Quinta 25 de Abril de 2024

Movimento Operário

NOSSA PARTICIPAÇÃO

I° Encontro Nacional de Mulheres de Conlutas

24 Apr 2008   |   comentários

Flávia Vale : Informe sobre Conjuntura

Boa tarde a todas. Acho fundamental saudar este encontro que reúne mulheres, trabalhadoras e estudantes e para discutir um programa classista que responda à opressão de metade da humanidade e à daquelas que são duplamente exploradas pelo capitalismo: as mulheres trabalhadoras.

[”¦] Nos últimos meses a população de diversos países vêm enfrentando a alta do preço dos alimentos, que tem levado à multiplicação de revoltas e rebeliões contra a fome, amedrontando a burguesia dos países imperialistas e semicoloniais com a volta do “fantasma” da luta de classes.

Na Cidade do México, protestos massivos pelo custo das tortillas, mas também diversas lutas se desenvolveram na à frica e mesmo no Egito a classe trabalhadora fez uma greve geral. No Haiti, vergonhosamente os protestos da fome foram reprimidos com ajuda dos capacetes azuis de Lula. Temos que exigir o retorno imediato dos soldados que assassinam ao povo negro haitiano, encoberto com o hipócrita discurso de Lula que justifica a presença de tropas para levar a “democracia, o desenvolvimento e a estabilidade” .

Mas o que está por trás dessa crise?

Uma das características da época imperialista é a concentração cada vez maior das forças produtivas em poucas mãos. A concorrência da anarquia capitalista e a sede de lucro dos grandes capitalistas está por trás da crise inflacionária, levando a uma alta generalizada dos preços. No Brasil vemos que as maiores empresas tiveram seus lucros duplicados enquanto os trabalhadores, para quem Lula diz responder ao problema da distribuição de renda no Brasil por ter criado 4 milhões de empregos, sendo que cerca de 90% destes recebem menos de 2 salários mínimos. Entretanto os preços dos produtos de consumo popular sobem às alturas: feijão subiu 168%, óleo de soja, 56%; pãozinho, 20%, e vai aumentar mais, visto que o trigo subiu 53,4% apenas nos dois primeiros meses do ano.

Em São Paulo, 29% das mulheres ganham até um salário mínimo, sendo quase o dobro em outros estados. Essa proporção aumenta quando se trata de uma mulher negra.

Os grandes monopólios capitalistas que controlam a produção e a distribuição da agricultura no mundo não estão a serviço de atender as necessidades humanas, e sim de maximizar seus lucros [”¦] Assim, a busca dos monopólios capitalistas pelos maiores lucros possíveis é que tem gerado a escassez de alimentos básicos na mesa do trabalhador e a inflação dos preços.

Os salários, já rebaixados, vão ser corroídos pelos preços, a mesa terá menos alimentos, até os parcos aumentos salariais das campanhas salariais que só repõem a inflação manipulada estão ameaçados, pois a patronal vai alegar “crise” e aumento dos custos para jogar nas costas dos trabalhadores as conseqüências dessa crise criada pela anarquia capitalista e a concorrência por lucros cada vez maiores. E tudo isso ajudará a arrancar a máscara e mostrará a verdadeira cara antioperária do governo Lula, que baseia sua alta popularidade no aumento do consumo popular e sobre tudo dos alimentos.

Temos que responder à crise que se anuncia, lutando por um programa contra a carestia de vida, pelo aumento geral dos salários exigindo o mínimo do DIEESE e a equiparação entre homens e mulheres. Contra a terceirização que atinge particularmente as mulheres, temos que lutar por salários e direitos iguais para todos os trabalhadores.

Para enfrentar o aumento do preço dos alimentos, por fim a decadência da educação e a saúde popular, como coloca em evidência a crise da dengue em Rio de Janeiro, é necessário um plano de luta unificado contra o governo Lula superando as direções da CUT e a Força Sindical que o apóiam. Queremos propor que a Conlutas e a Intersindical impulsionem este programa começando pelos sindicatos que dirigem e preparem um verdadeiro plano de luta unificado para enfrentar a crise que se anuncia.

Mara do Hip Hop : Apresentação das Teses do Bloco Pão e Rosas

Companheiras e companheiros, antes de iniciar a apresentação da tese Pão e Rosas, quero fazer uma saudação às mães de Salvador, mulheres negras que no início do ano juntaram-se aos moradores de suas comunidades e saíram às ruas para protestar contra a morte de seus filhos, vítimas da violência policial, dizendo “Estão matando nossos filhos como passarinhos! Basta que a polícia continue matando nossos filhos” (aplausos)...

Quero também fazer uma saudação internacionalista às mulheres que nesse exato momento lutam contra a exploração da patronal, dos governos burgueses e do imperialismo. Uma saudação às mulheres iraquianas; às mulheres palestinas; às mulheres negras de países como Haiti e Congo ocupados por tropas da ONU, que estão submetidas à violência sexual dos soldados. Ao mesmo tempo, quero repudiar a presença há pouco tempo em nosso pais de Condollezza Rice que apoiada em caráter de mulher negra veio a se apresentar como nossa representante. Ele é inimiga das mulheres, dos negros e dos trabalhadores.

[”¦] Com a ofensiva neoliberal dos anos 90, muitos trabalhadores e particularmente trabalhadoras se vêem submetidos a uma super exploração brutal com a terceirização e a precarização do trabalho. Sabemos que são as mulheres e os negros a maior parte dessa camada da classe trabalhadora, submetida a péssimas condições de trabalho, salários miseráveis e direitos arrancados. É necessário que os sindicatos da Conlutas incorporem no dia a dia, as demandas elementares da mulher trabalhadora, como o combate à dupla jornada de trabalho: lutando por creches, restaurantes e lavanderias e por salário igual para trabalho igual. É necessário superar o sindicalismo corporativo herdado do petismo que não coloca suas forças em defesa dos setores mais explorados da nossa classe, os trabalhadores precarizados. A tese Pão e Rosas coloca a necessidade de unir as fileiras operárias, lutando pela incorporação dos terceirizados com os mesmos direitos e salários dos efetivos [”¦] Mas queremos insistir que para levar essas lutas à frente, temos que superar o modo petista de militar que se limita a marchas e calendários de luta pré-fixados. Problemas como a epidemia da dengue no Rio de Janeiro e o aumento do preço dos alimentos são problemas urgentes que precisam ser resolvidos. É preciso colocar de pé os métodos de luta da classe trabalhadora como greves, piquetes e ocupações, para além dos calendários da data-base de cada categoria que é a maneira que o estado burguês regulamenta o desenvolvimento da luta de classes.

O direito a aborto, mas também o direito à maternidade

Quero ainda tratar do direito democrático elementar, que é o direito ao aborto. O Estado burguês, a patronal e a Igreja controlam até hoje os nossos corpos. A Conlutas deve impulsionar uma campanha para que tirem as mãos dos nossos corpos e pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Nesse ano, a Igreja Católica tem como tema da Campanha da Fraternidade o combate ao direito ao aborto com o lema “Escolha, pois, a vida” [”¦] É necessário que a Conlutas impulsione uma campanha nacional pelo direito ao aborto a partir das bases dos sindicatos, que se coloque no combate aberto às posições reacionárias da Igreja, da direita e também de Heloísa Helena.

Nesse marco, quero colocar também a defesa do direito à maternidade. [...] Basta de imposições da patronal para que as mulheres trabalhadoras não engravidem!

Queremos repudiar a criação da bolsa estupro, projeto de Lula e do PT, que outorga as mulheres uma quantidade de dinheiro para forçá-las a conceber filhos que sejam frutos de uma violência brutal, como é o estupro. [”¦]

É preciso lutar contra a violência policial

Por fim, eu quero tratar do tema, que foi o tema que justamente eu comecei, a violência que assola as periferias e os morros onde está a juventude negra. Essa semana a gente viu 10 mortos pelo BOPE e coronel da polícia dizendo: “a PM é o melhor inseticida contra a dengue” [...]. O discurso do governador Sérgio Cabral Filho, eu quero repetir aqui pra que seja repudiado: “Você pega o número de filhos por mãe na lagoa Rodrigo de Freitas ou em Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega a Rocinha: é padrão Zâmbia, Gabão” . [...] Nas palavras desse genocida fascista, somos ”˜fábricas de produzir marginal”™. [...]

A Conlutas precisa lançar uma campanha contra o PAC da segurança do governo Lula e contra a violência policial sobre o povo negro. Por comitês independentes de investigação e mobilização, organizados a partir dos sindicatos, associações de moradores e organizações do povo negro, para garantir a punição dos culpados. É necessário definir de que lado, de fato, nós estamos: do lado das mulheres da via campesina que apanham da polícia ou do lado da polícia. Do lado dos jovens negros, favelados e trabalhadores que são mortos pela polícia ou do lado da polícia.

E quero dizer taxativamente que a Conlutas precisa se definir pelo lado da juventude negra, dos filhos dos trabalhadores e dos moradores dos morros e favelas e a necessidade de fazer uma ampla campanha contra a violência policial que faça eco com as mães de Salvador, que dizem ”˜parem de matar os nossos filhos”™. [...]

Nossa intervenção: “A esquerda precisa se delimitar da Igreja.

Vemos Heloisa Helena dizer por todos os lados ser uma socialista cristã. Vemos os companheiros do PSTU que fizeram um ato unificado com um setor da Igreja no 1° de abril, sem colocar nem uma posição crítica do papel reacionário que cumpre essa instituição. Agora no 1° de maio dia internacional de luta da classe operária o chamado assinado pela esquerda “anti-governista” chama os trabalhadores a assistir a missa na catedral da Sé. Frente a esta vergonhosa política colocada pela esquerda, nós da LER-QI respeitamos o direito dos trabalhadores que fazem parte de comunidade eclesiais de base de participar e freqüentar as missas, porém não achamos que é papel da esquerda socialista e, em alguns casos, dos trotskistas, gerar ilusões nos trabalhadores do papel que cumpre a igreja. Estamos com Lenin quando diz que a Igreja e a religião que ela sustenta e “o ópio do povo” quando coloca uma saída aos pobres para um outro mundo inexistente e não o real o que implica neste mundo aceitar docilmente a exploração. A igreja tem uma ideologia reacionária e machista que os trotskistas tem que lutar contra” .

Contra o modo petista de militar

Nossa intervenção: “Propomos abrir uma reflexão na esquerda e a vanguarda, sob a necessidade de romper com os métodos de calendários de luta ao velho estilo petista, que não parte das necessidades e dos métodos de luta da classe trabalhadora e da independência política frente aos governos e ao próprio regime democrático burguês. Calendários e datas base que se pautam por cima das necessidades da luta de classes e que na esquerda se expressam ainda nas pautas por objetivos eleitoralistas e da formação de “oposição de esquerda” adaptada aos limites impostos pelo regime democrático burguês impondo uma dinâmica entre eleitoralismo passivo e o sindicalismo das data-base. Propomos voltar a reivindicar a luta de classes retomando o métodos de luta da classe operária” .

Artigos relacionados: Movimento Operário , Juventude , Mulher









  • Não há comentários para este artigo