Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

Dezenas de milhares voltam às ruas da Grécia

12 Feb 2015 | Como na semana passada, em que o povo grego acudiu aos milhares à praça Syntagma diante do Parlamento em rechaço ao anúncio do Banco Central Europeu de deixar de aceitar os títulos gregos como garantia de financiamento dos bancos desse país, 15.000 gregos se manifestaram contra as imposições da Troika na negociação desta quarta-feira.   |   comentários

Como na semana passada, em que o povo grego acudiu aos milhares à praça Syntagma diante do Parlamento em rechaço ao anúncio do Banco Central Europeu de deixar de aceitar os títulos gregos como garantia de financiamento dos bancos desse país, 15.000 gregos se manifestaram contra as imposições da Troika na negociação desta quarta-feira

Como na semana passada, em que o povo grego acudiu aos milhares à praça Syntagma diante do Parlamento em rechaço ao anúncio do Banco Central Europeu de deixar de aceitar os títulos gregos como garantia de financiamento dos bancos desse país, 15.000 gregos se manifestaram contra as imposições da Troika na negociação desta quarta-feira, o que demonstra o nível das tensões que tocam a vida cotidiana dos mais afetados pela crise, e a vontade de setores de massas de se enfrentar abertamente contra as imposições da Alemanha.

As manifestações, convocadas por diversas plataformas cidadãs, desenvolveram-se em pontos emblemáticos do país, como em Atenas e na Torre Alva em Tessalônica, na ilha de Creta, Patras, Lamía, Volos, Kastoriá, Kalymnos, Lesbos, Kalamata, Kavala e na ilha de Syros, que culminarão em novos atos em várias cidades do mundo, em 15 países como Portugal, Reino Unido, França, Itália e Dinamarca.

Este apoio popular se funda na promessa do Syriza de que colocaria fim à austeridade e rejeitaria a prorrogação do segundo pacote de auxílio financeiro, que vence no dia 28 de fevereiro, buscando ao mesmo tempo chegar a um acordo com seus credores “que beneficie a todos”, trabalhadores e banqueiros. O objetivo do giro europeu da dupla Tsipras-Varoufakis era justamente buscar apoio em Londres, Roma e Paris, para negociar a dívida em melhores termos. Mas terminou em rotunda derrota: com singeleza ou dureza, os governos europeus querem que a Grécia rebaixe suas pretensões e se submeta a seu programa de cortes e reformas estruturais.

Entretanto, Tsipras não se referiu aos atos em Atenas para sustentar suas posições, que continuam a defender uma fórmula desesperada que permita dizer aos gregos que o resgate está acabado, e aos europeus que respeitarão todos os acordos de permanência no euro.

Esse “desconhecimento” de Tsipras das manifestações contra a austeridade responde a um cálculo político do Syriza: não tem como programa desconhecer a dívida externa e fazer com que os capitalistas paguem pela crise. Prefere negociar os termos do pagamento. Dessa forma, apoiar-se no giro à esquerda das massas, que se mobilizam ativamente contra a espoliação de uma dívida gerada pelos capitalistas gregos e os banqueiros europeus, significaria se comprometer com uma força social explosiva responsável por 32 greves gerais em 5 anos, sobre a qual o Syriza não tem controle.

Se o Syriza leva adiante a proposta de extensão do resgate, como acenou com o “acordo-ponte” até agosto durante a reunião do Eurogrupo, seria um desmentido na promessa eleitoral de “terminar com a austeridade” e um novo passo na via de concessões aos credores europeus. A substituição de algumas cláusulas que mantenham de pé os pactos de ajuste do governo anterior vai de encontro com as expectativas mais sentidas dos milhares que se mobilizaram em apoio ao governo contra a Troika, que esperavam uma mudança negociada que impedisse um novo pacote de resgate.

Uma austeridade de novo tipo ou a anulação da dívida grega?

Uma possível prorrogação dos atuais pactos de submissão (e a possibilidade aberta de um terceiro resgate) colocaria o Syriza na posição que a União Europeia desejava: sem precisar enfrentar-se com um governo que incentiva o fim da “paz social” e se apoia na mobilização de massas, mantém a Grécia isolada no terreno em que escolheu negociar – na diplomacia – com a dureza das instituições européias. Ao mesmo tempo, contém o perigo de “contágio político”, tão combatido em países resgatados como Portugal, Irlanda e o Estado espanhol, cujos governos conservadores correm risco de serem derrubados pelo fortalecimento eleitoral dos partidos reformistas “antiausteridade” como o Podemos.

Somos totalmente contrários à chantagem imperialista do BCE e da Troika ao povo grego. Este vem pagando há anos a dívida que geraram os negócios dos bancos gregos e europeus e os grandes capitalistas gregos, amparados pelo estado e pelos partidos que governaram a seu serviço.

Por isso, a estratégia de seguir negociando a extensão do atual resgate, assinado pelo governo austeritário anterior, não pode tirar a população grega que volta a mobilizar-se das catastróficas condições deixadas pela crise. Se o Syriza realmente quisesse se apoiar neste desejo de massas, teria de rever todo seu programa e colocar-se a serviço de impulsionar a luta dos amplos setores que se colocam nas ruas hoje. Mas não se orienta nessa direção, e sim busca impedir o desenvolvimento da luta de classes para ganhar a simpatia dos “sócios europeus”.

A ruptura à esquerda das massas gregas com a socialdemocracia é um sintoma importante da situação, embora tenha se dado sob uma forma “cidadã”, cujo único poder de mudança se reduziria ao voto. Este giro à esquerda tem de ser impulsionado no sentido de recuperar seu potencial de classe e sua força política independente, organizada contra a União Europeia, que hoje dobra cada vez mais o governo Syriza a aceitar seus termos estranguladores.

Somente a mobilização das massas gregas pela anulação completa da dívida externa e contra qualquer espécie de austeridade pode por fim à sangria dos recursos públicos e das forças produtivas gregas. Esta política tem de vincular-se a outras medidas anticapitalistas como a nacionalização de todos os bancos e a expropriação das grandes empresas que enriquecem com os ajustes. Somente assim se deixariam para trás saídas nacionalistas de flexibilização da austeridade, igualmente degradantes, apontando a um governo operário e socialista.

Dessa forma, convocamos as organizações de esquerda e sindicatos a uma grande campanha de solidariedade internacional ao povo grego com a demanda central de anulação imediata da dívida, apoiado na mobilização de massas que mais uma vez protagonizam amplos setores de trabalhadores e jovens na Grécia.

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