Terça 23 de Abril de 2024

Nacional

Basta de miseria e desemprego

Coordenar e unificar as lutas para impor uma saída dos trabalhadores

05 Jul 2004   |   comentários

Nas últimas semanas, a aprovação no Congresso da medida provisória que eleva o valor do salário mínimo gerou uma grande crise no governo federal. Os setores fiéis a Lula defendiam o aumento do mínimo para R$ 260,00, enquanto a maioria dos parlamentares dos partidos burgueses defendia que este fosse elevado para o valor de R$ 275,00, numa posição demagógica que quer comprar por apenas R$ 15,00 o esquecimento de anos e anos de arrocho salarial durante seus governos. Mas essa discussão dividiu as bancadas tanto da oposição quanto da base governista, incluindo o próprio PT. Isso porque esta é uma questão que mexe diretamente com a vida dos trabalhadores, que são a ampla maioria da população, e, ainda por cima, num ano eleitoral, no qual uma boa parte dos parlamentares vai se candidatar ou apoiar candidaturas para as diversas prefeituras do país e, para isso, têm que contar com o voto desses trabalhadores. Numa situação assim, ninguém quer carregar o prejuízo de ter defendido uma vida ainda mais miserável para os trabalhadores do que a que defendem representantes da burguesia no Congresso, como é o caso dos deputados do PSDB e do PFL.

A batalha que Lula e seus aliados travaram para que não fosse aprovado o valor de R$ 275,00 incluiu práticas de compra de votos (tão criticadas pelo PT antes de chegar ao governo federal) através de verbas para os parlamentares aprovarem seus projetos e deixou ainda mais claro para milhões de trabalhadores com quem Lula está verdadeiramente comprometido ’ com os grandes capitalistas do Brasil e do mundo, e não com os trabalhadores que o elegeram. Mesmo com todos esses esforços, a posição do governo foi derrotada no Senado, fazendo com que a votação tivesse que voltar para a Câmara dos Deputados. Se Lula perdesse também na Câmara, a única saída que lhe restaria seria usar sua autoridade de Presidente para vetar os R$ 275,00, o que significaria um enorme prejuízo à sua popularidade. Os deputados salvaram Lula, aprovando os R$ 260,00 às custas de seus interesses eleitorais.

Mas por trás de todo esse debate está o fato de que o salário mínimo, seja ele de R$ 260,00 ou de R$ 275,00 não dá pra nada, é expressão da miséria em que vivem os trabalhadores brasileiros, para que seus patrões possam continuar lucrando. A própria Constituição Brasileira, que é uma constituição reacionária de um Estado burguês, onde a riqueza de uns poucos se assenta sempre sobre a miséria de quase todos, prevê que o salário mínimo deveria ser suficiente para garantir a alimentação, a educação, vestuário, a saúde, o transporte etc. dos trabalhadores, o que o Dieese calcula hoje que daria cerca de R$ 1.400,00! E está claro, todos os parlamentares, do governo ou da oposição, concordam que o salário dos trabalhadores deve ficar bem longe até do que a reacionária constituição brasileira define. Querem sim, todos eles, eleger seus candidatos, mantendo seu poder e seus altos salários, às custas de barganhar com a vida dos trabalhadores.

É por isso que hoje começa a ficar claro para alguns trabalhadores que, se eles quiserem uma vida digna, terão que confiar nas suas próprias forças e lutar para arrancar à força das mãos dos patrões carrascos o direito de viver. Ninguém nos dará isso de graça.

O próprio Lula, que um dia já foi metalúrgico, hoje é responsável por esse salário mínimo de fome, pelos índices recordes de desemprego e pela retirada de direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores.

Frente aos ataques do governo e ao arrocho salarial uma série de processos de luta têm se desenvolvido. Todos sabemos que, enquanto os preços no supermercado, a gasolina, as tarifas de telefone, a passagem do ónibus sobem, nosso salário continua o mesmo, o que significa que com ele é possível comprar cada vez menos. Além disso, vemos uma série de fábricas demitindo ou fechando, deixando milhões de trabalhadores desempregados. O desespero gerado pelo desemprego, pela miséria, por não ter dinheiro para alimentar a família é uma realidade que só se agrava e isso é cada vez mais difícil de esconder. Como quando um trabalhador vende tudo o que tem, entrega a metade para a família e com a outra metade compra uma passagem para Brasília para tocar fogo no próprio corpo em pleno Congresso Nacional, a pouca distância do gabinete de Lula. E é esse desespero que os patrões usam para chantagear os trabalhadores, porque, nessas condições, qualquer emprego precário, com um salário de fome, é passar a ser melhor do que o desemprego.

Para reverter esse quadro, os trabalhadores não podem mais depositar nenhuma confiança nesse governo que, apesar de um exoperário à cabeça, governa para os burgueses. Ao contrário, terão que se enfrentar com ele. Mas não é só contra o governo que os trabalhadores terão que lutar. A CUT, que supostamente deveria lutar pelos interesses da classe, aceita passivamente os miseráreis R$ 260,00, recusandose a fazer qualquer mobilização e limitandose a declarar que “o ideal seria R$ 300,00, como um plano aumentos escalonados...” em largas parcelas! Um absurdo! Isso nos coloca também a necessidade de enfrentar e derrotar a burocracia que hoje controla a CUT.

Em cada assembléia dos setores mobilizadas, em cada local de trabalho, estudo ou moradia, devemos impulsionar uma ampla CAMPANHA NACIONAL POR SALÃ RIO DIGNO E EMPREGO PARA TODOS.

É necessário articular as reivindicações imediatas das lutas que estão ocorrendo no funcionalismo, nas fábricas, na universidades, nas escolas e no campo com a luta por salário digno e emprego para todos. Essa política permite unificar firmemente todos esses setores, pois não só ataca a principal demanda da população como unifica os empregados, os desempregados e a juventude.

Que todo o trabalho existente seja dividido entre todos os braços dispostos a trabalhar. Assim, trabalharemos menos horas para que trabalhem todos. Por um segurodesemprego sem restrições e capaz de sustentar uma família até que todos estejam incorporados à produção.

Lutemos por um salário suficiente para satisfazer as necessidades de nossas famílias. Que esse salário seja reajustado mensalmente de acordo com o aumento do custo de vida, para que não percamos mais, mês a mês, uma parte do nosso salário, que vai direto para o bolso do patrão. ESCALA MÓVEL DE SALà RIOS Jà !

Lutemos por um plano de obras públicas, para construir moradias, escolas e hospitais públicos, capaz de empregar milhares de trabalhadores em prol da melhoria das condições de vida dos próprios trabalhadores, financiado com o não pagamento das dívidas externa e interna e com impostos progressivos às grandes fortunas. Ocupar e colocar para produzir sem os patrões toda e qualquer fábrica que feche ou demita.

Lutando por essas reivindicações, estaremos lutando diretamente contra o sistema capitalista miserável e decadente, que não é capaz de garantir as mais elementares condições de vida àqueles que tudo produzem: a classe trabalhadora. Esse sistema no qual sempre, independente de quem ocupa o cargo de presidente, se um empresário ou um exoperário, os trabalhadores serão cada vez mais explorados.

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