Quarta 24 de Abril de 2024

Debates

E se a água terminar nas Universidades?

06 Feb 2015 | Mesmo com Alckmin tentando esconder, passada as eleições, dia a dia novas noticias sobre a situação calamitosa de falta d’água aparecem nos jornais. Essa semana as Universidades Estaduais Paulistas anunciaram a possível suspensão das aulas por conta da crise hídrica.   |   comentários

Mesmo com Alckmin tentando esconder, passada as eleições, dia a dia novas noticias sobre a situação calamitosa de falta d’água aparecem nos jornais. Essa semana as Universidades Estaduais Paulistas anunciaram a possível suspensão das aulas por conta da crise hídrica.

Além do fato de milhares de estudantes terem que atrasar os seus cursos, e da própria paralisação da produção acadêmica, o fato mais escandaloso a se tratar de um espaço de produção de conhecimento, é a completa subserviência das gestões da USP, UNESP e UNICAMP aos se curvarem frente ao ataque do governo, e não usarem da sua estrutura e pesquisas para pensar saídas e soluções para o problema.

A suposta apatia das reitorias Universitárias tem seu fundamento na ligação íntima dos altos cargos da Universidade com o governo do estado. Enquanto o reitorado propõe fóruns fechados para pensar o problema, o governo já ataca a população ameaçando medidas como rodízio de cinco dias sem água e dois com, multa de mil reais àqueles que desperdiçarem água, esconde o gastos das grandes empresas querendo jogar todo o ônus da crise sobre os trabalhadores e a juventude.

Várias hipóteses estão sendo levantadas, como usar a água da chuva via instalação de cisternas, usar o aqüífero Guarani, ou começar a captar água da represa Billings. À frente delas estão professores e pesquisadores das Universidades. A possibilidade de usar da represa Billings, com sua água poluída com bactérias, metal pesado e vários produtos químicos, é aventada pelos geógrafo chefe do Departamento de recursos hídricos da Unicamp, Antônio Carlos Zuffo, como vemos em sua entrevista para o site Último Segundo: Para amenizar "o clima de guerra", ele sugere o abastecimento temporário com a água da represa Billings, hoje poluída após décadas recebendo esgoto dos rios Pinheiros e Tietê. "O governo poderia fazer uma desinfecção e colocar água bruta na rede. Eu preferia receber em casa uma água assim para dar descarga e até lavar roupa. É um abastecimento precário, mas pelo menos não ficaríamos totalmente sem água", diz ele. Desinfetada, a água bruta chegaria aos lares com cor amarelada e forte cheiro, portanto, “não potável”
Essa possibilidade não vai só para a descarga ou a para lavar a casa, mas leva consigo uma série de riscos a população se o governo começar a disponibilizar água suja e contaminada. Podendo instaurar uma situação de doenças e contaminação pelo consumo inadequado dessa água.

A segunda hipótese sobre o aqüífero Guarani, muito já se disse sobre esse reservatório que poderia sustentar a humanidade por mais de cem anos. Contudo alem do custo de transportar a água da região oeste do estado, onde o reservatório se localiza, para a capital, ainda não se sabe ao certo se esse reservatório tem a capacidade de suportar uma vazão continua. Começar a retirar água do Guarani de maneira insustentável pode gerar outro cataclismo no sentido não só da falta de chuvas, mas de secar e/ou poluir os mananciais da região sudeste. Outro professor da USP alerta para o risco “A gente precisa ter a recarga no aquífero para que ele continue dando água. Se a gente tiver em longo prazo a certeza de que a chuva vai continuar caindo e o aquífero recarregado, uma vazão de 1 metro cúbico por segundo é uma vazão segura”. Mas como ter essa certeza frente as mudanças do código florestal do Governo Dilma, que permitem maior desmatamento da mata ciliar, assim como a extensão das plantações de cana e da agropecuária que sugam a água, respaldadas pela nova ministra da agricultura, Kátia Abreu, grande protetora dos latifundiários.

Ou seja, enquanto os pesquisadores da Universidade vem pensando como “resolver” o problema da água por meios paliativos (que curiosamente não tocam nos lucros das empresas enquanto – nem se questiona a exportação de água pela Sabesp) que continuam destruindo o meio ambiente, temos que nos perguntar: qual o sentido das Universidades? Um espaço de conhecimento deve servir a população, como restabelecer a água restaurando as matas ciliares para resgatar os mananciais, como limpar os rios, como desenvolver a agricultura de forma saudável sem destruir as matas, e a difusão de um pensamento crítico que se oponha à privatização deste bem da humanidade. Uma série de questões que são parte orgânica para pensar a crise que vivemos, já que não se trata só de um problema climático, mas sim anos e anos de uma administração estatal voltada para o lucro, para a manutenção dos grandes latifundiários (mais de 70% da água brasileira consumível é voltada ao agronegócio), e das grandes empresas poluidoras (que consomem 22% da água).

A Universidade até agora serviu para produzir conhecimento para esse projeto, contudo nessa crise vemos uma encruzilhada no seu projeto, ou seja, continuará pensando alternativas para manter o lucro, salvar a fama do governos PSDBistas enquanto destroem e aprofundam a crise ambiental, ou se a Universidade vai usar do seu conhecimento para desenvolver medidas anticrises de preservação ambiental, de limpeza da água, controle de pragas, se seu hospital vai aumentar o numero de funcionários e estrutura para atender a casos de virose, pragas e desidratação.

A presença de intelectuais na Unicamp e nas estaduais paulistas que defendam como sua a demanda de toda a população para que não haja desabastecimento para as populações periféricas, e que reflita saídas de emergência para a crise hídrica em meio à crítica científica dos modos como a água é administrada pelo estado, é de vital importância. Essa disputa dentro da Universidade, para que projeto ela vai se voltar, esse ano deve ser ainda mais latente frente a situação extrema da população.

O conhecimento não pode ficar atado a interesses do governo, é urgente que se divulgue e pesquise a real situação dos reservatórios, bem como as escolas e Universidade que são espaços de convívio das comunidades não podem ser fechadas, essa também é uma forma de desarticular a luta dos estudantes e da população contra a barbárie da falta d’água. Os estudantes podem organizar comitês de base para responder ao problema da água, disputar o conhecimento da universidade contra a reitoria, para que toda o investimento seja voltado a população, tornando-se bastiões junto as escolas de defesa do acesso a água.

Artigos relacionados: Debates









  • Não há comentários para este artigo