Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

Fora as tropas imperialistas do Haiti

20 Mar 2004   |   comentários

A queda do presidente Jean Bertrand Aristide, no último dia 29 de Fevereiro, em meio a uma rebelião de massas e a guerra aberta entre as tropas que o apóiam e as tropas “rebeldes” lideradas por Guy Philippe - ex-oficial das extintas forças armadas - se confirma cada vez mais, como um golpe articulado pelo imperialismo norte-americano e francês.

A Casa Branca, em negociata com o presidente francês, Jac-ques Chirac, obrigou Aristide a renunciar, conforme ele próprio tem declarado.

Essa ex-colónia francesa, apresenta uma população miserável, onde 70% da população vive abaixo da linha de pobreza.

A sua burguesia escravista-latifundiária e o governo, em completa submissão ao imperialismo, tem aprofundado a barbárie com a agenda neoliberal aplicada durante toda a última década. Dentre esses planos, a liberação para a importação maciça de agro-industriais norte-americanos e a instalação de transnacionais, foram responsáveis pela devastação de sua economia essencialmente agro-exportadora.

No último mês, o país, que é o mais pobre da América Latina, se viu em meio a uma nova rebelião popular, com greves, saques generalizados e manifestações de rua. Essa resposta legítima dos trabalhadores e do povo pobre haitianos foi canalizada pelos mais reacionários setores burgueses anti-Aristide e acau-dilhada por homens como G. Philippe - militar treinado pelas Forças Especiais norte-americanas, durante os anos 90 - e as milícias paramilitares de direita.

Essas tropas tomaram cidades inteiras até dominar a capital, Porto Príncipe, e forçar a renúncia de Aristide.

Durante todo o conflito, Aristide e seus bandos armados atuaram brutalmente, reprimindo e assassinando as massas famintas que saqueavam e invadiam as propriedades, ao todo foram mais de 200 mortos e milhares de feridos. Por outro lado EUA, França e Canadá enviaram suas tropas para reestabelecer a ordem e conformaram uma comissão de governo provisório. Até agora, não tem conseguido desarmar os paramilitares e tão pouco resolver o impasse político, sendo responsável pelo o assassinato de pelo menos mais dois civis haitianos.

Essa última investida golpista imperialista deve ser entendida, nos marcos dos planos de recomposição da hegemonia norte-americana e o avançar do seu domínio sobre as suas semi-colónias.

No Oriente Médio ocupam o Iraque; na América Latina, ao passo que avançam para implantar a ALCA, impõem o Plano Colómbia, as tentativas de derrubar Chavez na Venezuela e agora invadem o Haiti.

J.B. Aristide - ex-padre e partidário da teologia da libertação - que havia combatido e sucedido a ditadura de Duvallier, primeiramente em 1990, depois deposto pelo golpe de Raoul Cedrás e os militares, retomou o poder em 1994, ironicamente, respaldado por uma invasão das tropas norte-americanas, a mando de B. Clinton.

Desde então, Aristide e seu partido, Lavalas, cumpriram o papel de correia de transmissão e aplicação dos mandos de Washington e do imperialismo, ao passo que canalizava a insatisfação das massas para as vias do regime burguês.

O imperialismo tem colocado e tirado do poder quem quer que sirva melhor, de acordo com o momento, aos seus interesses imediatos. O fato é que, tanto usando o reformismo de Aristide ou a direita e os golpistas, o imperialismo foi e continua sendo o verdadeiro carrasco das massas extremamente exploradas e oprimidas do Haiti

A história e os últimos acontecimentos provam que os trabalhadores e o povo pobre haitianos não poderão jamais confiar na burguesia e em seus lacaios para se libertar da escravidão capitalista. É necessária uma saída independente das classes exploradas, capaz de nacionalizar as terras e expropriar as riquezas e propriedades da burguesia escravista, e nesse sentido avançar para sua autodeterminação frente ao imperialismo.

Não ao envio de tropas brasileiras

Reafirmando seu completo servilismo diante de Bush e ao imperialismo, o governo Lula anunciou na última semana estar disposto a enviar 1.100 homens do exército brasileiro, para se integrarem às “forças de paz” da ONU no Haiti.

Ainda que intentando encobrir seu servilismo a Bush, com a falsa idéia de que a ONU demonstra interesse em que o Brasil lidere as tropas no Haiti, o fato é que Lula angaria reconhecimento da Casa Branca para exercer um papel de líder nas negociações da ALCA e mediar os acordos comerciais entre o imperialismo estadunidense e os países latino-americanos.

Nós do Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional, repudiamos completamente o envio de tropas brasileiras e qualquer colaboração com essa invasão imperialista que não poderá fazer mais do que aprofundar a repressão e a opressão, e consequentemente a exploração dos trabalhadores e do povo pobre haitianos.

Como afirmamos anteriormente, só a autodeterminação dos operários e camponeses pobres, independente da burguesia e livre do imperialismo poderá estabelecer um Haiti livre do escravismo, da fome e da miséria.

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