Sábado 20 de Abril de 2024

Movimento Operário

Entrevista com o camarada Elio, trabalhador aeroportuário da LOR-CI (Bolívia)

09 Nov 2007   |   comentários

Palavra Operária: Os trabalhadores e setores populares da Bolívia, especialmente dos povos indígenas, têm protagonizado importantes lutas nos últimos anos. Fale um pouco sobre como vê a subjetividade de nossos irmãos de classe bolivianos.

Élio: Sou trabalhador do aeroporto internacional de El Alto, perto de La Paz, entregue pelo governo a uma multinacional espanhola. Inspeciono questões de segurança dos vóos deste que é um centro importantíssimo de circulação de mercadorias.

Nos anos 90, fomos todos muito prejudicados pela ofensiva neoliberal. Terceirizaram várias seções, precarizando e fragmentando os trabalhadores. Estávamos desorganizados e iniciamos, a partir de 2 camaradas da LOR-CI, um trabalho clandestino buscando agrupar os companheiros. Acontece que a patronal nos descobriu e demitiu, exatamente quando conseguíamos algum resultado. Começamos a agitar então uma campanha pela readmissão, mas não tivemos muito apoio dos colegas que, por covardia política e medo de perder o emprego, recusavam-se a assinar nossos abaixo-assinados e "dar a cara pra bater". Foi então que as trabalhadoras saíram em nossa defesa, corajosamente, pressionando os homens a juntar-se a elas - e assim, depois de uma dura luta, fomos reincorporados. Através dessa vitória e de outras batalhas que temos travado, discutimos com os trabalhadores do aeroporto e de outras categorias sobre a necessidade de nos organizarmos para combater a exploração.

Desde a LOR-CI temos lutado para ajudar setores da classe trabalhadora boliviana a fazer sua experiência com o governo de conciliação de classes de Evo Morales e avançar nas sua independência política em relação a este governo e à burguesia.

Palavra Operária: O 1º congresso de nossa organização no Brasil se dá, não por acaso, no mês em que comemoramos os 90 anos da Revolução Russa. Qual o legado deste que foi o mais importante acontecimento do século XX?

Élio: O primeiro estado operário da história só foi possível porque havia um partido revolucionário, forjado e provado na luta de classes, e os soviets, nascidos da auto-organização dos trabalhadores e do povo. Foi a estratégia soviética dos bolcheviques que garantiu que o proletariado tomasse o controle e dirigisse a nação. E é esta estratégia que devemos resgatar, pois hoje se confunde muito a revolução social vivida na URSS com a sua negação, a burocratização stalinista, que liquidou exatamente aquilo que foi essencial e decisivo para a tomada do poder - os organismos de poder do povo, de auto-organização. Defender a estratégia soviética não significa achar que as revoluções serão sempre iguais, mas que em cada momento a classe criará seus instrumentos para lutar pelo controle da produção.

A classe operária é muito criativa e, como se provou na Revolução Russa, pode construir uma nova sociedade sobre os destroços de uma outra, já ultrapassada historicamente.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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