Sábado 20 de Abril de 2024

Nacional

Dinheiro na cueca, carne com larva e o voto útil

15 Oct 2014   |   comentários

Por que o único voto útil possível é o foto nulo? Que todo político ganhe igual a um professor!

Em depoimento ao juiz, Paulo Roberto Costa assim descreve o esquema de corrupção na estatal: “Essas empresas, Excelência, tinham interesses não só dentro da Petrobras, mas em vários outros órgãos de governo. (...) Então, se a empresa deixasse de contribuir com determinado partido naquele momento, isso ia se refletir em outras obras… Os partidos não iam olhar isso com muito bons olhos. (...) Seria um interesse mútuo dos partidos, dos políticos e das empresas, porque não visava apenas a Petrobras. (...) São as mesmas empresas que participam de várias outras obras a nível de Brasil —ferrovias, rodovias, hidrovias, portos, usinas hidrelétricas, saneamento básico, Minha Casa, Minha Vida. Ou seja: todos os programas, a nível de governo, nos ministérios, têm políticos de partidos”.

A ética petista

Paulo Roberto, ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT, é amigo do doleiro Alberto Youssef, que lava dinheiro de obras superfaturadas. Paulo, que negocia esses contratos de superfaturamento, é amigo de altos executivos das grandes empreiteiras. Camargo Correia, Odebrecht, Andrade Gutierez, etc. Todos juntos são amigos dos tesoureiros do PT, do PMDB e do PP. Essas grandes empreiteiras, junto com grandes empresas de automóveis, bebidas, alimentação etc., que são as beneficiárias das isenções fiscais do governo e do crédito barato fornecido pelo BNDES, são também as principais financiadoras da campanha eleitoral de Dilma e de Aécio.

Em 2011 e 2012, mais de duzentos mil operários da construção civil se rebelaram pelas condições subumanas de trabalho a que estavam submetidos nas obras do PAC (o Plano de Aceleração do Crescimento de Dilma). Gigantescas hidrelétricas e polos petroquímicos. Salário desumano, condições sanitárias e de moradia desumanas, confinados no meio do nada sem poder visitar as famílias. São as empreiteiras como a Camargo Correia e a Odebrecht que, depois de suas andanças pelos corredores e festas do Congresso e do Planalto, contratam (ou terceirizavam) essa mão de obra.

A JBS-Friboi do “garoto” propaganda Toni Ramos, que com a ajuda do BNDES se transformou no maior frigorífico do mundo, foi condenada na justiça por servir carne com larva de mosca para seus funcionários. Teria que pagar R$ 1 milhão por dano moral coletivo. Mas conseguiu reduzir a multa para R$ 300 mil. Maior doadora da campanha eleitoral desse ano, a multa é equivalente 0,3% dos R$ 113 milhões destinados principalmente ao PT e ao PSDB; ou equivalente a 0,03% dos R$ 1,2 bilhão de lucro que a empresa teve em 2013.

A renovação tucana

Aécio Neves quer que acreditemos que ele vai “limpar” a máquina do Estado e preenchê-la de eficiência. Ele vai pedir para o tio a chave do aeroporto que construiu com dinheiro público perto da fazenda de sua família, contratando as mesmas empreiteiras amigas do PT. Vai chamar os donos das empresas privatizadas pelos tucanos no governo de FHC e dar uma grande festa digna de nota na revista Caras. Nessa festa, servida por garçons terceirizados, já que não poderia ir contra essa que foi uma das grandes conquistas do PSDB que o PT lhes roubou, vão combinar a faxina.

Como o mensalão tucano de Minas gerais não teve sucesso muito maior que o mensalão petista e ninguém gosta de terminar na cadeia, Aécio vai instituir o “Bolsa Parlamentar” para ver se pega (e para afastar de uma vez por todas o estigma de que vai acabar com os programas assistenciais do PT). Com essa ideia Aécio vai poder proibir que seus aliados usem cuecas para fins monetários.

Tudo em nome da santa “governabilidade”

Depois que vários mensaleiros petistas foram presos tentou-se vender a esperança de que nem tudo estava perdido. Encorajados, os juízes decidiram merecer salários e benefícios mais justos, aumentando tetos salariais e ajudas de custo. A sociedade há que dar razão àqueles que recebem valores muito inferiores aos de seus pares paulistas, que mensalmente têm salários de R$ 25 mil e benefícios extras de R$ 70 mil. É um valor necessário para que se possa avaliar de forma justa a multa necessária por fazer outrem comer larvas de mosca, e também para poder julgar a legalidade ou não de cada greve.

Os deputados e senadores, que custam respectivamente R$ 140 mil e R$ 160 mil por mês aos cofres públicos, também acharam que deveriam ter seus honorários elevados, já que as manifestações de junho lhes exigiram muito mais trabalho que o usual. Entretanto, preferiram postergar tal feito, talvez por não estarem com uma imagem como a do judiciário.

Essa combinação entre dinheiro na cueca, contratos amigáveis, financiamento das campanhas eleitorais, e salários exorbitantes de políticos e juízes é o que sustenta a chamada “governabilidade” que todos que todos abraçam como a única salvação possível diante do caos. Isso porque não existe outra forma possível de administrar uma casta política que se distancia tanto dos reais interesses da maioria esmagadora da população para atender aos interesses de uma reduzida minoria de capitalistas milionários.

Voto útil recheado de carne com larva de mosca

Muitos trabalhadores e jovens cogitam destinar um “voto útil” a Dilma como “mal menor” frente a Aécio. Não é possível separar a “utilidade” desse voto do papel monetário das cuecas parlamentares, das carnes com larvas de mosca, das obras do PAC sem saneamento básico, dos empresários amigos do Planalto e de toda “governabilidade” que reproduz esse sistema político. Votar no PT é votar pela continuidade de todos os privilégios que eles compartilham com os tucanos. É votar contra o sentimento de repúdio a tudo isso que saiu às ruas em junho de 2013.

Voto útil é aquele que aposta organização e na mobilização independente dos trabalhadores e da juventude para, aprofundando o caminho de junho, impor que todo juiz, parlamentar ou funcionário político ganhe o mesmo que um professor, para que sejam revogáveis por aqueles que os elegeram e para que os juízes sejam escolhidos pelo voto popular. Por isso o único voto útil possível é o voto nulo.

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