Quinta 25 de Abril de 2024

Juventude

Eleições do CACS: Por um pólo antiburocrático, antigovernista e pró-trabalhadores

10 Oct 2004   |   comentários

O movimento estudantil desenvolve atualmente importantes lutas de vanguarda em resposta aos ataques que o governo Lula desfere contra as universidades e a educação. Para que essas lutas, ainda dispersas pelo território nacional, e para que as políticas do governo sejam barradas em prol de profundas e verdadeiras modificações nessa estrutura, ou seja, que as universidades sejam colocadas a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, é preciso que as entidades representativas dos estudantes modifiquem a sua lógica de atuação. É necessário que o movimento estudantil atue nos principais fenómenos da vida política nacional desde uma perspectiva de transformação social. Somente armados com esta estratégia estaremos preparados para travar as batalhas pelas mais imediatas reivindicações, como é a luta pela redução das mensalidades.

É bem conhecida a prática burocrática de entidades como a UNE que trai há décadas o movimento estudantil, seja como braço esquerdo do regime, na sua atuação histórica ao lado do petismo e de partidos burgueses, seja como braço direto do governo no movimento após a vitória de Lula. É por isso que, em ruptura com estas entidades que hoje não passam de traidoras de nossas lutas, devemos conformar um grande pólo nacional, antiburocrático, antigovernista e pró-trabalhadores, que rompa com a lógica burocrática que impera nas entidades estudantis, e que seja capaz de unificar o movimento estudantil a nível nacional na luta contra a reforma universitária.

Na PUC, ao longo de 2004, foram dados importantes passos na construção de um pólo como este. No começo do ano dezenas de estudantes se unificaram com os trabalhadores da Flakepet na sua luta para garantir os postos de trabalho; no primeiro semestre os estudantes da PUC estiveram presentes na realização do primeiro Encontro Nacional Contra a Reforma Universitária que fundou a Conlute; depois foram centenas os que ocuparam a reitoria em defesa de 15 estudantes sindicados; ainda no primeiro semestre os estudantes da PUC demonstraram mais uma vez que é possível se unificar concretamente com os trabalhadores se mobilizando em apoio aos piquetes dos funcionários da USP que lutavam contra o arrocho salarial imposto pelo governo Alckmin e a reitoria; no segundo semestre o CACS ’ Gestão Guernica, em conjunto com o CA Psico e com o CA de Serviço Social, realizaram uma importante campanha pelo voto nulo nas eleições para reitor, colocando em primeiro plano a luta contra a estrutura de poder antidemocrática da PUC e denunciando que qualquer dos candidatos eleitos seguiria com os ataques iniciados pela gestão Ronca; continuando sua luta contra a reforma universitária do governo Lula, os estudantes da PUC estiveram presentes com uma importante delegação na plenária de Brasília “Para Barrar Essa Reforma Universitária” .

O chamado que estamos fazendo na PUC aos estudantes e a todas as organizações políticas que lutem contra a reforma e contra o governo, em especial ao PSTU, é para organizar uma chapa que tenha como norte aprofundar estas experiências iniciadas no ano de 2004 e lutar para unificar o movimento estudantil em nível nacional.

Devemos nos unificar num pólo antigovernista, antiburocrático e pró-trabalhadores

Existe hoje um grande divisor de águas no movimento estudantil e no conjunto do movimento de massas no Brasil. De um lado, estão aqueles que combatem o governo Lula ’ aplicador das reformas neoliberais e dos planos que condenam a povo brasileiro à fome e à miséria ’ e que estão dispostos a ir até o fim nessa luta. De outro lado, estão aqueles militantes do PT e do PCdoB que defendem ser possível pressionar o governo para que este mude de rumo, e assim acabam se transformando em apoiadores das suas medidas. Entre esses dois pólos, está o P-SOL, que ao mesmo tempo em que se diz contra Lula chama a votar nas eleições em uma série de candidatos do governo e inclusive de partidos da burguesia e, em nome das suas alianças com o petismo, se nega a lutar para derrotar a reforma universitária em curso e levar as greves dos trabalhadores à vitória.

Sabemos que ainda existem importantes diferenças entre aqueles que se colocam contra o governo, porém este é o momento de uma frente única antigovernista, pois de nossa atuação depende o futuro da luta contra a reforma universitária e demais lutas que teremos pela frente. É com este espírito que a partir da PUC fazemos um chamado a todos os estudantes e organizações políticas, em especial ao PSTU, que estão lutando contra o governo Lula e contra a reforma universitária, para que nas eleições para CAs, DAs, e DCEs sejam apresentadas chapas unificadas de oposição ao governo Lula e às entidades e correntes governistas.

Chamamos todos que se colocam em luta hoje a romper com a UNE e com a UBES, colocando os CA’s, DCE’s e os grêmios secundaristas a serviço da construção de um pólo antiburocrático nacional que unifique o movimento estudantil na luta contra o governo Lula e sua reforma Universitária.

No Encontro Nacional Contra a Reforma Universitária, no início desse ano no RJ, foi formada uma Coordenação de Luta Estudantil, a Conlute que se propõe a unificar a luta dos estudantes em nível nacional e concentrar forças para lutar contra a Reforma Universitária.

A Conlute, como se configura hoje, ainda não é esse pólo antigovernista e anti-burocrático, mas está nas mãos dos estudantes transformar essa coordenação, no sentido de unificar e impulsionar as lutas dessa nova vanguarda estudantil. Defendemos que todos os estudantes e entidades que se colocam em luta devem se integrar à Conlute e fazer dela esse pólo antiburocrático que unifique as lutas que hoje se dão nacionalmente.

Desde a Conlute devemos lutar para colocar a universidade e todo o conhecimento nela produzido a serviço dos trabalhadores, do povo pobre e de suas lutas, com um programa claro de luta contra o governo, lutando pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades sob controle dos setores que a fazem funcionar, revolucionando a estrutura de poder vigente nas universidades brasileiras, expulsando a burocracia acadêmica das universidades.

Defendemos a formação de uma chapa que coloque claramente para os estudantes a necessidade de integrar a Conlute e que combata dentro deste organismo para transformá-lo numa ferramenta de luta do movimento estudantil. Essa perspectiva só poderá se concretizar se nos colocarmos a tarefa de impulsionar a mais ampla democracia direta dos que lutam, revolucionando o movimento estudantil e superando a lógica petista de militar, que privilegia os acordos de cúpula da burocracia estudantil e com a burocracia acadêmica em detrimento da organização da luta dos estudantes.

POR CAS E DCES MILITANTES

A juventude somente pode compreender a história e a luta de classes através da sua própria luta contra esse sistema de exploração. Os centros acadêmicos não fogem dessa lógica e devem ser impulsionadores da luta para formar um novo movimento estudantil. Deve-se romper com a forma burocrática de atuação, que nada mais é do que a reprodução dos mecanismos da democracia burguesa, na qual a política está separada da vida real e daqueles que deveriam ser o seu sujeito. Não somente as “decisões” são sempre tomadas em alguma instância superior, na qual apenas aqueles que possuem a dita "legitimidade" têm voz, mas as lutas que os estudantes devem travar contra a exploração são desviadas e barradas pelas entidades burocratizadas.

Devemos lutar para que cada entidade faça política: os CAs e DCEs devem ser organismos vivos que se espelhem nos exemplos mais avançados de luta estudantil e trabalhadora, seja no Brasil a luta dos estudantes secundaristas de Salvador ou a luta dos estudantes das universidades do nordeste, seja na heróica luta da UTO na Bolívia e outras lutas que se desenvolvem internacionalmente. Devemos lutar por Centros Acadêmicos militantes que consigam de fato levar a cabo a política de unidade com todos os setores que se colocam em luta; isso significa impulsionar a aliança dos estudantes com os trabalhadores.

Em todos os fenómenos de lutas mais avançadas os estudantes deram exemplos claros de como devemos combater as direções traidoras do movimento estudantil e levar nossas lutas à vitória. Assim foi na greve da Universidade Federal da Paraíba, onde o movimento estudantil impós ao DCE que este fosse submetido durante a greve ao Comando Geral de Greve dos Estudantes; ou em Salvador, onde os estudantes secundaristas passaram por cima da burocracia da UBES e da UNE e tomaram em suas próprias mãos a organização do movimento.

Num momento em que as entidades que dizem representar os estudantes se transformam definitivamente em defensores dos ataques do governo, apenas a auto-organização dos estudantes em cada curso, em cada faculdade ou universidade, pode garantir que o movimento estudantil supere as barreiras burocráticas e se eleve à altura das tarefas que estão colocadas; quer dizer, que lute por um programa de auto-organização do movimento estudantil e por um novo movimento estudantil, pró-operário e antiimperialista.

Aliança operária e estudantil

Com o avanço dos ataques do governo, o próximo período será preenchido de grandes lutas dos trabalhadores, como podemos ver na onda de greves que se iniciou em todo o país e na sua tendência a se expandir. Já vimos nesse ano alguns exemplos de luta dos setores mais explorados, como foi a ocupação da fábrica Flakepet em Itapevi, onde os trabalhadores para ter a garantia de seus postos de trabalho expulsaram o patrão e por um período colocaram a fábrica para produzir. Nesse conflito, muitos estudantes da PUC, organizados pelo CACS ’ Gestão Guernica, mostraram na prática como se concretiza a aliança operário-estudantil, ao se disporem a passar noites em frente à fábrica quando os trabalhadores foram desalojados pela polícia, unindo-se à luta daqueles que tudo produzem e nada têm.

Na grande greve das estaduais paulistas, que durou 65 dias, vimos esse fenómeno se repetir; estudantes se aliando com os trabalhadores da USP, inclusive passando noites fazendo guarda nos piquetes para resistir à ameaça de repressão policial, para lutar para que esses trabalhadores tivessem a garantia do reajuste salarial.

A aliança operária e estudantil deve ser compreendida não no marco de uma solidariedade passiva, mas com a clara visão de que os setores que são atacados em cada fábrica, em cada lugar da periferia, no campo e nas universidades são atacados por uma só classe: a burguesia e seus governos. Colocar o movimento estudantil junto aos trabalhadores é a chave para derrotar as políticas de ofensiva do governo Lula.

Somente essa perspectiva estratégica permite que os Centros Acadêmicos superem todo tipo de “corporativismo estudantil” , deixando de ser entidades vazias, onde os estudantes são chamados a participar somente nas eleições ou em dias de mobilização sem nenhuma atuação cotidiana e sistemática, deixando de ser CAs do tipo “lute e vote” para se transformar em verdadeiros pólos militantes, de democracia direta, onde os estudantes sejam sujeitos da política nacional.

Uma Chapa que lute para organizar uma greve geral universitária contra a reforma do governo Lula

Estamos constituindo na PUC, com um amplo setor de estudantes, uma chapa que lutará até o fim para derrotar a reforma universitária do governo Lula. Essa chapa se integrará plenamente na organização das mobilizações do dia 11 de novembro e na marcha à Brasília no dia 25 de novembro. Porém, sem deixar de apontar que estes dois atos isoladamente serão insuficientes para derrotar os planos do governo para a educação se não forem vistos como uma ponte para a organização de uma greve geral universitária. Não podemos nos esquecer que no ano passado o funcionalismo público protagonizou a primeira greve nacional contra o governo Lula. Contudo, nesse momento a estratégia do governo de dividir os trabalhadores estatais dos trabalhadores das empresas privadas foi capaz garantir a aprovação da reforma da previdência.

Como parte das medidas necessárias para esta luta não deixaremos de denunciar aquelas correntes que como o PSOL e a esquerda petista se negam a travar uma luta conseqüente para barrar a reforma; ou correntes como o PSTU que fazem de um plebiscito o grande eixo da luta estudantil, impedindo assim os estudantes de irem até o fim na sua experiência com a burocracia.

Existem as condições concretas para impulsionar a greve geral universitária que defendemos, pois nesse momento existem estudantes e funcionários em greve em diversas universidades do país e em muitos outros lugares o movimento universitário vem de greves importantes por reivindicações especificas, alimentando a disposição de luta contra a reforma. Isso, sem deixar de colocar abertamente que mesmo uma greve geral universitária, se não conquistarmos o apoio da maioria dos trabalhadores brasileiros, estaremos enfraquecidos para barrar a reforma universitária.

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