Quinta 28 de Março de 2024

Juventude

USP: 1º LUGAR NO “RANKING” DA REPRESSÃO

Defender o movimento e avançar na luta pela democratização da universidade

29 Feb 2012   |   comentários

Vimos, nos últimos anos, uma ofensiva histórica, sem precedentes, da reitoria sobre o movimento de trabalhadores, estudantes e professores da USP e das estaduais paulistas em seu conjunto. Rodas e o governo de Alckmin, do PSDB, se apoiando nos altos índices de arrecadação do ICMS, que gerou orçamentos bilionários e cada vez maiores nos últimos anos, avançaram em aprofundar as divisões existentes entre cada uma das categorias, bem como a isonomia entre as três universidades. Pela via de concessões materiais, a reitoria vem tentando cooptar, ou pelo menos pacificar, cada uma das três categorias que compõem a comunidade universitária. Aos professores foi cedido um aumento de cerca de 16% em 2010 (somando o aumento específico para professores, que rompia a isonomia, e o geral, dado também para os funcionários), e agora Rodas está implementando um projeto de premiação dos melhores professores (tanto do ponto de vista dos critérios produtivistas da academia, quanto da avaliação feita pelos próprios alunos), com IPads e notebooks. Aos funcionários a reestruturação da carreira – combinada com um importante ataque, o PROADE (plano de demissão em massa com critérios de produtividade e obediência) – que chegou a dar aumentos salariais de mais de 30%, e o prêmio de excelência acadêmica por conta da colocação da USP nos rankings. Por esta via, a reitoria vem conseguindo impor uma divisão dentro da universidade entre as categorias que historicamente se mobilizaram conjuntamente, os professores estão, amplamente cooptados, por um lado, e os funcionários bastante pacificados com a quantidade de concessões.

Combinada a esta política de concessões para desarticular e dividir estudantes, professores e trabalhadores, a reitoria veio implementando também importantes ataques à vanguarda e em seu projeto elitista e racista para a universidade ao impor a presença da polícia no campus a partir da morte do estudante Felipe Paiva, da FEA, com apoio de uma importante base da comunidade universitária. Desde a demissão inconstitucional de Claudionor Brandão em dezembro de 2008, que teve como testemunha de defesa, por exemplo, Chico de Oliveira, o número de processos à diretoria do SINTUSP cresceu exponencialmente, e hoje todos os seus diretores respondem a processos. A situação no sindicato dos trabalhadores da USP chegou a tal ponto, que recentemente sofreu um atentado, no qual abriram as bocas de um fogão e reviraram documentos, embora nada tenha sido roubado, ameaçando a integridade física de diretores, funcionários e estudantes que fossem ao sindicato, isso se liga ao caso da descoberta de gravações de reuniões internas fechadas da diretoria do sindicato, em um claro caso de espionagem política contra os trabalhadores. Não a toa, o professor Paulo Arantes afirmou, em entrevista à revista Forum, que a reitoria da USP é uma organização criminosa, que está disposta a lançar mão de todos os métodos para derrotar os que lutam dentro da universidade. Combinado a esses ataques às direções sindicais dos trabalhadores da USP, vem uma série de ataques aos estudantes que se mobilizam para defender a universidade pública. Os processos pela ocupação da reitoria de 2007, a prisão dos 73 estudantes na ocupação da reitoria, a eliminação de 6 estudantes no fim de 2011, a agressão ao estudante negro Nicholas, a reintegração de posse da moradia retomada, com mais 12 presos, a tentativa de demolição do Núcleo de Consciência Negra, a retomada do espaço do DCE pela reitoria com a intervenção da polícia, enfim, uma lista interminável de ataques, que são parte de uma ofensiva cujo objetivo é privatizar a universidade e mercantilizar o ensino.

Para avançar neste projeto, Rodas começou, no ano passado a aplicar o Plano Diretor, uma espécie de reforma universitária que serviria para reestruturar currículos e cursos de acordo com as demandas de mercado, fechando os cursos de baixo impacto econômico e incentivando financeiramente os que se adequarem ao projeto. Isso justamente com o objetivo de fazer a USP avançar nos rankings internacionais, se adequando aos critérios produtivistas que “medem” a qualidade das universidades, e dando projeção para a universidade a partir daí. Além disso o reitor afirma claramente que os cursos que conseguirem buscar a iniciativa privada para seu financiamento serão bem vistos, se coloca como um defensor do mecenato, quando na verdade defende a privatização do ensino e do conhecimento produzidos na universidade.

O cerne da questão está justamente no fato de que para implementar este projeto privatista, elitista e racista de universidade, a reitoria precisa antes eliminar os obstáculos de seu caminho, nomeadamente a direção do SINTUSP, e uma vanguarda de estudantes que se opõem a este projeto. E para poder avançar neste projeto, a política de Rodas tem sido de dividir e conquistar, de enfrentamento direto com a vanguarda e de polarização política da universidade, a reitoria está disposta a destruir a resistência dentro da universidade mesmo que para isso tenha que se enfrentar com uma camada mais ampla de estudantes, ou mesmo se desgastar diante da comunidade universitária. Diante desse cenário se faz fundamental uma ampla campanha democrática contra a repressão, que ligue as prisões de 73 estudantes da ocupação da reitoria e 12 da moradia, as expulsões de 6 estudantes, a demissão de Brandão, todos os demais processos aos lutadores, a retirada dos espaços de organização, como o do Núcleo de Consciência Negra, e o recente atentado ao SINTUSP! Uma campanha que reúna todos aqueles a favor da universidade pública, do direito de expressão e da liberdade de organização política e sindical! E que ligue os lutadores de dentro e de fora da universidade, reunindo amplos setores da sociedade em defesa dos lutadores, trabalhadores e da população pobre, contra a repressão, como nos casos dos moradores de rua da chamada “cracolândia”, reprimidos pela política higienista de Kassab a serviço da especulação imobiliária, ou dos trabalhadores e moradores do Pinheirinho, brutalmente reprimidos pela PM a mando do PSDB a serviço dos megaespeculador Naji Nahas.

Mas erguer uma campanha em defesa dos que são reprimidos por lutar, dentro e fora da universidade, por mais importante que seja, não basta. É necessário combater também o projeto que motiva todos os ataques, a privatização da universidade. Ligar esta ampla campanha democrática com a participação de intelectuais e figuras públicas com a mobilização que se abriu no ano passado, que se massifique de forma auto-organizada e que ligue suas demandas contra a polícia com o genocídio que sofre a maioria da população fora da universidade. Para poder conquistar o apoio da população fora da universidade, e motorizar esta massificação dentro da universidade, é fundamental levantar um programa que responda às contradições fundamentais que se colocam dentro dela.

É necessário lutar por uma democratização do acesso, com o fim do vestibular, e da estrutura de poder da universidade, uma Estatuinte Livre e Soberana, que reformule todo o estatuto da USP e onde toda a comunidade universitária (estudantes, professores, funcionários, terceirizados, etc), imposta pela força da mobilização, mas sem a participação dos burocratas acadêmicos, debata amplamente todos os problemas que dizem respeito à universidade. Nessa estatuinte, nossa luta será pela dissolução do conselho universitário e da reitoria e por um governo tripartite com maioria estudantil, com uma cabeça um voto, para que todos na universidade tenham o mesmo poder de decisão sobre os seus rumos. Os estudantes, que são a imensa maioria na faculdade, representam uma ínfima minoria dos votos. Em pleno século XXI, as eleições universitárias não assimilaram nem a Revolução Francesa de 1789, que estabelecia um voto a cada pessoa!

Neste momento se faz fundamental a organização de uma ampla campanha democrática, com a organização de intelectuais, personalidades, movimentos sociais, etc., que aspire, no seio da mobilização dos estudantes, a avançar para estes objetivos de democratização radical do acesso e da estrutura de poder da universidade. Para tal, ela deve se ligar à mobilização que se desenvolve hoje na universidade. Desenvolver e fortalecer a mobilização nos cursos através de suas assembleias, organizar as bases destes cursos no comando de greve através da eleição de delegados, para que através das votações de base se controle o movimento e que cada estudante tenha o controle da luta pela democratização da universidade. Levantar bem alto a demanda da expulsão da polícia do campus, combatendo, dentro e fora da universidade esta instituição reacionária, defensora da propriedade privada e do espólio capitalista. Só a partir desta combinação, entre fortalecimento do movimento de luta contra a polícia, e uma campanha democrática em defesa dos que lutam, que poderemos massificar esta luta e aspirar a democratizar de fato a universidade e coloca-la a serviço dos trabalhadores.

Fora PM da USP! Abaixo o convênio USP-PM!

Defesa do SINTUSP!

Reintegração de Claudionor Brandão!

Reintegração dos estudantes expulsos e nenhuma punição aos presos da moradia retomada!

Anulação dos inquéritos aos 73 presos políticos da reitoria!

Retirada de todos os processos contra os lutadores!

Defesa dos trabalhadores do Pinheirinho e da São Remo!

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