Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS

Contra o racismo e a exclusão do PIMESP, é necessário lutar pelo fim do vestibular!

28 Mar 2013   |   comentários

O PIMESP selecionará, pela via do ENEM, os jovens de escolas públicas que têm média destacada para entrar em um curso de dois anos, à distância, (college) onde supostamente seriam preparados para o ingresso na universidade. Segundo declarações do governo, esses jovens serão preparados para o ambiente universitário e para a “civilidade do ensino superior”. Essa ideia fundamentada no mérito, possui seu “projeto-piloto” na Unicamp pela via do ProFIS, onde (...)

O PIMESP selecionará, pela via do ENEM, os jovens de escolas públicas que têm média destacada para entrar em um curso de dois anos, à distância, (college) onde supostamente seriam preparados para o ingresso na universidade. Segundo declarações do governo, esses jovens serão preparados para o ambiente universitário e para a “civilidade do ensino superior”. Essa ideia fundamentada no mérito, possui seu “projeto-piloto” na Unicamp pela via do ProFIS, onde escassas vagas se destinam aos “melhores” da escola pública, onde passam dois anos em “modalidades gerais” para depois aqueles que tiverem melhor desempenho escolhem o curso que pretendem cursar. A realidade é que o PIMESP será um curso precário com um recorte curricular profissionalizante e empresarial, voltado às necessidades de mão-de-obra do mercado; sua grade inclui matérias como “empreendedorismo” e “gestão do tempo”. É mais um avanço em criar uma universidade precária para os filhos da classe trabalhadora e os negros, mantendo a universidade como um reduto elitista para poucos.

O PIMESP é uma resposta que o PSDB precisa dar diante da aprovação das cotas pelo governo federal. As cotas aprovadas por Dilma garantem metade das vagas nas universidades federais para alunos de escolas públicas e, dentro destes 50%, uma proporção equivalente à de negros em cada estado. Ou seja, é metade do que o movimento negro reivindica historicamente. Uma migalha destinada a tentar calar o povo negro no país com uma das maiores heranças racistas do mundo, em que os jovens negros são cotidianamente assassinados pela polícia e nas favelas, pelas UPPs; ocupam os piores e mais mal pagos postos de trabalho; são os que amargam com as péssimas condições de moradia, transporte e saúde. Não acreditamos, como acredita o PSTU, que as cotas sejam uma reparação histórica aos negros.Tal reparação se dará apenas com o fim da guerra contra as drogas, que assassina, propositalmente, centenas de milhares de jovens negros em todo o país; com a reforma agrária e o direito à terra negado a cada pequeno agricultor negro desde o período da escravidão; com a reforma urbana, retomando a cada trabalhador negro as casas que construiu e que seguem esvaziadas para a especulação imobiliária; e com o fim do trabalho precário, que precariza a vida das mulheres e homens negros que recebem cerca de 1/3 do salário de um homem branco.

Por isto, nossa resposta ao PIMESP não pode ser nem a exaltação do governo federal que fazem as correntes governistas como o Levante Popular da Juventude e a Consulta Popular, nem a consigna que em nada se diferencia destes levantada, pelo DCE da USP de “PIMESP não, cotas sim”; até mesmo a reivindicação de cotas proporcionais à população do estado desapareceu do discurso do PSTU, que concretamente se funde aos setores governistas ao levantar a consigna de “cotas sim”. O nosso programa pela positiva para democratizar a universidade só pode ser o de se aliar a classe trabalhadora e a juventude que está excluída das universidades públicas, colocando a demanda de fim do vestibular e estatização das universidades privadas, pela democratização radical do acesso a universidade para que seu conhecimento esteja a serviço do conjunto da população, negra, pobre e oprimida, através da verba que hoje é usada para pagar juros e amortizações da dívida pública.

Fortalecer desde as bases a campanha contra a repressão e o projeto racista e precarizante do PIMESP de Alckimin!

As últimas iniciativas dos DCEs da USP (PSTU e PSOL) e Unicamp (1º de Maio- PSOL) têm demonstrado mais nitidamente a impotência da política destas direções frente às principais tarefas políticas do movimento estudantil das estaduais paulistas num momento de ataques profundos ao conjunto dos lutadores e à educação pública do país. Enquanto em palavras buscam negar isto, na prática toda a linha política destas entidades leva à separação das duas principais lutas: contra a repressão aos lutadores e contra a implementação do PIMESP (Programa de Inclusão com Mérito do Ensino Superior Público).

A repressão, conforme viemos desenvolvendo em diversos artigos anteriores, cumpre um papel imprescindível para o governo estadual e as reitorias: calar a voz dos que se colocam contra o avanço do projeto elitista, racista e privatista de universidade. Das medidas repressivas que avançaram nos últimos anos, se destacam a demissão inconstitucional de Brandão, diretor do Sintusp; a expulsão de oito estudantes da USP por lutarem por permanência; e agora a denuncia do Ministério Público contra os 72 presos na reintegração de posse da reitoria da USP em 2011. A proposição de um projeto tão elitista e reacionário quanto o PIMESP só é possível porque nos últimos anos o movimento de estudantes e trabalhadores não tem conseguido frear as medidas repressivas do governo do estado. A implementação do PIMESP se dará através da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) –mais uma face da precarização do ensino superior –,criada a partir de uma derrota imposta ao movimento estudantil e de trabalhadores em 2009.

Assim, nós da LER-QI, junto aos militantes da Juventude às Ruas, viemos dando uma grande luta política para que seja fortalecida uma campanha democrática contra a repressão, que hoje conta com o apoio de dezenas de intelectuais, juristas, entidades estudantis e sindicais, e que consigamos travar um debate amplo nas bases dos cursos sobre a necessidade de uma forte mobilização contra a repressão, que é o primeiro passo para seguirmos em nossa luta pela democratização radical da universidade. Para isto também é fundamental não incorrer em posições sectárias e vanguardistas como as do POR e PCO, que se abstém de disputar a partir de construir uma ampla mobilização pela base e garantir a unidade do movimento com uma política correta, e na prática, deixam os estudantes à mercê da política impotente do PSOL e PSTU.

A impotência de um programa que não questiona as bases do regime universitário

Contudo, o DCE da USP mostrou na semana passada sua indisposição em levar adiante a luta contra a repressão de forma consequente ao não colocar suas forças para a convocação do ato na Praça da Sé em frente ao Tribunal de Justiça. Sequer concretizaram medidas simples a que tinham se comprometido, como a rodagem de panfletos junto com os Centros Acadêmicos convocando o ato. Apesar de estarem à frente de diversas entidades e terem centenas de membros em sua gestão, não colocaram o mínimo esforço em convocar amplamente o ato que poderia ser o marco inicial de uma nova etapa na luta contra a repressão na USP e nas estaduais paulistas de conjunto.

Ao sofrerem uma dura derrota política na última assembleia geral da USP, em que seu programa de “Diretas pra reitor” foi derrotado por 166 a 147, o DCE implementou sua manobra de deslegitimar a assembleia a partir do Conselho de Centros Acadêmicos, onde tem o controle político por fora de qualquer discussão com as bases dos cursos. Isto porque a sua principal campanha este ano é a de diretas para reitor, pois, principalmente para o PSOL – mas em menor medida também para o PSTU – o questionamento à estrutura de poder da universidade nada mais é do que uma tentativa de cavar buscar um espaço por dentro do regime universitário apodrecido de hoje. A demonstração mais clara disto é a eleição para reitor da Unifesp, na qual o PSOL elegeu sua candidata com o apoio público de Valério Arcary, dirigente do PSTU. Agora, uma vez eleita, a atual reitora se cala a respeito dos mais de cem processos que estão sendo movidos contra estudantes que se mobilizaram nos últimos anos. Fica nítido que o programa de “diretas pra reitor” é absolutamente impotente para democratizar a universidade e para combater a repressão.

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