Sábado 20 de Abril de 2024

Internacional

NA FAFICH UFMG

Estudantes e militantes de direitos humanos presentes em teleconferência direto do Estado Espanhol!

02 Dec 2012   |   comentários

No último dia 22 de novembro, por iniciativa da Juventude às Ruas, foi realizada
uma importante teleconferência com debate internacionalista com ativistas do Estado
Espanhol na sala 2072 da FAFICH-UFMG, onde estiveram presentes estudantes de
diversos cursos da unidade e também de fora universidade. O debate contou com cerca
de 30 pessoas, o que é um importante número visto ser este um debate ainda alheio da
atividade militante do movimento estudantil tradicional, mesmo que em plenas eleições
estudantis.

Ampliar a discussão em torno da crise da Europa, tirar lições e de dar solidariedade
internacionalista ativa à luta da juventude e dos trabalhadores, que vêm se enfrentando
com duros planos de ajustes e ataques a direitos históricos é necessário para qualquer
agrupação revolucionária da juventude, dentro ou fora da universidade.

Com Salvador e Leire, do outro lado do atlântico, militantes do grupo Clase Contra
Clase e da agrupação revolucionária No Pasarán pudemos discutir essa luta que
encontrou um ponto de inflexão no 14N (greve geral do dia 14 de novembro, convocada
pelas principais centrais sindicais espanholas), e mostrou, mesmo sem uma coordenação
ativa, tendências à unificação internacional das lutas entre os diversos trabalhadores da
Europa como método para responder solidamente aos ataques de Merkel.

Para nós, da Juventude às Ruas, foi uma grande oportunidade para discutirmos como é
necessário nos prepararmos desde já para enfrentar também no Brasil os impactos desta
crise estrutural do capitalismo. A apropriação de algumas lições fundamentais em que
vem avançando o movimento de juventude e de trabalhadores na Europa é fundamental
para, não se deixando levar pela situação subjetiva de passividade e o clima reformista
advindos dos anos de governos Lula e Dilma, nos prepararmos antecipadamente para
os duros embates e desafios históricos que a crise capitalista traz para toda a classe
trabalhadora e para a juventude à nível mundial.

Crise Política e Social no Estado Espanhol

A teleconferência iniciou com Salvador fazendo uma exposição de algumas
características da situação objetiva no Estado Espanhol (EE), principalmente a partir do
14N, e que respostas tem dado o movimento de massas, desde 2011.

Assembléias de bairros, coordenações de luta por setor do funcionalismo público,
entre outros organismos de luta ou organização de trabalhadores têm surgido como
instrumentos fundamentais para levar adiante a luta contra os ajustes. Apesar dos duros
ataques e da disposição de luta dos trabalhadores em geral, a burocracia sindical, com
seu peso histórico de direção nas principais centrais sindicais do EE (CCOO e UGT),
tem cumprido um papel de contenção dessas lutas, impedindo que a classe operária
possa dar uma resposta contundente aos ataques, utilizando de seus métodos históricos
de organização e luta e impondo um programa classista independente dos governos para
dar saída à crise.

Greve geral de 14N: classe trabalhadora em cena!

Porém, no dia 14 de novembro esse muro de contenção mostrou suas primeirasa
rachaduras, pois se mostrou toda a potencialidade de luta que a classe operária tem se
confia nos seus próprios métodos de luta e mobilização para enfrentar os ataques do
governo (greve geral, piquetes, assembléias, etc). Esta mobilização esteve, diferente do
que ocorreu no 15M, em 2011, pautada bastante pela centralidade da classe trabalhadora
como sujeito social que pode enfrentar o governo e as patronais. Enquanto o 15M se
pautava pela discussão de movimento cidadão, onde a classe operária, longe de ser
o principal sujeito da mobilização, era apenas mais um dos sujeitos sociais presentes
(entre indignados, desempregados, estudantes e jovens trabalhadores), sem a devida
centralidade, nesta jornada de luta ficou em primeiro plano o papel superior que esta
classe pode cumprir, hegemonizando as demandas de todos os setores que sofrem
ataques, sejam desempregados, aposentados, trabalhadores precários ou jovens (que
como ressaltou Salvador, muitos compõe a dita geração Ni-Ni, ou seja, não tem
acesso “nem ao emprego, nem ao estudo”).

Nas jornadas do 14N, Salvador apresentou para nós, tão distantes geograficamente do
processo que ocorre no EE, como os diversos setores da classe trabalhadora tem se
articulado para enfrentar os planos de ajuste do governo e da troika. Apresentou-nos
como os diversos setores do funcionalismo público, tem organizado suas fileiras e sido
os primeiros a responderem mais massivamente aos ataques. Por outro lado, ressaltou a
crescente participação da classe operária concentrada nos grandes complexos industriais
nas mobilizações, o que traz um peso objetivo maior para a mobilização, já que estes
setores são responsáveis pelo cerne da produção capitalista no EE, e em todo o mundo.

Mineiros em luta: a potencialidade da aliança revolucionária entre a juventude e a
classe trabalhadora mais uma vez pôde ser sentida nas ruas de Madrid!

Do ponto de vista da situação subjetiva, Salvador ressaltou o grande ponto de inflexão
a luta dos mineiros do carvão, iniciada em junho deste ano e interrompida por
manobras da burocracia sindical, que levantou a greve indefinida confiando em um
acordo com o governo que adiou o fechamento das minas pra 2014. Esta luta, por ser
protagonizada diretamente por um setor da classe operária do EE espanhol que tem
uma enorme tradição de intervenção política, sendo os que estiveram na linha de frente
no combate contra as tropas fascistas em 1936, durante a guerra civil espanhola, e
na década de 1970 também sendo protagonistas na luta contra a ditadura franquista,
teve uma importância simbólica muito grande para a subjetividade da juventude e dos
desempregados e trabalhadores precários das cidades. No dia 08 de julho, ao chegarem
em Madrid na chamada Marcha Negra, os mais de 200 mineiros de diversas comarcas
foram recebidos por dezenas de milhares de pessoas, cantando palavras de ordem
como “Madrid Obrero apoya los mineros!” e “No hay solucíon sin revolucíon!”. A
potencialidade da aliança revolucionária entre a juventude e a classe trabalhadora mais
uma vez pôde ser sentida, ainda que de maneira incipiente, nas ruas de Madrid, como
não se via a muito tempo.

Outro aspecto abordado por Salvador, e que para nós traz uma proximidade ainda
maior com a situação política do EE, foi a permanência de instituições advindas do
regime franquista no atual regime democrático. A subjugação das nações que estão
contidas dentro do EE, como a Catalunha, a Galiza e o País Basco; a não-punição dos
responsáveis (executores e mandantes) por torturas, mortes e desaparecimentos na

ditadura franquista e também o regime universitário autoritário, além da manutenção do
aparato policial repressivo, são heranças do regime militar franquista que podemos dizer
que também estão presentes no estado brasileiro como heranças de uma ditadura militar.

A juventude nas universidades ao lado dos trabalhadores e contra a repressão
estatal! Liberdade aos presos políticos!

Leire deu bastante ênfase na atuação do Clase contra Clase (CcC) e da Agrupação
Revolucionária No Pasarán no decorrer do processo de luta.

Frente ao corporativismo que ainda é um obstáculo para unificar as fileiras da classe
trabalhadora, o CcC tem exigido na luta a organização de encontros de trabalhadores
dos diversos setores, onde se possa discutir um plano de luta unificado, não só
nacionalmente, mas em toda a Europa mobilizada, para que se rompa o isolamento dos
diversos setores em luta, e se unifiquem as fileiras da classe trabalhadora.

Leire mostrou como alternativas da juventude por fora de uma estratégia de unificação
da classe operária que possa se aliar com os setores combativos da juventude cumprem
um papel no mínimo desmobilizador. Um problema que existe hoje no Estado
Espanhol é o desvio do movimento de massas para os bairros, isolando as diversas
iniciativas em seus próprios bairros, sem uma coordenação mais ampla. Os setores que
tomam à frente este tipo de política são principalmente os autonomistas, que ao invés
de organizar a luta contra o estado e a repressão, defendem a construção de movimento
alternativos, não para enfrentar o estado burguês, mas para sobreviver como inquilinos
a este estado. A negação destes grupos em pautar a forte denúncia da repressão policial
e uma campanha contra a repressão, leva na prática a muitas vezes jogarem a culpa
na “violência” dos manifestantes (como se houvesse algo mais violento que as taxas de
pobreza, endividamento e desempregado da população do EE) pelo avanço da repressão
do estado.

Leire nos contou também como foi a formação de uma agrupação revolucionária nas
universidades (Agrupação Revolucionária NO PASARÁN), que tinha por pontos
básicos a luta anticapitalista, contra o imperialismo e que paute também a denúncia e
luta contra as heranças do regime militar franquista no EE. Neste sentido essa agrupação
deu importantes passos para consolidar uma aliança operária-estudantil que possa
avançar nestas questões. Na Universidade de Barcelona, onde o nível de combatividade
é maior, a organização impulsionou a solidariedade ativa aos trabalhadores em
luta, organizando expedições à fábricas em greve, participando de assembléias de
trabalhadores. Leire conta como para eles foi muito impactante quando os trabalhadores
que eles tinham apoiado foram também à universidade participar das assembléias
estudantis e discutir com os estudantes. Na greve geral do dia 29 de março, a agrupação
também desenvolveu a solidariedade ativa, participando dos piquetes operários e das
marchas. O grupo também impulsiona um curso de formação marxista e trotskista,
para aprofundar a apropriação da síntese histórica da experiência da luta de classes que
expressam os escritos de Trotsky, Marx e Lênin.

Intervenções dos estudantes e militantes presentes: um debate vivo e buscando
lições da luta no EE

Depois da exposição de Salvador e Leire, o debate foi aberto para a intervenção dos participantes.

A primeira intervenção foi feita por Bizoca, militante do Instituto Helena Greco de
Direitos Humanos e Cidadania (IHG), que primeiro saudou a importância do trabalho
dos militantes no EE e a iniciativa de socializar em Belo Horizonte este trabalho através
do debate organizado pela Juventude às Ruas. Em seguida, fez referência aos processos
de transição pactuada no Brasil e no Estado Espanhol para questionar os resquícios da
ditadura franquista no EE e como a luta contra o franquismo está sendo incorporada na
luta contra os ajustes. Bizoca também perguntou como se dá a militarização das cidades
e das perseguições políticas.

Em seguida intervieram outros três estudantes, com diversas questões sobre a situação
política no Estado Espanhol. O governo tem usado de medidas paliativas para conter
a população e os protestos? Quais as possibilidades de uma resposta internacionalista
para a crise? Há saídas à médio ou longo prazo para a crise? A saída da União Européia
poderia constituir uma alternativa nesse sentido?

Como no Brasil, um regime herdeiro da ditadura militar!

Salvador retomou a fala dizendo que apesar de acontecerem homenagens aos militantes
mortos e desaparecidos, atos públicos, não se pauta diretamente o juízo e punição dos
responsáveis por torturas, mortes e desaparecimentos durante o regime militar. A recusa
de punição dos responsáveis mostra o comprometimento do governo atual e do regime
como um todo com instituições e agentes do regime militar.

Salvador então ressaltou o incremento substancial da repressão a partir do avanço do
movimento de massas. Com cerca de 2000 presos políticos no EE, mais de 90% deles
são militantes independentistas bascos. Nos preparativos do estado para enfrentar a
greve geral do dia 29 de março, foram decretadas diversas prisões preventivas de 15
dias para militantes, estudantes e trabalhadores, ativistas do processo de organização
da greve. Além das cargas policiais, com bombas de gás, balas de borracha e muita
violência, durante as marchas e em repressão às mobilizações.

Frente a crise, os governos e a burguesia só podem responder com ataques aos
trabalhadores e à juventude

Com relação às concessões, Salvador respondeu enfaticamente: não há! Segundo o
militante, são ataques em todos os aspectos, que praticamente extinguem o colchão
social existente no EE, levando a situação à uma conjuntura cada vez mais explosiva.

A necessidade da unificação da classe operária internacionalmente e a luta contra
o imperialismo do próprio país

Sobre o internacionalismo, Salvador esclareceu que, mesmo que os ritmos sejam
diferenciados nos diversos países da Europa, a argumentação que tenta colocar os
trabalhadores de um país contra os do outro cai por terra quando vemos que uma
vitória, por exemplo, dos trabalhadores do Brasil sobre uma multinacional espanhola na
verdade significaria um espaço maior para fortalecer a luta dentro do EE. Nesse sentido
é importante para eles também levantar a luta contra o imperialismo de seu próprio país.

“Nos marcos do capitalismo, é impossível haver uma saída progressista para a crise!”

Para responder a pergunta sobre as saídas da crise, Salvador começou esclarecendo que,
nos marcos do capitalismo, é impossível haver uma saída progressista para a crise. As
posições reformistas, como do Syriza e da IU, que propõe uma “democratização” da
União Européia, uma tentativa de tornar “mais social” o que na verdade é um acordo
entre potências imperialistas (estamos falando da UE), são posições utópicas. A saída
que propõe também os stalinistas, como por exemplo o KKE na Grécia, de uma saída
da UE nos marcos do capitalismo, só pode significar ataques aos trabalhadores uma
vez que, com a volta das antigas moedas, se abriria uma crise monetária como ocorrido
na Argentina em 2001. Para Salvador, os trabalhadores devem lutar pela única saída
possível, a derrubada do regime e da UE, abrindo caminho para uma verdadeira união
dos povos na Europa, os Estados Unidos Socialistas da Europa, única saída progressista
nos marcos desta crise.

“Essa é uma mostra de como o movimento estudantil no Brasil não pode ser
aquele que disputa DA’s e DCE’s por fora de se ligar à classe operária e às lutas
internacionais.”

O debate foi encerrado com uma última pergunta de um estudante, que após ressaltar a
importância que a greve geral, saudou também a atividade por trazer essas discussões à
universidade. Ressaltou a importância de que essa é uma mostra de como o movimento
estudantil no Brasil não pode ser aquele que disputa DA’s e DCE’s por fora de se
liga à classe operária e às lutas internacionais. Continuou desenvolvendo como para
responder a crise, somente a greve geral não basta e perguntou sobre novas atuações e
organizações independentes da classe operária, e qual a saída que eles veem do ponto de
vista estratégico da organização da classe.

Uma saída estratégica para a classe operária e a juventude fazer com que a
burguesia pague pela crise!

Salvador respondeu como que frente à magnitude dos ataques e a situação objetiva,
ainda estão muitos atrasados os aspectos subjetivos ligados à uma saída independente
da classe trabalhadora para a crise. Conforme a situação se acirra no plano da luta de
classes, novos fenômenos políticos emergem como alternativa para dar uma saída à
crise. Pela esquerda e pela direita surgem novos fenômenos políticos que são baseados
em alternativas nacionalistas utópicas para responder à crise, sejam estas reformistas
ou de cunho fascista. Para Salvador, a classe operária tem que superar suas direções
reformistas ou ligadas aos governos e dotar-se de um programa revolucionário e
anticapitalista. Isso só pode ser feito através de um plano de luta que incentive a auto-
organização desde as bases de trabalhadores capaz de buscar a aliança com estudantes
e com todo o povo atingido pela crise. A tarefa do Clase contra Clase e da FT-CI como
um todo é aportar para construir essa alternativa revolucionária no sentido da construção
do partido mundial da revolução socialista, a Quarta Internacional, capaz de levar à
cabo a tarefa da revolução socialista em todo o mundo.

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