Quinta 28 de Março de 2024

Nacional

Eleições em Brasília

Derrota das velhas oligarquias locais ou mais do mesmo?

29 Oct 2014   |   comentários

O novo governador dito “moderno” e “terceira via” na verdade é mais do mesmo em termos de que apenas ganhou por ter se aliado à velha oligarquia política local. Só governará através da mais fisiológica composição política com ela. De “novo”, portanto, ele só tem a aparência.

Na mesma linha política de São Paulo, a votação em Brasília foi majoritariamente para Aécio (62% contra apenas 38% para Dilma). O Distrito Federal (DF) foi a quarta unidade da Federação onde Aécio tirou maior percentual de votos. Da mesma forma que São Paulo, aqui se levantou uma muralha contra o PT: o rechaço era geral, o PT não ganhou a vaga para senador e perdeu deputados distritais. Sequer conseguiu ir para o segundo turno na eleição para governador.

Sem qualquer opção pela esquerda, e com o atual governador do PT (Agnelo) amplamente desmoralizado , uma parte importante dos funcionários públicos – setor muito forte e característico da cidade) ou votou em branco, nulo e abstenção ou, claramente descarregou seus votos no Aécio.

Para governador, venceu um jovem senador do PSB, aecista de última hora e tido como candidato da “mudança”, com 55,5% dos votos válidos contra 44,5 % do rival (representante direto dos tradicionais caciques políticos locais).

Por sua vez, a mídia local vem repercutindo a ilusão de que o ganhador, Rodrigo Rollemberg seria o “novo”, o “moderno”, e, através da sua vitória, finalmente se teria chegado ao fim daquela antiga polarização política local entre o petismo e o populismo de direita (rorizismo).

O próprio ganhador se acha como aquele que veio “resgatar o sonho de JK”, a encarnação da mudança, a derrota da velha oligarquia política local, isto é, de toda uma casta de caciques políticos, baseados no manejo e especulação das terras públicas, que mandam no DF desde antes de sua emancipação política. A figura mais emblemática dessa casta é Joaquim Roriz, um coronel populista, várias vezes governador, pelo voto dos pobres urbanos que ele manipula distribuindo lotes de moradia (enquanto acoberta a grilagem de amplo estoque de terras públicas em favor de empreiteiras).

Portanto, atualmente a imprensa está divulgando que ganhou o candidato que põe fim à tradição do caciquismo populista e que agora sim, haverá mudança. Rollemberg seria , finalmente, a “terceira via”.

A verdade pode ser bem outra. Os sinais são todos – por trás das aparências – de profunda continuidade e não de superação do caciquismo.

É fato que o adversário, o médico Frejat é fantoche político do clã Roriz (este, atualmente padecendo de doença grave e processado como “ficha suja”) e assumiu o lugar do Arruda, corrupto rorizista também afastado como “ficha suja” no momento em que ia ganhando a eleição. Naquele momento, Rollemberg, marinista de primeira viagem, ainda assim amargava o terceiro lugar na corrida para o governo, contra o PT e o rorizismo (Frejat).

É certo que a guinada aecista aqui no DF favoreceu Rollemberg, já que ele migrou para o apoio a Aécio em seguida da morte do Eduardo Campos. Rollemberg terminou acolhendo o voto contra Dilma e que, em boa medida, quer mudança, ao mesmo tempo em que recebeu o voto maciço de quase toda a classe média rica e remediada. E é certo também que acolhe um voto jovem que estimulado pelas jornadas de junho de 2013, aspira mudança através do “novo” (em parte também, este voto jovem foi descarregado nos nulos, brancos, abstenção, que teve total de 430 mil votos, muito maior que a diferença entre Rollemberg e Frejat).

Mas é muito mais evidente, ao mesmo tempo, que o vencedor tem muito pouco a ver com mudança. E não está tão descolado assim das oligarquias politicas que loteiam o DF. E nem tem como promover mudanças para além do ralo populismo.

As alianças mostram a reprodução do velho

Evidência nesse sentido é que, para ganhar, Rollemberg fez alianças e composições com caciques que estão entre o pior da política local; semanas antes apareceu na imprensa selando acordo com os tucanos, uma casta local com fortes laços com o populismo de direita e dissidências rorizistas.

Aliás, esse mesmo senador Rollemberg, ao compor a chapa com a qual ganharia o Senado, incluiu como seu suplente um petista acusado de corrupto, conhecido como Hélio Gambiarra (teria feito gambiarra de luz para sua fazenda) e também acusado de pedofilia. Esta mesma figura agora assume como senador, sendo que quando se lançou a deputado distrital entrou para o folclore político local por ter conseguido apenas seis votos.

Em seguida, o mesmo Rollemberg, tido como “ético”, fez acordo com o rorizista Rogério Rosso, ex-governador e aliado de Arruda, para indicar o vice-governador. Ou seja, para ganhar, o senador e agora governador Rollemberg fez acordo com todo um setor dos caciques populistas do campo de Roriz e com a corrupção. O seu vice é indicação do campo rorizista, era quadro de confiança do Arruda, da Abadia, do campo Roriz. É um vice que representa o acordo com o caciquismo populista local.

O próprio Rollemberg já declarou que vai governar com o PSDB. E publicamente é conhecida sua aliança com Celina Leão, deputada distrital reeleita pelo PDT, rorizista de carteirinha; a imprensa noticia que ela é um dos trunfos fortes do governador eleito para disputar a presidência do parlamento local. Seu coordenador de campanha é o mesmo que fez assessoria eleitoral ao Roriz. Em outras palavras, Rollemberg nem teria ganho para governador e nem vai poder contar com apoio relevante na Câmara Distrital local sem dar seguimento e aprofundar as alianças com o caciquismo político rorizista-arrudista. No parlamento local eleito agora, Rollemberg só conta com 7 deputados locais de um total de 24 (do restante, o rorizista Frejat conta com 6, e PT-PMDB com 7).

Só para comparar, o atual governador petista, Agnelo, faz composição com os caciques locais e por conta disso conta com 21 dos 24 deputados locais. Ou seja, à semelhança do PT de Agnelo, Rollemberg, que tem base parlamentar frágil, tende a ampliar sua composição com os caciques populistas de direita também na Assembleia local.

Resumo: o governador “moderno” e “terceira via” na verdade é mais do mesmo em termos de que apenas ganhou por ter se aliado à velha oligarquia política local (que é quem ia ganhando a eleição não tivesse sido afastada como “ficha suja”). E só governará através da mais fisiológica composição política com ela. De “novo”, portanto, ele só tem a aparência. Aliás, o atual governador petista também anunciou o mesmo quando foi eleito, de que representava o “novo” (tão cinicamente quanto Rollemberg já que, à semelhança deste, já trazia como vice-governador um cacique da velha política local, oriundo do rorizismo, Filipeli).

Portanto nada de novo parece estar acontecendo sob os céus do DF para além da enxurrada de votos contra o PT e de um forte sentimento de mudança, na juventude em especial, sentimento que passa por uma séria crise de representação política.

Só es trabalhadores e a juventude podem varrer a casta local do poder

O governador “da mudança” jamais apoiou qualquer luta dos trabalhadores /terceirizados na cidade. Portanto, os trabalhadores e a juventude em geral não encontrarão opção para traduzir, politicamente, sua insatisfação, a mesma que levou, nessas eleições, a varrer o PT do governo e, em parte, do legislativo.

A verdade é que somente aquela camada da juventude, trabalhadora e estudantil, especialmente a mais radicalizada ou mais insatisfeita dos bairros de periferia e que explodiu nas ruas em junho de 2013 e nas greves deste ano (rodoviários por exemplo) é que pode forçar novos caminhos, através da luta direta e da organização de suas próprias ferramentas políticas, para finalmente varrer a casta política local e nacional, a mesma que, através da democracia dos ricos, governa Brasília já desde sua fundação.

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