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Movimento Operário

Creches da USP: "Não queremos deixar nenhuma criança de fora"

04 Feb 2015 | O site Palavra Operária entrevistou Nani Lira, trabalhadora da Creche Oeste da Universidade de São Paulo sobre a crise abertas nas Creches da USP neste início de ano com a suspensão de matrículas de novas crianças e bebês.   |   comentários

O site Palavra Operária entrevistou Nani Lira, trabalhadora da Creche Oeste da Universidade de São Paulo sobre a crise abertas nas Creches da USP neste início de ano com a suspensão de matrículas de novas crianças e bebês.

Palavra Operária: O que você acha da decisão da Superintendência de Assistência Social junto à Reitoria de cancelar a matrícula de crianças e bebês nas creches, diminuindo as vagas?

Nani: Acho um absurdo. Primeiro por que isso não é uma decisão feita de um modo democrático que envolva discussão entre os trabalhadores. São decisões autoritárias que, em geral, só ficamos sabendo no último minuto e muitas vezes por terceiros. As Creches da USP vêm ao longo de mais de 30 anos desenvolvendo um trabalho de excelência. Não oferecemos apenas um lugar para que os pais deixem seus filhos e fiquem tranqüilos enquanto trabalham. Mais do que isso, as Creches são espaços de educação e cuidado onde as crianças são respeitadas e ouvidas. Um lugar pensado para elas. Cancelar a matrícula das crianças nas Creches é, em minha opinião, um desrespeito com as famílias que se organizaram e com as crianças. É um desrespeito também para com a história da própria Universidade, afinal, as Creches na USP são o resultado de uma luta e reivindicação histórica marcada pela passeata dos bebês e das trabalhadoras que reivindicavam um lugar para deixar os seus filhos. Essas reivindicações se deram aqui. A histórica passeata dos bebês também. Não é apenas a história das Creches que será desrespeitada, mas a história da própria Universidade. Se não conseguirmos matricular as crianças em 2015, teremos cerca de 100 vagas, ou um pouco mais, que ficarão ociosas.

Palavra Operária: Quais problemas isso acarreta na continuidade das turmas nas Creches?

Nani: Isso é muito preocupante por que diz respeito à própria permanência das Creches na Universidade. A não entrada dos bebês em 2015 implica em dizer que a cada ano turmas ficarão fechadas por que não terá crianças. Em pouco tempo, se não houver matrículas, as Creches não funcionariam. Um exemplo: caso não haja, de fato, bebês matriculados em 2015, em 2016 não teremos o grupo dos bebês mais o grupo de crianças de dois anos, em 2017 não teremos o grupo dos bebês, o grupo de dois anos e o grupo de 3 anos e assim por diante. Além de termos clareza que a razão do nosso trabalho são as crianças e por isso é necessário que elas sejam matriculadas, também é preocupante pensarmos nos professores que ficarão sem turmas. Eles também ficam numa situação delicada, incerta.

Palavra Operária: As trabalhadoras e os trabalhadores estão discutindo medidas para enfrentar essa situação?

Nani: Com certeza. Estamos discutindo em formas, possibilidades de atender essas crianças e não deixar nenhuma que ganhou a vaga de fora. É um absurdo quando a gente pensa que já existe tão poucas vagas nas Creches e mais absurdo ainda pensar que as vagas que aqui temos não possam ser utilizadas por quem tem direito à elas. Estamos nos reunindo, discutindo, e pensando em ações de como enfrentar esse ataque. Para mim, é um ataque por que á medida em que a Universidade pensa em um plano de demissão (PIDV), sem ter nenhuma proposta ou projeto de contratação de novas pessoas, fica evidente o desmonte. A Creche é um lugar que possui uma delicadeza imensa. Não é como trabalhar em uma sala ou escritórios com papéis, memorandos, ofícios, atas etc. Na Creche é fundamental que as pessoas estejam presentes. É impensável um trabalhador sair da Creche e não haver a reposição imediata da pessoa, pois aqui lidamos com vidas, com seres humanos, temos uma responsabilidade imensa. Cada pessoa que trabalha na Creche seja professor, pessoal do apoio, administrativo, cozinha etc., desenvolve um trabalho de fundamental importância para a manutenção da qualidade no atendimento às crianças. Uma pessoa que falta no quadro gera um enorme prejuízo, por isso é que não só reivindicamos a entrada das crianças como também a contratação dos novos funcionários para ocupar as vagas dos que serão demitidos pelo PIDV.

Palavra Operária: Quais reivindicações vocês estão levantando?

Nani: Bom, a nossa primeira reivindicação é que sejam oferecidas condições para que as crianças, filhos dos funcionários, docentes e alunos que estavam esperando matrícula em 2015, sejam atendidas. E atendidas com o mesmo compromisso e qualidade que vem sendo desenvolvido ao longo dos mais de trinta anos do Programa de Creches na Universidade. Outra reivindicação que levantamos é a contratação imediata de novos funcionários para preencher as vagas que serão deixadas pelos demitidos com o PIDV. Estamos tentando escrever cartas e pensar ações conjuntas com a comunidade de pais, docentes, pesquisadores, estudantes, intelectuais da Educação para que a gente consiga convencer a Universidade da importância de se manter as Creches funcionando aqui. A USP deveria se orgulhar por ser uma das poucas Universidades que tem não apenas um Programa de Ensino Superior, mas também tem um Programa para a Educação Infantil (nas Creches), e um Programa para o Ensino Fundamental e Médio, na Escola de Aplicação. A Universidade deveria pensar em ampliar e investir para manter esse Programa tão maravilhoso. Quem sabe nossos gestores não compreendam e se sensibilizem né?

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