Sexta 19 de Abril de 2024

Nacional

É necessário construir um novo partido operário, independente da burguesia e controlado pelos sindicatos

10 Sep 2004   |   comentários

Atualmente, com os ataques do governo Lula à classe trabalhadora e a conseqüente desilusão de massas com o PT, coloca-se uma perspectiva na qual dezenas de milhões de trabalhadores que historicamente tiveram nesse partido sua principal referência política romperão com o mesmo e buscarão novos caminhos na luta de classes. Historicamente, o PT sempre atraiu pelo menos 30% dos votos da população; nas eleições passadas esse número subiu ao patamar de 53 milhões. Só a CUT, entidade historicamente influenciada pelo PT, possui 7,4 milhões de filiados e 22 milhões de trabalhadores representados em seus 3.300 sindicatos de base; só o PT hoje tem 500 mil filiados e um aparato de dezenas de milhares de militantes-funcionários espalhados em todo o país. A perspectiva de que os trabalhadores que historicamente confiaram no PT passem a buscar novos caminhos na luta de classes coloca a necessidade de uma ferramenta política capaz de responder aos anseios não só desses setores mas sim da esmagadora maioria do país, dos quais cerca de 40 milhões são assalariados urbanos que tudo produzem e tudo fazem funcionar.

A greve contra a reforma da previdência foi o primeiro dos enfrentamentos com Lula e o PT, e abriu um processo de reorganização de setores da vanguarda, dando início a rupturas de setores da classe trabalhadora e da juventude, incluindo algumas correntes políticas da chamada “esquerda do PT” . O completo atrelamento da burocracia cutista a Lula, chegando a participar da elaboração das reformas sindical e trabalhista, têm começado a provocar um processo de reorganização do movimento sindical, com sindicatos importantes rompendo com o governo e os “neopelegos” cutistas. Além do enorme desgaste que tem sido provocado pela deterioração das condições de vida da população sob o governo Lula, tudo indica que o segundo grande enfrentamento com o governo, com o PT e com a burocracia cutista pode se dar com a nova ofensiva de ataques do governo via a implementação das novas reformas. É necessário lutar por uma alternativa política para que as dezenas de milhões que tenderão se desiludir com o governo e com o PT avancem em sua independência política em relação à burguesia e os partidos reformistas, pois não podemos permitir que com essa desilusão a classe trabalhadora volte a depositar sua vontade de mudança nos partidos burgueses. Este é um problema que estará colocado imediatamente para todo sindicato que rompe com o governo e o PT, pois no atual estágio de decadência histórica do capitalismo brasileiro será impossível defender os mais elementares interesses da classe trabalhadora sem travar uma dura luta política contra a burguesia e seus instrumentos de domínio. É necessário que os sindicatos se elevem à luta política para defenderem de fato os interesses dos trabalhadores.

Os trabalhadores necessitam de um instrumento político unitário e democrático para exercer sua vontade, superando os limites das categorias e dos sindicatos que somente representam uma parcela dos trabalhadores e deixam, por exemplo, os milhões de desempregados sem qualquer voz e poder de decisão para defender seus interesses, que são os mesmos dos demais trabalhadores.

As organizações que hoje no Brasil se apresentam como alternativa pela esquerda ao PT estão restritas a pequenos setores de vanguarda e são completamente impotentes para responder à magnitude do processo objetivo que estamos vivendo no país. Toda a esquerda que se reivindica revolucionária somada não passa de 5.000 militantes. Para as dimensões do proletariado e das massas brasileiras que devem avançar em uma experiência política com o governo Lula e o PT não passam de pequenos grupos de vanguarda. Ou seja, enquanto o processo histórico de rupturas com Lula e o PT envolve dezenas de milhões, os setores que tentam se apresentar como alternativa influenciam apenas alguns poucos milhares.

Os sindicatos que estão na linha de frente do processo de rupturas com o governo Lula e o PT, como a Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos devem se dirigir aos milhões de trabalhadores do país para impulsionar a construção de um novo partido operário independente controlado pelos milhares de sindicatos que tendem a romper com o governo Lula, a burocracia cutista e o PT e construído pelos milhões de trabalhadores que compõem a base desses sindicatos. Um partido que responda aos interesses da classe trabalhadora e apresente um programa operário e independente de saída à crise do país. Um partido que, para implementar suas medidas lute por um governo da classe trabalhadora aliada ao conjunto do povo explorado e oprimido, baseado no poder das assembléias dos milhões de trabalhadores espalhados nas principais concentrações industriais do país, a serviço de reorganizar toda a sociedade em função das necessidades da maioria da população. Para cumprir essas tarefas esse partido tem que funcionar da forma mais democrática possível, sendo estatutariamente controlado pelos sindicatos, garantindo que as decisões sejam tomadas nas assembléias de base dos sindicatos que o compõe através da eleição de delegados com mandatos revogáveis.

Como marxistas revolucionários nossa estratégia é construir um partido revolucionário com influência de massas. No entanto, hoje a classe trabalhadora precisa ir até o fim em sua experiência com o velhos e os neo-pelegos do PT e da burocracia cutista, pois é necessário avançar de sua consciência ainda reformista para uma consciência revolucionária. Assim como ocorreu no início da década de 80, os oportunistas que atuam dentro do movimento operário tentarão de todas as formas impedir que um novo partido que surja do processo de rupturas com o governo Lula, o PT e os neopelegos da CUT signifique um passo à frente rumo à independência política dos trabalhadores. Frente ao brutal giro à direita do PT, oportunistas de todo tipo já têm começado a se desprender deste partido e a se colar no processo de rupturas, e quanto maior for esse processo mais acentuada será essa dinâmica. Por isso a luta por um partido operário independente deve dar lugar a um debate entre todos aqueles que se reivindicam revolucionários sobre o programa e as táticas que hoje deveriam assentar as bases de uma organização marxista revolucionária capaz de combater conseqüentemente os reformistas e conquistar a hegemonia dos trabalhadores e de um programa operário e independente.

O PT nunca foi um partido operário independente

Muitas correntes políticas que hoje estão fora do PT, como o PSTU e as correntes que estão no P-SOL querem convencer a classe trabalhadora de que o PT teve algum papel progressivo. Em um de seus jornais recentes o PSTU afirma: “Junto com o PT, a CUT foi uma grande conquista dos trabalhadores no passado” (jornal Opinião Socialista nº 183).0 Pelo contrário, foi justamente o coveiro da progressiva vontade dos trabalhadores de construírem um partido próprio e fazerem política. No início da década de 80, em meio ao maior ascenso grevístico da história do proletariado brasileiro, a classe trabalhadora, percebendo a necessidade de ter uma ferramenta política para intervir nos rumos do país, construiu o PT. No entanto, o PT mal terminou de constituir-se já se transformou em partido operário reformista, dotado de um programa de conciliação de classes, e desde sua fundação se negou a atrelar-se estatutariamente aos sindicatos para que os sindicalistas “burocratas de esquerda” (aliados a um setor da igreja e de intelectuais e parlamentares pequeno-burgueses) pudessem ter as mãos livres para pactuar com a burguesia.

Os sindicatos nunca tiveram poder dentro do PT, apenas os sindicalistas, como Lula, Vicentinho e outros que dominavam o partido para impedir que os trabalhadores organizados nos sindicatos pudessem interferir em seus rumos. Mesmo os poucos e pequenos núcleos de trabalhadores que existiram na época da fundação do PT foram sempre combatidos pela direção burocrática de Lula e os demais sindicalistas e parlamentares, até serem eliminados da vida interna do partido para que os trabalhadores das fábricas e das empresas ficassem “fora da política” . Lembremos que o próprio Lula, em 1980, não se cansava de dar entrevista para dizer que “sindicato é para lutar por salário e condições de trabalho e não para fazer política” . Enquanto os trabalhadores eram deixados fora da luta política, os burocratas da CUT e os parlamentares pequeno-burgueses dominaram desde o começo o PT para transformá-lo num partido com um programa e uma estratégia capitalista.

O que explica a necessidade de correntes políticas como o PSTU e o PSOL de pintar um PT mais à esquerda do que de fato foi, é que essa é a única forma delas justificarem sua permanência neste partido por mais de dez anos no caso da Convergência Socialista (CS), e mais de 20 anos no caso das correntes do P-SOL. No entanto, nem elas mesmas escondem que enquanto estavam dentro do PT capitulavam abertamentente aos burocratas reformistas, como podemos evidenciar na própria política da CS (principal corrente formadora do PSTU), dentro da qual estavam neste então as correntes MES e CST: “Defendemos este PT e suas bandeiras de luta. E vamos combater os que queiram modificar os objetivos traçados desde o início pelos companheiros Lula, Bittar... e demais dirigentes sindicais. Não queremos que o PT tenha todo nosso programa” (CS nº 9, março/80). Ou seja, neste então os militantes que hoje compõem a direção do PSTU reconheciam abertamente que na fundação do PT eles abriram mão da luta por um programa operário e independente, capitulando ao programa reformista do “companheiro Lula” . Reconhecem abertamente que nunca lutaram pela construção de um verdadeiro partido operário independente na década de 80, deixando o caminho livre para que a burocracia petista cumprisse tranqüilamente sua tarefa estratégica de levar milhões de trabalhadores ao beco sem saída da conciliação de classes.

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