Sexta 19 de Abril de 2024

Discussão sobre o programa

08 Oct 2007   |   comentários

Discussão dos membros do SWP com Crux (Trotsky) sobre "A Agonia do capitalismo"

Crux: É muito importante precisar alguns pontos sobre a questão do programa em geral. Como é que se constrói um verdadeiro programa?

Alguns camaradas dizem que este esboço de programa não corresponde suficientemente ao estado de espírito e à disposição dos trabalhadores americanos; por isso devemos interrogar-nos sobre se esse programa deve ser adaptado à mentalidade dos trabalhadores, ou se deve antes corresponder à situação real, económica e social do país.

É a questão mais importante.

Sabemos que a consciência de cada classe social é determinada por condições objetivas, pelas forças produtivas, pelo estado económico do país, mas essa determinação não se realiza de forma mecânica. A consciência, em geral, atrasa-se; atrasa-se em relação ao desenvolvimento económico e esse atraso pode ser mais ou menos acentuado. Em tempos normais, quando o desenvolvimento é lento, quando as coisas progridem a pouco e pouco, esse atraso não pode ter conseqüências catastróficas. Em larga medida, esse atraso significa que os trabalhadores não estão à altura das tarefas impostas pelas condições objetivas. Numa altura de crise em contrapartida, esse atraso pode ser catastrófico. Na Europa, por exemplo, deu origem ao fascismo. O fascismo é o castigo em que incorrem os trabalhadores quando não conseguem tomar o poder.

Hoje, os Estados Unidos entram numa fase análoga e conhecem perigos similares. A situação objetiva do país está sob todos os pontos de vista madura para a Revolução Socialista e para a passagem ao socialismo, mais madura que na Europa, mais madura talvez do que em qualquer outro país do mundo; mas o atraso político da classe operária americana é extremo. Isto significa que o perigo de uma catástrofe fascista é enorme. Esta análise é o ponto de partida de toda a nossa atividade. O programa deve exprimir as tarefas objetivas dos trabalhadores e não refletir o seu atraso político. O programa deve dar conta da sociedade tal como é, porque ele próprio é um instrumento para lutar contra essa mentalidade atrasada da classe operária e para vencê-la. É por isso que, no nosso programa, devemos procurar mostrar toda a amplitude da crise social que abala a sociedade capitalista, em cuja primeira linha figuram os Estados Unidos. Não podemos ser nós a fixar os prazos ou a modificar as circunstâncias que não dependem de nós. Não podemos garantir que as massas resolverão a crise, mas devemos reproduzir a situação tal como se apresenta: essa é a tarefa do programa.

Uma outra questão é saber como apresentar o programa aos trabalhadores. É uma questão de pedagogia e de vocabulário, de escolha de termos. A política, quanto a ela, deve orientar-se somente pela questão essencial, a do desenvolvimento das forças produtivas e do bloqueamento desse desenvolvimento pela forma capitalista de organização da propriedade e o seu resultado; o desemprego crescente, a maior das pragas sociais. As forças produtivas já não se podem desenvolver como antes. A ciência e a tecnologia desenvolvem-se, mas as forças materiais declinam. Isso significa que a humanidade se torna cada vez mais pobre, que o número de desempregados aumenta. A miséria das massas aprofunda-se, as dificuldades são cada vez maiores tanto para a burguesia como para os trabalhadores; a burguesia não tem outra solução senão o fascismo; a crise que se desenha obrigará a burguesia a abolir os vestígios da democracia. O proletariado americano corre o sério risco de pagar com 20 ou 30 anos de purgatório fascista a sua falta de organização, de vontade e de coragem. Será então à custa do cacete de aço que a burguesia ensinará aos trabalhadores americanos o seu dever revolucionário. A América verá a experiência européia reproduzir-se a uma escala gigantesca. Devemos ter plena consciência disso.

Isto é muito sério, camaradas. Trata-se do futuro que se apresenta aos trabalhadores americanos. Depois da vitória de Hitler, quando Trotsky redigiu a brochura "Para Onde Vai a França?" os social-democratas franceses troçaram: "A França não é a Alemanha". Mas antes da vitória de Hitler, ele tinha escrito numerosas brochuras para prevenir os trabalhadores alemães, e os social-democratas também tinham troçado: "A Alemanha não é a Itália". Não fizeram caso delas. Hoje é a França que está cada vez mais próxima de um regime fascista. É a mesma coisa para os Estados Unidos. A América tem reservas de gordura, foram essas reservas do passado que permitiram a experiência Roosevelt, mas elas esgotam-se... A situação geral é a mesma em todo o lado, o perigo é o mesmo.

É verdade que a classe operária americana tem uma mentalidade pequeno-burguesa, que conhece mal a solidariedade revolucionária, que está habituada a um nível de vida elevado, mas a mentalidade da classe operária americana não corresponde às realidades dos nossos dias; reflete as recordações de um tempo que já passou.

Hoje, a situação é radicalmente diferente. Que pode fazer um partido revolucionário face a essa situação? Em primeiro lugar, compete-lhe dar uma imagem exata da situação e das tarefas históricas que dela decorrem, quer os trabalhadores estejam ou não prontos a assumir essas tarefas. As nossas tarefas não dependem do estado de espírito dos trabalhadores, consistem antes em desenvolver a sua consciência É isso que o programa deve formular e apresentar aos trabalhadores avançados.

Alguns dirão: "De acordo, esse programa é um programa científico, corresponde à situação real, mas os trabalhadores não o fazem seu, permanecerá estéril". É possível. Mas isso significaria apenas que os trabalhadores seriam esmagados antes que a crise tivesse podido ser resolvida no sentido da Revolução Socialista. Se o operário americano não faz, a tempo, deste o seu programa, será obrigado a aceitar o programa do fascismo. Quando nos apresentamos perante a classe operária com o nosso programa, não podemos dar nenhuma garantia quanto à sua rejeição ou à sua aceitação por essa mesma classe operária. Não podemos tomar essa responsabilidade ... só podemos tomar a responsabilidade no que diz respeito a nós próprios.

Devemos dizer a verdade aos trabalhadores, é assim que ganharemos os melhores elementos. Não sei se esses elementos avançados serão capazes de conduzir a classe operária ao poder; espero que o venham a ser, mas ninguém poderá garantí-lo.

Mas mesmo no pior dos casos, se a classe operária não mobilizar todas as suas forças, todos os seus recursos para a Revolução Socialista, se cair debaixo da bota fascista, os operários mais avançados poderão testemunhar: "Aquele partido tinha-nos prevenido: era o melhor". Será a marca de uma grande tradição que continuará presente na classe operária.

É evidentemente a pior das hipóteses. Mas isso demonstra que todos os argumentos segundo os quais não podíamos apresentar um tal programa, por não corresponder à mentalidade das massas, são falsos argumentos que só revelam o medo dos seus partidários perante a situação atual.

Claro que se fechasse os olhos, eu poderia reduzir um belo programa cor-de-rosa que toda a gente aceitaria. Mas esse programa não corresponderia à situação, e o que é próprio de um programa é corresponder em primeiro lugar à situação objetiva. Creio que este argumento elementar é um elemento definitivo.

A consciência de classe dos trabalhadores está em atraso em relação aos acontecimentos, mas a consciência de classe não é uma coisa feita dos mesmos materiais que as fabrica, as minas e os caminhos de ferro, mas de um material bem mais maleável; pode modificar-se rapidamente sob os golpes da crise, sob o peso de milhões de desempregados.

Hoje o proletariado americano tira algumas vantagens do seu atraso político. Pode parecer paradoxal, mas é assim. Os trabalhadores europeus, por seu lado, conheceram uma longa tradição social-democrata, conheceram, conheceram a tradição do Komintern, e essas tradições são forças conservadoras. Mesmo após numerosas traições os trabalhadores continuam fiéis às suas organizações, porque essas organizações acordaram-nos pela primeira vez, porque lhes deram uma cultura política. Isso torna-se uma desvantagem quando se trata de adotar uma nova orientação. Os trabalhadores americanos tem uma vantagem: na sua grande maioria não estiveram organizados, e só agora começam a agrupar-se nos sindicatos. Isso dá ao partido revolucionário possibilidade de os mobilizar para enfrentar conjuntamente os golpes da crise.

A que velocidade se produzirão esses acontecimentos? Ninguém sabe: pode-se simplesmente dar a orientação geral que ninguém contesta. É somente depois que se põe a questão da apresentação do programa aos trabalhadores : naturalmente é uma questão muito importante; devemos aplicar à política o que sabemos de pedagogia e psicologia de massas, para construir uma ponte de acesso ao espírito dos trabalhadores.

Só pela experiência poderemos aprender neste domínio. Durante algum tempo devemos esforçamo-nos por concentrar a atenção dos trabalhadores sobre um ponto preciso: a escala móvel dos salários e das horas de trabalho.

O empirismo dos trabalhadores americanos permitiu aos partidos políticos obter sucessos com uma ou duas idéias essenciais, como o imposto único, o bimetalismo, etc... Essas idéias alastraram por entre as massas como um rastilho de pólvora: quando as massas constatam que uma panacéia não vale nada, precipitam-se para outra.

Nós podemos hoje apresentar um remédio honesto, que não é demagógico, que é parte integrante do nosso programa e que corresponde absolutamente à situação presente.

As estatísticas oficiais anunciaram-nos 13 a 14 milhões de desempregados, na realidade devemos contar com 16 a 20 milhões. os jovens em particular estão à miséria.

O sr. Roosevelt põe hoje o acento tónico nas obras públicas. Mas nós pela nossa parte queremos que todos tenham trabalho, tanto nas obras públicas como nas minas, nos caminhos de ferro, etc... Queremos que todos possam viver decentemente, a um nível em todo os caso igual aos dos dias de hoje e exigimos do sr. Roosevelt e do seu "brain trust" que organizem o seu programa de obras públicas de maneira que toda a gente possa trabalhar com salários decentes. Isso é possível com a escala móvel de salários e das horas de trabalho. Por todo o lado, em todas as localidades, devemos refletir sobre a maneira de apresentar essas idéias. Depois devemos organizar uma campanha de agitação, de tal maneira que todos saibam o que é o programa do Socialist Workers Party. Penso que devemos concentrar a atenção dos trabalhadores nesse ponto. Evidentemente, não é o único, mas está integralmente adaptado à situação presente: os outros podem ser acrescentados à medida que essa idéia se apodera das massas. As burocracias opor-se-ão. Se essa idéia se apoderar verdadeiramente das massas, as tendências fascistas organizar-se-ão para ripostar. Então diremos que é necessário desenvolver os piquetes de autodefesa.

Penso que no início os trabalhadores farão sua esta reivindicação da escala móvel de salários e de horas de trabalho. Mas, no fundo, o que é esta reivindicação? Na realidade é a descrição do sistema de organização do trabalho na sociedade socialista. O número total de horas de trabalho a prestar dividida pelo número total de trabalhadores. Mas se apresentássemos de uma vez o sistema socialista seriamos apodados de utopistas pelo americano médio que nos dirá que são idéias importadas da Europa. Então apresentamos esse sistema como a solução da crise, que assegurará aos trabalhadores o seu direito e alimentarem-se, a viver em casas decentes em condições decentes: é o próprio programa socialista, mas na sua forma mais simples, mais próxima das massas.

Pergunta: Como organizar a campanha por essa promessa?

Crux: Poder-se-ia imaginar essa campanha do seguinte modo: vocês começavam a agitação, por exemplo em Minneapolis. Ganhavam um ou dois sindicatos para este programa. Depois enviavam delegados a outras cidades, a diferentes sindicatos. Desde o momento em que o programa tenha saído do partido para penetrar nos sindicatos, a batalha estará meio ganha. Enviareis delegados a Nova Iorque, a Chicago, aos mesmos sindicatos. Uma vez o sucesso assegurado, convocariam um Congresso especial. Isso obrigaria os burocratas sindicais a tomar posição por ou contra: o debate será então público e proporcionará ocasiões magníficas para a propaganda.

Pergunta: Esse programa pode ser realizado hoje?

Crux: É mais fácil derrubar o capitalismo do que garantir efetivamente a escala móvel de salários e horas de trabalho no quadro do sistema capitalista. Nenhuma das nossas reivindicações será realizada nesse quadro, é por isso que lhes chamamos reivindicações transitórias: estabelecem uma ponte que nos permite atingir os trabalhadores, e uma verdadeira ponte para ir à Revolução Socialista. Toda a questão é saber como mobilizar as massas para o combate: a questão da divisão entre os trabalhadores e os desempregados, por exemplo, coloca-se nesse quadro. Devemos encontrar a maneira de superar essa divisão. A idéia de uma classe à parte, a classe dos desempregados, dos novos párias, é uma idéia que faz parte da preparação ideológica para o fascismo. Se a classe operária não conseguir superar essa divisão, sobretudo a nível sindical, o seu destino está traçado.

Pergunta: Muitos camaradas não conseguem compreender poque é que essa reivindicação não pode ser satisfeita.

Crux: É uma questão muito importante. Este programa não é a invenção de um homem. Ele decorre da longa experiência dos bolcheviques. Repito: este programa é a concretização da experiência coletiva dos revolucionários. É a aplicação dos velhos princípios à situação atual. É necessário não considerá-lo como definitivamente gravado no mármore, mas adaptá-lo à situação objetiva.

Os revolucionários consideram sempre as reformas e as conquistas como subprodutos da luta revolucionária. Se nos contentamos em reivindicar o que podemos obter, a classe dominante dar-nos-á apenas um décimo, ou nada. Se reclamarmos mais e estivermos dispostos a impor as reivindicações os capitalistas ver-se-ão obrigados a conceder-nos o máximo. Quanto mais combativos e exigentes forem os trabalhadores, mais se pode exigir e obter. As nossas reivindicações não são slogans estéreis, são meios de pressão sobre a burguesia. No passado, durante o período áureo do capitalismo americano, os trabalhadores obtiveram regalias pelo simples fato de se terem lançado empiricamente na luta, com um espírito muito militante.

A situação atual é muito diferente. Os capitalistas não têm aberta à sua frente uma era de prosperidade. Não têm nenhum medo das greves, dado o número de trabalhadores que estão à espera de emprego. É por isso que o programa deve tentar unir as duas partes da classe operária, os trabalhadores e os desempregados. É o que faz precisamente a escala móvel dos salários.

Discussão com Trotsky sobre o "Partido Trabalhista"
Maio de 1938

Pergunta: No interior do nosso Partido a discussão sobre o Programa de Transição centra-se na questão do Partido Trabalhista nos Estados Unidos. Alguns camaradas pensam que é incorreto batermo-nos hoje pela fundação de um tal Partido Trabalhista, partindo do fato que nada indica que o desejo de um tal partido seja um sentimento espalhado entre as massas. Esses camaradas acrescentam que se existisse um partido trabalhista em formação, ou se as massas o exigissem alargadamente, se poderia então propor um programa para dar uma orientação revolucionária a esse movimento. Na ausência de um processo desse tipo, as nossas teses sobre o Partido Trabalhista seriam oportunistas. Poderia clarificar este ponto?

Crux: Creio que devemos recordar os fatos mais elementares do Movimento Operário em geral, e dos sindicatos em particular. As formas de desenvolvimento foram muito diferentes segundo os países; na verdade, cada país conheceu uma evolução particular, mas isso não impede que se faça uma classificação geral.

Na à ustria e na Rússia sobretudo, o movimento operário começou como movimento político, estruturado em volta de um partido. A social-democracia nascente via num futuro próximo a reconstrução socialista da sociedade, mas aconteceu que o capitalismo encontrou forças para sobreviver. Os social-democratas foram obrigados durante esse longo período de prosperidade relativa a centrar os seus esforços na construção dos sindicatos.

Em países como a Alemanha, a à ustria e principalmente a Rússia, em que antes nunca se tinha ouvido falar de sindicatos, estes foram levantados, construídos e guiados por um partido político, a social-democracia.

Encontra-se um tipo de desenvolvimento bem diferente nos países latinos, sobretudo na França e na Espanha. Aí o partido político e o movimento sindical são quase estranhos um ao outro e, em alguns aspectos, antagónicos.

O partido é uma máquina parlamentar. Os sindicatos estão, até certo ponto, em França - e em larga medida em Espanha - sob a direção dos anarquistas.

São a Grã-Bretanha, os Estados Unidos, e em graus diversos os "dominions" que nos fornecem os melhores exemplos para falar do terceiro tipo de desenvolvimento. A Inglaterra é o país dos sindicatos. Foi aí que eles viram a luz do dia pela primeira vez no século XVIII, antes da Revolução Francesa, e durante aquilo a que se chama a revolução industrial (nos Estados Unidos isso deu-se a expansão do maquinismo). Na Inglaterra a classe operária não tinha um partido independente, os sindicatos eram a única organização da classe operária, na verdade as organizações da aristocracia operária, das camadas superiores. Na Inglaterra, existia um proletariado aristocrático, pelo menos nas suas camadas altas, porque a burguesia britânica, beneficiando do quase monopólio do mercado mundial, podia redistribuir migalhas da sua fortuna à classe operária, e utilizar uma parte do rendimento nacional. Os sindicatos eram capazes de obter isso da burguesia. Só após um século de existência é que os sindicatos começaram a construir um partido político. Foi exatamente o contrário do que se passou na Alemanha ou na à ustria, em que foi o partido que acordou a classe operária e construiu os sindicatos. Na Inglaterra foram os sindicatos que após séculos de existência e de luta se viram obrigados a construir um partido político.

Quais foram as razões dessa modificação? Isso explica-se pelo declínio completo do capitalismo inglês, que se fez de maneira brutal. O partido inglês só tem vinte anos de idade: so se começou verdadeiramente a falar dele depois da guerra mundial.

Qual foi a causa da sua criação? É bem conhecido que essa situação se explica pela abolição do monopólio da Inglaterra no mercado mundial. Isso começou na década de 1880 com a concorrência que opunha o Reino Unido à Alemanha e aos Estados Unidos. A burguesia tornou-se incapaz de garantir as posições privilegiadas das camadas superiores do proletariado. Os sindicatos perderam a sua capacidade de melhorar as condições dos trabalhadores e foram impelidos para o caminho da ação política, porque a ação política não é mais do que a generalização da ação económica. A ação política dá uma forma geral às necessidades dos trabalhadores, e dirige as suas reivindicações, não a esta ou aquela fração particular da burguesia, mas à burguesia no seu conjunto, tal como se organiza no Estado.

Pode-se dizer que se reencontram hoje nos Estados Unidos os traços característicos da evolução inglesa, sob uma forma ainda mais concentrada, porque a história dos Estados Unidos é ela mesma um resumo abreviado.

De fato, o desenvolvimento sindical começa nos Estados Unidos desde o fim da Guerra Civil, mas esses sindicatos eram considerados atrasados no plano político, mesmo comparados com os sindicatos ingleses. Eram muitas vezes sindicatos mistos, agrupando patrões e operários e não sindicatos ativos e militantes. Eram muito setorizados e limitados. Baseavam-se no sistema artesanal, na recusa da grande indústria. Foi somente nos dois ou três últimos anos que verdadeiros sindicatos vieram à luz do dia nos Estados Unidos. Esse novo movimento é a C.I.O..

Qual a razão da emergência da C.iO.? É o declínio do capitalismo americano. Na Grã-Bretanha, o início desse declínio produziu somente os grandes sindicatos de indústria. Mas esses sindicatos só apareceram em cena nos EUA mesmo a tempo de assistirem à nova fase do declínio do capitalismo ou, mais exatamente, podemos dizer que a primeira crise de 29-33 dá o empurrão inicial e desemboca na criação da C.I.O., mas mal se tinha ainda organizado, a C.I.O. teve que enfrentar a segunda crise, a de 37-38, que continua a aprofundar-se.

Que significa isto? Os sindicatos precisaram de muito tempo para se organizarem nos EUA mas agora que existem seguirão a mesma evolução que os sindicatos ingleses. Isso quer dizer que nas condições atuais de declínio do capitalismo eles serão forçados a voltar-se para a ação política. Creio que é a coisa mais importante.

A pergunta que me foi posta dá conta de que "não há nada que possa indicar-nos que o desejo de um tal partido seja um sentimento espalhado entre as massas". Vocês lembram-se que quando falamos disso com outros camaradas houve divergências. Eu não posso julgar se esse sentimento está ou não espalhado entre as massas: não tenho observações ou impressões pessoais que me permitam tirar conclusões, mas penso que não nos é essencial saber quem é que hoje está pronto, e até que ponto, para construir um partido político, de entre os dirigentes ou militantes dos sindicatos. É muito difícil recolher informações objetivas a esse respeito. Não temos meios para organizar um referendo. Não poderemos aferir as reações às nossas propostas senão quando as tivermos posto concretamente na ordem do dia.

Mas o que podemos dizer sem medo de nos enganarmos é que a situação objetiva é absolutamente determinante. Os sindicatos, enquanto tais, só podem ter uma atividade defensiva. À medida que a crise se aprofunda e que o desemprego aumenta, perdem membros e enfraquecem. As caixas de greve desguarnecem-se As tarefas tornam-se cada vez mais esmagadoras, enquanto os meios são cada vez mais limitados. É um fato, não podemos alterá-lo.

A burocracia sindical está cada vez mais desorientada, os trabalhadores de base cada vez mais descontentes; e esse descontentamento é proporcional às esperanças que depositaram na C.I.O., confiantes dos seus anteriores sucessos.
A situação é a seguinte: em três anos há mais 4 milhões de desempregados que têm de enfrentar condições objetivas contra as quais os sindicatos nada podem. Devemos dar uma resposta a isso.

Se os dirigentes sindicais não estão prontos para a ação política, devemos exigir que desenvolvam uma nova orientação. Se recusarem, denunciá-lo-emos.

Repito aqui o que já disse sobre o Programa de Transição no seu conjunto. O primeiro problema a que temos de fazer face não é o estado de espírito das massas, mas a situação objetiva, e a nossa tarefa é a de confrontar essas massas atrasadas às tarefas que são determinadas pela situação objetiva e não por considerações psicológicas. A mesma observação se impõe a respeito desta questão do Partido Trabalhista. Para que a combatividade de classe não seja esmagada, para que a desmoralização não se apodere das massas, esse movimento deve seguir um novo curso; esse curso deve ser político. É o argumento essencial a avançar sobre esta questão do partido trabalhista.

Nós reclamamo-nos do marxismo, do socialismo científico. O que é na realidade o socialismo científico?

Isso quer justamente dizer que o partido que dele se reclama não parte, para fundamentar a sua política, de desejos subjetivos, de tendências particulares, de estados de espírito, mas antes de fatos objetivos por si, da situação material das diferentes classes em presença e das suas relações, tal como se procede nas diferentes ciências, com base em fatos. Só por esse método podemos estabelecer reivindicações que correspondam à situação real. Só depois adotaremos essas reivindicações, essas palavras de ordem, à mentalidade das massas. Considerar essa mentalidade como o fato fundamental não corresponderia a uma política científica mas a uma política conjuntural, demagógica ou aventureira.

Poder-se-ia perguntar como é que nós não previmos a evolução, há 5,6 ou 7 anos, porque é que não nos batemos por essa palavra de ordem do Partido Trabalhista anteriormente. A explicação é muito simples. Estávamos absolutamente persuadidos, nós marxistas, fundadores do movimento americano pela IV Internacional, que o capitalismo internacional tinha entrado num período de declínio. Quer dizer, um período caracterizado pelo fato de que os trabalhadores são educados pelas próprias circunstâncias objetivas e se empenhem subjetivamente no caminho da Revolução Socialista. Era a tendência geral, e os Estados Unidos não constituíam exceção. Mas a tendência geral não chega para determinar todos os fenómenos particulares.

É toda a questão dos ritmos de desenvolvimento; desse ponto de vista, vários de entre nós, e eu próprio, considerando a força do capitalismo americano pensavam que esse colosso poderá resistir às suas contradições internas e aproveitar o declínio do capitalismo europeu para conseguir um adiamento. Por quanto tempo? Dez ou trinta anos, talvez. Em todo o caso eu não imaginava, no que me diz respeito pessoalmente, que essa série de crises agudas se abriria tão rapidamente e que essas crises se aprofundariam linearmente. Foi por isso que quando discuti isto com camaradas americanos há oito anos, me mostrei extremamente prudente nas minhas hipóteses.

A minha opinião era de que não se poderia prever quando é que os sindicatos americanos seriam obrigados pela situação a recorrer à ação política. Eu dizia que se o período crítico se situasse daí a dez ou quinze anos, então nós, a organização revolucionária, poderíamos tornar-nos numa força real, influenciando diretamente os sindicatos, e tornando-nos na força principal: por isso é que teria sido absolutamente abstrato, artificial e pedante proclamar em 1930 a necessidade do partido trabalhista; essa palavra de ordem teria sido um obstáculo ao progresso do nosso partido. Isto passava-se no início da crise anterior. Não tínhamos previsto que essa crise seria seguida de uma crise mais profunda, cuja força seria decuplicada pelo próprio fato de se tratar de uma repetição!

Devemos basear-nos não nas nossas previsões de ontem mas na situação atual. O capitalismo americano é muito forte mas as suas contradições são ainda mais fortes. O próprio declinar dá-se a uma velocidade americana, o que criou uma situação nova para os jovens sindicatos, a C.I.O. mais ainda que a A.F.L., porque A.F.L. resistirá melhor apoiando-se sobre a sua base, mais aristocrática.

Devemos modificar o nosso programa porque a situação objetiva se modificou totalmente.

O que é que significa isso? Significa que estamos certos que a classe operária e os sindicatos vão aderir a essa perspectiva do partido trabalhista? Não, não temos a certeza. Mas quando recomeçamos a lutar não podemos estar certos de sair vitoriosos. Podemos simplesmente dizer que a nossa palavra de ordem corresponde à situação objetiva; os elementos mais avançados compreendê-lo-ão e os elementos mais atrasados não se oporão mesmo que não compreendam.

Mesmo em Mineápolis, não podemos propor aos sindicatos que adiram à nossa organização, ao Socialist Workers Party. Seria uma brincadeira, mesmo e, Mineápolis. Por quê? Porque o declínio do capitalismo é dez, cem vezes mais rápido do que o crescimento do nosso partido. É uma nova distorção. A necessidade de um partido político que seja o dos trabalhadores está inscrita nas condições objetivas, mas o nosso partido é demasiado pequeno, tem demasiado pouca autoridade para organizar os trabalhadores nas suas fileiras. É por isso que devemos dizer aos trabalhadores, às massas: dotai-vos do vosso partido.

Mas não podemos dirigir-nos diretamente às massas chamando-as a juntarem-se ao nosso partido.

Se um comício de 500 pessoas manifestar o seu acordo com a idéia de que é necessário um partido trabalhista, 5 pessoas estejam talvez dispostas a aderir ao nosso partido, o que mostra que a palavra de ordem do partido trabalhista é ma palavra de ordem agitatória. A segunda palavra de ordem - adiram ao nosso partido- é para os elementos mais avançados.

Mas não devemos então avançar apenas uma dessas palavras de ordem? Pelo contrário, devemos avançar as duas. A primeira, "por um partido trabalhista independente", prepara o terreno para o nosso próprio partido. A segunda palavra de ordem prepara os trabalhadores, ajuda-os a avançar, e abre o caminho ao nosso partido.

Além disso, mostraremos que não nos satisfazemos com essa simples palavra de ordem do partido trabalhista que, de resto, não é tão abstrata como há dez anos, devido à modificação da situação concreta; mas mostraremos que é uma idéia que deve ser concretizada. Mostraremos aos trabalhadores o que esse partido deve ser, um partido independente, não para apoiar Roosevelt ou La Follette, mas um instrumento para os próprios trabalhadores. É por isso que esse partido deverá ter os seus próprios candidatos no terreno eleitoral.

Nesse partido trabalhista, faremos aprovar as nossas palavras de ordem de transição. Não todas de uma vez, evidentemente, mas uma após outra, à medida das situações que se forem oferecendo. É por isso que não vejo nenhuma razão fundamental para recusar essa palavra de ordem.

Para essa recusa só encontro uma razão psicológica: os nossos camaradas, ao combater os partidários de Lovestone bateram-se pelo nosso partido, contra a idéia de um partido abstrato. Evidentemente, é desagradável. Claro que por outro lado so estalinistas chamar-nos-ão fascistas, etc ... Mas tudo isso não faz parte do domínio dos princípios, mas do da tática.

Lovestone dirá que perdemos a face, mas isso nada importa. Para estabelecer a nossa política fundamo-nos nas necessidades da classe operária e não nas reações de Lovestone. Creio que mesmo no ponto de vista da nossa luta contra os partidários de Lovestone isso é uma vantagem e não um inconveniente. Se tivesse que fazer face a um deles, eu explicaria quais eram as nossas posições e porque é que elas mudaram. Dir-lhe-ia: "Nesse momento, vocês atacavam-nos. Bom. Hoje, nesse ponto que vos parece tão importante, nós mudamos de opinião. Que é que vocês têm contra a IV Internacional?" Tenho a certeza que desta maneira poderemos mesmo organizar uma cisão entre os Lovestonianos.

Por esse lado, não vejo obstáculos.

Antes de acabar, quereria fazer uma correção à pergunta. A palavra de ordem do "partido trabalhista" não faz parte do Programa de Transição. É um ponto separado.

Pergunta: Como advogar a causa do partido trabalhista num sindicato? Apresentando moções?

Crux: Porque não? Eu, se estivesse num sindicato e a questão viesse a lume, tomaria a palavra para dizer que o partido trabalhista é uma necessidade reclamada pelos acontecimentos. Está provado que a ação no plano económico é insuficiente. É necessária uma ação política: eu diria o que conta a meus olhos numa tal palavra de ordem; explicaria que é por isso que me reservo a possibilidade de intervir mais tarde sobre o conteúdo do programa desse partido, mas que votaria por essa proposta.

Pergunta: Os trabalhadores são absolutamente apáticos no que diz respeito ao partido trabalhista; os seus dirigentes nada fazem e os estalinistas apóiam Roosevelt..

Crux: Isso caracteriza o período que conhecemos, em que não há programa definido, em que os trabalhadores não sabem onde ir procurar a nova via. É absolutamente necessário superar essa apatia. É absolutamente necessário traçar a nova perspectiva.

Pergunta: Alguns camaradas estabeleceram inclusivamente estatísticas tendentes a provar que o movimento pelo partido trabalhista está a perder audiência entre os trabalhadores?

Crux: É necessário distinguir a linha geral das oscilações secundárias, e da disposição que pode predominar nesta ou naquela altura na C.I.O.. É a própria evidência, que, quanto à agressividade, a C.I.O. aparece hoje como muito mais perigosa aos olhos dos capitalistas do que antes, mas os seus dirigentes têm medo de romper com Roosevelt. As massas esperam, sem perspectivas. O desemprego cresce. É talvez possível provar que o movimento pelo partido trabalhista perdeu influência desde há um ano.

Talvez a influência estalinista vá nesse sentido. Mas é apenas uma oscilação secundária, e seria muito perigoso basearmo-nos em oscilações secundárias, porque dentro de pouco tempo será a corrente essencial, que trabalha em profundidade, que virá à superfície, e a necessidade objetiva terá que encontrar a sua expressão subjetiva na cabeça dos trabalhadores, tanto mais que nós os ajudamos. O partido é justamente um instrumento histórico para ajudar os trabalhadores.

Pergunta: Alguns dos nossos militantes, que vêm do partido socialista, dizem que quando estavam no PS defendiam a idéia de um partido trabalhista e que se convenceram que estavam enganados ao discutir com os trotskistas. Hoje terão que voltar para trás?

Crux: Sim, é uma questão de pedagogia: é uma boa escola para os nossos camaradas. Agora podem abordar este problema do partido trabalhista de maneira mais completa e mais dialética.

Uma discussão com Trotsky sobre o programa de transição.
Junho de 1938

Trotsky : O significado do programa é o sentido do Partido. O Partido representa a vanguarda da classe operária. O Partido é composto por uma seleção dos elementos mais conscientes, mais avançados, mais devotados e o Partido pode desempenhar um papel político e histórico importante sem relação direta com a sua força numérica. Pode ser um pequeno partido e desempenhar um grande papel. Por exemplo, na altura da primeira Revolução Russa de 1905 a fração bolchevique não contava mais de 10 000 membros, os menchevique de 10 000 a 12 000, no máximo. Nessa época pertenciam ao mesmo Partido, o que quer dizer que o Partido no seu conjunto não contava mais de 20 000 a 22 000 operários. O Partido dirigia os Sovietes por todo o país graças a uma política justa e graças à sua coesão. Pode-se objetar que a diferença que há entre os Russos e os Americanos, ou qualquer outro país capitalista antigo, é que o proletariado russo era um proletariado totalmente fresco e virgem, sem nenhuma tradição de sindicalismo e de reformismo conservador. Era um proletariado jovem, fresco, virgem, necessitando de uma direção e se bem que o Partido no seu conjunto não contasse mais de 20 000 operários, esse Partido guiou dois ou três milhões de operários no combate.

Ora, que é o Partido? Em que consiste a sua coesão? Essa coesão é uma compreensão comum dos acontecimentos, das tarefas, e essa compreensão comum é o programa do Partido. Tal como os operários modernos (mais do que os bárbaros) não podem trabalhar sem instrumentos, no Partido o programa é o instrumento. Sem o programa, cada operário tem de improvisar o seu instrumento, encontrar instrumentos improvisados, e um contradiz o outro. Só quando a vanguarda está organizada na base de concepções comuns é que podemos agir.

Pode-se dizer que até agora não tivemos programa. No entanto, agimos. É que esse programa estava formulado em diferentes artigos, moções, etc... Nesse sentido, o projeto de programa não anuncia uma nova invenção, não é a obra de um só homem, mas o resultado de um trabalho coletivo elaborado até hoje. Mas um tal resumo é absolutamente necessário para dar aos camaradas uma idéia clara da situação, uma compreensão comum. Os pequeno-burgueses, os anarquistas e intelectuais têm medo de admitir dar a um Partido idéias comuns, uma atitude comum. Ele não é imposto a ninguém, porque, quem quer que se junte ao partido fá-lo-á voluntariamente.

Creio que neste particular é importante sublinhar o que entendemos por liberdade opondo-a à necessidade. É uma concepção pequeno-burguesa muito freqüente a de que todos deveríamos ter uma livre individualidade. É uma ficção, um erro total. Não somos livres. Não temos livre vontade no sentido da filosofia metafísica. Quando me apetece beber um copo de cerveja, estou a agir como homem livre, mas não invento a necessidade da cerveja. Ela vem do meu corpo, de que eu sou apenas o executante. Mas na medida em que compreendo as necessidades do meu corpo e que as posso satisfazer conscientemente, então tenho a sensação de liberdade pela compreensão da necessidade. Aqui, a justa compreensão das necessidades da minha natureza é a única liberdade real dada aos animais sob todos os ângulos. E não devemos esquecer que o homem é um animal. A mesma coisa é verdade para a classe operária. O programa para a classe operária não pode cair do céu, só podemos chegar a uma compreensão da sua necessidade. Num caso era o meu corpo, no outro a necessidade da sociedade. O programa é a expressão da necessidade que aprendemos a compreender e, sendo dado que a necessidade é a mesma para todos os membros da classe que podemos atingir, uma compreensão comum das tarefas e essa compreensão é o programa.

Podemos ir mais longe e dizer que a disciplina do nosso partido deve ser muito estrita porque somos um Partido revolucionário que tem de fazer face a poderosos inimigos conscientes dos seus interesses, e agora não somos apenas atacados pela burguesia, mas também pelos estalinistas, os agentes mais odientos da burguesia. É necessária uma disciplina absoluta, mas que deve provir de uma compreensão comum. Se essa disciplina é imposta de fora, é um jugo. Se vem da compreensão é a expressão da personalidade, mas sem isso, é um jugo. Portanto, a disciplina é a expressão da minha livre individualidade. Não é uma oposição entre a vontade pessoal e o Partido, porque eu aderi a ele pela minha própria vontade. Essa é igualmente a base do programa que só pode assentar numa base política e moral segura se o compreendermos a fundo.

Porque é que o projeto de programa não é completo.

O projeto de programa não é um programa completo. Podemos dizer que há coisas que faltam neste projeto de programa e há coisas que pela sua própria natureza não dizem respeito ao programa. As coisas que não pertencem ao programa são os comentários. Este programa não contém apenas palavras de ordem mas igualmente comentários e polêmicas contra os nossos adversários. Mas não é um programa completo. Um programa completo deveria dar uma expressão teórica da sociedade capitalista moderna na sua fase imperialista. As razões da crise, do crescimento do desemprego, etc... neste projeto essa análise só é brevemente sumariada no primeiro capítulo, dado já termos tratado essas questões em artigos, em livros, etc... Escreveremos ainda mais e melhor. Mas como somos todos da mesma opinião, o que aqui se diz é suficiente para as necessidades práticas.

O princípio do programa não é completo. O primeiro capítulo é apenas uma sugestão e não uma expressão completa. O fim do programa também não é completo, dado que não falamos aí da Revolução Social, da tomada do poder pela insurreição, da transformação da sociedade capitalista em ditadura e da ditadura em sociedade socialista. O leitor só é levado até a soleira da porta. É um programa de ação de hoje até ao início da Revolução Socialista. E do ponto de vista prático, o que é atualmente mais importante é saber como podemos dirigir as diferentes camadas do proletariado para a via da Revolução Socialista. Ouvi dizer que os camaradas de Nova Iorque começam agora a organizar grupos com o objetivo não só de estudar e criticar o projeto de programa, mas igualmente de elaborar os meios de apresentar o programa às massas, e penso que é esse o melhor método que o nosso partido pode utilizar.

O programa é apenas uma primeira aproximação. É muito geral da maneira como está apresentado para a próxima Conferência Internacional. Exprime a tendência geral do desenvolvimento mundial. Temos um curto capítulo referente aos países coloniais e semi-coloniais, um capítulo respeitante aos países fascistas, um capítulo sobre a União Soviética, e assim sucessivamente. É evidente que as características gerais da situação mundial são semelhantes, visto decorrerem todas da pressão da economia imperialista, mas cada país tem as suas características particulares e uma política realista deve começar por considerar essas condições particulares em cada país e em cada parte do país. É por isso que a primeira tarefa de cada camarada nos Estados Unidos é fazer um estudo muito sério do programa.

Há dois perigos na elaboração do programa. O primeiro é o de se ater a linhas gerais abstratas e repetir as palavras de ordem gerais sem nenhuma relação com os sindicatos locais. Essa é a direção do sectarismo abstrato. O outro perigo é o oposto, o de se adaptar demasiado às condições específicas, de descurar a linha revolucionária geral. Penso que nos Estados Unidos o segundo perigo é o mais imediato. Lembro-me nesse aspecto muito particularmente do caso do armamento dos piquetes de greve, etc. Alguns camaradas temiam que não fosse apropriado para os operários, etc.

Nestes últimos dias um livro francês escrito por um operário italiano sobre a ascensão do fascismo na Itália. Esse escritor é oportunista. Era um socialista, mas o que é interessante não são as conclusões que tira mas os fatos que relata. Esboça o quadro do proletariado italiano especialmente em 1920-21. Era uma organização poderosa com 160 deputados socialistas no Parlamento. Controlavam mais de um terço dos conselhos e as partes mais importantes da Itália estavam nas mãos dos socialistas, centro do poder operário. Nenhum capitalista podia empregar ou despedir sem o consentimento dos sindicatos e isto tanto no que diz respeito aos operários agrícolas como aos operários industriais.

Parecia ser 49% da ditadura do proletariado, mas a reação da pequena burguesia e dos oficiais desmobilizados contra essa situação foi terrível. Em seguida o autor conta como se organizaram pequenos grupos dirigidos por oficiais, que se transportavam de autocarro por todo o país. Nas cidades de dez mil habitantes controladas pelos socialistas, 30 homens organizados penetravam, incendiavam a Câmara Municipal e as casas, fuzilavam os dirigentes, impunham condições de trabalho favoráveis aos capitalistas; em seguida partiam para outro lado e faziam a mesma coisa em centenas e centenas de cidades, uma após outra. Por intermédio de um terror terrível e de ações sistemáticas destruíram completamente os sindicatos e tornaram-se senhores da Itália. No entanto, eram uma pequena minoria.

Os métodos dos fascistas

Os operários desencadearam uma greve geral, os fascistas enviaram os seus autocarros e quebraram todas as greves locais e com uma pequena minoria organizada limparam as organizações operárias. Depois vieram as eleições e os operários aterrorizados elegeram o mesmo número de deputados que protestaram no Parlamento até este ser dissolvido. É a diferença que existe entre o poder formal e o poder real. Todos os deputados estavam seguros de deter o poder, e no entanto esse imenso movimento pleno de espírito de sacrifício foi quebrado, esmagado, suprimido por uns dez mil fascistas bem organizados, com espírito de sacrifício e bons dirigentes militares.

Nos Estados Unidos isso pode ser diferente, mas as tarefas fundamentais são as mesmas. Fui informado da tática de Hague; é um ensaio geral do golpe fascista. Ele representa pequenos patrões enfurecidos devido ao agravamento da crise. Tem o seu "gang", o que é absolutamente inconstitucional. Isso é muito contagioso. Com o agravamento da crise alastrará por todo o país e Roosevelt, que é o melhor dos democratas dirá: "Talvez seja a única solução".

Era a mesma coisa na Itália. Houve um ministro que convidou os socialistas; os socialistas recusaram. Então ele admitiu os fascistas. Pensava que eles podia, contrabalançar os socialistas, mas foram eles que o derrubaram. Ora penso que o exemplo de New Jersey é muito importante. Deveríamos utilizar tudo, mas muito especialmente isto. Eu proporei uma série de artigos a explicar como é que os fascistas conseguiram a vitória. Nós podemos obter a vitória da mesma maneira, mas temos que ter um pequeno corpo de operários. Devemos ter a melhor disciplina, operários organizados, comitês de defesa, senão seremos vencidos e penso que os nossos camaradas nos Estados Unidos não avaliam a importância desta questão. Uma vaga fascista pode alastrar em dois ou três anos e os melhores dirigentes operários serão linchados da pior maneira, tal como os negros do Sul. Penso que o terror nos Estados Unidos será o mais terrível de todos. É por isso que podemos começar muito modestamente com grupos de defesa, mas é necessário começar imediatamente.

Pergunta: Como lançar na prática os grupos de defesa?

Trotsky: É muito simples. Há um piquete numa greve. Quando a greve acaba nós explicamos que devemos defender o nosso sindicato mantendo um piquete de greve permanente.

Pergunta: O Partido deve criar ele próprio o grupo de defesa com os seus membros?

Trotsky: As palavras de ordem do partido devem ser lançadas onde temos simpatizantes e operários que nos defendam. Mas um partido não pode criar uma organização de defesa independente. A tarefa consiste em criar tais organismos nos sindicatos. Devemos ter grupos de camaradas bem disciplinados, com dirigentes prudentes que não se deixem provocar facilmente porque esses grupos podem ser facilmente provocados. A tarefa essencial para o próximo ano seria a de evitar conflitos e choques sangrentos. Devemos reduzí-los ao mínimo, com uma minoria organizada em tempo de greve e em tempo de paz. Impedir os comícios fascistas é uma questão de relação de forças. Sós, não somos suficientemente fortes, mas propomos a Frente Única.

Hitler explica o sucesso no seu livro. A social-democracia era muito poderosa. Ele mandou um bando com Rudolf Hess a um comício da social-democracia e diz que no fim do comício os seus trinta rapazes repeliram todos os operários, que foram incapazes de se lhes opor. Assim ele sabia que venceria. Os operários só estavam organizados para pagar as suas quotizações, sem nenhuma preparação para outras tarefas. Agora devemos fazer o que Hitler fez mas ao contrário. Mandar quarenta ou cinqüenta homens para dissolver o comício fascista. Isso tem uma grande importância, os operários reforçam-se e tornam-se elementos combativos, porta-vozes. Os pequeno-burgueses tomam-nos a sério. Seria um grande sucesso!. Isso tem uma grande importância na medida em que a população é cega, atrasada, oprimida, só pode ser levantada por vitórias. Só podemos levantar a vanguarda, mas essa vanguarda deve levantar as outras. É por isso que repito que é uma questão muito importante. E, Mineápolis, onde temos camaradas muito experimentados e poderosos, podemos começar a dar o exemplo a todo o país. Creio que mesmo os enigmáticos assassínios de Corbrain e Brown podem ser utilizados para isso.

Penso que seria útil discutir um pouco esta parte do projeto que não está suficientemente desenvolvida no nosso rascunho. É a parte teórica geral. Durante a última discussão notei que a parte teórica do programa como análise geral da sociedade não está completamente dada neste projeto, mas que é substituída por algumas breves alusões. Por outro lado, o projeto não comporta um capítulo, sobre a revolução, a ditadura do proletariado e a construção da sociedade depois da revolução. Só o período transitório é desenvolvido. Repetimos por várias vezes que o caráter científico da nossa atividade consiste no fato de que nós adaptamos o nosso programa não às conjunturas políticas ou à disposição das massas tal como se apresenta hoje, mas à situação objetiva representada pela estrutura económica de classe da sociedade. A mentalidade das massas pode ser atrasada; nesse caso as tarefas políticas do partido consistem em por a mentalidade das massas de harmonia com os fatos objetivos, em fazer compreender aos operários quais são as tarefas objetivas. mas não podemos adaptar o programa às mentalidades atrasadas dos operários; a mentalidade, a disposição, são um fator secundário - o fator primordial é a situação objetiva. Foi por isso que ouvimos essas críticas e essas apreciações que diziam que há partes no programa que não estão adaptadas à situação.

O nosso programa deve estar adaptado à situação objetiva.

Em todo o lado, pergunto: que deveríamos fazer? Adaptar o nosso programa à situação objetiva ou à mentalidade dos operários? E penso que esta questão deve ser posta a todos os camaradas que dizem que o nosso programa não está adotado à situação na América. Este programa é um programa científico. É baseado numa análise objetiva da situação objetiva. Não pode ser compreendido no seu conjunto pelos operários. Seria muito bom que a vanguarda o compreendesse no próximo período e que então se dirigisse aos operários: "Vocês devem se defender contra o fascismo".

O que é que queremos dizer com situação objetiva? Aqui devemos analisar as condições objetivas para uma Revolução Social. Essas condições estão expostas nas obras de Marx-Engels e permanecem inalteradas na sua essência nos dias de hoje. Em primeiro lugar, dizia Marx, nenhuma sociedade desaparece antes de ter esgotado todas as suas possibilidades. Que significa isso? Que não podemos eliminar uma sociedade por uma vontade subjetiva, que não podemos organizar uma insurreição como o fizeram os Blanquistas. Que significam as "possibilidades"? Que uma "sociedade não pode desaparecer"?
Enquanto a sociedade for capaz de desenvolver as forças produtivas e de enriquecer a nação, permanece forte e estável. Foi a condição da sociedade baseada no escravagismo, no feudalismo, e na sociedade capitalista. Aqui chegamos a um ponto muito interessante que analisei anteriormente na minha introdução ao "Manifesto Comunista". Marx e Engels esperaram uma Revolução durante toda a sua vida. E sobretudo durante os anos de 1848-50, esperavam uma Revolução Social. Por quê? Eles diziam que o sistema capitalista se tinha tornado num travão ao desenvolvimento das forças produtivas. Era correto? Sim e não.

Era correto no sentido em que se os operários tivessem sido capazes de satisfazer as necessidades do século XIX e de tomar o poder, o desenvolvimento das forças produtivas teria sido mais rápido e a nação mais rica. Mas como os operários o não conseguiram, o sistema capitalista perdurou, com as suas crises, etc. Não obstante, a linha era ascendente. A última guerra de 1914-18 foi o resultado da estreiteza do mercado mundial para o desenvolvimento das forças produtivas e cada não tentava eliminar todas as outras nações com o fito de se apoderar do mercado mundial. Não o conseguiram e agora verificamos que a sociedade capitalista entra numa nova fase. Foram muitos os que disseram que era o resultado de que a sociedade esgotou as suas possibilidades.

A guerra mais não foi do que a expressão da incapacidade de uma maior extensão. Depois da guerra, tivemos a crise histórica cada vez mais aguda. O desenvolvimento capitalista foi em todo o lado caracterizado pela prosperidade e depois pelas crises, mas o número de crises e de períodos de prosperidade aumentava. No início da guerra vemos que os ciclos das crises e dos períodos de prosperidade formam uma linha declinante. Isso significa agora que a sociedade esgotou totalmente as suas possibilidades internas e tem que ser substituídas por uma nova sociedade ou então a sociedade antiga irá à barbárie tal como a civilização da Grécia e de Roma porque tinha esgotado as suas possibilidades e não podia ser substituída por uma outra classe.

Três condições para uma nova sociedade.

Tal é o problema atualmente e muito em especial nos Estado Unidos. A primeira condição para uma nova sociedade é que as forças produtivas estejam suficientemente desenvolvidas para dar à luz um nível superior. As forças produtivas estarão suficientemente desenvolvidas para isso? Sim, estavam suficientemente desenvolvidas no século XIX - não tanto como nos nossos dias - mas suficientemente. Hoje, especialmente nos Estados Unidos seria muito fácil a um bom estatístico demonstrar que se as forças produtivas americanas fossem libertadas, poderiam ser duplicadas e triplicadas mesmo atualmente. Penso que os nossos camaradas deveriam fazer observações estatísticas desse tipo.

A segunda condição: tem que haver uma classe progressiva que seja suficientemente numerosa e que tenha influência económica suficiente para impor a sua vontade à sociedade. Essa classe é o proletariado. Ela deve representar a maioria da nação, ou ter a possibilidade de dirigir a maioria. Na Inglaterra, a classe operária representa maioria absoluta. na Rússia era uma minoria mas tinha a possibilidade de dirigir os camponeses pobres. Nos Estados Unidos, a classe operária representa pelo menos metade da população, mas tem a possibilidade de dirigir os camponeses.

A terceira condição é o fator subjetivo. Essa classe tem que compreender a posição que ocupa na sociedade e possuir as suas próprias organizações. É a condição que falta atualmente do ponto de vista histórico. Do ponto de vista social não é somente uma possibilidade, mas uma necessidade absoluta no sentido em que será ou o socialismo ou a barbárie. Essa é a alternativa histórica.

Referimos na discussão que o sr. Hague não é um velho estúpido que julga que existe um sistema medieval para a sua cidade. É um batedor da classe capitalista americana. Em 1907, Jack London escreveu um livro, "The Iron Heel" ("O Tacão de Ferro") que eu recomendo. Nessa época parecia um sonho terrível, mas hoje é a realidade absoluta. Ele apresenta o desenvolvimento da luta de classes nos Estados Unidos com a classe capitalista detendo o poder por meio de uma repressão terrível. É a própria imagem do fascismo. A ideologia que ele descreve corresponde à de Hitler. É muito interessante.

Em Newark, o Presidente da Câmara começa a convidar Hague e eles são todos inspirados pelo grande patronato. É absolutamente certo que Roosevelt se aperceberá de que na crise atual nada pode fazer com métodos burocráticos. Ele não é fascista como o diziam os estalinistas em 1932. Mas as suas iniciativas serão paralisadas, que poderá ele fazer? Os operários estão descontentes. Ele só pode manobrar até ao fim e depois despedir-se. Não se põe a hipótese de um terceiro mandato para Roosevelt.

A imitação do Presidente da Câmara de Newark tem uma grande importância. Em dois ou três anos pode aparecer um poderoso movimento fascista de caráter americano. Quem é Hague? Nada tem a ver com Hitler ou Mussolini, mas é um fascista americano. Como apareceu? Porque a sociedade já não pode ser dirigida com métodos democráticos. É naturalmente ilegítimo recair na histeria. O perigo de uma classe operária submergida pelos acontecimentos é indiscutível, mas só podemos combater esse perigo pelo desenvolvimento sistemático e enérgico da nossa própria atividade, por palavras-de-ordem revolucionárias adequadas e não por esforços quiméricos para saltar por cima das nossas próprias cabeças. A democracia mais não é do que a lei do grande patronato. Devemos compreender bem o que Lundberg demonstrava no seu livro, que sessenta famílias governam os Estados Unidos. Mas como? Até agora por métodos democráticos. Elas são uma pequena minoria rodeada pelas classes médias, pela pequena-burguesia, pelos operários. Devem ter a possibilidade de interessas as classes médias por esta sociedade. Estas não devem ser desesperadas. A mesma coisa é verdadeira para os operários, pelo menos para as camadas operárias elevadas. Se estas camadas elevadas se opõem, podem quebrar as possibilidades revolucionárias das camadas inferiores e é esse o único meio de fazer funcionar a democracia.

Os regimes "democráticos" só são possíveis para as nações prósperas.

O regime democrático é o meio mais aristocrático de governar o país. Só é possível para uma nação rica. Cada democrata britânico dispõe de nove ou dez escravos a trabalhar nas colónias. A antiga sociedade grega era uma democracia baseada no escravagismo. em certo sentido pode-se dizer o mesmo da democracia britânica, holandesa, francesa, belga. Os Estados Unidos não dispõem de colónias propriamente ditas, mas têm a América Latina e o mundo inteiro é uma espécie de colónia para os Estados Unidos, sem falar da posse do mais rico continente e da evolução económica sem nenhuma tradição de feudalismo.

É uma nação historicamente privilegiada, mas as nações capitalistas privilegiadas não diferem das nações capitalistas mais "párias" senão quanto aos prazos. A Itália, a mais pobre das grandes nações imperialistas tornou-se na primeira nação fascista. A Alemanha foi a segunda, não dispondo de colónias ou de ricos países dependentes, e esgotou nessa pobre base todas as possibilidades; além disso, os operários não foram capazes de substituir a burguesia. Agora é a vez dos Estados Unidos e isto mesmo antes da Grã-Bretanha ou da França. O dever do nosso partido é de agarrar cada operário americano pelos ombros e de o abanar dez vezes para que compreenda a situação em que se encontram os Estados Unidos. Não é uma crise de conjuntura, mas uma crise social. O nosso partido pode desempenhar um papel importante. O que é difícil para um jovem partido evoluindo numa atmosfera pesada de tradições anteriores de hipocrisia, é lançar uma palavra-de-ordem revolucionária. "É fantasista"... "não é adequado na América". Mas é possível que isso mude logo que lançardes as palavras-de-ordem revolucionárias do nosso programa. Alguns vão se rir. Mas a coragem revolucionária não consiste somente em ser-se morto, mas em suportar a troça das pessoas estúpidas que estão em maioria. No entanto, quando um dos que troçam for espancado pelos bandos de Hague, começará a pensar que é bom ter um comitê de defesa e a sua atitude irónica mudará.

Pergunta: A ideologia dos operários não faz parte dos fatores objetivos?

Trotsky: Para nós, pequena minoria, o conjunto é objetivo, a mentalidade dos operários a inclui. Mas nós devemos analisar e classificar os elementos da situação objetiva que podem ser transformáveis pela nossa propaganda e os que o não pode ser. É por isso que dizemos que o programa está adaptado aos elementos fundamentais e estáveis da situação objetiva e a nossa tarefa consiste em adaptar a mentalidade das massas a esses fatores objetivos. É uma tarefa pedagógica a de adaptar a mentalidade. Devemos ter paciência, etc. A crise da sociedade é a base para a nossa atividade. A mentalidade é a arena política da nossa atividade. Devemos dar uma explicação científica da sociedade e explicá-la claramente às massas. É essa a diferença entre o Marxismo e o Reformismo.

Os Reformistas sabem farejar o que as pessoas querem ouvir - como Norman Thomas - e dão-lhes isso. Mas isso não é uma atividade revolucionária séria. Devemos ter a coragem de sermos impopulares, de dizer: "vocês são uns idiotas", "vocês são estúpidos", "eles estão-vos a trair", de fazer um escândalo e de defender as nossas idéias com paixão. De tempos a tempos é necessário abanar de novo - tudo isso faz parte da arte da propaganda. Mas isso deve ser feito cientificamente, e não deve estar ligado à mentalidade das massas. Nós somos os mais realistas, porque contamos com fatos que não podem ser modificados pela eloqüência de Norman Thomas. Quando temos um sucesso imediato é porque nadamos com a corrente das massas, e essa corrente é a Revolução.

Pergunta : Por vezes pensa que os nossos dirigentes não sentem esses problemas?

Trotsky: Provavelmente são duas coisas diferentes; uma é compreender, a outra sentí-lo com os músculos, com os nervos. É atualmente necessário compreender profundamente que devemos alterar a nossa política. Não somente no que diz respeito ao Partido, mas igualmente no que diz respeito aos dirigentes. Tivemos discussões, divergências. É impossível chegar à mesma opinião ao mesmo tempo. há sempre fricções que são necessárias. O objetivo deste programa era provocar esta discussão.

Pergunta: Quanto tempo é que podemos dispensar a esta discussão entre os dirigentes?

Trotsky: É muito difícil de dizer. isso dependerá de uma série de fatores. Devemos agora levar a cabo esta nova orientação. É nova e velha. É baseada em toda a atividade anterior, mas abre agora um novo capítulo apesar dos erros, das fricções e das lutas, um novo capítulo se abre agora e devemos juntar todas as nossas forças numa atitude mais dinâmica. O que é importante, quando o programa estiver definitivamente estabelecido, é compreender bem as palavras de ordem e utilizá-las corretamente de forma a que em todas as partes do país todos utilizem as mesmas palavras de ordem no mesmo momento. Três mil militantes podem dar a impressão de ser quinze mil ou cinqüenta mil.

Pergunta: Alguns camaradas podem estar de acordo em abstrato com este programa, mas será que temos camaradas suficientemente experimentados para fazer penetrar as nossas palavras de ordem nas massas? Eles estão de acordo em abstrato, mas que posso eu fazer com os operários atrasados no meu sindicato?

Trotsky: O nosso partido é um partido da classe operária americana. Vocês devem-se lembrar de que nunca houve um poderoso movimento proletário, para não falar de uma poderosa Revolução proletária nos Estados Unidos. Em 1917, não podíamos vencer sem 1905. A minha geração era muito jovem. Durante doze anos tivemos a possibilidade de compreender as nossas derrotas, de corrigi-las e de vencer. Mas mesmo assim, fomos batidos pela nova burocracia. É por isso que não podemos prever se o nosso partido levará a classe operária americana diretamente à vitória. É possível que os operários americanos, que são patriotas, que têm um nível de vida elevado, entrem em greve, se revoltem. Por um lado, há Hague, pelo outro, Lewis. Isso pode demorar muito tempo, anos, e durante esse tempo os nossos militantes reforçar-se-ão, tornar-se-ão mais seguros de si mesmos, e os operários dirão: "Eles são os únicos capazes de compreender para onde vão". Só a guerra produz heróis de guerra. para começar, temos muito bons elementos, bons camaradas, bem educados, uma boa equipa e não uma pequena equipa. Em seguida, penso que a transformação da mentalidade do operário americano se produzirá a um ritmo rápido. Que fazer? Toda a gente está inquieta, procura algo de novo. Isso é muito favorável para a propaganda revolucionária.

Não devemos considerar apenas os elementos aristocráticos, mas igualmente os elementos mais pobres. Os operários americanos cultivados têm uma vantagem, mas igualmente uma desvantagem tal como os desportos britânicos. São uma ótima coisa mas também uma forma de desmoralizar os operários. Toda a energia revolucionária era dispendida no desporto e isso foi encorajado pelos britânicos, a nação capitalista mais inteligente. O desporto deve ser controlado pelos sindicatos como parte integrante da educação revolucionária. Mas vocês têm uma grande parte de jovens e mulheres que não são suficientemente ricos para essas coisas. Devemos ter tentáculos para penetrar em todo o lado nas camadas mais profundas.

Pergunta: Pensa que o Partido fez grandes progressos desde o seu último Congresso?

Trotsky: Produziu -se uma viragem muito importantes. Agora é necessário dar uma arma a essa ação concentrada. Uma agitação geral dispersa não penetra no espírito das massas deseducadas. Mas se se repetir a mesma palavra de ordem, se a adaptarmos à situação, então a repetição, que é a mãe da aprendizagem, agirá de modo semelhante na política. Muitas vezes isso se dá, não somente com um intelectual, mas com um operário, que pensa que toda a gente deve compreender o que ele aprendeu. É necessário repetir com insistência, repetir todos os dias e em todo o lado. Essa é a tarefa do projeto de programa - dar uma impressão homogênea.









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