Sexta 29 de Março de 2024

Teoria

Extrato de texto da Liga Comunista Internacionalista escrito em 1935

05 Jul 2006 | Na última edição do jornal Palavra Operária iniciamos a publicação de textos da Liga Comunista Internacionalista (LCI), organização trotskista que militou na década de 1930 no Brasil, como o objetivo de recuperar os fios de continuidade com o melhor da tradição revolucionária em nosso país. A seguir, damos continuidade a esta tarefa, reproduzindo extratos de um texto publicado pela LCI em 1935, no qual esta aborda o problema da luta dos trabalhadores contra o imperialismo. Este texto mostra como em 1935 os trotskistas já travavam uma luta contra as direções políticas que se colocavam contra a opressão que os países imperialistas e suas burguesias exercem sobre o Brasil, mas que acreditavam que esta luta era possível de ser travada em comum com setores da burguesia brasileira. Esta é a mesma luta que hoje, desde a LER-QI, nós travamos em relação ao PSOL de Heloísa Helena. O PSOL defende a aliança dos trabalhadores com setores da burguesia brasileira descontentes com o neoliberalismo negociar com o imperialismos “melhores condições” de exploração e opressão da classe trabalhadora e das riquezas naturais do país. É isso que se expressa quando Heloísa Helena propõe a negociação (segundo as palavras dela “alongamento”) da dívida que os governos federal e estaduais pagam para os banqueiros, dívida essa em que o dinheiro que deveria ser dedicado à geração de emprego, à saúde e à educação é destinado a enriquecer milionários parasitas. E é também o que se expressa quando Plínio de Arruda Sampaio, candidato a governador de São Paulo pelo PSOL, propõe “acordos bilaterais com imperialismo para o que Brasil possa se desenvolver” . Em 1935, a LCI está travando uma luta contra a chamada Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma organização política fundada em março de 1935 que tinha como estratégia reunir os trabalhadores com um setor da burguesia para fazer o mesmo que o PSOL hoje se propõe: iludir os trabalhadores de que é possível, nos marcos do capitalismo, resolver as demandas estruturais do país que não foram resolvidas pela burguesia, como a reforma agrária e a emancipação do país em relação à opressão imperialista. Para explicar o caráter utópico e reacionário da estratégia da Aliança Nacional Libertadora, a LCI se apóia na experiência que os trabalhadores chineses tiveram com um partido chamado Kuomintang na década de 1920. Em 1927, o Kuomingtang, levando à frente a mesma estratégia que defendida pela Aliança Nacional Libertadora (e pelo PSOL), foi responsável pela derrota de uma revolução que poderia levar a classe trabalhadora ao poder na China; que por ter sido derrotada terminou em um trágico massacre dos comunistas neste país.   |   comentários

A luta contra o imperialismo

A luta de classe,
órgão da seção brasileira da Liga Comunista
Internacionalista (BL), Nº.22, Ano 5, Abril de 1935

O capitalismo só pode viver e desenvolver-se escoando seus produtos nos mercados não capitalistas, isto é, nos mercados dos países atrasados e das camadas populares ainda não proletarizadas.

No regime capitalista de produção, os operários fabricam muito mais do que consomem, mas ganham apenas o suficiente para não morrerem de fome ou de fatiga.

Esta diferença entre o valor das mercadorias que o operário produz e o valor das mercadorias que consome, vai tudo como lucro para o bolso dos capitalistas.

Estes, porém, não tem estómago bastante nem dia suficientemente longo para dirigirem ou consumirem todo esse excesso de produção.

Um excedente enorme de mercadorias não encontra pois, consumidores, nem entre os capitalistas, nem entre os operários. Para transformá-lo em lucro, porém, os capitalistas precisam convertê-las em dinheiro, isto é, precisam vendê-las. A quem? Às outras camadas da população que não estejam compreendidas nas duas classes sociais ’ proletários e capitalistas ’ que constituem os dois centros de cristalização da evolução social de nossos dias.

Assim, o capitalismo necessita para se desenvolver, de massas consumidores, ainda não proletarizadas, isto é, artesãos, populações patriarcais, povos coloniais etc.

A luta por novos mercados é, pois, da essência do capitalismo. Acarreta atrás de si os empréstimos, a aplicação de capitais nos países atrasados, transformando-lhes a economia em economia capitalista. Acarreta, por fim, a intervenção política e o emprego da força ’ a intervenção armada.

A luta contra o imperialismo tem de ser, pois, a luta contra todo o regime capitalista.

Toda a tentativa de reduzi-la à expulsão da influência do capital estrangeiro no território nacional ’ pelo não pagamento das dívidas e pela expropriação das empresas estrangeiras ’ é uma utopia reacionária, contrária ao caráter internacional da economia capitalista e a realidade económica que liga indissoluvelmente capitalismo e imperialismo como fenómenos inseparáveis.

O imperialismo é uma tendência inata ao capitalismo e que com ele se desenvolve. É pois, impossível, extinguir o imperialismo sem destruir o capitalismo, abolir a propriedade privada dos meios de produção.

Pretender o contrário, como a Aliança Nacional Libertadora; pretender lutar contra o imperialismo sem lutar contra a burguesia nacional; pretender extinguir o imperialismo no território nacional sem abolir a propriedade privada, sem transformá-la em propriedade socialista, é caminhar para um fracasso certo ou, apenas, favorecer o imperialismo de uma potência em detrimento do de outras.

É o que prova a dura experiência chinesa. Contra a utopia da Aliança Nacional Libertadora clamam os milhares de operários mortos em Shangai e Cantão, clama os operários lançados vivos nas fornalhas em chama.

O Kuomintang era, tal como a Aliança Nacional Libertadora, uma organização que lutava pela “libertação nacional da China” dos imperialismos.

Que benefício colheram delas os operários senão o massacre? E o resultado da política Kuomintangista foi apenas o de favorecer as posições dos imperialismos mais jovens em detrimento das posições das potências imperialistas mais velhas.

O proletariado arrastado pela Internacional Comunista fez o jogo de seus exploradores.

O que se processou na China na escala da tragédia, reproduz-se no Brasil, na escala da comédia.

Se o proletariado seguir os leaders pequeno-burgueses da Aliança Nacional Libertadora, se o proletariado não lutar pelos seus próprios interesses e objetivos ’ a derrocada do regime capitalista ’ fará apenas o jogo da burguesia, correndo atrás de um fracasso certo que, a não se processar tragicamente pelo massacre, processar-se-á ridiculamente pela desmoralização das organizações operárias que seguirem na causa da Aliança Nacional Libertadora.

Artigos relacionados: Teoria









  • Não há comentários para este artigo