Quinta 18 de Abril de 2024

Economia

Desmascarando o discurso da CUT contra o aumento na taxa básica de juros

08 Dec 2014   |   comentários

Nesta última semana, o governo Dilma anunciou o aumento da taxa básica de juros, a primeira medida da nova equipe econômica liderada por Joaquim Levy

Nesta última semana, o governo Dilma anunciou o aumento da taxa básica de juros, a primeira medida da nova equipe econômica liderada por Joaquim Levy. A decisão “desagradou” a CUT, que é base de sustentação do governo Dilma no movimento sindical. Mas o que está em jogo é uma luta decidida para varrer as burocracias dos sindicatos, para uma luta independente dos trabalhadores, para que sejam os capitalistas que paguem pelo ajuste.

No último dia 3, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano. Por decisão unânime do órgão, o governo indica aos “investidores” (leia-se: capitalistas) a intensificação do ritmo de arrocho monetário em curso. É o patamar de juros mais alto dos últimos anos, mantendo o país com a maior taxa de juros do mundo, o que demonstra a fragilidade do Brasil, que mantem estreitos seus laços estruturais de dependência com o imperialismo.

A dependência do país com relação aos interesses financeiros das potências imperialistas dos EUA e Europa está longe de ser mitigada por uma suposta política desenvolvimentista, para a “desilusão” de setores petistas, como a CUT. Como afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro: "Mais uma vez, o Banco Central cedeu à chantagem insaciável dos rentistas e especuladores do mercado financeiro, os únicos que ganham, e muito, com esse segundo aumento consecutivo da Selic. (...) Essa nova elevação vai travar ainda mais o ritmo de crescimento econômico, na contramão do desenvolvimento com mais empregos e distribuição de renda."

Capitalistas do bem versus capitalistas do mal?

Para a CUT, existe a necessidade de o governo se voltar a uma estratégia de desenvolvimento e crescimento econômico, por meio de incentivos aos investimentos e à inovação tecnológica nacional, voltados a produção. Em outras palavras, defendem a panaceia de um suposto “capital produtivo benéfico” aos trabalhadores, pois geraria o crescimento “virtuoso” da economia (e levaria ao aumento nos salários e nos empregos). “Infelizmente”, segundo a CUT, o “novo” governo Dilma estaria rumando em direção a beneficiar os interesses do capital rentista, um capital “especulativo” e parasita. Primeiro, ao indicar Levy para o Banco Central, e segundo, por elevar a taxa básica de juros num momento de baixo crescimento da economia.

Uma alta taxa de juros desmotivaria os investimentos dos “bons” empresários produtivos (pela visão da CUT), empurrando-os para a busca de ganhos financeiros com compra de ações e títulos do governo, que renderiam mais do que os lucros que poderiam obter caso investissem na criação de uma nova planta produtiva, por exemplo. De fato, juros altos são funcionais aos ganhos financeiros. Porém, o que a CUT “esquece” (talvez pela sua estratégia de conciliação de classes, ou a ideia de que os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores podem convergir), é que não há capital “bom” versus capital “ruim”, e que o capital “financeiro”, das bolsas de valores, não está desvinculado do capital “produtivo”, do chão de fábrica, são capitais que se fundiram, no qual, o capital “especulativo” não pode abrir mão de seu vínculo com as expectativas dos lucros que serão obtidos pelos capitalistas ao explorarem a mão de obra excedente, a mais-valia, dos trabalhadores nas fábricas.

É a perspectiva de lucros, às custas da exploração do trabalho, que constitui um dos fatores fundamentais que retroalimenta aos fluxos dos capitais “especulativos” em direção aos países dependentes como o Brasil, que para atrair mais ainda estes fluxos de capitais, tem de recorrer ao aumento sistemático de suas taxas de juros para sustentar o equilíbrio de sua economia e controlar a inflação (pela perspectiva dos capitalistas, estes tem sua riqueza desvalorizada com o aumento dos preços e a consequente perde de valor da moeda).

Quem paga pelo aumento da taxa básica de juros?

O custo desse aumento, que agrada aos banqueiros internacionais dos países imperialistas (que são parte dos mesmos capitalistas acionistas de grandes monopólios industriais que exploram o trabalho barato e mercado consumidor do Brasil), está na drenagem, cada vez maior, de dinheiro público para o pagamento dos juros da dívida do Estado aos credores internacionais.

Cada vez que a taxa Selic aumenta, cresce o estoque da dívida pública – somado ao baixo crescimento do PIB, que está estagnado – e aumenta a pressão dos “mercados” para maiores “economias” do governo (leia-se cortes para os gatos sociais) destinadas ao pagamento dos juros da dívida, que é o chamado “superávit primário”. Para o próximo ano, está previsto em 1,2% de superávit primário toda a riqueza produzida no país, ou cerca de 66 bilhões de reais. E quem paga esta conta são os trabalhadores e povo pobre, pois é mais dinheiro público na mão dos banqueiros e menos para os gastos sociais. Com o aumento dos juros, o crédito fica mais caro, encarecendo também as dívidas dos trabalhadores, como por exemplos as dívidas do cartão de crédito e dos financiamentos.

As batalhas não dadas pela CUT cobram seu preço

Porém, a redução das taxas de juros, está longe de ser a solução para a tão sonhada (pela CUT) retomada dos investimentos “produtivos”. Estes só podem se ampliar sob as costas dos trabalhadores, com a perspectiva de que os capitalistas poderão aumentar a produção e a produtividade do trabalho sem o respectivo aumento nos salários, como ocorreu nos países exportadores de manufaturas, como a Alemanha. E este tipo de ajuste, que flexibiliza os direitos dos trabalhadores, já começa a ganhar forma no Brasil.

O discurso do presidente (burocrata sindical) da Contraf está longe de questionar a “qualidade” dos empregos gerados nos últimos anos “virtuosos” do governo Lula e Dilma, já que o que cresceu mesmo foram os empregos de baixos salários. A maioria de até 1,5 salários mínimos, com trabalho precário e rotatividade no emprego, com o avanço das terceirizações e contratos temporários. Esta é uma realidade frente à qual a CUT se recusa, por seu total compromisso com os interesses do governo aliado aos lucros dos capitalistas, a dar uma batalha efetiva pelo fim do trabalho precário, numa luta concreta contra a terceirização, pela efetivação de todos os trabalhadores terceirizados, pelo salário mínimo do DIEESE, com redução da jornada de trabalho sem redução de salário para garantir os empregos. Essa é a forma concreta para uma luta real pelo direito ao trabalho em condições dignas para mulheres e homens, que tanto propagandeia a CUT.

Sem falarmos nas batalhas não dadas pela CUT (e muito menos pela Força Sindical e CTB), para dar uma resposta combativa contra os ajustes, que já estão ocorrendo nos bancos, com trabalhadores do Bradesco dispensados nos últimos 12 meses. É a mesma CUT que traiu mais uma greve dos bancários este ano, em nome da reeleição de Dilma. E mais uma vez, a traição da burocracia sindical da CUT vai cobrar seu preço, pois a cada derrota e batalha não dada, os capitalistas têm o espaço aberto para maiores ataques aos direitos dos trabalhadores.

Por uma saída antiburocrática dos trabalhadores

Ou seja, é necessário desmascarar o discurso desenvolvimentista da CUT, pois as batalhas conscientemente não dadas pela CUT na luta de classes, em nome de uma estratégia de conciliação de classes atrelada aos interesses dos governos e dos lucros dos patrões, é parte da garantia de que os capitalistas podem ter seus lucros ampliados quando decidirem “investir”. Pois terão ao seu favor a atuação de uma burocracia sindical responsável por ser um verdadeiro entrave à autorganização independente e pela base dos trabalhadores, com um programa de classe, para que sejam os capitalistas que paguem por sua crise gerada pela sede de lucro.

A saída para a garantia dos empregos a da valorização dos salários em condições dignas de trabalho não está nas mãos da burocracia da CUT, Força Sindical ou CTB, a despeito dos discursos desenvolvimentistas que possam ter. O que está na ordem do dia para os trabalhadores é o combate às burocracias sindicais, os agentes dos capitalistas no seio da classe trabalhadora.

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