Sexta 29 de Março de 2024

Nacional

Crise da Varig

Demissão em massa ou uma saída de fundo a favor dos trabalhadores e da população

05 Jul 2006   |   comentários

A companhia aérea que já teve o monopólio dos vóos comerciais para o exterior, concedido na época da ditadura militar, e que conta com 11.000 postos de trabalho diretos e mais alguns milhares de empregos indiretos ligados às prestadoras de serviços passa nas últimas semanas pelo auge da sua profunda crise. O grupo norte-americano Matlin Patterson acabou de apoderar-se da Varig num leilão com preço mínimo de R$ 24 milhões. Um verdadeiro negócio da China, para agradar o senhor Chan, o capitalista chinês que está por trás do grupo.

Esta “venda” vai significar, para os trabalhadores, um verdadeiro drama, resultando na demissão de pelo menos 8.000 funcionários. Isso ocorre com o total apoio do governo Lula e do PT, um ex-sindicalista e um partido que se diz “dos trabalhadores” . Houve uma união sagrada, que reuniu também o candidato Alckmin, o PSDB, o PFL, o PMDB, os sindicalistas da CUT, da Força Sindical e um grupo de funcionários auto-intitulados TGV (Trabalhadores do Grupo Varig ’ uma casta de pilotos e comissários endinheirados) que desde o princípio serviu de testa-de-ferro dos atuais administradores (Fundação Ruben Berta) que levaram a empresa a esta situação, e no final aprovaram a entrega da Varig e os 8.000 postos de trabalho, prejudicando cerca de 40 mil pessoas. Esses falsos representantes dos trabalhadores da Varig venderam nossos empregos mas preservaram grande parte dos seus. Esse número absurdo de demissões não inclui, por enquanto, os companheiros que trabalham na terceirizada Sata e outras que prestam serviços à Varig. O futuro, também para eles, não é dos melhores. Estamos todos no mesmo barco.

Porém, faz falta que também reconheçamos em nós todos os únicos responsáveis para achar uma solução imediata de defesa dos direitos e dos empregos, contra as demissões, rechaçando todos os falsos “representantes” que nada fizeram que preparasse os funcionários para enfrentar esse plano da Fundação Ruben Berta, dos empresários, da justiça e do governo. Durante meses só nos informávamos pela imprensa, porque os sindicatos ’ e o TGV ’ não convocavam reuniões nem assembléias, nos deixando nas mãos dos gerentes que cada dia vinham com mais pressão para que trabalhássemos mesmo sem receber salários, mentindo que “tudo ia se acertar” .

Quando faltava dinheiro para combustível das aeronaves, de algum lugar surgia a solução. Enquanto isso, pagávamos para trabalhar, sem receber salários, tiquetes e vale-transporte. Mesmo assim, encarávamos nos guichês os passageiros furiosos que não viam que nós éramos tão ou mais vítimas do descalabro administrativo.

As empresas GOL e TAM queriam a morte da Varig para receber de graça todas as rotas e espaços nos aeroportos, para manter uma espécie de duopólio ’ as duas empresas dominaram os vóos, os preços e o máximo de lucro. Quando falam contra a entrega da Varig é somente por isso, porque não conseguiram tudo o que queriam e veio um capitalista esperto e abocanhou o melhor.

Longe de ficarmos encurralados nesta luta entre os empresários que querem monopolizar a aviação nacional, nós trabalhadores devemos debater uma política independente, de acordo com os nossos interesses, apontando nossas reivindicações contra a patronal e a gerência, exigindo o pagamento imediato dos direitos atrasados e nenhuma demissão.

O primeiro a fazer é romper todo o corporativismo. É necessária uma assembléia de todos os trabalhadores do Aeroporto de Guarulhos, aberta aos aeroportuários, companheiros da Sata (que além do risco real que estão sofrendo com um novo contrato têm a experiência de uma paralisação triunfante há poucos meses) e aos trabalhadores da estatal Infraero, como primeiro passo para discutirmos os caminhos, os passos, para defender nossos salários e empregos. Essa luta tem que gerar a unidade de todos os setores que trabalham na empresa e em todos os aeroportos do país, para definir uma pauta unificada e um plano de luta comum. É necessário lutar pela unidade com os demais trabalhadores que ajudaram a organizar atos e manifestações em Congonhas-SP, Porto Alegre e no Rio de Janeiro para que seja tema concreto de discussões em todos os aeroportos do país. Daí constituiríamos um verdadeiro comitê centralizador da luta que funcione com controle dos trabalhadores e suas assembléias e que esteja aberto tanto aos sindicatos quanto aos trabalhadores que lutam hoje contra os planos de demissões que a todo o momento o governo Lula, o PT e os demais partidos acertam com os patrões do Brasil, como na VW e na GM.

Para garantir os empregos e o acesso da população ao serviço aéreo seguro, barato e de qualidade:
Varig estatizada sob controle dos trabalhadores

A “Estrela Brasileira” se encontra na encruzilhada: demissões em massa e entrega a preço de banana para novos compradores ou uma saída profunda de acordo com os interesses da população brasileira.

A empresa que já foi uma das mais reconhecidas e lucrativas do mundo se afundou pela falcatrua de anos de administração fraudulenta e corrupção interna. Mas os mesmos diretores que foram responsáveis por isso são os que hoje sentam com os capitalistas estrangeiros, com o governo e sindicalistas para entregar a empresa. Esses verdadeiros bandidos vão sair impunes e mais ricos, enquanto nos lança nessa situação de amargura.

A única maneira de impedir a continuidade desse processo de corrupção e impunidade seria se nós, trabalhadores que fazemos a empresa funcionar cotidianamente e conhecemos toda sua rotina, passássemos a gerir a Varig, e isso poderíamos conseguir se o governo e o Estado arcassem com a dívida da companhia (R$ 7,9 bilhões) e pagasse o que deve à empresa (R$ 7 bilhões), tomando as medidas cabíveis para recuperar o dinheiro das mãos dos administradores fraudulentos.

Uma linha aérea estatal sob controle dos trabalhadores é a única garantia que temos para evitar não só possíveis monopólios do transporte aéreo por parte de um punhado de empresários brasileiros e estrangeiros, senão novas bancarrotas e entreguismos. Daí poderíamos tornar pública a gestão da empresa, prestando contas diretamente à população e revertendo os lucros para melhoria dos serviços e novos investimentos que diminuísse o máximo possível os preços da passagem para que a população, que em sua ampla maioria nunca pode entrar num avião, pudesse usufruir do direito democrático de voar; para que a aviação civil não continuasse sendo privilégio de poucos. Isso não é um sonho. Basta ver que as empresas, que buscam o lucro máximo, fazem promoções com passagens que chegam a R$ 25,00, muito abaixo do custo de uma viagem de ónibus para diversas cidades.

O que propomos é a estatização da Varig sob administração do conjunto dos trabalhadores, por meio de representantes eleitos em cada setor e cada base por todo o país, e não mais por um punhado de empresários aventureiros ou uma casta de pilotos e tripulantes privilegiados que fazem negócios com a Fundação Ruben Berta, o governo e os empresários para entregar nossos empregos e direitos. Eles aceitam as 8.000 demissões e dizem que não há saída porque seus empregos estão garantidos. Falam em “salvar” a Varig mas às custas dos nossos empregos. Eles continuarão sendo dirigentes sindicais com todos os privilégios. Essa administração para ser mais efetiva poderia contar com um conselho de passageiros e usuários que ajudassem os trabalhadores a melhor administrá-la. Como primeira medida poderíamos propor a abertura dos livros de contabilidade da empresa, para que se torne público os descaminhos financeiros e irregularidades que a levaram à crise e por conseqüência podermos apontar e punir os responsáveis com o confisco de seus bens e a prisão. A abertura das contas da empresa provará a todos que não só se pode pagar os salários e direitos de todos, e evitar demissões, como garantir um transporte digno e acessível aos trabalhadores e a toda a população.

A serviço desse interesse público, dos 8.000 empregos, da efetivação com direitos iguais dos terceirizados e precarizados e da possibilidade de criar novos postos de trabalho que deve estar a verdadeira salvação da Varig.

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