Quinta 18 de Abril de 2024

Internacional

Escalada israelense contra o povo palestino

11 Oct 2003   |   comentários

O governo israelense do direitista Sharon vem aplicando sua própria versão da “guerra contra o terrorismo” e os “ataques preventivos” para quebrar a resistência do povo palestino. Desde o começo da segunda intifada, o Estado de Israel tem assassinado sistematicamente dirigentes e ativistas os quais acusa de “terroristas” . As vítimas civis dos mísseis que as tropas israelenses disparam em áreas densamente povoadas aumentam dia a dia, chegando a um total de 2.600 mortos palestinos em três anos, a maioria dos quais enfrenta o exército sionista armados só com pedras. Os tratores se lançam contra as casas de familiares de “suspeitos de terrorismo” nos miseráveis acampamentos de refugiados. Os assentamentos de colonos nos territórios palestinos seguem se extendendo. O governo de Sharon tem começado a construir um muro vergonhoso que pretende delimitar as “fronteiras do Estado de Israel” , anexando ainda mais territórios palestinos. A população sofre as humilhações cotidianas da ocupação israelense ’ postos de controle, toques de recolher, demolições de moradias, desemprego e um longo etcétera.

Esta estratégia de sítio militar, desgaste, assassinatos e humilhações deu um salto nas últimas semanas, após o fracasso do governo efêmero do primeiro ministro palestino Mahmud Abbas e o colapso do plano de “paz” conhecido como “mapa do caminho” .

Em 6 de setembro, a poucas horas da renúncia do ministro Abbas, Israel tentou assassinar Ahmed Yassin, líder espiritual do Hamas, e declarou uma “guerra total” contra esta organização islâmica radical, transformando todos os seus dirigentes em “alvos legítimos” das tropas sionistas. Uns poucos dias depois, o gabinete de segurança israelense anunciou publicamente suas intenções de deportar, exilar ou inclusive assassinar o presidente da Autoridade Palestina e dirigente histórico da OLP, Yasser Arafat, o qual mantem confinado em seus escritórios de Ramallah sob sítio militar há mais de um ano e meio.

Os jornais israelenses discutem abertamente a conveniência ou não de levar a cabo este assassinato. O diário Jerusalem Post publicou um editorial que entitulou sem qualquer eufemismo “Matar Arafat” , no qual defende que “A morte de Arafat pelas mãos de Israel não radicalizará a oposição árabe, mas terá o efeito oposto. A atual jihad (guerra santa) contra nós está alimentada pela percepção de que Israel está evitando empreender ações decisivas para defender-se ... Matar Arafat, mais que qualquer outro ato, demonstraria que o uso do terror é inaceitável, inclusive em nome de um Estado palestino.” E seguindo esta lógica criminosa conclui que “devemos assassinar tantos dirigentes do Hamas e da Jihad Islâmica quantos seja possível, o quanto antes, tentando minimizar os danos colaterais mas sem permitir que isto nos detenha. E devemos assassinar Arafat, porque o mundo não nos deixa outra alternativa” . (Jerusalem Post, 10/09/03).

O governo de Bush, que vem apoiando a política criminosa de Sharon, se opós taticamente à expulsão ou ao assassinato de Arafat porque teme que isto tenha consequências imprevisíveis e complique ainda mais a situação por si mesma já instável da ocupação imperialista do Iraque. Mas que o considere imediatamente inadequado ou perigoso não implica que desaprove a tentativa de Sharon de fazer Arafat desaparecer de cena, o que ficou evidente com o veto norte-americano a uma resolução nas Nações Unidas que timidamente defendia a proteção do líder palestino, por considerar que o veto não priorizava a “segurança” do Estado de Israel frente à resistência palestina e responsabilizou uma vez mais Arafat pelo fracasso do “mapa do caminho” .

Ainda que o governo israelense não tenha definido data para uma ação militar contra Arafat e tenha que diminuir seus alcances efetivos, tem se reservado o direito de “remover” o presidente palestino no momento e com os métodos que considere apropiados.

O problema central do governo de Sharon é que depois de combater brutalmente durante quase três anos a intifada, não conseguiu garantir a “segurança” do estado sionista, que segue sendo alvo de ataques da resistência palestina.

O colapso do “mapa do caminho”

O “mapa do caminho” , impulsionado pelos Estados Unidos logo após seu triunfo militar no Iraque, buscava impor uma solução pró-israelense reacionária ao conflicto no Oriente Médio que enterraria para sempre as justas aspirações nacionais do povo palestino. O coração do plano era conseguir derrotar a resistência palestina, desarticulando suas organizações mais radicalizadas - principalmente Hamas, Jihad Islámica e as brigadas armadas do movimento nacionalista Fatah. Para isto, os Estados Unidos e Israel, acompanhados pela pressão dos governos árabes e da Uniãn Européia, impuseram uma “mudança de regime” na direção palestina, substituindo Arafat por Mahmud Abbas, uma figura de segunda ordem e sem popularidade, mas que tanto o imperialismo como o Estado de Israel consideravam um interlocutor válido por sua “flexibilidade” e seu compromisso em “terminar com a intifada” . Mas Abbas não teve a capacidade nem a relação de forças para fazer o trabalho sujo de “resolver os problemas de segurança” do Estado de Israel, ou seja, enfrentar e desarmar a resistência palestina, reprimir seu próprio povo e conquistar que este aceite a solução humilhante do “mapa do caminho” ditado pelos Estados Unidos e por Israel, renunciando à autodeterminação nacional, aos direitos dos refugiados a retornar a suas terras e aceitando a imposição de um mini-Estado, sem continuidade territorial e sob controle israelense. Nem sequer Arafat pode chegar tão longe em suas concessões. Isto abriu uma crise na direção palestina que levou à queda do governo de Abbas. Ahmed Qureia, o novo primeiro ministro palestino, foi um dos arquitetos dos acordos de Oslo e é conhecida sua disposição “negociadora” , mas diferentemente de Abbas não está enfrentado com Arafat nem busca desprezá-lo, senão que pelo contrário goza de sua confiança.

A ameaça de Israel contra Arafat tem fortalecido até o momento sua posição interna. Segundo o jornal Haaretz “Provavelmente o único tema que preocupa a direção palestina é o destino de Yasser Arafat. Isto não é só preocupação pelo homem que tem simbolizado a nação palestina por décadas, mas pela própria existência do governo semi-independente que o movimento nacional palestino tinha conquistado nos acordos de Oslo” . Esta preocupação não só aglutinou o conjunto da oposição ao redor de Arafat - desde o Hamas, que passou para a clandestinidade frente a declaração de guerra de Israel, até opositores moderados ’ mas também “tem disparado uma campanha que tem um alcance sem precedentes, que tem continuado ininterruptamente na Faixa Ocidental, Gaza e na comunidade palestina no exterior para evitar que Israel leve adiante sua decisão de remover Arafat” . (Haaretz, 19-9-03).

A ofensiva israelense indignou a população palestina, que ainda que tenha perdido a confiança em Arafat por suas repetidas concessões a Israel e aos Estados Unidos, compreende que Sharon simboliza no ataque à pessoa de Arafat um ataque à sua justa luta de libertação nacional. Arafat, por sua vez, está pagando o preço de ter confiado no imperialismo norte-americano e nos processos de negociação, levando seu povo a um beco sem saída.

A situação aberta com o colapso do “mapa do caminho” soma-se à instabilidade que atravessa a região, marcada pelo resultado incerto do pós-guerra iraquiano.

Junto com a resistência e a hostilidade da população do Iraque contra a colonização de seu país, a causa palestina é uma fonte de inspiração para o conjunto das massas árabes, que simpatizam com sua heróica resistência e repudiam seus reacioanários governos pró-imperialistas.

Mais do que nunca é necessária a unidade das massas da região e dos trabalhadores e oprimidos do mundo em apoio à luta de libertação nacional palestina e pela expulsão imediata do imperialismo do Iraque e do Oriente Médio.

O Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) é a organização irmã da LER-QI na Argentina, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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