Sábado 20 de Abril de 2024

Cultura

Crítica: Cisne Negro

21 Mar 2011   |   comentários

Por Thyago Villela

Cisne Negro, novo longa-metragem
de Darren Aronofsky (Pi, Réquiem para
um Sonho, Fonte da Vida e O Lutador),
tem como norte pouco modesto a tradução
para a tela de cinema do processo
de criação artística – empreitada
que regularmente desemboca em um
sofrível romantismo idealizado, como
pode ser observado ao longo da história
do cinema hollywoodiano. O cineasta,
que tem como uma de suas marcas o
percurso árido e denso das personagens,
bem como a investigação de temas
fortes (como o vício e a obsessão),
repete neste filme a atmosfera carregada
de seus longas anteriores.

Desta vez, nos é narrada a história
de Nina (Natalie Portman, em brilhante
atuação), bailarina de uma companhia
de dança que pretende uma remontagem
do ballet O Lago dos Cisnes, de P. I.
Cisne Negro, novo longa-metragem
de Darren Aronofsky (Pi, Réquiem para
um Sonho, Fonte da Vida e O Lutador),
tem como norte pouco modesto a tradução
para a tela de cinema do processo
de criação artística – empreitada
que regularmente desemboca em um
sofrível romantismo idealizado, como
pode ser observado ao longo da história
do cinema hollywoodiano. O cineasta,
que tem como uma de suas marcas o
Tchaikowsky. A protagonista é elencada
para desempenhar o papel de Odette,
a princesa transformada em cisne branco
que só pode ser liberta de sua maldição
quando amada verdadeiramente,
e Otilie, o cisne negro, sua irmã gêmea
que a trai com o príncipe. A dificuldade
central deste processo de criação, para
a bailarina, encontra-se justamente na
construção da personagem de Otilie,
e toda a visceralidade e sensualidade
que encarna. Ao longo da narrativa,
Nina passa a romper com sua personalidade
inicial, infantilizada pela mãe
e reprimida sexualmente, para, através
de um processo árduo, conformar uma
nova persona. A entrega da personagem
é carregada por delírios dos mais
amplos, desde sua transformação em
um cisne até à criação, a partir de outra
bailarina da companhia (Lily, representada
por Mina Kunis) , de uma rival que
encarnaria o cisne negro.

Um dos pontos fortes do filme é sua
conformação plástica, recheada de
uma série de contrastes entre o branco
e o preto, bem como boa parte do trabalho
sonoro, que se pretende a construir
de maneira sutil, por meio de ruídos
e sussurros, todo o ambiente asfixiante
de competição presente na companhia
de dança. A constância dos temas
de Tchaikovsky,em relação ao conjunto
da narrativa, cumpre o papel de, sofisticadamente,
encaminhar o percurso de
Nina, da lucidez até a loucura. A investigação
da corporalidade das bailarinas,
bem como do esforço em compor a
coreografia, é tema recorrente, sempre
acompanhado dos ruídos dos músculos
e dos ossos sendo levados aos seus limites.
O trabalho em relação a certos símbolos,
como o espelho e os desenhos no
quarto da mãe, contribuem para uma
série de reflexões acerca do processo
criativo e de sua dureza, da desconstrução
a que a protagonista é obrigada
a levar a cabo (note-se que o espelho
desempenha um papel particularmente
importante no final).

Entretanto, se o longa conta com
estes pontos positivos, é evidente a distância
deste filme em relação a seus anteriores.
Aronofsky adapta-se a muitas
convenções hollywoodianas, expressas,
por exemplo, em um certo didatismo
que tende a antecipar nos diálogos as
ações futuras e explicá-las (como no final,
novamente), a montagem linear e
sem experimentações (muito diverso de
Réquiem para um Sonho, por exemplo),
e os irritantes “sustos” óbvios, acompanhados
por um acorde da orquestra.
Tem-se a impressão de que o cineasta
perde-se entre um sentido trágico que
pretende colocar à narrativa (típico de
O Lago dos Cisnes), com toda sua crueldade
e intensidade, e um sentido mais
superficialmente dramático, que pende
a balança para um filme convencional.

Cisne Negro peca por não levar até
o final sua proposta, em um sentido mais
vanguardístico, ao passo em que é um
dos poucos filmes sérios sobre a temática
da criação artística, o que lhe reserva
um grande mérito.

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