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Governo de Pimentel em Minas Gerais esconde debilidades estruturais da vitória petista

09 Feb 2015   |   comentários

As principais debilidades do governo petista que vão além dos limites orçamentários e da “herança maldita” do PSDB. O PT no poder em Minas Gerais carrega contradições profundas.

As principais debilidades do governo petista vão além dos limites orçamentários e da “herança maldita” do PSDB. O PT no poder em Minas Gerais carrega contradições profundas que expressam certas fortalezas com a eleição de Pimentel junto a expressivo desgaste de Dilma, que já apareciam na derrota eleitoral da presidenta na capital Belo Horizonte (com a sintomática derrota do PT em bairros populares como Venda Nova e Barreiro), assim como em cidades de importante concentração operária, como Contagem.

Parte da estratégia do início de mandato do governo é buscar vias de diálogo com as direções dos movimentos sindicais e populares. Essa estratégia também é apontada em uma análise do cientista político Rudá Ricci [1] sobre a política regional. O cientista aponta como o governo vem buscando fazer uma articulação entre o partido, a base na assembléia legislativa e as direções sindicais, com destaque para a crescente cooptação da direção do SindUTE (sindicato da rede estadual de professores) e sua principal figura, Beatriz Cerqueira. Segundo o cientista, o “teto” (ou limite) das políticas de “boas vizinhanças” de Pimentel esbarram num grande obstáculo econômico: orçamento para responder a todos os projetos propostos.

Essa “lua de mel” com o governo tende a durar pouco (alguns meses?) visto a política nacional de ajustes de Dilma e dos diversos governos estaduais, com cortes de investimentos em várias áreas que atendem necessidades vitais da população, inclusive educação. Por mais que Fernando Pimentel seja figura forte do PT, não ficará por fora dessa realidade nacional e terá que apresentar o seu plano de ajuste. Ainda que Pimentel tenha na manga o discurso da"herança maldita", devido às três gestões do PSDB, o limite orçamentário é um teto de sua política. E isso o que já aparece nas reuniões do governo com a direção sindical do SindUTE, quando já aponta não haver sequer a possibilidade de cumprir o piso salarial exigido legalmente para a categoria dos professores.

Porém, as principais contradições do atual governo vão além do "teto" orçamentário e aparecem também na chamada "classe C", uma camada forte de trabalhadores jovens e precarizados, que tem rechaço a Dilma e estão concentrados nas periferias da capital e na região metropolitana, regiões como Venda Nova, Barreiro e Contagem, que concentraram a derrota eleitoral de Dilma e cuja população tem que responder cotidianamente a problemas estruturais como o transporte precário e a falta de moradia. A esses trabalhadores, o governo Pimentel não acenou com nada até agora, pelo contrário: apresentou um projeto de aumentar a segurança, o que dialoga com um sentimento contra criminalidade, porém aumenta a violência e truculência da polícia racista de Minas Gerais, a famigerada "polícia mineira".

Esse descontentamento já se expressa em camadas populares, com várias revoltas e manifestações contra as péssimas condições do transporte público na região, sendo a população metropolitana ainda mais afetada pela crise cotidiana do transporte precário. Também não podemos descartar que caso se aprofunde a “crise da água” no estado, possam vir a surgir revoltas generalizadas, que pontualmente já acontecem, como na cidade histórica de Mariana, onde os moradores fecharam a rodovia MG-129.

Esse “calcanhar de Aquiles” é chave para os desgastes mais profundos do PT na região e alimenta a crise de representatividade existente no país. Isso porque ao mesmo tempo em que essa camada ampla de trabalhadores está no centro de problemas estruturais, como a péssima qualidade do transporte público na região e a falta de água, é um setor que não tem referência no PT, e tampouco se sente representado pela burocracia sindical da CUT ou da CTB ou por setores da oposição de direita, como o PSDB.

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