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Internacional

Crise Global: Por que esta vez pode ser pior?

20 Oct 2014   |   comentários

Os Fantasmas de outro outubro negro sobrevoam as bolsas mundiais. Mês fatídico para os especuladores e investidores, prelúdio outonal de um largo inverno de crise. Não mais óculos cor de rosa. A atmosfera começa a parecer perigosamente a do pré-crash do verão boreal de 2007.

Os Fantasmas de outro outubro negro sobrevoam as bolsas mundiais. Mês fatídico para os especuladores e investidores, prelúdio outonal de um largo inverno de crise. Não mais óculos cor de rosa. A atmosfera começa a parecer perigosamente a do pré-crash do verão boreal de 2007. Riscos de deflação na zona do euro, a queda dos preços do petróleo, fim de ciclo dos "emergentes", a má situação dos indicadores estadunidenses e alemães, novas preocupações na Grécia: as bolsas afundam nos últimos três dias. É o fim do super-otimismo dos "mercados" em total contradição com a realidade da economia.

O disparador de fundo é que a economia mundial nunca se recuperou da crise de 2008/9 e só é mantida à tona de forma artificial: não só pelas taxas de juros muito baixas, quase negativas, mas principalmente por meio de um mar de liquidez alimentado por medidas de flexibilização quantitativa do Federal Reserve (Fed), do Banco de Tóquio, do Banco da Inglaterra e, em menor medida, os limites impostos pela Alemanha ao Banco Central Europeu (BCE).

A simples perspectiva de redução em seu programa de compra por parte do Fed, de bônus do Tesouro, assim como os limites às medidas de estímulo das autoridades de Pequim estão provando-se demasiado para uma economia mundial ainda em "estancamento secular". Ninguém, por sua vez, tem expectativas, apesar das intenções do presidente do BCE Mario Draghi, de que a Europa seja a nova fonte de liquidez, pelo menos a nível mundial.

De repente, os "mercados" estão despertando para a dura realidade que o narcótico que manteve a economia mundial nos últimos cinco anos e meio (desde a bancarrota do Lehman Brothers) poderia estar terminando, sem que a maior zona da economia mundial, como é a União Europeia, tenha sequer recuperado o nível de atividade prévio a crise. Esta é a razão pela qual o preço do barril de petróleo caiu 25% desde junho, os rendimentos dos bônus do Tesouro dos Estados Unidos caíram fortemente e os bônus alemães são cotizados a níveis de uma economia quase depressiva (0,81 % esta semana).

Então e agora?

No entanto, a grande diferença com 2007 é que as circunstâncias e o contexto é totalmente outro.

Os grandes desequilíbrios da economia mundial não só não foram resolvidos, em muitos casos se agravaram. Os coeficientes da dívida agora são muito mais altos, e os "mercados emergentes" também foram atingidos pela espiral de endividamento. O mundo em seu conjunto nunca foi mais alavancado.

Os índices da dívida em economias desenvolvidas têm aumentado em 20 pontos percentuais a 275% do PIB desde o colapso do Lehman.
O novo é que os "mercados emergentes" também se sobre endividaram, em parte como uma expressão da flexibilização quantitativa nos países centrais. Isso causou uma inundação de liquidez em dólares para esses países que tiveram fortes dificuldades para controlá-la. Como resultado seus índices de dívida subiram cerca de 20 pontos percentuais, para 175% do PIB, enquanto grande parte deste endividamento se deu a uma taxa real média de 1%, que não é provável que dure. Uma elevação da taxa pelo Fed poderia desencadear uma enorme volatilidade nesses mercados, o que faria empalidecer a crise da Tequila em 1994 (última vez que o Federal Reserve endureceu as taxas de juros).

Os mercados emergentes aumentaram sua dívida em moeda estrangeira a US $ 2 trilhões desde 2008, a maioria da mesma denominada em dólares. O relatório anual da BIS (sigla em inglês para Bank for International Settlements, com sede em Basel) assinalou que qualquer crise nos mercados emergentes teria um impacto muito mais grave do que a crise financeira asiática de 1997-1998, porque esses mercados são muito maiores agora, num momento em que eles são muito mais integrados no sistema financeiro global. As ramificações seriam particularmente graves se a China tivesse um pouso forçado de sua economia.
Por sua parte, a situação das relações internacionais se agravou vertiginosamente, não apenas no sentido da piora da situação objetiva, mas de forma talvez mais patética na falta de controle e a ausência quase total de qualquer direção. A falta de estratégia (incluindo objetivos totalmente contraditórios, mesmo opostos) da administração Obama em sua intervenção militar na Síria e no Iraque, ou o nível de atrito dos Estados Unidos com a Rússia, e entre o primeiro e a Alemanha na crise que continua sem se fechar na Ucrânia, são os dois botões que se mostram mais palpáveis. Essa crescente tensão geopolítica é um produto da débil situação económica de todos esses anos, é um grande obstáculo para um salto na coordenação económica no caso em que a situação se torne caótica.

Enquanto uma nova crise financeira pode exacerbar as tensões geopolíticas atuantes, como visto na nova rodada de fricções económicas entre a Alemanha e os EUA a propósito do baixo crescimento na zona do euro e da pressão norte americana para que a Alemanha relance, por meio de sua cômoda situação fiscal, a economia alemã e europeia. Por outro lado, se houver um novo pico catastrófico, um novo momento Lehman, os extintores para impedir um incêndio se encontram em grande parte extenuados para serem efetivos como foram em 2009 e início de 2010. Dito de outra forma, a margem de manobra monetária e fiscal é muito mais limitada com taxas de juros nominais próximos de zero na maior parte dos países centrais, enquanto o crescente problema do limite da dívida põe um limite a toda a saída por via de um aumento da despesa fiscal para evitar e conter as forças deflacionárias e tendências depressivas.

A nível global, os fatores estruturais que evitaram a entrada em uma grande depressão, além das inéditas medidas monetárias e fiscais, estão em uma situação totalmente diferente. Naquele momento, a China foi capaz de agir como uma força de estabilização durante a recessão global de 2009, graças a um massivo plano keynesiano e uma explosão de crédito. Esses amortecedores estão agora em grande parte esgotados. Todos os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) têm limites estruturais e enfrentam dificuldades de uma forma ou de outra.

Estes são alguns dos elementos que nos indicam que desta vez pode ser pior.

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