Quarta 24 de Abril de 2024

Cultura

OCUPAÇÃO NA FUNARTE

Cortes no orçamento, Funarte ocupada. Qual a saída para a cultura?

11 Aug 2011   |   comentários

O governo Dilma, eleito com a promessa de avançar na erradicação da pobreza no país, teve como uma de suas primeiras medidas contundentes o corte de R$50 bilhões no orçamento. Esta medida é um reflexo direto da crise econômica mundial e da preparação do governo para as duras medidas que terá que tomar contra os trabalhadores e a população pobre para tentar salvaguardar os lucros da burguesia. Hoje, os efeitos da crise se fazem presentes na forma de desemprego, retirada de direitos, precarização da vida e falta de perspectiva de futuro, fomentando as revoltas no mundo árabe, na Grécia, Espanha, França e, agora, na Inglaterra. No Brasil, vende-se a imagem de um país intocado, que faz grandiosas obras do PAC e se prepara para sediar a copa e as olimpíadas; mas isto é baseado na precarização do trabalho e “higienização” das áreas que serão sede destes eventos. E os efeitos da crise, mais cedo ou mais tarde, se farão sentir amplamente, como demonstra de forma incipiente a queda da Bovespa.

A ocupação de oito dias da Funarte, que terminou dia 1 de agosto, está vinculada a este contexto, pois se deu, a princípio, contra a redução do orçamento da cultura de 0,2% para 0,06% do PIB. Entendendo que é apenas esta miséria que o capitalismo pode nos oferecer, Iná Camargo Costa, convidada a falar para os ocupantes, apontou isto claramente, e colocou a necessidade de que os artistas não apenas reivindiquem um aumento de verbas, mas sim questionem a estrutura social e qual é seu papel diante de uma sociedade dividida em classes antagônicas.

Há mais de dez anos já se colocavam em luta os artistas, que através do movimento “Arte contra a barbárie” conquistaram a lei de fomento ao teatro em São Paulo, que garantia verba para os grupos de teatro independente, permitindo que estes desenvolvessem seus projetos. Luis Carlos Moreira lembrou, em sua fala na ocupação, que um grupo de teatro não é capaz de se manter por si próprio, pois o teatro não consegue se sustentar dentro da lógica do mercado apenas com a renda de sua bilheteria; o teatro não gera lucro, e por isso precisa de uma verba estatal para sobreviver. Experiências de empresários deste ramo no Brasil os levaram à falência. Mas a lei de fomento não é capaz de suprir a demanda de todos os grupos, e os leva a competirem entre si para conseguir estas verbas.

Todo este contexto deixou claro para uma parte da categoria que não há nenhuma solidez nas verbas garantidas pelo estado burguês, pois para a lógica do capital a cultura é descartável. A mudança que se operou em sua subjetividade se mostra, por exemplo, em sua identificação ideológica com a classe trabalhadora ao se reivindicarem “trabalhadores da cultura” . Podemos perceber isto também em suas concepções artísticas, com grupos que colocam cada vez mais que devem assumir um lado na luta de classes e que levam suas produções para a periferia e as colocam para demonstrar a miséria do capitalismo. Em oposição a isto, representando o setor mais acomodado e conservador, Zé Celso – que teve seu teatro tombado e é um destes artistas que “não tem do que reclamar do governo” – esteve presente na ocupação bradando que “não é trabalhador” e procurando colocar em crise o movimento, o que gerou uma polarização e um repúdio à sua posição.

Quando falamos em revolução, em uma transformação radical da sociedade, que é a única perspectiva para a libertação da produção artística das amarras do capital, precisamos ter em mente que a classe trabalhadora é a única capaz de realizá-la. Os artistas possuem uma relação com a produção distinta daquela dos trabalhadores assalariados, que são os responsáveis pela produção de toda a riqueza em nossa sociedade (como lembrou Moreira em sua fala). São os que podem, com suas greves, ocupações de fábrica, tomando a produção em suas mãos, questionar frontalmente o modo de produção capitalista e avançar para a destruição do Estado burguês e colocar a produção social a serviço das necessidades de todos, e não do lucro de poucos. Entre estas necessidades está a arte, que hoje está estrangulada pela sede de lucro. Como levar estas demandas por arte e cultura para que se apossem delas os trabalhadores, que são os que dela necessitam?

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