Terça 16 de Abril de 2024

Internacional

BÉLGICA, BERLIM E FRANÇA

Europa: das operações “antiterroristas” à ofensiva repressiva

19 Jan 2015   |   comentários

Nos últimos dias foram realizadas várias operações “antiterroristas” em países como Bélgica, França, Berlim ou Estado espanhol.

Nos últimos dias foram realizadas várias operações “antiterroristas” em países como Bélgica, França, Berlim ou Estado espanhol. Nos marcos de um clima reacionário, com as grandes cidades europeias militarizadas, os governos acabam implementando severas medidas repressivas.

Depois dos terríveis atentados de Paris, nos últimos dias em vários países da Europa foram realizadas grandes “operações antiterroristas”.

A de maior destaque foi a da Bélgica, onde morreram dois supostos suspeitos de terrorismo que tinham retornado recentemente da Síria. Também um terceiro terminou ferido no assalto a uma casa no centro de Verviers, quando foi preso. Com esta intervenção, segundo o Vice Primeiro Ministro e titular de Assuntos Externos da Bélgica, Didier Reynders, “as operações terminaram sobre o terreno. Vamos agora analisar os dados e se verá se a polícia e as autoridades judiciais têm que tomar outras medidas”.

O Ministério Público Federal deu nesta sexta-feira (16) uma coletiva de imprensa convocada para analisar toda a série de intervenções policiais, de registros e operações de busca feitas na tarde e na noite de quinta-feira (15) em Verviers e na região de Bruxelas (Anderlecht, Molenbeek e Schaerbeek e Halle-Vilvoorde).

Um dia depois dos acontecimentos na Bélgica, em Berlim duas pessoas de origem turca foram presas pela polícia alemã sob a suspeita de terem preparado um atentado na Síria e por sua suposta ligação com a organização Estado Islâmico (EI). Assim informou a polícia, ainda que tenha indicado que não há indícios de que os dois detidos estavam planejando um atentado na Alemanha.

Também foi preso um outro homem alemão de origem tunisiana pela polícia alemã em Wolfsburg (norte do país). Segundo as forças policiais era um suposto membro do EI e teria recebido treinamento militar na Síria entre maio e agosto de 2014.

Em Paris, pelo menos onze pessoas foram presas na madrugada desta sexta-feira em diversos pontos da região de Paris, em uma operação policial relacionada com os atentados contra a revista satírica Charlie Hebdo (link em Espanhol). As prisões na periferia da capital francesa ficaram sob responsabilidade do corpo de operações especiais da polícia, RAID.

No Estado espanhol está se investigando os passos que havia dado Amédy Coulibaly antes de ser morto após o atentado a um mercado de comida judaica em Paris, na semana passada, que terminou com a morte de um agente da Polícia Municipal e de quatro judeus franceses. Segundo as investigações, ele esteve entre 31 de dezembro e 2 de janeiro em Madrid, acompanhado de sua esposa, antes de retornar para a França. Enquanto isso, o Governo aprovou na sexta-feira, em uma reunião do Conselho de Ministros, um relatório sobre o Projeto de Lei Orgânica de Segurança Nacional.

Cidades europeias militarizadas e medidas repressivas

Enquanto estas operações são realizadas, em toda Europa está sendo criado um clima de medo para o conjunto da população, para deste modo dar fundamento à militarização das cidades e a todos tipos de medidas repressivas, como no caso da França ou da perseguição à população de imigrantes e refugiados.

O Primeiro Ministro da Bélgica, Charles Michel, que se reuniu na quinta-feira à noite com seus ministros do Interior e da Justiça e com os serviços de segurança do Estado, disse que, “ainda que se tenha aumentado o nível de alerta para o país não há ameaças concretas e específicas constantes” após as operações, “mas queremos ser prudentes”. E admitiu que embora não se tenha estabelecido nenhum vínculo entre os mortos da operação com os atentados em Paris, Reynders reconheceu que os ataques na França “podem ter acelerado” a intervenção policial na Bélgica.

Tanto se aceleraram que o governo belga propôs solicitar ao Exército a realização de “missões específicas de vigilância” junto com a polícia para reforçar a segurança nos locais onde pode, eventualmente, acontecer atentados. Isto foi proposto dentro das 12 medidas anunciadas na tarde de sexta-feira, como parte de um “plano de luta contra o radicalismo e o terrorismo”.

Todas estas medidas estão criando uma situação de perseguição e assédio a qualquer pessoa de cor, com sobrenomes de origem árabe e inclusive o assédio aos bairros onde vive a população imigrante, sobretudo os árabes-muçulmanos .

Assim foi, por exemplo, após a prisão em Berlim, onde aconteceu uma operação em que foram registradas onze casas, a maioria deles nos bairros de Moabit e Wedding – ambos com muita população muçulmana – e na qual participaram 250 policiais.

No Estado Espanhol também se intensificaram as medidas repressivas (link em Espanhol), afinadas com as de Hollande, Cameron e demais governos europeus. Assim denunciam organizações de direitos humanos e coletivos sociais contra a repressão e o racismo, os contínuos ataques às pessoas de cor nos bairros de maioria muçulmana.

Um exemplo dessa ofensiva racista por parte das instituições repressivas do Estado é uma nota distribuída aos agentes da polícia da província de Sevilha intitulada “Recomendações para a intervenção com pessoas de origem árabe”, que podemos ver publicada no diario.es. Isto tem preocupado as organizações sociais e coletivos antirracistas.

E na Bélgica, uma das 12 medidas mais importantes é a retirada da nacionalidade ou da suspensão temporária do documento de identidade ou passaporte para qualquer “suspeito de terrorismo”. Um critério difícil de discernir para evitar que isso não seja usado pelas instituições de imigração europeias que por si mesmas já implementam suas leis de forma cada vez mais restritiva para a população imigrante.

Se ser um imigrante com ou sem papéis, de origem árabe, refugiado na Europa, já era um verdadeiro perigo, hoje é ainda mais, com as cidades militarizadas e uma campanha política dos governos que estigmatiza o “árabe” ou o “muçulmano” como terrorista, promovendo assim o ódio, o racismo e a islamofobia.

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