Sexta 19 de Abril de 2024

Teoria

RESENHA DO LIVRO PÃO E ROSAS

Elogiosa crítica de Claudia Mazzei na Margem Esquerda

19 Sep 2008 | Em março desse ano, lançamos o livro "Pão e Rosas. Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo" de Andrea D’Atri, publicado pelas Ediçoes Iskra. No debate realizado na PUC, participou Claudia Mazzei Nogueira que depois escreveu uma resenha para a revista Margem Esquerda. Claudia tem doutorado em Serviço Social, é professora de Metodologia Cientifica e Políticas Sociais e autora de "A feminização no mundo do trabalho: entre a emancipação e a precarização" e "Trabalho Duplicado - A Divisão Sexual no Trabalho e na Reprodução: Um Estudo das Trabalhadoras do Telemarketing". Reproduzimos abaixo a resenha do livro "Pão e Rosas".   |   comentários

Pão e rosas

Andrea D”™Atri

São Paulo, Iskra, 2008.

197 p.

Temos publicados no Brasil poucos livros que discorram sobre a questão
feminina e ao mesmo tempo indiquem as importantes contribuições de Marx e Engels para esse debate. Esse é um dos méritos de Pão e rosas.

O livro de Andrea D”™Atri, publicado inicialmente na Argentina, em maio de
2004, com o título de Pan y rosas, e depois no Brasil, em março de 2008, vem preencher essa importante lacuna. Além de fornecer elementos para uma rica reflexão, como o resgate histórico de fatos relevantes e fundamentais para a luta da “emancipação” da mulher, ele contribui em múltiplas passagens, com referências a obras de Marx e Engels (Manifesto Comunista, Crítica ao programa de Gotha, A sagrada família, O capital etc.), ao mostrar que esses autores também
deram grande importância à questão feminina quando analisaram a sociedade capitalista e sua relação de exploração e de opressão (masculina e de classe) da mulher. Exploração que é dada pela relação entre capital e trabalho e opressão que está presente na manutenção da estrutura familiar patriarcal.

Segundo a autora: "Para o pensamento marxista, pertencer a uma classe não pode simplesmente se agregar a outras múltiplas e diversas identidades [...]. As identidades que o sistema entende como subordinadas (mulher, negro, homossexual etc.) só adquirem significação social concreta quando relacionam seu vínculo com uma classe social [...]. A articulação das diversas determinações de gênero, sexualidade, etnia etc. está fundada na estreita articulação que existe entre exploração e opressão sob o domínio do capital" [1]. E complementa: "Não deveríamos falar de diferentes mulheres? São por acaso iguais as vidas das mulheres empresárias, operárias, dos países imperialistas e das semicolónias, das brancas e das negras, das imigrantes ou refugiadas? [...] Supor que somente por serem mulheres há algo que vincula Margaret Thatcher com as desempregadas inglesas, as empregadas domésticas da Argentina ou as operárias mexicanas é, em última instância, cair no reducionismo biológico da ideologia patriarcal dominante [...]. Falar de gênero assim, portanto, é fazer uso de uma categoria abstrata, vazia de sentido e impotente para a transformação que queremos levar adiante" [2].

Em relação ao processo histórico da luta feminina, algumas passagens
merecem ser destacadas. A mais importante talvez seja da greve conhecida como Pão e rosas, que ocorreu em 1912 na cidade de Lawrence, em Massachusetts (EUA), e dá nome ao livro. Lembra-nos também o filme homónimo de Ken Loach, no qual ele realiza um vivo combate contemporâneo contra a precarização da força de trabalho nos EUA, composta principalmente de operárias imigrantes.

O livro ainda discorre sobre as Internacionais, a Revolução Russa e o
sufrágio, e traz biografias resumidas das mais importantes feministas, como Clara Zetkin, Flora Tristan, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai e outras.

Uma característica importante do livro é que mantém o fio condutor
alicerçado em uma análise sobre a questão feminina no interior do capitalismo, o que possibilita uma reflexão sobre os limites impostos aos movimentos feministas e a todo(a)s aquele(a)s que buscam a emancipação da mulher e a igualdade de gênero. Como lembra Mészáros em seu livro Para além do capital, as promessas não cumpridas e impossíveis de serem realizadas pelo
sistema do capital transformam a grandiosa causa da emancipação feminina em uma impossibilidade dentro do domínio do capital. Portanto, não há nenhuma outra forma de alcançar a emancipação da mulher, “que veio à tona há muito tempo, mas adquiriu urgência num período da história que coincidiu com a crise estrutural do capital” , sem uma metamorfose substantiva nas relações estabelecidas de desigualdade social.

Fica aqui a sugestão de leitura desse belo livro para todas e para todos
que queiram pesquisar, refletir, debater ou simplesmente conhecer os caminhos e os percalços da questão feminina.

Claudia Mazzei Nogueira

Margem Esquerda é uma publicação da EDITORA BOITEMPO

[1Andrea D”™Atri, Pão e rosas (São Paulo, Iskra, 2008), p. 133-4.

[2Ibidem, p. 24.

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