Quinta 18 de Abril de 2024

Internacional

Frente à ameaça de restauração capitalista defender Cuba e as conquistas da revolução

10 Aug 2006   |   comentários

A sucessão de poder em Cuba, aberta com a possibilidade da morte de Fidel Castro, pode desencadear uma luta entre duas tendências que se desenham, por ora, mais claramente na realidade: De um lado a ascensão de um novo líder, necessariamente mais débil que Fidel, possivelmente seu irmão Raúl Castro, que cederá cada vez mais à pressão de Washington e das demais potências imperialistas; do outro uma possível intervenção mais decidida de Washington e seus aliados para restaurar o capitalismo na Ilha. Uma terceira perspectiva estaria estritamente ligada a um ressurgir da mobilização revolucionária da classe operária e do povo cubano, em defesa de suas conquistas frutos da Revolução de 1959.

A Casa Branca está investindo pesado com a “Comissão para a Assistência por uma Cuba Livre” , um departamento de Estado que promove a oposição interna na Ilha e que se baseia na classe média cubana e nos chamados “gusanos” , fugidos da ilha e radicados nos EUA partidários da volta do capitalismo. Bush entregou recentemente a essa Comissão, nada mais que 80 milhões de dólares!

Assim como fazem no Iraque e no Oriente Médio, a receita de “liberdade” do Tio Sam é na verdade um plano contra-revolucionário. O objetivo é restaurar o capitalismo em Cuba. Contam com o apoio ativo de seus aliados tradicionais, e também daqueles que se dizem “progressistas” como o governo do “socialista” Zapatero da Espanha, e com a passividade de governos como os de Lula e Kirchner.

Os marxistas revolucionários denunciamos esse plano dos Estados Unidos, e nos colocamos em defesa incondicional de Cuba, da revolução e das conquistas do povo cubano. Isso significa que estamos com Fidel Castro? No caso de uma tentativa de golpe ou invasão militar estaremos na mesma trincheira, mas nos posicionamos desde já contra seu regime burocrático, e não alimentamos ilusões em sua liderança que não levará até o final essa luta. Estamos ao lado do povo cubano que além das ameaças incessantes dos ianques, vive sob as botas do regime castrista, que em 50 anos só sufocou o avanço da revolução, abrindo crescentemente o caminho para a restauração da propriedade privada.

Que tipo de Estado e regime existe em Cuba?

Dizemos que Cuba é um Estado Operário Deformado, pois suas bases económicas e sociais ainda estão baseadas nas conquistas da revolução socialista, operária e popular que expropriou as grandes propriedades privadas e instaurou a propriedade coletiva dos meios de produção. Essas conquistas estão, porém, sufocadas pelo regime burocrático e reacionário de Fidel Castro e do PCC (Partido Comunista Cubano), que expropriaram politicamente as massas impedindo o desenvolvimento de seus organismos de democracia direta.

A camarilha castrista adotou integralmente a concepção stalinista de “Socialismo em um só país” . Não foram poucas as vezes em que o próprio Che Guevara, logo da tomada do poder, alertou que esse isolamento no marco do baixo nível de industrialização e desenvolvimento económico da ilha, levaria a uma dependência vital, com relação à Rússia. Hoje isso se reflete em que Cuba segue basicamente sendo um país exportador de cana-de-açúcar, e com isolamento económico agravado pelo embargo imposto pelos Estados Unidos.

A burocracia de Castro após a queda do Muro de Berlim sobreviveu de privilégios obtidos de seus vínculos com o investimento estrangeiro abertos nos últimos anos, dos postos hierárquicos das estatais ligadas à exportação e ao turismo, e dos benefícios que tira do chamado “mercado negro” .

Esta é a grande contradição de um Estado Operário Deformado: Se por um lado Cuba goza dos avanços nas condições de vida geral das massas, como os altos índices de educação, saúde e na ausência de miséria, frutos da expropriação da burguesia e da socialização da produção, de outro o domínio burocrático de Castro, impede o avanço da revolução e o desenvolvimento do socialismo.

Para garantir seu domínio, Fidel reprime qualquer tentativa de livre organização e decisão dos trabalhadores, proibindo greves, autonomia dos sindicatos, comitês de fábrica e a existência de qualquer partido que reivindique a revolução em oposição ao domínio absoluto do PCC.

Que futuro defendemos para Cuba?

Temos confiança de que os trabalhadores e o povo cubano serão capazes de superar essas contradições e retomar o curso revolucionário que a história lhes reserva. No entanto se coloca em primeiro plano a necessidade intransigente de pór fim à dominação da burocracia e construir um verdadeiro regime de democracia operária.

Como ponto de partida é necessário garantir ampla liberdade de organização para os trabalhadores, restaurando o pleno direito à greve, a autonomia de seus sindicatos e o direito a criar novos sindicatos, comitês de fábrica e outras formas que desejem.

Pensamos que a defesa conseqüente das conquistas da revolução depende de que a classe operária e o povo cubano tomem a frente dessa batalha, superando o controle exercido pela burocracia. Por sua vez, o novo ímpeto gerado por uma luta grandiosa, que derrote o imperialismo em suas tentativas de restaurar o capitalismo na ilha, dará novo impulso a que as massas superem de vez a direção burocrática. Esse processo deverá se desenvolver como uma autêntica revolução política. Ou seja, na medida em que as conquistas sociais fundamentais da revolução de 1959, ainda que debilitadas, subsistem, o programa de uma nova revolução será essencialmente político, mantendo as bases económicas e sociais e permitindo avançar no que lhe faltou historicamente, a ligação com o futuro da revolução social em todo o continente e no mundo.

Internamente, é necessária uma revisão radical da política económica e o fim das concessões ao capital estrangeiro, que penetra no turismo, nas importações etc. Deve-se, entre outras medidas, restaurar o completo monopólio estatal do comércio exterior, elevar os salários e reduzir a jornada de trabalho. Isto é possível com o corte nos salários altíssimos de burocratas estatais e taxando os “novos ricos” , além de uma planificação que ponha fim à irracionalidade dos gastos provocados pela gestão burocrática.

A realização dessa “revolução da revolução”™ está ligada ao surgimento de uma oposição operária, marxista e internacionalista, a partir da construção de um verdadeiro partido operário e revolucionário, armado com o programa da revolução política para arrancar o poder da burocracia e impor um regime de democracia operária revolucionária, no caminho da real construção do socialismo.

O destino da revolução cubana está ligado ao avanço internacional da revolução, particularmente na América Latina. Só uma revolução que se desenvolva através do continente, em direção à construção de uma Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina, poderá tirar Cuba do isolamento, garantir as bases económicas de um profundo processo de industrialização e dar um grande impulso à revolução mundial.

Os trabalhadores latino-americanos somos os principais aliados dos trabalhadores e do povo cubano, e devemos impulsionar campanhas contra qualquer tentativa do imperialismo e seus agentes de restaurar o capitalismo na ilha e em defesa das conquistas da revolução. Chamamos todas as organizações que se colocam nessa perspectiva a iniciar esse debate em todos locais de trabalho, bairros e escolas, a colocar seus meios de imprensa a serviço desta luta.

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