Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

Eleições norte-americanas: vitória dos falcões

05 Dec 2004   |   comentários

A reeleição de Bush legitima a política militarista que marcou o seu primeiro mandato, ao ter dado a este a maioria no Colégio Eleitoral e na votação popular. Isso demonstra que o Partido Republicano conseguiu criar uma base fundamentalista religiosa entre os setores privilegiados da classe média norte-americana. Esses setores são os que têm respondido ao clima de terror instaurado após o 11 de setembro, alimentado por Bush, prestando o apoio às ofensivas imperialistas no Iraque e Afeganistão.

Mas além desta base neoconservadora o que explica a reeleição de Bush é o caráter de classe imperialista do Partido Democrata, que mantém acordos estratégicos com os Republicanos no que diz respeito aos planos para seguir dominando o mundo. Nos assuntos internos tampouco os democratas poderiam apresentar uma saída ao desemprego e à piora das condições de vida dos trabalhadores, já que toda a agenda de Kerry se baseava em disciplina fiscal e austeridade nos planos económicos, demarcando novamente este caráter de classe. Dessa forma, a posição ambígua dos democratas, que restringiam as críticas à guerra do Iraque sobre a “maneira” como esta havia sido feita, explicitou durante toda a campanha eleitoral a sua incapacidade de dar uma resposta efetiva aos milhares que se colocam contra esta ofensiva imperialista. Assim, o que se torna claro é a ausência de uma alternativa para os ativistas do movimento antiguerra, os trabalhadores e o povo pobre dos EUA.

Trata-se, portanto, de uma necessidade vital que todos os que se colocam no campo da esquerda norte-americana, bem como os que se manifestam contra a política imperialista, lutem para construir uma aliança dos trabalhadores e do povo pobre que se expresse politicamente, rompendo os limites impostos pelo regime bipartidário de alternância burguesa dos EUA, não só eleitoralmente, mas também para coordenar ações dos trabalhadores em sua luta contra os ataques do governo e a guerra do Iraque.

As contradições do segundo governo de Bush

O segundo mandato de Bush se dá sobre um país dividido, no qual uma grande parcela da população se mantém insatisfeita com a guerra do Iraque, com o aumento do desemprego, que tende a se intensificar, e com os cortes na verba destinada a políticas públicas como saúde e seguridade. Isso se soma a uma possível reação que a juventude, trabalhadores e as camadas da classe média podem dar em resposta à ofensiva ideológica reacionária dos neoconservadores com seus valores fundamentalistas cristãos.

No campo das relações interimperialistas, a reeleição de Bush aprofunda as rusgas com a França e a Alemanha. Se uma vitória de Kerry poderia abrir uma possibilidade, ainda que mínima, de abrandar as relações com estes imperialismos europeus, inclusive acerca da questão do Iraque, o segundo mandato de Bush intensifica estas contradições, gerando uma tensão que pode reverter a linha adotada no último período por França e Alemanha de reaproximação com os EUA. Nesta semana, o presidente francês Chirac declarou que “se observarmos a evolução do mundo, a respeito da segurança e do terrorismo, não só do Oriente Médio, mas do planeta inteiro, não se pode dizer que a situação tenha melhorado ” , reafirmando a necessidade do restabelecimento de relações “multilaterais” e buscando utilizar-se do crescente sentimento antiamericano para uma localização mais favorável.

Mais ataques à resistência iraquiana

Logo após a definição do pleito norte-americano, foi anunciada uma nova ofensiva militar das tropas de ocupação sobre a cidade de Faluja que ao lado de Samarra e Ramadi, têm sido o bastião da resistência à ocupação imperialista e que não estavam sob o controle das tropas invasoras.

Esta ofensiva, batizada de “Fúria Fantasma” , foi responsável pela morte de milhares de iraquianos, e ainda que as tropas de ocupação tenham conseguido controlar Faluja, o seu resultado mais expressivo se mostra na generalização da resistência sunita para outras regiões, como Mossul que se transformou no principal palco destes enfrentamentos.

Essas ações provam que o enorme poderio militar das tropas de ocupação não tem sido o suficiente para acabar com a resistência. Ao invés de legitimar o governo fantoche de Allawi, e preparar o terreno para as eleições iraquianas já postergadas para o dia 30 de janeiro, a ofensiva sobre a insurgência tem despertado o repúdio de milhões em todo o mundo frente ao assassinato de mais de mais de 100.000 civis, gerando crise junto aos setores sunitas que afirmaram sua intenção de boicotar as eleições . Trata-se agora de fazer com que este repúdio se transforme em uma ampla mobilização dos trabalhadores e juventude de todo o mundo e, sobretudo, dos norte-americanos em apoio à resistência nesta heróica luta que protagonizam contra o imperialismo.

A morte de Arafat traz novas interrogantes para a situação no Oriente Médio

A morte de Iasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina neste mês na França, após o longo confinamento imposto por Israel e apoiado pelos EUA, é um dos elementos que pode aumentar as tensões no Oriente Médio. Ainda que tenha pactuado com o imperialismo norte-americano e com o estado sionista de Israel, tenha contido as alas mais radicalizadas dos palestinos como o Hamas e a Jihad Islâmica, Arafat ainda gozava de autoridade junto a esses setores e ao conjunto da população palestina.

Agora, Israel e os EUA buscarão uma nova direção palestina ainda mais moderada que o próprio Arafat com a qual possa retomar as negociações e garantir a continuidade do saque o povo palestino e o fim da Intifada. Porém tanto Abu Mazen, atual candidato do Fatah, como o primeiro ministro Ahmad Qureia, ambos moderados e principais nomes cotados para ocupar o posto deixado por Arafat, teriam problemas para impor ao povo palestino os limites determinados por Israel, por não gozarem da mesma autoridade que o antigo líder principalmente junto aos setores mais radicalizados. Dessa maneira não se pode descartar uma maior radicalização da Intifada, que somado á resistência no Iraque pode agravar a crise na região.

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