Sexta 29 de Março de 2024

Gênero e Sexualidade

NOVA EDIÇÃO DO LIVRO

“É preciso difundir as lutas das mulheres trabalhadoras porque nós não começamos do zero!”

08 Feb 2013   |   comentários

No próximo 8 de março as Edições ISKRA e o grupo de mulheres Pão e Rosas lança a 2ª edição do livro “A precarização tem rosto de mulher”, organizado por Diana Assunção, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP e responsável por sua Secretaria de Mulheres. Aqui publicamos uma entrevista com Diana, também dirigente da LER-QI, Silvana Ramos, dirigente da luta das trabalhadoras terceirizadas da USP em 2005 que resultou neste livro e Natália Viskov, diretora das Edições ISKRA e estudante do curso de Letras da USP.

Jornal Palavra Operária: Porque relançar o livro “A precarização tem rosto de mulher” na situação atual?

Diana: Vivemos hoje uma situação de crise capitalista internacional, onde os primeiros efeitos ainda incipientes começam a aparecer em nosso país. Quando lançamos o livro em 2011, remarcamos no prólogo o que significavam os últimos 30 anos do que chamamos de “restauração burguesa”, que combinou um avanço da burguesia em sua dominação a uma derrota moral da classe operária diante de tantos ataques, dos quais a divisão da classe entre efetivos, terceirizados, temporários e desempregados é um dos principais. A nova edição trará novamente o debate urgente da luta contra a precarização do trabalho, mas já demonstrando que este longo período de “restauração burguesa” já pode considerar-se em seus últimos dias diante não somente dos novos elementos de crise, mas também de uma tendência mundial ao ascenso de massas que se expressa nos levantes da classe trabalhadora e da juventude em todo o mundo.

Natália: Sim, por isso vemos uma grande importância em relançar este livro neste momento. Além disso, as Edições ISKRA quer combinar a publicação de clássicos do marxismo revolucionário com elaborações próprias que possam também difundir as pequenas experiências da classe operária, que muitas vezes são escondidas como um mecanismo da burguesia. Ao mesmo tempo discutimos neste livro sobre o papel do governo Dilma e do PT em relação à precarização do trabalho, os ataques aos trabalhadores e às mulheres, sabendo que a maioria da classe operária carrega muitas ilusões neste partido e neste governo.

JPO: O livro foi lançado em 2011, em meio a luta das trabalhadoras da União. Como se refletirá este novo processo?

Diana: Quando lançamos o livro foi uma surpresa enorme que seu primeiro lançamento tenha sido com centenas de trabalhadoras terceirizadas da USP. Mas isso não foi fruto apenas do acaso, mas de uma compreensão marxista da realidade que considera não apenas urgente a luta contra a divisão das fileiras operárias, mas também avalia que neste setores se desenvolverão importantes processos de luta.

Silvana: Inclusive, de lá pra cá, houve não somente a experiência da União na USP, com uma greve de mais de um mês arrancando conquistas econômicas, mas também houve a luta da BKM com ocupação da administração da Prefeitura do Campus da USP, que chegou a ter repercussão na imprensa. Eu estive nestas lutas para falar da minha experiência na Dima em 2005, que está retratada neste livro. Também depois teve uma grande luta no Metrô de São Paulo, dos companheiros da quarteirizada Façom, de construção civil, eu também estive com eles em uma Plenária organizada pela agrupação Metroviários Pela Base para contar como foi que organizamos a greve na USP. Agora queremos aproveitar que vamos lançar o livro de novo e incluir todas estas experiências novas. É preciso difundir a luta das mulheres trabalhadoras e de toda a classe operária, porque nós não começamos do zero.

JPO: As experiências de difusão do livro em 2011 contribuem para refletir que iniciativas podem se ter com a segunda reedição?

Natália: Sem dúvidas contribui muitíssimo. Em 2011 organizamos dezenas de lançamentos em várias cidades de São Paulo e outros estados como Rio de Janeiro, com importantes intelectuais como Jorge Luiz Souto Maior (juiz do trabalho e professora da Faculdade de Direito da USP), Maria Beatriz Abramides (professora do Serviço Social da PUC-SP), Claudia Mazzei Nogueira (professora da Unifesp de Guarulhos e da universidade federal de Santa Catarina), Virginia Fontes (professora da UFF no Rio de Janeiro), Paula Marcelino (professora da Ciências Sociais da USP) entre outros. O livro chegou a ser utilizado como bibliografia de um curso de graduação na PUC-SP e foi difundido em mídias mais amplas como revistas de sociologia do trabalho. Neste ano queremos potencializar muito os lançamentos, combinando nas mesas de debate intelectuais, estudantes e trabalhadoras terceirizadas como fizemos em 2011.

Silvana: Também é importante dizer que o livro foi repassado pra muita gente. Nos bairros, nos locais de trabalho, em fábricas próximas da USP. Muita gente conhece este livro e esta luta, inclusive nessa nova edição vamos contar sobre o impacto que o livro teve em algumas trabalhadoras terceirizadas que enxergaram nele uma força nova pra não aceitar os desmandos da patronal. Agora acho que temos que organizar muitas atividades e grupos, a começar pela região em torno da USP onde centenas e milhares de jovens, mulheres e negros transitam entre os trabalhos precários na USP, as fábricas e as favelas da região, e neles já existe uma memória viva das importantes lutas de terceirizados da USP que contaram com a participação ativa de estudantes revolucionários e do Sindicato dos Trabalhadores da USP que tem em seu programa a luta pela efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público.

JPO: Como o livro pode servir na organização de luta das mulheres e contra a precarização do trabalho?

Diana: Lançaremos no 8 de março porque o livro é especialmente dirigido às mulheres trabalhadoras e por isso queremos organizar atividades do grupo de mulheres Pão e Rosas, lançamentos, grupos de estudos e uma série de iniciativas em todos os lugares onde estamos. Por isso também incluiremos no livro entrevistas com trabalhadoras da Argentina, suas experiências em fábricas como Zanon e Donneley organizando as mulheres trabalhadoras e as companheiras dos operários. Também queremos encarar a organização das mulheres desde uma perspectiva internacional e por isso não poderíamos deixar de falar do grande movimento de massas que surgiu na Índia contra os estupros coletivos de mulheres. Por outro lado é um livro que transcende o tema da opressão, pegando no cerne de uma das questões vitais para a classe operária e a esquerda hoje que é a recomposição de uma só classe em uma só luta, estando na primeira fileira da defesa dos setores mais explorados, que são as mulheres trabalhadoras, a juventude trabalhadora e os negros e negras de nosso país. Este livro pode ser também o pontapé de um importante movimento contra a precarização do trabalho, organizando dezenas e centenas de trabalhadores, junto a uma juventude estrategicamente ligada à classe operária, avançando do questionamento dos excessos do capital para um questionamento da exploração em si e da necessidade da classe operária avançar para construir, internacionalmente, suas ferramentas de combate à burguesia.

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