Sexta 19 de Abril de 2024

Movimento Operário

14N

Entrevista com Santiago Lupe, direto do Estado Espanhol

16 Nov 2012   |   comentários

Santiago Lupe, dirigente do grupo Clase contra Clase, organização da Fração Trotskista no Estado Espanhol, analisa as greves e manifestações européias realizadas no 14N.

Como se chegou à convocatória da greve geral nos distintos países da Europa?

Santiago Lupe: Como sabem a crise capitalista segue golpeando muito forte, sobretudo no continente europeu e de forma especial em todos os países do sul da Europa, região conhecida como o arco mediterrâneo. Esta situação se da tanto naqueles países que estão sofrendo intervenção direta como é o caso de Portugal ou Grécia ou como em outros que ainda não tem uma intervenção formal da chamada Troika, onde os governo, como o de Monti em Itália ou o de Mariano Rajoy no Estado Espanhol, estão aplicando todo o programa de ajustes que não tem nada que invejar ao que estão fazendo seus homólogos gregos e portugueses. Isto está ao mesmo tempo acompanhado das consequências próprias da crise capitalista, também no setor privado com um aumento gigantesco do desemprego, sobretudo no Estado Espanhol, onde excedemos a cifra dos 6 milhões de desempregados, estamos próximos ao 26% de desemprego, e onde seguimos conhecendo notícias de demissões massivas em grandes empresas como vimos esta semana na multinacional Iberia, que se dispõe a deixar na rua no próximo ano a mais de 4000 trabalhadores. Tudo isso ao mesmo tempo que o governo de Rajoy acelera os recortes orçamentários, sobretudo na educação, na saúde e no emprego público. Dezenas de milhares de médicos, professores e funcionários estão recebendo avisos de demissão nos últimos meses.

Toda o que está crise está provocando é uma resposta cada vez maior dos trabalhadores e da juventude, como vimos na Grécia com as três jornadas deste ano, em Portugal, com mobilizações multitudinárias e também uma jornada de greve. O vimos também na Itália, nas manifestações contra a reforma do trabalho e inclusive também em países como França ou Grã Bretanha, com manifestações massivas como foram contra a política de austeridade de Cameron.

E aqui no Estado Espanhol, também vimos ao longo de todo o ano, tanto com a greve geral de 29 de Março, como com a luta dos mineiros, a emergência do movimento estudantil e no último período a reaparição do movimento dos Indignados, sobretudo em Madrid em todos ao movimento 25S e às manifestações e protestos em torno do Congresso dos deputados.

Este é um pouco o panorama tanto econômico, como dos padecimentos que estão sofrendo os trabalhadores e os setores populares, e as primeiras respostas que estão dando os trabalhadores e a juventude. São, digamos, os precedentes imediatos à convocatória do 14 N nos distintos países europeus.

O que pode nos contar sobre como se desenvolveu a jornada nos distintos países?

SL: Um dos países onde a greve foi mais exitosa foi o Estado Espanhol, e seguido por importantes mobilizações e uma grande adesão à greve em Portugal. Hoje a península ibérica ficou completamente paralisada. Também se desenvolveram paralisações parciais na Itália, onde houve mobilizações e enfrentamentos com a polícia nas principais cidades, e na Grécia, onde se realizou uma paralisação de três horas com mobilizações no centro de Atenas. Em Chipre e Malta também se realizaram jornadas de greve geral. Ao mesmo tempo se desenvolveram manifestações massivas em muitíssimas cidades europeias. Milhares de trabalhadores apoiaram a convocatória da Confederación Europea de Sindicatos que havia proposto como jornada de luta europeia este dia, o 14 N.

O interessante é que foi uma ação que mostra a potencialidade que tem a classe trabalhadora do continente para dar uma resposta unificada a todos os ataques da Troika e dos distintos governos nacionais. É algo que eles temem, se dão conta deste potencial. Inclusive o New York Times soltou hoje uma nota editorial alertando deste perigo, que se começa a dar respostas unificadas a nível continental de parte dos trabalhadores. E o que eles temem, a nós no enche de esperança porque acreditamos que é o caminho que temos que empreender os trabalhadores para poder enfrentar contundentemente os planos dos diferentes governos.

O 14N responde aos antecedentes que comentava em cada um dos países e ao mesmo tempo tem como limite o espartilho que impõe a mesma burocracia sindical do continente, tanto aquela que decidiu apoiar a convocatória do 14N mediante uma greve geral e se mantem na estratégia de chamar a uma ação isolada para pressionar os governos como outras que se negaram a convocar a esta jornada como foi o caso da Central Sindical ligada ao Partido Socialista em Portugal ou o resto dos sindicatos do continente que trataram de converter a jornada em uma mera jornada de manifestações e obstaculizar a tendência a uma resposta mais contundente a uma greve geral continental.

Para nós, e como o expressamos na última declaração que soltamos junto com nossos companheiros do grupo RIO da Alemanha e nossos companheiros da CCR na França, o que está colocado é que os trabalhadores do continente avancemos na perspectiva de um plano de luta e uma greve geral continental que busque derrotar os distintos planos de ajuste dos governos europeus e da Troika, e ao mesmo tempo levantar uma perspectiva de luta mais além da derrota destes ajustes, que vá de frente contra a União Europeia, a Europa do capital, e coloque a batalha por uma verdadeira união continental que somente poderá ser realizada com os trabalhadores à cabeça, que é a luta pelos Estados Unidos Socialistas da Europa.

Comente-nos como se desenvolveu a jornada no Estado Espanhol

SL: Aqui a greve foi enorme no sentido de que parou praticamente tudo. Os setores que tradicionalmente param de maneira quase unânime, ou seja, a indústria, a energia, os grandes serviços, o transporte, voltaram incorporar a greve de uma maneira absoluta. O interessante também é que nesta ocasião se somou com força outros setores dos serviços, sobretudo os serviços públicos, como a educação e a saúde, que vem nas últimas semanas e meses se mobilizando contra os recortes e as tentativas de privatização. Foi importante a participação de professores, de médicos, de enfermeiras, também os pais que apoiaram a greve, através de suas associações, e decidiram não levar seus filhos ao colégio. É interessante também o apoio que teve de parte do mundo da cultura, dos atores, da União de Atores, de outros muitos intelectuais, e também como um aspecto novo foi o de ter um apoio bastante grande em setores autônomos, do pequeno comércio, que também decidiu fechar suas tendas, seus quiosques etc. Isso deu como resultado que se viveria uma situação de verdadeira paralisação de absolutamente toda a vida das cidades, não somente os polígonos (parques industriais) e os lugares de emprego, senão também dos centros das cidades amanheceram praticamente como se estivéssemos em um domingo. E por outro lado, sobretudo pela tarde, em mais de 100 cidades se produziram manifestações massivas, ou seja, com cerca de um milhão de pessoas em Madrid, uma cifra similar em Barcelona, e se juntou tanto os trabalhadores de diferentes sindicatos como uma nutrida presença de setores do movimento estudantil que também paralisou por completo a universidade e os institutos e também outros movimentos sociais como os movimentos contra os desalojamentos que está ganhando uma grande importância no último período na luta contra a onde de desalojamentos que se está vivendo no Estado Espanhol.

Soubemos que houve uma forte repressão e detidos

SL: Sim, os incidentes sobretudo se produziram nas manifestações de Madrid e Valência ao longo de todo o dia, que é onde se produziu a maior parte das detenções. A polícia tratou de impedir em Madrid que os manifestantes cortassem a Gran Vía e outras ruas do centro. Em Valência houve muita repressão, sobretudo contra estudantes da universidade. E em Barcelona, nas manifestações pela tarde, sobretudo na última hora, em torno de 21h, a polícia, os Mossos D’Esquadra, realizaram um disparo brutal, dissolvendo a manifestação e iniciando perseguições e disparos por todas as ruas do centro histórico da cidade aos diferentes grupos manifestantes. Até o momento são mais de 100 presos, a maior parte deles ainda não passaram à disposição judicial, portanto, coloca-se a necessidade de que tanto as direções operárias, da esquerda, de Direitos Humanos etc. realizem uma grande campanha pela liberdade sem penas de todos os companheiros e companheiras.

O que pode nos contar da participação do Clase contra Clase em toda a jornada?

SL:Clase contra Clase participou nas manifestações de Madrid, de Barcelona e de Zaragoza, realizamos nutridos cortejos junto com a agrupação revolucionária No Pasarán, que participou das manifestações da Esquerda Sindical, sobretudo trabalhando, agitando a declaração que soltamos em conjunto com nossos companheiros da Europa, com o conteúdo que coloquei antes, e ao longo do dia estivemos participando de distintos piquetes junto com jovens trabalhadores e estudantes, como por exemplo o piquete aqui em Barcelona. Fomos ao piquete de CELSA, uma das maiores siderúrgicas de Cataluña e do Estado Espanhol, também fomos dar apoio aos trabalhadores municipais de Terraza, aos trabalhadores do hospital mutua de Terraza e posteriormente participamos dos piquetes pelo centro da cidade de Barcelona. E em Zaragoza estivemos participando nos piquetes dos ônibus de transporte urbano, de madrugada, e posteriormente pela universidade, junto com outros trabalhadores e de estudantes fomos ao piquete que garantia o fechamento do campus universitário da cidade.

Quais foram as principais consignas, brevemente, que nos pode contar, que levantou Clase contra Clase nesta jornada?

SL:Bom, sobretudo o que estamos levantando é a necessidade de batalhar por um plano de luta, porque a greve geral do 14N se converta não em uma jornada isolada de luta como pretende a burocracia sindical de Toxo e Méndez, mas sim no ponto de arranque de um plano de luta, e para isso defendemos a necessidade de fortalecer a capacidade de organização tanto dos trabalhadores, da juventude trabalhadora e do movimento estudantil para poder impor e fazer realidade esta perspectiva.

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