de Janeiro. Eram mais de 70 mil pessoas nas ruas no Rio e uma greve e ocupação na USP poderia ajudar a despertar novamente o movimento estudantil pela pauta de educação gratuita, pública e de qualidade para todos, o que para nós deveria se dar em base às cotas proporcionais a população negra em cada Estado, ao fim do vestibular e a estatização de todo sistema de ensino privado.

Infelizmente, porém, a atuação das correntes do PSTU e do PSOL que dirigem o DCE da USP e da Unicamp e também o Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ) foi mais uma mostra da impotência programática e estratégica dessa esquerda. O corporativismo dessa direção, o boicote às tentativas de unificação aprovadas em assembleias gerais das duas Universidades e o distanciamento da pauta dos anseios mais imediatos da população com relação à educação foram os principais fatores que impediram que o movimento estudantil conquistasse vitórias sobre a Reitoria e o governo do Estado. É preciso superar estas direções.

Mexeu com um mexeu com todos! Nenhum acordo com punição!

O movimento começou a refluir quando não encontrou uma saída para além dos muros da universidade combinando com um programa pra além de “diretas pra reitor”. Várias Diretorias apontaram concessões cosméticas que levaram a saída desses cursos da greve. Começava a se desenhar um impasse, e na esteira desse movimento e sem batalhar para a sua reversão, a gestão do DCE da USP, em vez de fortalecer, radicalizar e expandir a greve começou a recuar nas pautas e avançar para uma rápida negociação mesmo que subordinada a velhas promessas da Reitoria para poder garantir a saída da greve.

Ainda assim, os estudantes seguiam lutando para arrancar conquistas de verdade (e não palavras ao vento) e passaram por cima da posição do DCE rejeitando o termo de negociação que permitia a punição da Reitoria contra os estudantes em luta.

Um movimento estudantil que prepare as lutas de 2014

Todos estão se preparando para o ano de 2014, que, com toda a certeza será um ano de muita mobilização. É necessário que o movimento estudantil esteja armado com um programa que possa responder as demandas de junho por educação pública, gratuita e de qualidade. O movimento estudantil precisa estar à altura dos desafios de 2014 e buscar se ligar com as demandas da juventude de fora da universidade pública, que paga mensalidades altíssimas em troca de um ensino mercantilizado. Por isso, enquanto o governo Dilma privatiza e as empresas de educação internacionais monopolizam o ensino brasileiro (Kroton-Anhanguera) os estudantes devem erguer bem alto a bandeira da estatização das universidades particulares para impor o fim do vestibular. Só com a estatização dos serviços básicos (educação, saúde, transporte), colocados sob controle dos trabalhadores e usuários (para garantir qualidade) é que poderemos ter acesso universal à educação, passe-livre para a população e um Sistema Único e, de fato, de Saúde!

Chapa Contra a Corrente na Letras e Chapa Douglas na Ciências Sociais tem grande resultado eleitoral!

Trazendo o espírito de combate da juventude de junho para dentro da Universidade, a Juventude às Ruas e independentes que, junto conosco, extraíram as mesmas lições do processo de greve, conformamos chapas para disputar as eleições da entidade estudantil do maior curso do país, a Letras da USP e também na Ciências Sociais. O grande quórum das eleições expressa a politização dentro da universidade.

Nas Sociais e Letras conformamos a chapa “Contra a Corrente” e Douglas, não apenas denunciavam as tendências burocráticas do movimento estudantil, mas dando uma resposta concreta a elas: a proporcionalidade. Com um programa que buscava extrapolar os muros da USP, ligando as demandas mais sentidas no curso com as demandas da população levantadas em Junho, e nosso combate ao governismo, demonstramos que por trás de dezenas de independentes na chapa “Ruído Rosa” e “Veredas”, se escondiam dirigentes da Consulta Popular e do PT, apoiadores de Dilma e Haddad, contra os quais a juventude se levantou em junho. Ainda assim, um dos principais elementos que a vitória das chapas “Ruído Rosa” e “Veredas” demonstra é que centenas de estudantes não queriam o continuísmo burocrático e descolado das bases do DCE, principalmente depois de junho.

Estas eleições demonstraram a falência da esquerda tradicional – PSTU e PSOL (Insurgência/MES). Pela primeira vez na Letras as correntes se unificaram no “chapão do DCE” e sofreram uma derrota fragorosa. Após o levante de junho ter passado por fora de todas as entidades dirigidas pela esquerda, e em outubro elas terem mostrado na prática a sua falência histórica, as eleições estudantis selaram as perspectivas de futuro dessas correntes. Com uma chapa de 70 membros e três correntes políticas, a chapa “#vemprocaell” amargou 235 votos, menos da metade dos votos da eleita “Ruído Rosa” (507).

Na Letras, nossa chapa colocou o debate sobre a questão negra durante o mês da “consciência negra” lançando um livro marxista sobre o tema, além de que foi a única chapa que se posicionou chamando uma grande campanha em defesa da Thamiris, estudante da Letras ameaçada de morte pelo ex-namorado. Nas Ciências Sociais nomeamos nossa chapa com o nome do jovem assassinado na Zona Norte, como centenas em todo o país, num grito contra a repressão policial a juventude negra, pobre e trabalhadora. Assim, defendemos a luta por uma “revolução” nos currículos e na lógica corporativista do movimento, colocando dentro das salas de aula a história da resistência negra, de Palmares e Malés. Também fomos nós que, em ambas as chapas, ativamente apoiamos a Chapa “Sempre na Luta” para o Sintusp, expressando nossa aliança operário-estudantil.

A chapa “Contra a Corrente”, com um programa claro enquanto alternativa pró-operária, democrática e combativa, formado por 25 membros teve a expressiva votação de 177 votos. Subtraindo o número de membros inscritos em cada chapa, uma diferença de 13 votos reais em relação ao “chapão do DCE”.

Provando como é possível e necessário organizar um movimento estudantil anti-governista, anti-burocrático e que esteja à altura dos novos processos que virão em 2014.

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