Quinta 25 de Abril de 2024

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Entrevista com Brandão, diretor demitido político do Sintusp e militante da Ler-qi

26 Sep 2009   |   comentários

JPO: Como vê o debate sobre a democratização e o processo de eleições para reitor na USP?

Quando eu entrei na USP, o movimento de professores, funcionários e estudantes acabava de fazer uma experiência de “eleição paralela” ou “consulta paralela” , tal como a Adusp se propõe fazer este ano, com o apoio do PSOL. Em 1986, o candidato defendido pelo movimento era o professor Dalmo Dallari, que havia sido diretor da Faculdade de Direito. Isso foi há 21 anos. Dalmo Dallari foi o mais votado na “consulta paralela” feita pelo movimento. Mas depois, o governo Quércia foi e nomeou Goldemberg como reitor. Mais adiante, foi lançada a candidatura do Jair Borin (ex-professor da ECA, já falecido) com o mesmo método. Na “consulta” , novamente, Jair Borin foi o mais votado. Mas nem na lista tríplice que é encaminhada para o governador ele entrou. Já foram repetidas várias experiências, apresentando candidaturas alternativas e impulsionando “consultas” e sempre termina prevalecendo o reacionário governo das camarilhas com seu aristocrático estatuto que hoje vigora na universidade. Por isso, nós impulsionamos uma frente pela democratização da USP e contra a repressão, encabeçada pela anti-candidatura de Chico de Oliveira, que defende o boicote eleitoral.

Para quem olha superficialmente, pode parecer que é apenas uma discussão sobre a forma de eleger o governo universitário. Isso acontece inclusive com varias correntes de esquerda como o PSOL e o PSTU, que entram nessa lógica, ao colocarem como eixo central de sua política as eleições diretas a reitor. Mas não se trata de melhorar o mecanismo eleitoral, e sim de questionar o todo o poder das camarilhas e sua legitimidade, começando por seu principal organismo de poder, que é o Conselho Universitário. Para a burocracia acadêmica, controlar a universidade implica em controlar um orçamento maior que 5,6% do ICMS do Estado de São Paulo. É um orçamento maior que o que sustenta alguns estados do país, como Tocantins. É manipular e controlar uma infinidade de fundações de direito privado que se apropriam dos recursos financeiros, dos recursos materiais, dos recursos humanos da universidade, para promover cursos pagos, convênios, projetos de pesquisa a serviço de interesses das grandes empresas e das multinacionais etc. É parasitar esse dinheiro sem ter que prestar contas pra ninguém. Por isso, nossa frente luta pela dissolução do Conselho. Nós, da LER-QI, levantamos como alternativa a necessidade de um governo dos três setores, com maioria estudantil. Outros setores da mesma frente propõem proporcionalidade ou paridade. Nesse sentido, podemos esquecer qualquer tentativa pacífica de mudança do estatuto da universidade. A burocracia acadêmica e o governo do estado não vão largar este poder pacificamente. Por isso há que preparar uma grande luta.

JPO: Quer colocar alguma coisa a mais?

Brandão: Toda essa discussão sobre a democratização da estrutura de poder da universidade, se ela é feita desvinculada de uma luta pela democratização do acesso à universidade pública e gratuita, está completamente equivocado. Pois democratizar a estrutura de poder sem acabar com o vestibular, sem por fim a esta instituição excludente, elitista, racista, que funciona como um filtro social para entrar na universidade, isso não significa democratizar a universidade coisa nenhuma. Seria como muito “melhorar” as condições para que consegue transpor a muralha do vestibular e ingressar na “Torra de Marfim” . Mas para a maioria da população que está de fora, que o único papel que cumpre em relação à universidade é sustentá-la pagando imposto, não se trata só de democratizar a estrutura de poder mas também o acesso e o conhecimento nela produzido. O que se trata é de arrancar o poder da burocracia acadêmica, no caso da USP, tucana, que representa dentro da universidade os interesses da burguesia e do capital e colocar o controle da universidade de fato nas mãos da comunidade universitária e a serviço dos trabalhadores e do povo.









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