Terça 16 de Abril de 2024

Ideologia “kuomitanguista” e as ligas anti-imperialistas

06 Sep 2005   |   comentários

O kuomitanguismo é hoje um mal inveterado em toda a Internacional Comunista. Os desastres da revolução na China ainda estão produzindo os seus efeitos sobre a política comunista nos países coloniais e semi-coloniais, enfim nas regiões dominadas pelo imperialismo. A luta contra o imperialismo ainda é feita em nome da independência nacional, aglomerando absurdamente nesta fórmula todas as classes do país oprimido.

O imperialismo vai assim servir para apagar a luta de classes e mobilizar o proletariado indígena a serviço da própria burguesia nacional. O programa da I.C. adotado pelo VI Congresso dá uma característica menchevista às revoluções coloniais e ao papel que nestas desempenha a burguesia liberal. Se há quem duvide desta afirmação, basta ler a declaração da Liga Contra o Imperialismo e Pela Independência Nacional sobre o General Sandino, assinada pelo seu presidente Willi Munzenberg, deputado comunista ao Reichstag, publicado pela “Classe Operária” de 12 de Junho último. Este documento é típico pelo seu tom nitidamente nacionalista e pela linha menchevista que dele se deduz no encarar a revolução e a luta contra o imperialismo nos países por este dominados.

A Liga Contra o Imperialismo tende cada vez mais a se constituir em partido político, disfarce mal ajambrado e novo do kuomitang. Ela é definida no documento que ora comentamos “como organização das massas politicamente sem partido” e pretende ser quem “coordena, organiza e dirige a luta dos povos oprimidos contra o imperialismo internacional” . Isto é a mais completa negação do marxismo revolucionário do proletariado, isto é, do Partido Comunista na luta contra o imperialismo e na revolução mundial. Com isto fica abolida a função histórica da I.C. como único guia do proletariado internacional na revolução colonial ou proletária. E esta revogação se torna evidente e indiscutível até aos mais desprevenidos quando se lê estas linhas: “Só uma forte organização anti-imperialista em todas as colónias, semi-colónias e metrópoles, capaz de unir sobre a base de um programa claro, a todos anti-imperialistas do mundo (?) sem distinção de credos políticos ou sindicais, poderá ser garantia de vitória para os povos oprimidos em luta contra seus opressores.”

Garantimos que esta declaração só poderia ter sido publicado em órgão oficial de um Partido Comunista, trazendo a assinatura de um deputado filiado à I.C.. Fora da Europa, nas vagas e longínquas regiões vizinhas ao Equador, que a burocracia da I.C. não se dá ao trabalho de conhecer de perto nem com ela faz cerimónia quando entende que pode viciar impunemente os princípios mais fáceis de entender do bolchevismo. O Sr. Willi Munzenberg, que aos seus (ilegível) do P.C. Alemão, de deputado ao Reichstag e infatigável homem de negócios, na direção de numerosas empresas, industriais, etc. (ilegível) o de presidente da Liga Contra o Imperialismo e pela Independência Nacional, na qualidade de Secretariado Internacional não faria essa declaração na “Rote Fahne” (órgão do PCA) em Berlim. Se o fizesse ou tiver feito, então é que a degenerescência da linha marxista-leninista é hoje um fato consumado dentro dos centro mais responsáveis e representativos do comunismo internacional. A Liga Contra o Imperialismo vai assim contribuindo fortemente para espalhar por toda a zona central e semi-colonial a confusão e a descrença na função histórica do proletariado e de suas vanguardas mobilizadas nos quadros dos partidos comunistas na luta contra o capitalismo em sua fase final imperialista. O exemplo da China não bastou. Agora mesmo na à ndia estamos vendo as conseqüências nefastas da política nacional-menchevista da I.C.: As massas sublevadas, já indo além do estreitismo pequeno-burguês de seus chefes atuais como Gandhi, sem porém encontrar para sua nova e decisiva marcha quem as guie até a vitória final.

Nestas condições se falar em vitória do proletariado hindu, em triunfo da revolução na à ndia, é pura demagogia. Não há partido comunista ali. O que há é um kuomitang com outro nome, um muito vago “partido operário-camponês” , criação de Bukharin e Stalin, quando Chang-Kai-Chek e os outros famosos generais que a I.C. foi sucessivamente escolhendo para seu aliado se encarregaram, pelo assassinato em massa do heróico proletariado chinês, de desmoralizar definitivamente a idéia de kuomitanguista. Se a tal Liga Anti-Imperialista, existe para dizer tais coisas, e convencer por esse modo as massas exploradas da desnecessidade da formação de um partido comunista, como condição principal, indispensável, insubstituível para a luta vitoriosa contra o imperialismo, então é melhor que ela seja fechada como organização confusionista, menchevista e contra-revolucionária. O lugar de um revolucionário marxista não é nas tais ligas anti-imperialistas, mas nas fileiras do Partido comunista, pois só o Partido comunista pode lutar contra o imperialismo e vencê-lo por fim. Todas outras formas de luta, em qualquer outra organização pseudo-revolucionária, é pura tapeação, e deve ser combatida.

Luta de classe, n.3, julho de 1930









  • Não há comentários para este artigo