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Teoria

Construir o Socialismo significa emancipar as Mulheres e proteger as Mães

30 Nov 2007   |   comentários

A noção mais exata de nossos progressos é dada pelas medidas práticas que estamos tomando para melhorar a situação das mães e das crianças. Não é para sentir-se desalentado. Temos conseguido êxitos materiais e culturais no sentido mais amplo da palavra. A experiência histórica demonstra que inclusive o proletariado que luta contra a exploração não é consciente da opressão que sofre a mulher como dona de casa, mãe e esposa. E não falamos do campesinato. A escravidão da camponesa, não somente nas famílias pobres, mas também, inclusive, nas famílias de posição intermediária, não se pode comprar nem com a pior das servidões. Para ela não há descanso, nem férias, nem esperança de mudança! Nossa Revolução, gradualmente, está atacando os próprios fundamentos da atual organização familiar nas regiões industriais. Mas, no campo, penetra lentamente, e aqui os problemas são incomensuráveis.

Mudar a raiz da situação da mulher não será possível até que não mudem todas as condições de vida social, familiar e doméstica. A profundidade do problema da mulher está dada pelo fato de que ela é, em essência, o elemento vivente no qual entrecruzam-se todos os elos decisivos do trabalho económico e cultural. A questão da maternidade implica, sobretudo, o problema de moradia, da água corrente, e do restaurante. Mas também o da escola, o dos livros, o dos lugares de recreação. O alcoolismo golpeia sem misericórdia a dona de casa e a mãe. A ignorância e o desemprego também. A água corrente e a eletricidade nas casas aliviam, sobretudo o trabalho da mulher. A maternidade é o problema dos problemas. Aqui se unificam todas as questões que devemos encarar e, a partir daí, diversificar em varias direções.

O inegável crescimento da riqueza material do país torna possível e, portanto, necessário, dedicar uma consideração muito mais ampla e profunda que aqui dedicávamos até agora à mãe e à criança. O nível de energia que dedicarmos a esta questão demonstrará se temos aprendido realmente a relacionar todos os nossos objetivos com os problemas vitais básicos.

Assim como era impossível construir o Estado Soviético sem libertar os camponeses dos laços da servidão, também o será construir o socialismo sem emancipar a mulher operária e camponesa das ataduras do cuidado da família e do lar. E, assim como determinávamos a maturidade de um operário revolucionário, não só pelas suas atitudes rumo o capitalismo, senão também em direção ao campesinato, quer dizer, por sua compreensão da necessidade de libertá-los de suas ataduras, agora podemos e devemos medir a maturidade socialista do operário e do camponês progressista por sua compreensão da necessidade de libertar a mulher de sua servidão, de dar-lhe a possibilidade de participar da vida social e cultural.

A maternidade é o nó de todos os problemas. Por isso, cada nova medida, cada lei, cada passo adiante na construção económica e social, devem planejar-se em função de como afetarão a família, a mãe e a criança.

O grande número de crianças sem lar que vagueiam por nossas cidades nos põe diante dos olhos, de maneira mais terrível, até que ponto estamos atrasados, por todos os lados, pelos vícios da velha sociedade, que em sua agonia os manifestam com toda sua crueldade. A situação da mãe e da criança nunca foi tão difícil como na época de transição do velho ao novo, especialmente durante a guerra civil. A intervenção de Clemenceau e Churchill e dos Kolchak, dos Denikin e dos Wrangel [1] golpeou a mulher operária, a mãe, e nos deixou uma herança de enorme quantidade de crianças abandonadas. O abandono das crianças é, sobretudo, conseqüência do abandono da mãe. A atenção à mãe é o caminho mais seguro para melhorar a situação da criança.

O crescimento geral da economia está criando as condições para a reconstrução gradual da vida familiar e doméstica. Os problemas relacionados come sta questão devem ser colocados em toda sua magnitude. Nós estamos nos aproximando em vários aspectos da renovação do capital básico de país; adquirimos novas máquinas para substituir as velhas; construímos novas fábricas; renovamos nossas estradas de ferro; os camponeses compram arados, sementes, tratores. Mas, o “capital” fundamental é constituído pelo povo, sua saúde, seu nível cultural. Esse capital exige uma renovação mais profunda que o equipamento das fabricas ou dos implementos do campesinato. Não podemos supor que os anos de escravidão e fome, de guerras e epidemias, tenham passado sem deixar seqüelas. Não: deixaram feridas e temores no organismo vivente do povo. A tuberculose, a sífilis, o alcoolismo, a neurastenia estão amplamente difundidas na população.

Devemos devolver a saúde para a nação. Se não o fizermos, não podemos nem pensar em chegar ao socialismo. Devemos atacar as raízes, as fontes. E qual é a raiz, a fonte da nação senão a mãe? A luta contra o descuido da maternidade deve ocupar um lugar de destaque! É necessário organizar a construção de moradias, de creches, de restaurantes e lavanderias comunitárias! E a qualidade desses serviços será decisiva. As vantagens devem ser tais que signifiquem um golpe de morte para a velha unidade familiar, fechada e isolada, que se apóia totalmente nos débeis ombros da mãe dona de casa. Se melhorarmos a fabricação dos utensílios domésticos inevitavelmente aumentará a procuro. Os cuidados para com as crianças e a alimentação dos adultos serão mais baratos nas instituições públicas que no seio da família. Mas somente se conseguirá se a organização social aprende a satisfazer estas necessidades melhor que a organização familiar. Devemos prestar muita atenção agora ao problema da qualidade. É imprescindível um controle constante de todos os organizamos e instituições que servem para atender às necessidades domésticas da classe operária. As pioneiras de grandes lutas pela libertação das mães devem ser, com certeza, as mulheres operárias da vanguarda. A todo custo, esse movimento deve dirigir-se em direção a aldeia. Em nossa vida urbana, também conservamos muitas características pequeno-burguesas do campesinato. A concepção sobre a mulher de muitos operários não é ainda socialista, mas conservadora, camponesa, essencialmente medieval. A mãe camponesa oprimida pelo domínio familiar está em uma situação parecida com a da operária. Temos de elevar a camponesa. Temos de conseguir que esta deseje se elevar. Temos de despertar a sua consciência e mostrar-lhe o caminho.

É impossível avançar se a mulher fica na retaguarda. A mulher é a mãe da nação. A escravidão das mulheres gera prejuízos e superstições que têm sido transmitidas entre as crianças das novas gerações e penetram profundamente por todos os poros da consciência nacional. O caminho mais direto da luta contra a superstição religiosa é o trabalho sobre as mulheres. A liberação da mulher significa contar o cordão umbilical que ainda une o povo ao obscurantismo e superstição do passado.

Artigo de Leon Trotsky publicado no Novvi Byt, em dezembro de 1925

[1Refere-se à tentativa dos países capitalistas e das forças contra-revolucionarias dentro da Rússia (Exército Branco) para derrotar a Revolução bolchevique. Clemenceau e Churchill dirigiam uma campanha para que França e Inglaterra interviessem. Kolchak foi um almirante Csarista que, após o poder soviético, fora temporariamente expulso da Sibéria, se reinstalou ali como títere dos aliados. Em novembro de 1918, os chefes cossacos o elegeram comandante supremo. Quando a contra-revolução foi derrotada, foi abandonado pelos aliados e executado. Denikin foi um general csarista que se converteu em líder da contra-revolução. Depois da derrota de Denikin, Wrangel, um general “mais liberal” , foi eleito comandante e chefe do Exército Branco. Teve êxito ao permanecer na Criméia quase um ano, mas no outono de 1920 suas forças foram liquidadas e se viu obrigado a fugir.

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