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Internacional

ARGENTINA

Deputados de esquerda e dos trabalhadores

11 Dec 2013   |   comentários

No dia 4 aconteceu um fato histórico. Os três deputados nacionais da “Frente de Izquierda y de los Trabajadores” (FIT), Nicolás del Caño do PTS (Mendoza) e Néstor Pitrola (Buenos Aires) e Pablo López (Salta) do PO, assumiram suas cadeiras.

No dia 4 aconteceu um fato histórico. Os três deputados nacionais da “Frente de Izquierda y de los Trabajadores” (FIT), Nicolás del Caño do PTS (Mendoza) e Néstor Pitrola (Buenos Aires) e Pablo López (Salta) do PO, assumiram suas cadeiras. É a consequência do impactante resultado eleitoral de 1.200.000 votos, que uma parte significativa da classe trabalhadora e da juventude combativa deu para apoiar em 27 de outubro a esquerda classista.

Os deputados da FIT reafirmaram que entram no Congresso para lutar por outra agenda: a dos trabalhadores. Não só repudiaram a entrada de Diego Mestre, o radical cordobês que se colou no Congresso pela fraude contra a FIT e Liliana Olivero (IS), senão que quando chegou a hora de votar as autoridades da Câmara se abstiveram denunciando os partidos que defendem este sistema de exploração e opressão.

A esquerda classista chega ao Congresso em meio à decadência do governo kirchnerista, e quando o “relato nacional e popular” cai aos pedaços. Há poucos dias o gabinete do governo de Cristina confirmava um giro à direita: propuseram indenizar os saqueadores da Repsol com U$S 5 bilhões. Um mês atrás negociaram com o CIADI (Centro Internacional de Ajuste de Diferenças relativas aos Investimentos) pagar a dívida a empresas imperialistas credoras da Argentina e assim cumprir exigências para voltar ao endividamento externo e aos braços do FMI.

Por mais que no Congresso as bases kirchneristas tenham feito um circo contra os seguidores da última “estrela” eleitoral, o direitista Sergio Massa, ou contra Carrió ou Cobos, as diferenças que os separam são cada vez menores. O novo gabinete prepara aumentos no preço do transporte (trens) e até nas contas de água. Além disso, o kirchnerismo rechaçou pagar um bônus de fim de ano aos aposentados estatais e a isenção do pagamento de impostos no décimo terceiro.

Crise política e aquartelamento policial em Córdoba

A posse dos deputados aconteceu quando um fato candente, desta vez no estado de Córdoba, se encarregava de voltar a mostrar o giro do governo que fez sua a agenda da direita em matéria de segurança. O aquartelamento da polícia provincial tem como pano de fundo uma máfia que lidera o narcotráfico e defende seus interesses coorporativos, fomentada durante anos. O conflito salarial foi a desculpa dos uniformizados para fazer valer seu poder. Ao fechamento desta edição, já haviam dois mortos e dezenas de feridos em uma jornada dramática em que se estenderam os saques, muitos deles dirigidos contra pequenos comerciantes. Logicamente o governo terminou pactuando com a polícia e lhe dando suas reivindicações, colocando em marcha uma campanha dura e sinistra contra o povo pobre e a juventude.

A atitude do governo nacional foi diretamente cínica. Enquanto o governador cordobês pedia o envio de forças para “pacificar”, o Chefe de Gabinete respondia que a segurança era responsabilidade da província. Os campeões dos “direitos humanos” chantageavam com não enviar reforço militar não porque se negavam a ocupar Córdoba, mas por ser essa é uma província opositora. Quando se trata de avançar com suas políticas de “mão-dura” para o controle social dos pobres e da juventude há toda sorte de “unidade nacional”. A máfia policial não existe só em Córdoba. Todas as polícias são experts no gatilho fácil.

Por isso é importante destacar a mobilização no estado de Neuquén das organizações sindicais, políticas, sociais e de direitos humanos que responderam com uma mobilização contundente frente assassinato do jovem Braian Hernandez pela polícia neuquina em fevereiro e posteriormente pelo assassinato do jovem Willy Gutierrez que era testemunha direta desse crime. As medidas de luta encabeçadas por essas organizações dos trabalhadores são ações exemplares que mostram como a classe trabalhadora com seus próprios métodos pode fazer suas as demandas da juventude e do povo pobre. São também, ainda que em pequena escala, uma resposta contrária ao giro à direita que o regime político implementa em sua agenda de “segurança” enchendo as ruas de forças repressivas para criminalizar a juventude e os pobres.

Novas tarefas

Analistas e até porta-vozes das grandes patronais vem se dando conta do crescimento da esquerda classista entre os trabalhadores. Se referem à conquista de numerosas comissões internas de empresas como a Kraft, Pepsico, Stani, para nomear só algumas. A grande votação da FIT tem também este ponto de partida: milhares de trabalhadores avançam em se organizar contra a burocracia e veem os deputados da FIT como seus próprios deputados, dispostos a se colocar em favor de fortalecer suas lutas contra a repressão, pelas reivindicações dos trabalhadores e de todos os setores explorados que se mobilizem pelos seus direitos.

Frente ao apoio da FIT por parte de setores da classe trabalhadora, da juventude e da mulher trabalhadora, desde o PTS temos o desafio de conquistar centros de estudantes militantes, e desde a agrupação Pão e Rosas avançar na luta e na organização pelo direito ao aborto e as reivindicações das mulheres. Mas, sobretudo, diante da crise da burocracia sindical e dos ataques em marcha contra os trabalhadores, o PTS se propõe desde já a dar passos para avançar em conquistar as grandes organizações da classe trabalhadora, os sindicatos, para transformá-los em ferramentas de luta contra o capital e seus governos, pela conquista da independência de classe dos trabalhadores. Nas convenções regionais e na convenção nacional do PTS que se realizará a meados de dezembro será debatido com as novas camadas de militantes como levar adiante estas tarefas e quais são as vias para conquistar um grande partido de trabalhadores revolucionário.

No imediato, frente aos ataques em marcha, os parlamentares da FIT levantam um programa que inclui a luta por um salário mínimo que responda às necessidades básicas de uma família, o aumento salarial de acordo com a inflação, a abolição do imposto que o governo cobra dos salários, contra a precarização do trabalho e os aumentos das tarifas públicas, assim como a exigência pelo fim dos processos para todos os lutadores, começando pela absolvição dos petroleiros de Las Heras.

Atualmente o PTS busca impulsionar plenárias regionais que reúnam o ativismo combativo na perspectiva de organizar uma Assembleia ou Encontro Nacional que reúna a milhares de trabalhadores, para levantar uma alternativa frente à burocracia sindical. Chama às comissões internas e sindicatos combativos e aos partidos com os quais conformamos a FIT a impulsionar juntos essa política.

Os deputados do PTS na FIT lutarão ombro a ombro com as organizações combativas dos trabalhadores por essa perspectiva.

NICOLÁS DEL CAÑO, PRIMEIRO TROTSKISTA NO CONGRESSO NACIONAL POR MENDOZA

Em um fato sem precedentes na política nacional, na manhã de 4 de dezembro, prestou juramento o jovem Nicolás del Caño do PTS. Del Caño se converteu dessa maneira no primeiro trotskista consagrado deputado nacional pela província de Mendoza.

Del Caño jurou pela “luta da classe trabalhadora internacional e dos povos oprimidos do mundo, pela memória de Mariano Ferreyra e Jorge Julio Lopez, pelos trinta mil companheiros desaparecidos e pelos assassinatos da Tríplice A”, durante a ditadura.
Os representantes da FIT expressaram o repúdio e pediram a impugnação da eleição dos deputados nacionais de Córdoba, que juraram hoje apesar das numerosas denúncias de fraude apresentadas à Justiça pelos membros da FIT e apesar de estar pendente uma resolução da Corte Suprema da Justiça.

O trotskista Christian Castillo assumiu como deputado estadual

Eleito deputado estadual pelo estado de Buenos Aires (principal estado do país, onde se encontra a capital Buenos Aires), Christian Castillo declarou que “vamos colocar nossas bancadas a serviço das lutas operárias contra as patronais, o governo e a burocracia sindical. Vamos apoiar a luta pela recuperação dos sindicatos para enfrentar o ajuste e os cortes salariais que o governo quer impor. Mesmo assim, nossas bancadas serão uma plataforma e tribuna para que se expresse a luta do movimento de mulheres contra a reforma clerical do Código Civil e pela lei que garanta o aborto seguro e gratuito”.

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