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Juventude

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Eleições para a direção: Que fazer?

09 Oct 2008   |   comentários

Na próxima semana o IFCH entrará no processo eleitoral para a direção do instituto. Duas chapas estão concorrendo; com algumas propostas distintas, outras nem tanto; a questão que se coloca são os rumos do IFCH que, não é novidade para ninguém, vêm enfrentando uma grave situação de déficit docente que pode comprometer seriamente o futuro do nosso instituto.

Não podemos, contudo, pensar o IFCH se não o situarmos no marco mais geral da situação das universidades públicas no Brasil e, particularmente, das estaduais paulistas. Tal relação é importante de ser estabelecida uma vez que o IFCH, e a Unicamp mais de conjunto, não está fora da lógica, que cada vez mais se aprofunda, de um projeto de universidade mais próximo do capital.

Uma visão mais geral: a quem serve nossa universidade?

A luta das estaduais paulistas no ano passado, não deixou de configurar, de certo modo, um movimento de resistência a tais intentos. Entretanto, é sabido, os decretos não foram revogados e agora Serra nos aparece com mais uma das suas: uma lei para regulamentar as relações entre os núcleos de pesquisa, Fapesp e iniciativa privada. Tais ataques nos mostram que a universidade burguesa é moldada, em suas diferentes épocas, pelas mudanças orquestradas no mundo do capital. O fato de que as humanidades não produzem inovações tecnológicas a fim de aumentar a mais-valia não nos exclui desse modelo vigente de universidade. É aqui que se produzem as “verdades” que legitimam as contradições verificadas no sistema em que vivemos.

É evidente, e por isso nem vamos nos ater a maiores explicações sobre, que os governos atuam em completo conluio com a burguesia, tendo na universidade um aspecto-chave de sua política. Desse modo, a própria estrutura de poder vigente na universidade é mais uma faceta dessa relação, promíscua: a escolha dos reitores, por exemplo, depois de passar pela antidemocrática eleição na qual, pasmem, a minoria é maioria (70% professores, 15% estudantes, 15% servidores), se configura uma lista tríplice que tem na figura do governador do estado o voto de minerva. Sim, o mesmo José Serra que quis a ferro e fogo retirar a autonomia da universidade! Não é preciso ter dúvidas sobre ao lado de quem estarão os reitores...

O Conselho Universitário (CONSU), nossa “instância máxima de deliberação” , funciona sob a mesma desigual proporção e, para garantir que a universidade cumpra seu papel de estar a serviço da sociedade civil, conta também com a presença de honoráveis membros da FIESP! O que a Unicamp não nos conta é que a sociedade civil, na sua visão, corresponde aos patrões, e não aos trabalhadores. A Prefeitura Municipal de Campinas também conta com sua cadeirinha. Drº Hélio, reeleito, deve adorar garantir seus pitacos nos rumos da Unicamp. Campinas, uma das cidades mais industrializadas do país, pode contar com a Unicamp para atrair mais empresas! Fora as que são criadas bem debaixo do nosso nariz, através da INOVA (Agência de Inovação da Unicamp) que patenteia mais que a Petrobrás.

É bastante claro que diante de todas essas relações, qualquer reivindicação de uma maior participação discente e de servidores nos órgãos colegiados será motivo de riso. Querem nos convencer, no entanto, que o privilégio dos professores é correspondente à experiência, aos anos dedicados à Unicamp, que os demais não seriam capazes de definir com eficiência os rumos de nossa universidade.

O modelo hierárquico chega aqui

E não é que aqui nas humanidades, onde aprendemos que as verdades são construídas em prol do benefício de alguns, esse discurso segue sendo reproduzido? Esquecem-se, no entanto, que o fim da universidade deveria consistir justamente no benefício de nós, estudantes e que, nesse marco, teríamos o direito legítimo de influir com maior peso nas decisões. Tal discurso, no entanto, foi amplamente difundido por alguns professores nas discussões acerca da reforma curricular aprovada na Ciência Política e na Sociologia no semestre passado e segue em voga nas palavras de ambas as candidaturas apresentadas à direção do instituto, com nuances mais ou menos à esquerda.

Embora aqui as eleições para a direção sejam paritárias, e não negamos que isso é progressivo, a congregação segue repetindo a lógica aplicada em todas as instâncias deliberativas de nossa universidade. Como se não bastasse, existe, não só aqui, uma coação velada a estudantes e funcionários oriunda das relações acadêmicas e de chefia que se estabelecem por meio das orientações, promoções, concursos com cartas marcadas e cargos de confiança.

As eleições para a direção serão capazes de nos dar uma resposta para essa situação? Mudar a direção não mudará quem manda!

O movimento estudantil deve ter um projeto distinto: se ligar aos trabalhadores!

A hegemonia ideológica da burguesia na universidade sustentada na burocracia acadêmica serve à manutenção de sua hegemonia social. Daí que o surgimento de um movimento estudantil que não lute meramente por “espaços” e “melhorias” nessa universidade tal como é, mas que questione esta universidade e a sociedade, terá que surgir num processo contra o conteúdo ensinado, a burocracia acadêmica e seus mecanismos institucionais.

Nosso projeto de universidade passa pela estreita relação desta com a classe trabalhadora; o conhecimento aqui produzido deve servir como um aporte à sua resistência e organização; até que os próprios trabalhadores e seus filhos tenham a oportunidade de aqui estar. Nesse marco, algumas medidas poderiam ser, no que concerne ao IFCH especificamente: a abertura de nossa biblioteca para empréstimos a professores da rede publica; publicações pela gráfica do IFCH a preços populares voltadas para elaborações sobre classe trabalhadora, em convênio com sindicatos; participação de movimentos sociais e sindicatos nos órgãos colegiados do IFCH; democracia plena nas deliberações do Instituto; luta pela incorporação imediata ao corpo de técnicos-administrat ivos de todos os terceirizados que aqui trabalham, entre outros.

Além disso, é preemente uma discussão profunda e ampla sobre nosso currículo, incentivando a percepção crítica da sociedade através de disciplinas que enfatizem a classe operária brasileira e abordem mais profundamente o marxismo, por exemplo.

Nestas eleições, voto nulo contra a farsa democrática!

Temos duas candidaturas à direção do Instituto. Ainda que uma delas (a chapa Nádia-Chalhoub) seja visivelmente mais progressista do que a de Eliane Moura, aliada do setor mais à direita de nosso instituto (e que se colocou contra nossas barricadas no ano passado), não podemos nos iludir com a farsa democrática armada na hora das eleições. Como já dissemos, de fato é positivo que as eleições no IFCH sejam, no mínimo, paritárias; isso não anula o fato de que continuaremos a não decidir nada!

Nossa concepção de democracia não é aquela que credita aos seus representantes o direito pleno de decidir, uma vez eleitos, ao seu bel prazer. Queremos participar ativamente de todas as decisões do IFCH, queremos definir para onde vai a grana, quais são as prioridades, quais as matérias da graduação, que professor vai dar qual matéria. Isso não é arrogância, mas sim a oposição frontal à reprodução da democracia burguesa que se dá debaixo de nossos olhos.

Assim, nestas eleições, chamamos a todos a votarem nulo: contra a estrutura desigual de poder e contra o falso diálogo aberto que só ocorre de 4 em 4 anos!

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