Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

POR UMA CAMPANHA UNIFICADA

Fora as tropas brasileiras do Haiti!

25 Aug 2008 | A propaganda do governo Lula tenta vender a imagem de uma política externa “progressista”, como se Lula tentasse assumir a “liderança” dos países pobres através do G-20 ou da Unasul, ou em operações de marketing tipo “Bolsa-Família Internacional”. Entretanto, no momento decisivo das negociações da rodada de Doha, o Brasil se alinhou com os EUA e a União Européia, deixando de lado seus supostos “aliados”. Mas é no Haiti que se expressa a verdadeira cara da política externa do governo Lula. Num momento em que se acentua a decadência da hegemonia norte-americana sobre o mundo, quando o empantanamento no Iraque e no Afeganistão agora se somam ao avanço da Rússia no Cáucaso, Lula se submete servilmente a cumprir o papel de fazer o “serviço sujo” para o imperialismo liderando as topas da ONU na ocupação do Haiti.   |   comentários

No início de agosto, a chamada MINUSTAH (Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti) ’ que ocupa o Haiti reprimindo brutalmente o povo negro ’ anunciou reforço em sua ajuda à PNH (Polícia Nacional Haitiana). Sob o argumento de “agilizar a prisão de criminosos” , o comandante da MINUSTAH, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, e o comissário da Polícia das Nações Unidas, Mamadou Mountaga Diallo, reuniram-se para discutir como aprimorar a cooperação entre os órgãos de repressão que atuam no país.

Já se completaram quatro anos da ocupação militar no Haiti, iniciada em junho de 2004, após a deposição do então presidente Jean-Bertrande Aristide. De acordo com a disposição do presidente Lula, o exército brasileiro lidera a ocupação desde o seu início e conta com o maior contingente entre as tropas (em junho deste ano eram 1210 soldados brasileiros em solo haitiano). Diferente da propaganda que faz o governo Lula, toda a simpatia do povo haitiano pelo Brasil se converte em terror frente aos capacetes azuis (como são chamados os soldados). Exemplo disso mostra-se numa pichação em Cité Soleil que diz: “Viva Adriano [o jogador de futebol], abaixo Ribeiro [então comandante das tropas]” .

Por trás da denominação “missão de paz” que propaga a ONU (Organização das Nações Unidas) escondem-se massacres brutais, como a repressão de 22 de dezembro de 2006, que matou 30 pessoas. Mulheres e crianças encontram-se ainda submetidas a ações repugnantes de violência sexual. As denúncias não são poucas, mas a impunidade impera, como no caso de uma adolescente de 14 anos que em 2006 denunciou ter sido estuprada dois anos antes por um soldado brasileiro. Movimentos sociais e organizações não governamentais vêm denunciando vários casos de estupro, prostituição infantil, troca de sexo por comida, entre outras atrocidades cometidas pelas tropas da ONU não só no Haiti, mas em outros países sob ocupação militar como Sudão e Costa do Marfim.

A “estabilização” que busca a ONU significa, na verdade, a plena dominação sobre o povo haitiano, que há séculos vem sendo saqueado, sob inúmeras intervenções políticas e militares. Estados Unidos e França, dois países imperialistas que historicamente tem arrancado lucros às custas do suor e sangue do povo haitiano, dão continuidade aos seus projetos de dominação [1]. E para isso contam com a máscara humanitária das Nações Unidas e as tropas de países semicoloniais subservientes ao imperialismo, incluindo países governados por presidentes eleitos sob um discurso de mudança social, como Lula, Bachelet (Chile), os Kirchner (Argentina) e Evo Morales (Bolívia).

No último mês de maio, o presidente Lula realizou a sua segunda visita ao Haiti. Junto a Lula, estavam representantes de grandes empresas como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa para dar cabo do que chamam “reconstrução do país” . A burguesia brasileira aplaude a ocupação militar, que lhes garante aumentar os seus lucros numa terra em que 76% da população vive em situação de pobreza. Uma empresa, cujo nome não foi divulgado, recebeu US$ 80 milhões do Banco de Desenvolvimento Europeu para dar início a obras de construção de rodovias no país.

E não são somente as construtoras que estão ampliando os seus lucros. As zonas francas, que vêm se expandindo na região do Caribe desde a década de 80, são parte destacada da política de incentivo dada pelo atual presidente René Preval, eleito em 2006, que também defende a permanência das tropas no país. O trabalhador haitiano ganha em média US$ 1,65 por dia sob um regime de trabalho semi-escravo, além da brutal repressão contra os operários que buscam se organizar contra as condições sub humanas a que estão submetidos.
No último mês de abril, o povo haitiano protagonizou uma mobilização em protesto contra a carestia dos alimentos. O problema dos alimentos também se insere no contexto da dominação económica. Por exemplo, o Haiti, que já foi exportador de açúcar, hoje importa 100% do produto consumido internamente, depois que empresários norte-americanos compraram os engenhos, incendiando em seguida as lavouras da cana-de-açúcar. Há vinte aos atrás, o arroz consumido era todo produzido no país; hoje, 80% é importado, depois de uma liberalização do comércio, que abriu as portas para o produto subsidiado norte-americano, que teve como conseqüência o aumento exorbitante dos preços. Frente aos protestos do povo haitiano contra a recente onda de aumento dos preços dos alimentos básicos, a resposta do governo haitiano, com a ajuda das tropas de ocupação, foi mais uma vez a repressão, que teve como resultado sete pessoas mortas. No último 1º de maio, os trabalhadores haitianos foram proibidos pelo governo de se manifestarem, mostrando mais uma vez que a ordem que está sendo imposta significa reprimir a todo custo toda manifestação política do povo haitiano.

As mobilizações que protagonizaram os haitianos contra as condições de fome, miséria e opressão mostram sua persistente disposição de luta contra as políticas de dominação impostas pelo imperialismo. No único país do mundo que teve uma insurreição vitoriosa de escravizados, derrotando tropas francesas, inglesas e espanholas, os negros haitianos demonstraram em fins do século XVIII e início do XIX sua capacidade de lançar-se contra seus opressores a fim de tomar seus destinos em suas próprias mãos. Além de ser um grande exemplo histórico da luta do povo negro por sua libertação, a revolução negra haitiana desmente a versão deturpada que propaga o imperialismo de um povo incapaz de auto governar-se. A resistência do povo haitiano nos últimos dois séculos contra ditaduras de governos fantoches do imperialismo, enfrentando e denunciando as sucessivas violações aos direitos humanos, mostra também que a história segue marcada pelo conflito e não pela passividade dos explorados e oprimidos do Haiti.

Nós da Fração Trotskista IV Internacional defendemos a auto-determinação do povo negro haitiano e por isso repudiamos a presença das tropas da ONU que estão a serviço de reprimir e matar para manter a ordem que o imperialismo deseja. Por isso, em nossa V Conferência Internacional, realizada no último mês de julho, votamos impulsionar uma campanha internacional pela retirada das tropas do Haiti, entre elas as tropas brasileiras, argentinas, uruguaias, chilenas e bolivianas. Fazemos um chamado às correntes do movimento trotskista, em especial à LIT (do PSTU no Brasil) e ao CRCI (do Partido Obrero na Argentina), a impulsionar conjuntamente essa campanha internacional. No Brasil, fazemos um chamado especial a que a Conlutas impulsione com centralidade essa campanha a partir dos sindicatos e oposições, fazendo chegar a milhares de trabalhadores a denúncia sobre o papel nefasto que cumpre o governo Lula como serviçal do imperialismo no Haiti.

[1Os Estados Unidos da América planejam construir duas bases militares no Haiti: uma voltada para Cuba e outra para a Venezuela

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