Terça 16 de Abril de 2024

Internacional

Irã - EUA: As negociações que podem modificar o tabuleiro geopolítico do Oriente Médio

09 Mar 2015   |   comentários

As negociações entre Irã e EUA têm estado no centro da agenda política internacional. Quarta-feira passada (4), Netanyahu se apresentava para o congresso dos EUA para impugná-las com o apoio dos republicanos contra Obama, que as defendeu como a única “alternativa viável”.

Kerry busca tranquilizar os aliados em sua visita

Buscando levar calma a seus aliados no Oriente Médio frente às negociações com Irã, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, se reuniu nesta quinta com o rei da Arábia Saudita, Salman, e o ministro de relações exteriores, o príncipe Saud al-Faisl, assim como com os ministros de relações exteriores do Kuwait, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Omã.

A mensagem de Kerry foi que: "Apesar de que estamos envolvidos nestes debates com o Irã em torno a seu programa nuclear, não tiraremos o olho das outras ações desestabilizadoras do Irã em lugares como Síria, Líbano, Iraque e a península Arábica, particularmente Iêmen". Desta forma tratava de explicar que um possível acordo com o Irã, seria suficientemente limitado para não romper o equilíbrio geopolítico da região.

O príncipe Saud da Arábia Saudita, falando junto a Kerry, deixou clara a desconfiança de seu governo ao colocar sua preocupação com o envolvimento do Irã na ofensiva para retomar o controle da cidade de Tikrit, atualmente em mãos do Estado Islâmico. "A situação em Tikrit é um excelente exemplo do que nos preocupa. O Irã está se apoderando do país", disse.

Na quarta-feira passada, Obama já havia sofrido a dura crítica do primeiro ministro israelense, Bejamin Netanyahu, a sua política para o Irã na sessão conjunta do congresso norteamericano onde Netanyahu foi ovacionado pelos republicanos.
O certo é que os EUA se vêm obrigados a tencionar as relações com seus aliados para avançar nas negociações com o Irã devido à difícil situação do imperialismo na região. Depois das custosas e fracassadas ocupações militares no Iraque e no Afeganistão, nos marcos da continuidade da guerra civil Síria, da divisão da Líbia depois dos ataques imperialistas, e uma situação altamente instável de conjunto, os EUA têm que enfrentar atualmente o desafio do Estado Islâmico. Isso os deixa sem possibilidades de abrir outro frente de batalha no Irã.

O Irã abre a porta para o congelamento de seu programa nuclear
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, havia dito à agência Reuters na segunda-feira que o Irã devia comprometer-se a um congelamento verificável por pelo menos 10 anos de sua atividade nuclear para que se alcance um acordo entre Teerã e as potências mundiais. O ministro de relações exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, havia recusado como “inaceitável” a posição de Obama.

No entanto, esta quinta-feira em uma entrevista à rede internacional CNN, consultaram Zarif sobre se Teerã estava preparado para aceitar o limite de uma década em seu programa nuclear, a que respondeu que: "Depende de como se defina". E completou: "Se temos um acordo, estamos preparados para aceitar algumas limitações de certo período de tempo, mas não estou preparado para negociar no ar".

Esta presumida mudança poderia representar um facilitamento do governo do Irã às exigências dos EUA, e faz mais provável o fechamento de um acordo. Se isto fosse assim o governo de Hasán Rouhaní deveria lidar também com as diferentes alas do próprio regime político iraniano.

Cabe lembrar que a rodada de negociações das quais, além dos EUA e do Irã, participam Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia e China, vinham sendo adiadas anteriormente sem poder chegar a um acordo.

O que se discute nas negociações?

Em linhas gerais se trata do congelamento do programa nuclear iraniano em troca de mitigar as sanções que o imperialismo vem impondo ao país persa.
Uma das demandas do governo Iraniano é a retirada imediata das sanções com as que os EUA realiza a chantagem clássica imperialista de impor penúrias à população buscando melhorar a relação de forças. No entanto, o levantamento definitivo das sanções depende da aprovação do congresso norteamericano. Como deixaram claro os aplausos de pé a Netanyahu por parte dos republicanos, que constituem a maioria em ambas câmaras, isto está muito longe das possibilidades de Obama.

Entretanto, Obama estaria em condições, por um lado, de vetar novos pacotes de sanções, assim como de mitigar os atuais, mediante medidas administrativas. Algo assim estamos vendo no caso de Cuba. Por sua vez, pode levar a suspensão das sanções ao Conselho de Segurança da ONU.

Por sua parte, o governo iraniano disse que aceitaria o chamado "Protocolo Adicional do Organismo Internacional de Energia Atômica" que habilita toda uma gama ampla de inspeções. Mas o governo norteamericano quer maior ingerência e inspeções ainda mais profundas, além do controle e a redução do armamento iraniano.

Segundo assinala a publicação Foreing Affairs, junto a toda uma série de medidas orientadas a reduzir a capacidade de produção de urânio altamente enriquecido (redução das centrifugadoras onde se enriquece, a configuração das mesmas, sua velocidade, etc.), também demanda o redesenho do reator de água pesada de Arak para reduzir a produção de plutônio, assim como a redução das reservas de urânio de baixo enriquecimento do Irã.

Aqui entra outro ator chave nas negociações: a Rússia. A redução daquelas reservas se realizaria mediante a exportação de grande parte do mesmo à Rússia para sua destruição. O que desde agora, também tem contradições nos marcos das sanções à própria Rússia e o conflito na Ucrânia.

Um acordo de importantes consequências geopolíticas

As sanções ao Irã não são um fato novo, senão que têm sido uma constante da orientação política do imperialismo para este país persa depois da revolução iraniana de 1979. Os EUA aprovaram desde então diferentes pacotes de sanções, cujo rigor endureceu nos últimos anos, com o argumento de enfrentar o programa nuclear iraniano. As medidas de castigo dos EUA, somadas às resoluções da ONU, e às adotadas pela União Europeia e outras nações como Japão, Coreia do Sul, Canadá ou Austrália, contribuíram para afogar economicamente o Governo iraniano e sobretudo para levar enormes penúrias à população. Porém, não conseguiram o principal objetivo norteamericano de "dissuadir" o regime iraniano de continuar com seu plano de enriquecimento de urânio.

Se finalmente se concretiza este acordo significaria uma mudança muito importante na política exterior norteamericana, e suas consequências sobre a região, os sistemas de alianças, e a intervenção imperialista no Iraque e na Síria, todavia estarão por ver-se.

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