Terça 23 de Abril de 2024

Nacional

EDITORIAL | GRÉCIA, ESTADO ESPANHOL, ATAQUES HISTÓRICOS DA BURGUESIA AO PROLETARIADO

É preciso ecoar o grito dos trabalhadores gregos: que a burguesia pague por sua crise

07 Mar 2012   |   comentários

As certezas otimistas que a burguesia cantou dos 90 em diante ruíram. Não haveria mais crises, nem guerras nem revoluções. Passados quase cinco anos do inicio da crise capitalista mundial, a primavera árabe mostrou a cada esfinge um velho enigma: mas as massas agüentarão tudo isto sem uma revolução? Da parte da burguesia ensaiam-se saídas reacionárias. A queima de capitais, forças produtivas, desemprego massivo, redução do salário mínimo como fizeram (...)

As certezas otimistas que a burguesia cantou dos 90 em diante ruíram. Não haveria mais crises, nem guerras nem revoluções. Passados quase cinco anos do inicio da crise capitalista mundial, a primavera árabe mostrou a cada esfinge um velho enigma: mas as massas agüentarão tudo isto sem uma revolução? Da parte da burguesia ensaiam-se saídas reacionárias. A queima de capitais, forças produtivas, desemprego massivo, redução do salário mínimo como fizeram votar na Grécia, ruína de famílias inteiras, estão inseridos em todas os planos traçados em Nova Iorque, Paris, Londres ou Berlim.

Na Europa vemos respostas das massas que, por mais que ainda não estejam à altura do ataque desferido são um alento das possibilidades de desenvolvimento da luta de classes. A primavera árabe fez ressurgir a idéia de revolução. Nos desníveis entre um ataque sem quartel que a burguesia precisa impor e as incipientes respostas dos trabalhadores, com maior centralidade à juventude, reside um eixo da compreensão da situação internacional. Os desafios postos pela realidade aumentam. É preciso encarar a realidade com a certeza que entraremos em novos tempos.

A crise capitalista se desenvolve a partir de contradições cada vez maiores

Os ataques que a burguesia precisa impor não são conjunturais. Uma imensa derrota da classe trabalhadora é necessária pois não se trata de somente mais uma crise cíclica do capitalismo. O capitalismo sempre produziu e sempre produzirá crises enquanto existir. A que vivemos é a maior desde 1929 e junto desta importância histórica, novos tempos históricos vão se abrindo. A classe operária será obrigada a entrar em combate com os ataques da burguesia. Cabe aos revolucionários ser parte deste processo se preparando para fundir o marxismo de nossa época, o trotskismo, com ações independentes da classe operária no sentido da derrubada do capitalismo, este que avança cada vez mais em maiores contradições estruturais. O capitalismo só será derrotado quando existir uma classe social preparada para substituir este sistema por outro e a única classe capaz de assumir esta grandiosa tarefa histórica é a classe operária organizada em um grande partido revolucionário internacional que faça valer a enorme força das grandes organizações operárias na luta política contra todo o sistema capitalista. As oportunidades que se abrem hoje precisam ser aproveitadas como preparação para esta grandiosa tarefa das grandes ações das massas.

As crises não produzem necessariamente nenhuma radicalização das massas, nem ao contrário as crises são obrigatórias pré-condições à mesma. O problema que se coloca para a burguesia é que ela não sabe bem por onde avançar, e o pouco que sabe – ajustes, cortes – se chocará com as massas. Esta é uma possibilidade da realidade e não um desejo dos revolucionários. O comunismo, descartado na restauração burguesa marcada pela ofensiva neoliberal, ressignifica-se com a crise, com a primavera árabe e os desafios históricos que estão e estarão postos como a única experiência prática, teórica e estratégica do proletariado que permite não só a compreensão das crises do capitalismo mas sua superação revolucionária através da ação consciente do proletariado e sua vanguarda. É para esta ressignificação que precisamos nos preparar.

A novidade que se constitui o ataque imposto à Grécia pela União Européia (UE), pela Alemanha em primeiro lugar, torna atualíssimo um elemento crucial da compreensão marxista de nossa época, formulada por Lênin como uma época de crises, guerras e revoluções. A UE tinha sido aclamada como uma superação dos estados nacionais, como uma possibilidade de paz eterna no continente que despertou duas guerras mundiais; eis que a crise faz retomar a opressão de uma nação sobre outra em uma escala nunca vista em um país avançado sem ser em tempos de guerra o que poderia se expressar na semicolonização de países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, e a consolidação de partidos de extrema direita, xenófobos e antiimigrantes A semi-colonização de países avançados ilustra dramaticamente a atualidade da contradição fundamental do capitalismo de nossa época (entre o desenvolvimento das forças produtivas e os estados nacionais) e se dará em maiores e mais explosivas escalas, colocando ao proletariado a necessidade de uma resposta revolucionária à crise ou a reconstrução de um novo equilíbrio capitalista pela burguesia mais fortemente contra o proletariado.

A possibilidade de existir um novo Lehman Brothers (crash) ou diretamente a quebra de estados (como a Grécia) significa à burguesia a necessidade de medidas cada vez mais agudas contra a classe operária. A burguesia teme o efeito cascata que esse tipo de crise poderia gerar, afetando de maneira mais violenta seu sistema. A atual crise capitalista se desenvolve numa economia cada vez mais internacionalizada, permitindo maiores espaços para ações das massas. Aos revolucionários cabe atuar nestas crises partindo de entender qual é nossa época histórica e aportando para que a classe operária possa atuar de maneira consciente e decidida em alguns países, lutando para que essas experiências sejam internacionalizadas numa luta anti-capitalista e revolucionária.

É ilusório neste sentido histórico, e mesmo no sentido conjuntural do que já ocorre na Europa, pensar na autonomia nacional, que como sabemos – e argumentaremos mais abaixo – encobre formas particulares de dependência do capital estrangeiro e das commodities.

A estabilidade do Brasil tem limites insuperáveis para a burguesia e está fadada

Há um evidente desnível nas manchetes econômicas e sociais do mundo e do Brasil. Enquanto na Europa em geral e na Grécia e Estado Espanhol em particular, estão sendo implementados ataques históricos, no Brasil segue uma continuidade do clima anterior com expansão do emprego e crédito. Este desnível, como insistimos há anos, é produto não de uma autonomia do mercado interno brasileiro ou de suas supostas novas bases “sólidas”, mas das bases cada vez mais dependentes do capital financeiro internacional. Enquanto persistir uma intensa compra de commodities (ferro, petróleo, soja, entre outros) na China para seguir exportando produtos industriais a Europa e EUA; enquanto houver intenso fluxo de capital ao país que financie seus déficits em conta corrente e alavanque crédito para empresas e pessoas (para comprar carros por exemplo com as financeiras das empresas automobilísticas), as contradições evoluirão lentamente. No entanto, não é possível apostar na continuidade nem de um como do outro fator.
Estas condições econômicas de crescimento econômico – muito mais moderadas desde 2011 – são determinantes para a continuidade da estabilidade política e de “paz social” que elas mesmas, e o governo Lula-Dilma e a burocracia sindical que o apóia, impõe. É preciso dar passos para efetiva coordenação das lutas isoladas e continuadas (como dos trabalhadores da construção civil e de professores) que ocorrem, para assim contribuir para sua generalização e para que possam apontar alguns questionamentos à “paz social” que impera nesta situação econômica.

Algumas medidas preparatórias da burguesia brasileira

É essa situação econômica excepcional que explica como um governo que conta com a queda de 7 ministros por corrupção, num regime carcomido pelas relações estruturalmente mais espúrias e podres entre as instituições – com os políticos já desavergonhados a levar a céu aberto o dinheiro do povo – ainda pode aparecer como um governo que faz uma “faxina”. Mas, mais cedo ou mais tarde, na medida em que se revertam essas condições econômicas, tendem a vir à tona as debilidades de Dilma em comparação com Lula, em especial o fato de que a atual presidente não tem a mesma relação orgânica com o movimento de massas e suas direções históricas, tal como tem o ex-operário.

Os recentes cortes no orçamento, de R$ 55 bilhões, efetuados pelo governo Dilma mostram como mesmo em outra conjuntura econômica em relação à européia este governo aplica preparatoriamente o mesmo remédio. Cortando gastos principalmente na saúde e educação. Suas recentes privatizações de 3 dos principais aeroportos do país apontam medidas iniciais também do mesmo tom do mundo – apesar de toda propaganda anti-privatista que os petistas sempre se gabaram.

A repressão que os tucanos paulistas têm desatado frente as lutas para precarizar e privatizar a USP, os estudantes e trabalhadores, sua repressão ao Pinheirinho são mostras de um setor da burguesia que sofre com divisões internas e de isolamento eleitoral na qual um setor, ao menos o tucanato da cúpula paulista, busca se apoiar na base mais conservadora da classe média. Este movimento tucano responde não só a fins eleitorais como cacifar-se com o “malufismo” paulista que ficou órfão mas de uma ala da burguesia que busca suas vias de se localizar melhor para poder disputar com o PT projetos distintos para o mesmo objetivo: cortar na carne dos trabalhadores os “ajustes” que a crise imporá.

Desde este ângulo que os revolucionários precisam encarar estas batalhas defensivas, como a preparação para nós e para a burguesia de grandes embates futuros.

Um dinâmico flanco político e ideológico das questões democráticas

Em meio à continuidade de um clima de “paz social” não quebrado pelas lutas econômicas isoladas de setores do proletariado brasileiro, fortaleza relativa do governo Dilma mesmo com a queda de 7 ministros por corrupção, o que mais foge à regra são as lutas da juventude, em particular a da USP. Mas estas lutas da juventude também não são um fenômeno isolado, são expressão mais ativa de algo que vem se processando ainda passivamente na juventude em geral e em partes das classes médias, e um reflexo da retomada das ações estudantis em vários países.

Diversos setores das juventudes têm se mostrado dispostos a sair às ruas, ainda em números pequenos, para reivindicar direitos elementares como o de expressão frente à proibição das marchas da maconha, para indignar-se contra o elitismo e a repressão aos pobres como no caso do “churrasco da gente diferenciada”, da Cracolância e do Pinheirinho. O apoio à luta das terceirizadas da limpeza na USP, a luta contra a remoção de uma favela na Universidade Federal Fluminense em Niterói, Rio de Janeiro; o apoio dos estudantes universitários à greve dos professores da rede estadual de Minas Gerais, são expressões incipientes deste mesmo fenômeno.

Politicamente o governo de uma mulher ex-guerrilheira impõe diversos debates nacionais frente ao sucedâneo de uma comissão de verdade (esqueça-se a demanda de justiça) que suscita críticas à direita pelos militares e, por outro lado, de amplos espectros da própria base do governo. A constante pressão dos evangélicos e católicos para impor sua agenda e, por outro, o relegar da histórica demanda elementar que as mulheres controlem seus corpos e vidas e tenham o direito ao aborto, abrem outros flancos políticos democráticos.

É preciso apostar nestes espaços ainda embrionários e passivos, marcando as posições revolucionárias, e mais ainda, aportar nos fenômenos ativos da juventude, nas coordenações das lutas econômicas dos trabalhadores, não como fenômenos que em si já seriam uma sincronia com o que de mais avançado tem feito a juventude no mundo, mas como um anúncio do futuro. Suas vitórias podem nos abrir caminhos, fortalecer setores mais amplos a lutar, a questionar como mesmo tendo se tornado a sexta economia do mundo o Brasil segue sendo o país da precarização, da perseguição aos lutadores, da violência contra as mulheres, da criminalização da pobreza e de uma das polícias mais assassinas do mundo.

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