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Internacional

PARAGUAI

Derrotar o “golpe institucional” da direita com a mobilização operária e popular independente

24 Jun 2012   |   comentários

Publicado originalmente em 22 de junho no site do Partido dos Trabalhadores Socialistas - Argentina

Em um julgamento político quase “sumário”que hava sido votado ontem, o Congresso dominado pelos partidos da direita – o Partido Colorado e o Partido Liberal – destituiu o presidente Fernando Lugo de seu cargo. Em seu lugar assumiu o vice-presidente Federico Franco do tradicional Partido Liberal, que há pouco rompeu sua aliança com Lugo.

O processo de impeachment iniciou-se no dia 15/6 aproveitando a sangrenta repressão aos camponeses sem-terra que terminou com a vida de 11 sem-terra e 6 policiais (que Lugo reivindicou de fato respaldando os policiais). Instituições chave como a reacionária Igreja Católica e o imperialismo norte-americano, haviam dado seu apoio mais ou menos direto ao golpe. Não teve que chegar a etapa da intervenção militar já que Lugo aceitou o “julgamento”e a destituição, mostrando que prefere se retirar e deixar o caminho aberto para a direita que chamar a mobilização popular. Desde que assumiu a presidência em 2008 na aliança com o direitista Partido Liberal, Lugo deu diversas mostras que não tomaria nenhuma medida que afetaria os interesses dos grandes latifundiários – em particular a oligarquia da soja que se desenvolveu nos últimos anos, expulsando milhares de camponeses sem-terra. Sua promessa de reforma agrária havia despertado ilusões nos camponeses pobres.

Porém, uma vez no poder, Lugo tentou uma timida reforma que deixava intacto o latifúndio. Isso alentou os grandes latifundiários que organizaram grupos de capangas e desataram uma verdadeira guerra contra o campesinato. O último serviço que Lugo prestou ao empresariado paraguaio foi a brutal repressão em Curuguaty.

Cinicamente, a direita strossnerista*, para quem a vida dos camponeses não vale nada, usou a repressão como desculpa para avançar aproveitando a extrema debilidade de Lugo que praticamente ficou sem nenhuma base de sustentação. Este ‘golpe branco’ busca impor um governo que sem verniz ‘populista’ responda diretamente aos interesses dos latifundários e dos grandes empresários.

A UNASUL denunciou a destituição de Lugo como um ‘golpe institucional’. Inclusive Dilma Roussef defendeu que isso pode ter consequências para a permanência do Paraguai no organismo. Entretanto, a diplomacia da UNASUL busca uma saída de consenso com a direita e exige um processo ‘justo’, o que em última instância terminará legitimando o golpe. Isso já vimos em Honduras após o golpe cívico-militar que derrubou o presidente Zelaya.

Neste momento, a OEA atuou como cobertura da política golpista do imperialismo, as forças armadas e os empresários e seus partidos. Apesar de que as organizações camponesas vinham se mobilizando em repúdio à repressão de Lugo, milhares de manifestantes se congregaram na praça do Congresso e muito mais se mobilizaram no interior do país enquanto se gestava o golpe institucional. Mas Lugo mostrou que não está disposto a enfrentar a direita e aos poderes aos quais responde. Só a mais ampla mobilização operária, camponesa, e popular, independente de todos os partidos do regime, poderá derrotar este golpe palaciano da direita e seus planos de estabilizar um governo que possa garantir os interesses dos grandes empresários, e lutar para resolver os grandes problemas do país, começando por aplicar uma reforma agrária que ponha fim ao latifúndio e dê terra aos camponeses e acabe com a submissão do país ao imperialismo, na perspectiva da luta por um governo operário, camponês e popular.

Chamamos às organizações operárias, populares e da esquerda a nos mobilizar em solidariedade com a luta dos trabalhadores, camponeses, indígenas e setores populares do país irmão Paraguai contra este golpe da direita e por uma saída independente e popular.

*Em referência a Alfredo Stroessner, general ligado ao Partido Colorado, que conduziu uma ditadura no Paraguai de 1954 a 1989.

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