Quinta 18 de Abril de 2024

Juventude

É urgente uma campanha nacional contra a repressão ao movimento estudantil

16 Feb 2008   |   comentários

Por: Tati

Desde o fim da luta das universidades paulistas e federais, as reitorias vêm desfechando uma repressão profunda aos ativistas com o intuito de mostrar aos lutadores que a radicalidade com a qual se levantaram será respondida à altura.

A Unesp de Araraquara é onde esse processo vem se dando de forma mais dura, vejamos: neste início de ano saiu o resultado da sindicância que vinha sendo promovida sobre quatro estudantes acusados por um ato político, com mais de 100 estudantes, onde pintaram os assentos que continham propaganda de empresas privadas e dos caixas eletrónicos, um repúdio a iniciativa privada dentro da universidade. Resultado: seis meses de suspensão, divulgado oportunamente somente durante as férias. Além disso, duas estudantes foram suspensas; uma proposta de fim da moradia na congregação aprovada por unanimidade; criação de uma portaria que proibia colagem de cartazes, atos, megafones e, ainda, permitia a entrada da polícia no campus; invasão da tropa de choque para desocupar a diretoria e 98 estudantes levados para delegacia; campus sitiado por uma noite pela PM; abertura de processo civil responsabilizando três estudantes pela ocupação e condenação, em primeira instância, dos mesmos, com multa de dez mil reais ou dois anos de prisão.

Infelizmente, este é somente um exemplo. Na Unicamp, já durante a greve se instaurou uma sindicância a sete alunos e agora uma nova foi aberta contra os integrantes do Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH); na USP, 40 sindicâncias estão em curso e 6 estudantes estão sendo indiciados acusados de agressão física a um professor. Entre os trabalhadores há diretores do sindicato com processos abertos na polícia e militantes do movimento sendo processados ou ameaçados nas unidades.

Nas universidades privadas, como a Fundação Santo André, a repressão veio com tudo desde o início da mobilização contra o aumento das mensalidades, que chegavam até 126%. A tropa de choque invadiu a universidade por duas vezes para desocupar os estudantes, com direito a cassetes e bombas, além de ter prendido estudantes que só foram liberados após várias horas. Ainda assim, a resistência do movimento manteve a greve por mais 50 dias, o que fez com que o reitor respondesse com um processo judicial contra 50 pessoas; que o movimento conseguiu fazer com que recuasse. No início desse ano, os estudantes se depararam com a quadra de esportes ’ espaço que ficou marcado pelas atividades culturais da greve ’ toda destruída pela reitoria. Além disso, no ano passado, a reitoria preparava a implantação de um posto policial dentro do campus, plano que não foi colocado em prática por causa da força de mobilização dos estudantes e o repúdio à polícia.

Na PUC-SP, após 30 anos, a reitoria, após a ocupação promovida contra o Redesenho Institucional [1], colocou a policia dentro do campus acabando com um dos últimos resquícios democráticos que a PUC-SP tinha na sua tradição. Para efetuar tal transformação, foi preciso fortificar a repressão, como vimos, além da entrada da polícia, nas 10 sindicâncias abertas contra estudantes e no impedimento da rematrícula para esse ano dos estudantes que estavam com dívidas em negociação e haviam ocupado a reitoria.

Nas federais a linha segue sendo a mesma. Na UFBA, por exemplo, a reintegração de posse da reitoria foi feita por meio da truculenta ação da policia, bem como em várias federais ocupadas. Recentemente, durante o carnaval, a polícia também promoveu uma ação no campus Gragoatá da UFF para acabar com uma ocupação por moradia estudantil que já durava um ano e nove meses.

Mas não é uma ofensiva só com o ME, se trata de uma onda repressiva contra os estudantes, trabalhadores, movimentos sociais e o povo negro.

Não é mais possível que o ME assista calado a uma ofensiva que pode comprometer qualitativamente os rumos dele próprio. Nós, da LER-QI, desde a greve colocávamos a necessidade de uma ampla articulação contra a repressão, que deveria envolver, para além dos CAs, DAs e DCEs; sindicatos, partidos, a Conlutas, a Intersindical, a Conlute, a FLuCRU, etc. No entanto, até agora essa campanha não avançou, já passa da hora de construirmos com tudo. As reuniões que acontecerão no Rio, entre os dias 16 e 18 deste mês, devem votar uma ampla campanha nacional contra a repressão, com camisetas, abaixo-assinados, panfletos e adesivos. O PSTU e o PSOL devem encampá-la seriamente. Chega de passividade frente a tamanhos ataques!

Tati é integrante do CACH da Unicamp

[1Para saber mais sobre o redesenho, leia o artigo: “Breve histórico do ensino superior brasileiro... Ou, por que as reitorias são ocupadas?” , em www.movplenospulmoes.org.

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