Terça 23 de Abril de 2024

Nacional

EDUARDO CUNHA E DIREITO AO ABORTO

Eduardo Cunha já está passando por cima dos cadáveres das mulheres

09 Feb 2015   |   comentários

O recém-eleito presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, em uma de suas entrevistas para o Estadão, em relação aos direitos democráticos das mulheres, declarou que "Aborto só vai à votação se passar pelo meu cadáver" .

O recém-eleito presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, em uma de suas entrevistas para o Estadão, em relação aos direitos democráticos das mulheres, declarou que "Aborto só vai à votação se passar pelo meu cadáver" . O deputado do PMDB-RJ é conhecido por seus projetos de Lei e declarações machistas e homofóbicos, como a autoria do projeto conhecido como “Cura gay”, que foi barrado pelas Jornadas de Junho, e garantia que sob sua presidência não avançará em direitos das mulheres, dos homossexuais.

Rita Frau, dirigente do grupo de mulheres Pão e Rosas e membro da Executiva Nacional do Movimento Mulheres em Luta (MML), comentou a declaração do deputado: “A declaração dele é simplesmente o aval para que sigam morrendo milhares de mulheres por abortos clandestinos todos os anos. No Brasil ocorrem 1 milhão de abortos e mais de 200 mil mulheres morrem todos os anos. O que ele está dizendo, é que o Estado manterá a criminalização do aborto e as mulheres continuarão realizando o procedimento das maneiras mais precárias, anti-higiênicas, e seguirão morrendo, como Jandira e Elisângela, jovens mulheres trabalhadoras do estado do RJ que perderam suas vidas, vítimas das máfias dos abortos clandestinos. No ano passado, o Pão e Rosas e várias mulheres saíram as ruas para pedir justiça por Jandira e Elisângela, e esta declaração faz eu me sentir violentada e desrespeitada em nome de tantas Jandiras que perderam suas vidas, ou tantos familiares que perderam suas filhas, mães e avós ”

Rita Frau afirma que a realização dos abortos clandestinos no país está presente em todas as classes sociais mas que são as mulheres pobres, trabalhadoras e negras que sofrem as consequências mais traumatizantes e que morrem: “O caso de Jandira e Elisângela escancarou a realidade de muitas mulheres que recorrem ao aborto pois na maioria das vezes não podem levar adiante a gravidez porque sofrem assédio moral nos locais de trabalho para não engravidarem, e têm medo de perder o emprego. Muitas delas são religiosas mas mesmo assim recorrem ao aborto pois não possuem alternativa. Este tema expressa muita hipocrisia, pois setores como Eduardo Cunha chamam as mulheres de “assassinas” de vidas, não estão preocupados comas condições de vida e serviços de saúde e educação para as mulheres de fato poderem exercer a maternidade. As mulheres não tem para quem recorrer. Muitas sofrem caladas, se sentem culpadas, envergonhadas, são humilhadas, obrigadas a pagar fianças para serem soltas ou morrem como Jandira e Elisângela. A realidade é que Eduardo Cunha já está passando por cima do cadáver de milhares de mulheres.”

Rita Frau afirma que o aborto ilegal é uma das formas de violência contra as mulheres por parte da democracia e do Estado, que permite que os setores mais reacionários das bancadas religiosas e conservadores ditem as regras sob a vida das mulheres e dos LGBT: “A arrogância com que Cunha faz esta declaração é porque os setores conservadores e reacionários se beneficiam nesta democracia dos ricos com a opressão das mulheres, homossexuais e negros. São vários os projetos de lei contra os direitos da mulheres e dos homossexuais que tramitam no Congresso e o Estado laico presente na Constituição federal, nunca saiu do papel. Dilma Rousseff na eleições de 2010 fez um pacto com os setores reacionários que não avançaria na legislação do aborto, e se manteve calada diante da morte de Jandira e Elisângela na campanha eleitoral do ano passado. Para garantir este direito elementar na vida das mulheres, teremos que nos organizar e o movimento de mulheres não poderá aceitar a política da governistas, pois deixaram de lado a luta pela legalização do aborto para apoiar o governo Dilma”.

Rita Frau acredita que existe uma potência para lutar por este direito democrático, retomando o espírito de Junho da juventude, e aliada à classe trabalhadora: “ Após a revolta que me causou esta declaração, embalada pela moda da criação de eventos no facebook, criei um evento que se chama “"Passar por cima do cadáver de Eduardo Cunha para legalizar o aborto". Em seis horas mais de 4 mil pessoas “confirmaram presença”. Para mim temos que canalizar toda essa indignação e revolta contra políticos e setores reacionários que querem decidir sobre nossa vidas e manterem a realidade de humilhação, mutilações e mortes de mulheres, para construirmos uma grande campanha organizada nos locais de trabalho e estudo pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito e pelos direitos dos LGBT”.

Rita finaliza fazendo um chamado para que todas as mulheres e organizações de direitos humanos, coletivos feministas e movimento de mulheres e organizações políticas: Falta exatamente um mês para o dia 8 de março, dia internacional da mulheres, devemos sair as ruas para dizer: “Nem Cunha, nem ninguém passará mais por cima de cadáveres de mulheres! Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos! Pelo direito de decidir por nossos corpos e nossas vidas!”. Só nos organizando e saindo as ruas conseguiremos arrancar esta direito elementar na vida das mulheres”.

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