Quinta 25 de Abril de 2024

Internacional

Cresce o descontentamento no México

10 Aug 2006 | O resultado das eleições presidenciais de 2/7 abriu um cenário de crise e polarização política no México. Isto se deu após a fraude eleitoral no mês passado, que declarou vencedor com uma margem ínfima de vantagem o candidato Felipe Calderón, que disputava com Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO). Calderón representa a continuidade do governo do PAN (Partido da Ação Nacional), apoiado pela burguesia pró-imperialista mexicana, que teve ao longo dos últimos anos na figura do até hoje presidente Vicente Fox a concretização de uma política de brutais ataques e ofensiva neoliberal sobre os trabalhadores e o povo pobre. AMLO, candidato do PRD (Partido da Revolução Democrática), lança mão de um discurso próximo aos governos “pós-neoliberais” da América Latina, buscando se diferenciar de Calderón e se aproveitar do sentimento de repúdio das massas e da classe trabalhadora após décadas de ataques do governo de Vicente Fox. Desde que foi anunciada a vitória de Calderón tomaram as ruas do México mobilizações de massas, com acampamentos nas principais avenidas da capital de milhões de pessoas, nas quais estas exigem a recontagem dos votos. Isto se soma às lutas operárias dos mineiros de Sicartsa, a mobilização do povoado de Atenco contra repressão, e a forte luta dos professores de Oaxaca, que se aprofundam. Entrevistamos Mario Caballero, dirigente da LTS-CC, organização irmã da LER-QI no México e membro da FT-QI.   |   comentários

Quais foram os últimos acontecimentos deste movimento contra a fraude?

Mario Caballero: Neste domingo, 13 de agosto, realizou-se uma nova “Assembléia Informativa” , na qual Lopez Obrador lançou um novo plano de mobilização para o dia 01 de setembro, por ocasião do 6º informe de governo de Vicente Fox; mobilizações no dia em que se formalizaria o triunfo do candidato do PAN e a realização de uma Convenção Nacional Democrática para 16 de setembro. No imediato estas ações e outras (como a tentativa de instalar um acampamento em frente ao Congresso da União, que foi reprimido e desalojado pela Polícia Federal Preventiva), estão provocando maior polarização política e enfrentamentos com o governo. Não se vê nos próximos dias uma saída de acordos para a atual crise institucional que sacode o México, mas parece que se aprofundam as contradições, o que pode empurrar a uma maior participação das massas nas mobilizações tiradas para setembro. Estas ações polarizam mais a situação e tornam difícil de saber o que vai passar, pois são ações que sem chamar a romper com o regime tendem a se radicalizar, e tornam difícil para AMLO desmobilizar de repente (em seu discurso do domingo ameaçou permanecer mobilizado por “anos” se fosse necessário, para impedir a anti-democracia do regime). Estes dias os partidários do PRD tentaram entrar no Congresso e a Polícia Federal Preventiva reprimiu vários deputados.

Quais as repercussões deste movimento no México?

M.C: Para começar, o próprio acampamento na praça já gera una divisão. Alguns setores patronais já solicitam ao governo municipal (do PRD, assim como López Obrador) o desalojamento dos acampamentos, coisa que a prefeitura não fará, ao menos por enquanto. A força deste movimento também se expressa no fato do candidato do PAN, Felipe Calderón ter cancelado sua viagem pelo país para “agradecer o voto a seu favor” , evitando medir forças com este movimento.

As câmaras patronais, o governo, a Igreja e os políticos estão alarmados pelas mobilizações. Ainda que até o presente momento a situação esteja controlada por López Obrador e o PRD, eles temem que num futuro momento a direção deste processo escape de suas mãos. Eles têm razão para se preocupar, já que ao mesmo tempo o centro da cidade de Oaxaca está tomado por professores já havendo um controle virtual da Assembléia Popular do Povo de Oaxaca (APPO), que anunciou que 15.000 de seus membros devem viajar a capital para se integrar ao plantão. A unidade destas lutas, junto à luta dos mineiros e dos jovens que brigam contra a repressão potencializaria enormemente todas as demandas.

Que perspectivas vocês apontam para o movimento e para a crise do regime mexicano?

M.C: Hoje temos muita disposição para lutar e resistir. Como disse antes, o PRD tem até agora muito controle sobre o movimento contra a fraude, mas o que acontecerá caso obtenhamos o “voto por voto” , e o Tribunal Eleitoral der a vitória a Calderón? Tão pouco está descartado que López Obrador e o PRD pactuem alguma saída para esta crise. Como explicariam isso? Vamos aceitar passivamente o fim da mobilização?

As medidas de López Obrador são impotentes para impor a recontagem de votos, e mais ainda para acabar com este regime antidemocrático que ele e o PRD também sustentam devido a seu caráter burguês. Por isso desde a LTS-CC defendemos que haja uma grande Paralisação Nacional contra a fraude. Até agora, as organizações sindicais tiveram pouco peso nas manifestações, e nem lançaram medidas como um chamado à greve, apesar de haver a presença de centenas de milhares de trabalhadores nos atos. Enquanto milhões nos manifestamos contra a fraude, os trabalhadores e o povo de Oaxaca lutam heroicamente contra o governo local de Ulises Ruiz. Uma paralisação nacional unificaria a mobilização contra a fraude com a luta de Oaxaca. Uma medida da classe operária, levantando as demandas democráticas, fortaleceria a unidade operário-popular e radicalizaria a luta para avançar em uma pauta única de demandas dos explorados e oprimidos.

Os socialistas da LTS não confiamos nos partidos do Congresso, nem acreditamos que um governo de López Obrador possa resolver as demandas dos trabalhadores, mas nos somamos ao rechaço à fraude por se tratar de um ataque reacionário aos diretos democráticos das massas. Por isso estamos em defesa destes diretos e participamos das mobilizações, independentemente de nossas diferenças com o PRD.

Qual é a saída para esta crise?

M.C: Na LTS-CC consideramos que uma saída de fundo à miséria, à exploração e à “anti-democracia” do capitalismo, só é possível com um governo operário e camponês, que exproprie a burguesia. Sem dúvida, à medida que as massas operárias e populares não compartilham ainda desta saída de fundo, mas não querem que roubem seus votos, os socialistas propomos lutar por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, com a anulação das eleições, organizada em forma democrática em que as organizações sindicais, sociais e de esquerda possamos apresentar nossos candidatos, e em que os representantes sejam eleitos sob um único distrito nacional (por exemplo 1 a cada 20 mil habitantes).Para impor esta Constituinte será necessária a mobilização operária e , neste sentido, os sindicatos que se reivindicam independentes devem impulsionar, como parte desta luta, uma paralisação geral que fortaleça a luta contra a fraude.

A Liga de Trabajadores por el Socialismo – Contra Corriente (LTS-CC), é a organização irmã da LER-QI no México, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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